domingo, 24 de março de 2019

Anunciação do Senhor


1. A VONTADE DE DEUS.

«Eis-Me aqui; no livro sagrado está escrito a Meu respeito: 'Eu vim, ó Deus, para fazer a Vossa Vontade'» (Hebr.10, 7).

São palavras do Salmo 39 (40) que foi escolhido para Salmo Responsorial da festa de hoje; elas aplicam-se perfeitamente a Jesus Cristo, Filho de Deus, ao incarnar no seio da Santíssima Virgem.

Toda a arte do cristão está nesta identificação com Cristo, ao procurar sempre e em tudo fazer a Vontade de Deus, que é sempre a vontade de um Pai que nos ama infinitamente; mesmo quando me exige sacrifício, quando permite sofrimento e dor, essa vontade é sempre boa, santíssima e justíssima.

A Virgem Santíssima tem toda a autoridade para nos recomendar o mesmo que aos serventes de Caná: «Fazei o que o meu Filho vos disser». Ela mesma não teve outro modo de comportar-se: «Eis a escrava do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra» (Evangelho).

Ao rezarmos o Pai Nosso, sempre renovamos o nosso desejo de que «se faça a Vontade de Deus, assim na terra como no Céu». A nossa amizade com Deus só será autêntica e verdadeira se fizermos a sua Vontade: «Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando».

«Não é o que diz 'Senhor, Senhor', que entrará no Reino de Deus, mas aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos Céus» (Mt 7, 21).

2. O VALOR DA HUMILDADE.

«Humilhou-se a Si mesmo, feito obediente até à morte e morte de cruz».

A virtude da humildade leva-nos e ajuda-nos a situar-nos no nosso verdadeiro lugar, com relação a Deus e aos outros. A humildade é a verdade: quando procuramos ser humildes, sentimos que a energia poderosa do Senhor actua, apoiada em nossa fraqueza; nunca somos mais fortes que quando somente podemos contar com Deus; então apercebemo-nos de que não bastam os anos nem a experiência para acertar nas nossas decisões, porque nesse caso os velhos seriam génios. «É o Senhor quem nos faz mais prudentes que os mestres e mais sábios que os anciãos» (Salmo 118).

«Deus escolheu os nécios segundo o mundo para confundir os sábios; escolheu os fracos...as coisas vis e desprezíveis e aqueles que não eram nada...» (1 Cor. 1, 27-28).

«Levados pela humildade, julgai-vos uns aos outros como superiores» (Filip. 11, 3).

O mistério da Encarnação é o mistério da humildade do Filho de Deus que se fez Homem, em tudo igual a nós, excepto no pecado. Ele mesmo nos pede para O seguirmos pelos caminhos da humidade e da mansidão: «Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração e encontrareis paz e descanso para as vossas almas».

A resposta da Santíssima Virgem no momento da Anunciação foi ditada pela perfeita humildade de quem só quer servir e dar a vida toda para a glória de Deus.

3. O VALOR DA OBEDIÊNCIA.

«Faça-se em Mim segundo a tua Palavra» (Evangelho).

O mistério da Encarnação do Filho de Deus é um mistério de humildade e de obediência à Vontade do Pai. Obedecer é entregar em plena liberdade a nossa vontade à Vontade de Outro, para agir em conformidade com Ele. Esse Outro não pode ser, definitivamente, senão Deus. Só Ele tem o direito de obrigar uma vontade livre criada por Ele. Com Cristo, Verbo encarnado, uma nova ordem foi instaurada. No centro deste mundo novo está o sofrimento voluntário e redentor da Cruz e a misteriosa obediência que conduziu Cristo até lá. Ele é o modelo. Para o futuro, nenhuma participação nesta obra redentora poderá ser possível a alguém fora da perspectiva da obediência.

«Pois como pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também pela obediência de um só, muitos virão a ser justos» (Rom 5, 29).

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