sábado, 30 de junho de 2018

SOLENIDADE DOS APÓSTOLOS SÃO PEDRO E SÃO PAULO:


« Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja »

Agora sei que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes.


Leitura do livro dos Atos dos Apóstolos 12, 1-11 - «Naqueles dias, o rei Herodes prendeu alguns membros da Igreja, para torturá-los. Mandou matar à espada Tiago, irmão de João. E, vendo que isso agradava aos judeus, mandou também prender a Pedro. Eram os dias dos Pães ázimos. Depois de prender Pedro, Herodes colocou-o na prisão, guardado por quatro grupos de soldados, com quatro soldados cada um. Herodes tinha a intenção de apresentá-lo ao povo, depois da festa da Páscoa. Enquanto Pedro era mantido na prisão, a Igreja rezava continuamente a Deus por ele. Herodes estava para apresentá-lo. Naquela mesma noite, Pedro dormia entre dois soldados, preso com duas correntes; e os guardas vigiavam a porta da prisão. Eis que apareceu o anjo do Senhor e uma luz iluminou a cela. O anjo tocou o ombro de Pedro, acordou-o e disse: “Levanta-te depressa!” As correntes caíram-lhe das mãos. O anjo continuou: “Coloca o cinto e calça tuas sandálias!” Pedro obedeceu e o anjo lhe disse: “Põe tua capa e vem comigo!” Pedro acompanhou-o, e não sabia que era realidade o que estava acontecendo por meio do anjo, pois pensava que aquilo era uma visão. Depois de passarem pela primeira e segunda guarda, chegaram ao portão de ferro que dava para a cidade. O portão abriu-se sozinho. Eles saíram, caminharam por uma rua e logo depois o anjo o deixou. Então Pedro caiu em si e disse: “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava!”

Salmo – Sl 33(34),2-3.4-5.6-7.8-9 (R. 5)

S. De todos os temores me livrou o Senhor Deus.

Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, seu louvor estará sempre em minha boca.
Minha alma se gloria no Senhor; que ouçam os humildes e se alegrem!

Comigo engrandecei ao Senhor Deus, exaltemos todos juntos o seu nome!
Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu, e de todos os temores me livrou.

Contemplai a sua face e alegrai-vos, e vosso rosto não se cubra de vergonha!
Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido, e o Senhor o libertou de toda angústia.

O anjo do Senhor vem acampar ao redor dos que o temem, e os salva.
Provai e vede quão suave é o Senhor! Feliz o homem que tem nele o seu refúgio!

Agora está reservada para mim a coroa da justiça.

Segunda carta de São Paulo a Timóteo 4,6-8.17-18 - «Caríssimo: Quanto a mim, eu já estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa. Mas o Senhor esteve a meu lado e me deu forças; ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão. O Senhor me libertará de todo mal e me salvará para o seu Reino celeste. A ele a glória, pelos séculos dos séculos! Amém.».

Tu és Pedro e eu te darei as chaves do Reino dos Céus.

Evangelho segundo São Mateus 16,13-19 - «Naquele tempo: Jesus foi à região de Cesareia de Filipe e ali perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” Eles responderam: “Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas”. Então Jesus lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Respondendo, Jesus lhe disse: “Feliz es tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”.

COMENTÁRIOS

A solenidade dos Santos apóstolos Pedro e Paulo, cujo dia próprio é 29 de junho, neste ano cai na segunda feira, mas no Brasil é celebrada no domingo. A celebração dos dois grandes apóstolos é feita nesse dia, pois esta festa não tem outra razão senão glorificar a Cristo, por quem eles viveram e morreram. O prefácio da Missa deste dia expressa a razão de nossa ação de graças ao Senhor: «Hoje, vós nos concedeis a alegria de celebrar os apóstolos são Pedro e são Paulo. Pedro, o primeiro a proclamar a fé, fundou a Igreja primitiva sobre a herança de Israel. Paulo, mestre e doutor das nações, anunciou-lhes o Evangelho da Salvação. Por diferentes meios, os dois congregaram a única família de Cristo e, unidos pela coroa do martírio, recebem hoje, por toda a terra, igual veneração».

Na Primeira Leitura, tirada do livro dos Atos dos Apóstolos, Pedro, no cárcere, recebe a visita de um anjo enviado por Deus que o liberta das cadeias e o convida a segui-lo, para assim poder continuar a governar a Igreja do Senhor. São Paulo, na segunda carta a seu filho querido, Timóteo, abre seu coração estando já perto de ser martirizado e recorda com sinceridade que «combateu o bom combate». Estando já ao final de sua carreira, espera com confiança na misericórdia do «justo Juiz» que sempre o assistiu e lhe deu forças. Na famosa passagem do primado de Pedro vemos a abertura e docilidade do apóstolo para assim proclamar «Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo!».

No dizer do povo, quem é o Filho do Homem?

Em certo momento de sua vida, depois de ter feito numerosos milagres e de ter exposto sua maravilhosa doutrina, Jesus quis saber que opinião o povo tinha formado sobre Ele.  Em uma ocasião em que Ele se reunia em particular com seus apóstolos, pergunta-lhes: «Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?» Sem dúvida o povo comentava muitas coisas a respeito dele. Mas as opiniões que se tinham não acertavam em tudo: «Alguns dizem que é João Batista; outros que é Elias; outros ainda, que é Jeremias ou algum dos profetas». Estas respostas estavam muito longe de ser toda a verdade. Desta vez a pergunta se dirige diretamente a seus apóstolos: «E vós quem dizeis que eu sou?» Podemos imaginar que os discípulos vacilavam, já que talvez suas respostas não fossem totalmente exatas. Eles certamente tinham pensado muitas coisas a respeito de Jesus. Pouco antes, quando o viram caminhar sobre a água, depois que Ele, junto com Pedro, subiu na barca e amainou o forte vento, os discípulos «prostraram-se diante dele e disseram: Tu és verdadeiramente o Filho de Deus» (Mt 14,33). Mas, não se tinham deixado levar pela impressão do momento? A lei judia, promulgada por Deus, era muito severa neste ponto: «eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei do Egito… Não terás outro deus diante de mim.» (Dt 5,6-7). Para um judeu estava estritamente proibido prostrar-se diante de qualquer outra realidade fora do único Deus.

Enquanto os discípulos vacilavam em responder, adianta-se Pedro e afirma com decisão: «Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”». Pedro foi o primeiro em confessar a fé. Esta afirmação é o centro da fé cristã. Devemos sua formulação a Pedro. Mas ele não chegou a isso graças a sua perspicácia ou a sua inteligência: foi uma revelação de Deus, tal como é declarado por Jesus: «Feliz es tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu.» Desta maneira Ele nos ensina que a fé em Cristo é um dom de Deus e que Pedro foi o primeiro a quem tal dom foi concedido. A esta confissão segue uma promessa de Cristo: «Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la».

Esta promessa é uma verdadeira profecia. Talvez nunca tenhamos nos detido a pensar nela. Jesus troca o nome de Simão para lhe indicar sua missão: ser a pedra sobre a qual seria edificada a Igreja de Cristo. Que ninguém ponha outro fundamento [para a Igreja] que o posto por Cristo! Outras comunidades não fundadas sobre essa pedra não são «a Igreja de Cristo», que está fundada sobre Pedro e seus Sucessores e é a que desafia as potências inimigas e toda adversidade. “O poder do inferno” levantou-se, ao longo da história, contra a Igreja. Perseguiram-na, procuraram eliminá-la, mas não prevaleceram contra ela. Talvez o momento mais crítico tenha sido, precisamente, quando o Império Romano matou os dois grandes apóstolos Pedro e Paulo com a intenção de acabar com a Igreja. Mas nem sequer isto conseguiu vencê-la, pois em seguida assumiu a missão um Sucessor da «Pedra», e a Igreja seguiu sua marcha em meio às perseguições.

As palavras que Cristo então disse a Pedro continuam ressonando hoje: «Os poderes adversos não prevalecerão contra a Igreja». E sabemos que passarão o céu e a terra antes que se deixe de cumprir uma vírgula da palavra de Cristo. Hoje em dia o Papa Francisco, Sucessor de Pedro, oferece um apoio seguro em que a Igreja e a verdadeira fé se fundamentam. A ele, como então a Pedro, corresponde formular a fé e a moral cristãs. Aquele que dissente dele nestas matérias fica à margem do Reino dos céus, pois só a ele se dirigem as palavras que Cristo adiciona: «Eu te darei as chaves do Reino dos Céus».

« Agora vejo que o Senhor mandou verdadeiramente o seu anjo »

O capítulo 12 dos Atos dos Apóstolos menciona a perseguição da Igreja em Jerusalém por Herodes Agripa I onde São Tiago, o Maior, foi decapitado e São Pedro encarcerado. O capítulo acaba com a terrível morte de Herodes pelas mãos do anjo do Senhor (ver At 12,23). Toda a cena da libertação de Pedro tem um colorido muito real e vivo. O detalhe da criada Rode (ver At 12, 13-16) que vai à porta, e que alegre por escutar e reconhecer a voz de Pedro parte para dar a notícia, deixando Pedro na rua, que continua chamando e fazendo barulho para que o deixem entrar, tem um pitoresco frescor. Por outro lado, a atitude de Pedro, que ao longo da passagem dúvida entre a visão e a realidade, responde muito bem ao seu caráter rude de homem do mar.

Vale a pena destacar alguns pontos da narração. Um deles é a atitude da Igreja que «orava sem cessar por ele a Deus». Trata-se de uma oração intensa que provém da angústia e da preocupação pela detenção daquele que Jesus escolheu como seu «vigário». A intervenção do anjo que diz a Pedro que se levante e que o siga recorda a cena do anjo que cuida e guia Elias rumo ao monte Horeb (ver 1Rs 19,5-8). Finalmente Pedro enumera dois inimigos dos quais Deus o livrou: Herodes e o povo judeu, que esperava presenciar e tomar parte no julgamento e, talvez, apedrejá-lo. Pedro, sendo ele mesmo judeu, distingue-se dos judeus. O acontecimento reveste-se, pois, de um sentido religioso e de inimizade.

LUZES PARA A VIDA CRISTÃ

1. O Evangelho de hoje é o Evangelho da entrega das chaves a Pedro. Sou consciente de que Pedro – hoje Papa Francisco – necessita de minha constante oração, ajuda e respaldo?

2. São Paulo nos diz que ao final de seus dias permaneceu firme na fé, posso dizer eu o mesmo? Peçamos ao Senhor o dom da fidelidade e da coerência.

PADRES DA IGREJA

S. João Paulo II, homilia da missa de 29/6/2004 – «”Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo” (Mt 16, 16). Interrogado pelo Senhor, Pedro, também em nome dos outros Apóstolos, faz a sua profissão de fé.

Nela é afirmado o fundamento seguro do nosso caminho rumo à plena comunhão. De facto, se desejamos a unidade dos discípulos de Cristo, devemos repartir de Cristo. Assim como a Pedro, também a nós é pedido que confessemos que Ele é a pedra angular, o Chefe da Igreja. Na Carta apostólica Ut unum sint escrevi: “Acreditar em Cristo significa querer a unidade; querer a unidade significa querer a Igreja; querer a Igreja significa querer a comunhão de graça que corresponde ao desígnio do Pai desde toda a eternidade” (n. 29).

Ut unum sint! Eis de onde provém o nosso compromisso de comunhão, em resposta ao fervoroso desejo de Cristo. Não se trata de uma vaga relação de boa proximidade, mas do vínculo indissolúvel da fé teologal pela qual somos destinados não à separação, mas à comunhão»

Bento XVI. Homilia de 29 de junho 2007 – «Há dois modos de “ver” e de “conhecer” Jesus: um, o da multidão, mais superficial; o outro, o dos discípulos, mais penetrante e autêntico. Com a dupla pergunta: “O que diz o povo?” “O que vós dizeis de mim?”, Jesus convida os discípulos a tomar consciência desta perspectiva diversa. O povo pensa que Jesus é um profeta. Isto não é falso, mas não basta; é inadequado. Com efeito, deve-se ir até o fundo; é preciso reconhecer a singularidade da pessoa de Jesus de Nazaré, sua novidade. Também hoje acontece o mesmo: muitos se aproximam de Jesus, por assim dizer, por fora. Grandes estudiosos reconhecem sua estatura espiritual e moral e seu influxo na história da humanidade, comparando-o a Buda, Confúcio, Sócrates e a outros sábios e grandes personagens da história. Mas não chegam a reconhecê-lo em sua unicidade. Vem à memória o que Jesus disse a Felipe durante a última Ceia:  “Tanto tempo faz que estou convosco e não me conheces Felipe?” (Jo 14, 9).

Frequentemente Jesus é considerado também como um dos grandes fundadores de religiões, um dos que cada um pode tomar algo para formar uma convicção própria. Portanto, como então, também hoje “o povo” tem opiniões diversas sobre Jesus. E, como então, também a nós, discípulos de hoje, Jesus repete sua pergunta: “E vós quem dizeis que eu sou?” Queremos fazer nossa a resposta de são Pedro. Segundo o Evangelho de são Marcos, ele disse: “Tu és o Cristo.” (Mc 8, 29); em são Lucas, a afirmação é:  “O Cristo de Deus” (Lc 9, 20); em são Mateus: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo!” (Mt 16, 16); por último, em são João: “Tu és o Santo de Deus!” (Jo 6, 69). Todas essas respostas são exatas e valem também para nós.

Consideremos, em particular, o texto de são Mateus, recolhido na liturgia de hoje. Segundo alguns estudiosos, a fórmula que aparece nele pressupõe o contexto pós-pascal e inclusive estaria vinculada a uma aparição pessoal de Jesus ressuscitado a são Pedro; uma aparição análoga à que teve são Paulo no caminho de Damasco. Na realidade, o encargo conferido pelo Senhor a são Pedro está enraizado na relação pessoal que o Jesus histórico teve com o pescador Simão, do primeiro encontro com ele, quando lhe disse: “Tu és Simão, (…) serás chamado Cefas (que quer dizer Pedra)” (Jo 1,42). O evangelista São João, também ele pescador e sócio, com seu irmão são Tiago, dos dois irmãos Simão e André sublinha isso. O Jesus que depois da ressurreição chamou Saulo é o mesmo que — ainda imerso na história — se aproximou, depois do batismo no Jordão, dos quatro irmãos pescadores, então discípulos do Batista (cf. Jo 1, 35-42). Foi buscá-los à margem do lago da Galileia e os convidou a segui-lo para serem “pescadores de homens” (cf. Mc 1, 16-20).

Além disso, a Pedro encomendou uma tarefa particular, reconhecendo nele um dom especial de fé concedido pelo Pai celestial. Evidentemente, tudo isto foi iluminado depois pela experiência pascal, mas permaneceu sempre firmemente ancorado nos acontecimentos históricos precedentes à Páscoa. O paralelismo entre são Pedro e são Paulo não pode diminuir o alcance do caminho histórico de Simão com seu Mestre e Senhor, que desde o início atribuiu-lhe a característica de “rocha” sobre a qual edificaria sua nova comunidade, a Igreja.»

Papa Francisco, homilia na missa de 29/6/2014 – «Pedro experimentou que a fidelidade de Deus é maior do que as nossas infidelidades, e mais forte do que as nossas negações. Dá-se conta de que a fidelidade do Senhor afasta os nossos medos e ultrapassa toda a imaginação humana. Hoje, Jesus faz a mesma pergunta também a nós: «Tu amas-Me?» Fá-lo precisamente porque conhece os nossos medos e as nossas fadigas. E Pedro indica-nos o caminho: fiarmo-nos d’Ele, que «sabe tudo» de nós, confiando, não na nossa capacidade de Lhe ser fiel, mas na sua inabalável fidelidade. Jesus nunca nos abandona, porque não pode negar-Se a Si mesmo (cf. 2 Tm 2, 13). É fiel. A fidelidade que Deus, sem cessar, nos confirma também a nós, Pastores, independentemente dos nossos méritos, é a fonte de nossa confiança e da nossa paz. A fidelidade do Senhor para conosco mantém sempre aceso em nós o desejo de O servir e de servir os irmãos na caridade».

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