sábado, 7 de abril de 2018

II Domingo da Páscoa


Textos: Atos 4, 32-35; 1 Jo 5, 1-6; Jo 20, 19-31

1ª Leitura (At 4,32-35): A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum. Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus com grande poder e gozavam todos de grande simpatia. Não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade.

Salmo Responsorial: 117
R. Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Israel: é eterna a sua misericórdia. Diga a casa de Aarão: é eterna a sua misericórdia. Digam os que temem o Senhor: é eterna a sua misericórdia.

A mão do Senhor fez prodígios, a mão do Senhor foi magnífica. Não morrerei, mas hei de viver, para anunciar as obras do Senhor. Com dureza me castigou o Senhor, mas não me deixou morrer.

A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. Tudo isto veio do Senhor: é admirável aos nossos olhos. Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria.

2ª Leitura (1Jo 5,1-6): Caríssimos: Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus, e quem ama Aquele que gerou ama também Aquele que nasceu d’Ele. Nós sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos, porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o vencedor do mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.

Disse o Senhor a Tomé: «Porque Me viste, acreditaste; felizes os que acreditam sem terem visto».

Evangelho (Jo 20,19-31): Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam reunidos, com as portas fechadas por medo dos judeus. Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: «A paz esteja convosco». Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos, então, se alegraram por verem o Senhor. Jesus disse, de novo: «A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou também eu vos envio». Então, soprou sobre eles e falou: «Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, ficarão retidos». Tomé, chamado Gêmeo, que era um dos Doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos contaram-lhe: «Nós vimos o Senhor!». Mas Tomé disse: «Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se eu não puser a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, os discípulos encontravam-se reunidos na casa, e Tomé estava com eles. Estando as portas fechadas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê! ». Tomé respondeu: «Meu Senhor e meu Deus! ». Jesus lhe disse: «Creste porque me viste? Bem-aventurados os que não viram, e creram! ».  Jesus fez diante dos discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.

«Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados»

Rev. D. Joan Ant. MATEO i García (La Fuliola, Lleida, Espanha)

Hoje, segundo Domingo da Páscoa, completamos a oitava deste tempo litúrgico, uma das oitavas —juntamente com a do Natal— que a renovação litúrgica do Concílio Vaticano II manteve. Durante oito dias, contemplamos o mesmo mistério a aprofundamo-lo à luz do Espírito Santo.

Por desígnio do Papa João Paulo II, a este Domingo chama-se o Domingo da Divina Misericórdia. Trata-se de algo que vai muito mais além de uma devoção particular. Como explicou o Santo Padre na sua encíclica Dives in misericordia, a Divina Misericórdia é a manifestação amorosa de Deus em uma história ferida pelo pecado. A palavra “Misericórdia” tem a sua origem em duas palavras: “Miséria” e “Coração”. Deus coloca a nossa miserável situação devida ao pecado no Seu coração de Pai, que é fiel aos Seus desígnios. Jesus Cristo, morto e ressuscitado, é a suprema manifestação e atuação da Divina Misericórdia. «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito» (Jo 3,16) e entregou-O à morte para que fossemos salvos. «Para redimir o escravo sacrificou o Filho», temos proclamado no Pregão pascal da Vigília. E, uma vez ressuscitado, constituiu-O em fonte de salvação para todos os que creem nele. Pela fé e pela conversão, acolhemos o tesouro da Divina Misericórdia.

A Santa Madre Igreja, que quer que os seus filhos vivam da vida do Ressuscitado, manda que —pelo menos na Páscoa— se comungue na graça de Deus. A cinquentinha pascal é o tempo oportuno para cumprir esta determinação. É um bom momento para confessar-se, acolhendo o poder de perdoar os pecados que o Senhor ressuscitado conferiu à sua Igreja, já que Ele disse aos Apóstolos: «Recebei o Espírito Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados» (Jo 20,22-23). Assim iremos ao encontro das fontes da Divina Misericórdia. E não hesitemos em levar os nossos amigos a estas fontes de vida: à Eucaristia e à Confissão. Jesus ressuscitado conta conosco.

Ver e tocar para crer.
P. Antonio Rivero, L.C.

Temos que agradecer a Tomé esse querer ver e tocar para crer. Encontrar-se com um ressuscitado não é coisa de todos os dias como para acreditar sem mais nem menos. E menos Tomé, o realista, que não acreditava nem sequer na sua sombra, para quem o ressuscitado seria um fantasma normal.

Em primeiro lugar, eu gosto de Tomé, é dos meus: independente, realista, desconfiado, seguro de si, cético… O que se diz um homem de hoje: cientifico (que provas são razões e não boas afirmações), materialista (vamos viver com os sentidos, que são quatro dias! Ou como dizia o meu pai, que em paz descanse, quando o médico quis receitar para ele uma dieta espartana: “Para três dias que vivemos, como o que me dá vontade e basta”), pessimista (que o mundo vai de crânio e o pior é sempre o mais seguro). Este Tomé é um sujeito tão típico do nosso mundo de hoje. Querer colocar os dedos nas feridas das mãos e do lado. Querer pisar firme na sua vida. Não quer ser ingênuo, nem tonto, nem bobinho, nem falar por boca de ganso, como se diz em espanhol. Quer seguranças… E quem não as quer? Tomé realmente era o porta-voz de todos nós e dos outros apóstolos, que pensavam e esperavam, creiam e duvidavam todos igualmente. Todos passaram e passamos todas as nossas gripes de fé, ninguém crê pondo a mão no fogo que Jesus era Deus. Quando o viram na cruz decidiram: “Isto foi um erro; vamos todos para casa, voltemos para o lago, para as redes e para os barcos”.

Em segundo lugar, esse Tomé sim que deu um pulo na fé. Tomé também creu. Creu, mas dolorosamente. Por causa do seu caráter seguro construiu uma fortaleza e vivia ali dentro, sem porta nem janelas que dessem para a esperança, para o sonho, para a surpresa, para o futuro…não fossem assim entrar a desilusão, o fracasso, o sofrimento. Tinha medo de crer. Sem cria, mas altaneiramente. Tomé cria e punha a fé difícil para os demais apóstolos e para nós. A nossa fé não pode ser de gente boba e ingênua, irracional e simples. Como Tomé nos propõe Cristo? Propõe-nos Cristo como um Senhor que vive… “com as feridas”. Sem se dar conta, o descreditado Tomé (símbolo perfeito para nós) nos mostrou um itinerário de fé que sai do que nos acostumamos imaginar. Nós não conhecemos Jesus através de argumentos impecáveis. Nem sequer através de milagres chamativos. Reconhecemos Jesus… Pelas suas feridas. Só quando colocamos a mão nelas reconhecemos que está vivo, que não é um conto.

Finalmente, a este Tomé e a todos os que somos como ele, Jesus nos diz: “Deixe-se a si mesmo, que é um homem somente, e escute-me, que sou Deus. Deixa de fazer experimentos e provas, que a fé, sendo racional, não é racionalista nem de laboratório. Deixa de meter tanta cabeça e coloca mais coração, que por ai vai a fé: nisto da fé, como naquilo do amor, “o coração tem as suas razoes, que a razão não conhece… É o coração o que sente Deus, e não a razão. E isso é precisamente a fé: Deus sensível ao coração, não à razão” (Pascal) ”.Feliz quem assim confia no coração e assim acredita em Deus! Feliz quem, ao vê-lo, confia em Deus, que nunca deixou ninguém na mão. Você, que duvida, venha ao que não duvida: que duvida de Deus, venha a Deus, que não duvida do homem! 

Para refletir: “Meu Senhor e meu Deus”. Depois desse profundo ato de fé, Tomé foi a propagar o evangelho, até morrer martirizado por proclamar a sua fé em Jesus Cristo ressuscitado. Dúvidas preciosas de Tomé que obtiveram de Jesus aquela bela notícia: “Felizes os que creem sem terem visto”. Caminhamos de mãos dadas com Tomé, coloquemos os nossos dedos nas muitas feridas que o Crucificado continua tendo hoje, nos nossos irmãos pobres e necessitados, como ama dizer o Papa Francisco: “Tocar a carne de Cristo no pobre”. De quais feridas estamos fugindo? Por quais caminhos falsos estamos buscando o Ressuscitado? E, curados do ceticismo pela força do sofrimento, talvez possamos nos render ao mistério do Senhor que se nega a se revelar numa equação matemática, mas que se sente à vontade escondido nas células agressivas de um câncer terminal e nas dobras de uma depressão.

Para rezar: Senhor, creio, mas aumenta a minha fé. Senhor, quero colocar os meus dedos no vosso lado, nos sacramentos e nos meus irmãos mais necessitados.

Domingo da Misericórdia
P. Antonio Rivero, L.C.

Este dia foi chamado por São João Paulo II, o domingo da Misericórdia, porque do coração de Jesus, cheio de ternura brotaram estes dons como raios e reflexos da sua Ressurreição: a paz, os sacramentos e a última bem-aventurança, com a qual Cristo confirma a fé em nós, que cremos nele (segunda leitura) e naqueles que sofrem as dúvidas do apóstolo são Tomé.

Resumo da mensagem: Com a celebração do presente domingo da Misericórdia concluímos a Oitava de Pascoa, ou seja, esta semana que a Igreja nos convidou a considerar como um dia só: “O dia que o Senhor fez”. O Evangelho de hoje nos relata a aparição de Jesus Misericordioso aos seus discípulos no mesmo dia da sua ressurreição, no qual derramou sobre eles e lhes confiou o tesouro da sua Paz e dos seus Sacramentos, e confirmou a nossa fé e a fé de todos os “Tomés” do mundo, que estão cheios de dúvidas e com ânsias de ter certezas (evangelho). Esta paz nos levará depois a viver melhor a Eucaristia, a rezar com mais fervor e a praticar a caridade com os nossos irmãos (primeira leitura).

Em primeiro lugar, Cristo Misericordioso e Ressuscitado nos dá a sua paz, em hebraico Shalom (שלום), que significa um desejo de saúde, harmonia, paz interior, calma e tranquilidade para aquele ou aqueles a quem está dirigido. Paz como bem-estar entre as pessoas, as nações e entre deus e o homem. Os apóstolos perderam esta paz depois da morte de Cristo no Calvário. Estavam realmente com a paz, a fé e a esperança despedaçadas. Esta perturbação sombria dos discípulos é dissipada pela luz da vitória do Senhor, que enche os seus corações de serenidade e de alegria. Santo Agostinho definia a paz como “a tranquilidade da ordem”. E posto que existem duas “ordens”, a imperfeita da terra e a acabada do céu, existem também duas “pazes”: a da peregrinação e a da pátria. A insistência dessa palavra “paz” no Canon Romano da missa é clara: a Igreja recebeu a missão de estender até os confins do mundo a paz de Cristo Ressuscitado e Misericordioso.

Em segundo lugar, Cristo já nos dera na Quinta-Feira Santa o sacramento da Eucaristia. Agora, do seu coração misericordioso retira este outro tesouro: o sacramento da Reconciliação. Cristo envia os seus apóstolos com a missão de prolongar a sua própria missão: perdoar os pecados. A paz com Deus e com os nossos irmãos, primeiro dom que comentamos, se perdeu por culpa do pecado. Com o sacramento da Reconciliação recuperamos esta paz que rompemos com o pecado. A Igreja, depois da Ressurreição de Cristo é o instrumento mediante o qual o Senhor vai reduzindo tudo sob a soberania do seu reinado, o instrumento pelo qual a graça divina é comunicada, cujo curso ordinário são os sacramentos, ordenados à reconciliação dos homens com Deus, mediante a conversão.

Finalmente, outro dos dons da Ressurreição de Jesus foi a confirmação da nossa fé. A fé na ressurreição de Cristo é a verdade fundamental da nossa salvação. “Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa pregação e é vã também, a vossa fé… Ainda estais nos vossos pecados”, dirá São Paulo. À luz da ressurreição todos os mistérios que Deus nos revelou e nos confiou ganham luminosidade.

Para refletir: Experimentamos com frequência a paz de Deus através da Reconciliação sacramental? Por que duvidamos com frequência de Deus e do seu amor misericordioso? Está firme a nossa fé em Cristo Ressuscitado?

Para qualquer sugestão ou dúvida, podem se comunicar com o padre Antônio neste e-mail: arivero@legionaries.org

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