Textos: Lev 13, 1-2.44-46; 1 Cor 10, 31-11,1;
Mc 1, 40-45
Evangelho
(Mc 1,40-45): Um leproso aproximou-se de
Jesus e, de joelhos, suplicava-lhe: «Se queres, tens o poder de purificar-me!».
Jesus encheu-se de compaixão, e estendendo a mão sobre ele, o tocou, dizendo:
«Eu quero, fica purificado». Imediatamente a lepra desapareceu, e ele ficou
purificado. Jesus, com severidade, despediu-o e recomendou-lhe: «Não contes
nada a ninguém! Mas vai mostrar-te ao sacerdote e apresenta, por tua
purificação, a oferenda prescrita por Moisés. Isso lhes servirá de testemunho».
Ele, porém, assim que partiu, começou a proclamar e a divulgar muito este
acontecimento, de modo que Jesus já não podia entrar, publicamente, na cidade.
Ele ficava fora, em lugares desertos, mas de toda parte vinham a ele».
«Se queres, tens o poder
de purificar-me»
Rev. D. Ferran JARABO i Carbonell (Agullana, Girona,
Espanha)
Hoje
o Evangelho convida-nos a contemplar a fé deste leproso. Sabemos que, em tempos
de Jesus, os leprosos estavam marginados socialmente e considerados impuros. A
cura do leproso é, antecipadamente, uma visão da salvação proposta por Jesus a
todos, e um chamado a abrir-lhe o nosso coração para que Ele o transforme.
A
sucessão dos fatos é clara. Primeiro, o leproso pede a cura e professa a sua
fé: «Se queres, tens o poder de purificar-me!» (Mc 1,40). Em segundo lugar,
Jesus —que literalmente rende-se ante nossa fé—cura-o («Eu quero, fica
purificado»), e pede-lhe seguir o que a lei prescreve, ao mesmo tempo pede-lhe
silencio. Mas, finalmente, o leproso sente-se impulsionado a «proclamar e a
divulgar muito este acontecimento» (Mc 1,45). Em certa maneira desobedece à
última indicação de Jesus, mas o encontro com o Salvador provoca-lhe um
sentimento que a boca não pode silenciar.
Nossa
vida parece-se à do leproso. Às vezes vivemos, pelo pecado, separados de Deus e
da comunidade. Mas este Evangelho anima-nos oferecendo-nos um modelo: professar
nossa fé íntegra em Jesus, abrir-lhe totalmente nosso coração, e uma vez
curados pelo Espírito, ir a todas as partes a proclamar que temos nos encontrado
com o Senhor. Este é o efeito do sacramento da Reconciliação, o sacramento da
alegria.
Como
bem afirma São Anselmo: «A alma deve-se esquecer dela mesma e permanecer
totalmente em Jesus Cristo, que tem morto para fazer-nos morrer ao pecado, e
tem ressuscitado para fazer-nos ressuscitar para as obras de justiça». Jesus
quer que percorramos o caminho com Ele, quer curar-nos. Como respondemos? Temos
que ir ao seu encontro com a humildade do leproso e deixar que Ele nos ajude a
rejeitar o pecado para viver sua Justiça.
A pior lepra na nossa
vida é a lepra do pecado que carcome a nossa alma, nos afasta de Deus, nos
marginaliza dos homens e mata as nossas mais nobres aspirações.
Pe. Antonio Rivero, L.C.
Imaculada Conceição de Lourdes |
Se
Cristo não tivesse vindo, todos continuaríamos leprosos. E com a lepra a
maldição. E com a maldição, a condenação. Porém Cristo nos curou e nos cura
mediante os sacramentos que realizam o que significam. E com Cristo, a
salvação.
Em
primeiro lugar, no tempo bíblico a lepra-parece que chamavam assim praticamente
todas as doenças da pele-era a enfermidade mais temida e a que mais reação
contrária produzia. Causava desfigurações e mutilações repulsivas. O Levítico
por higiene e também porque atribuíam este mal aos pecados da pessoa, prescrevia
uma marginação realmente dura. No tempo de Jesus, o leproso era expulso de
casa, da casa para a rua, da cidade para o campo e da sociedade ao sepulcro.
Era obrigado por lei a andar em farrapos e cabeludo, dar alerta com gritos aos
transeuntes quando se aproximava e morar nos sepulcros vazios. E tudo porque
era um enfermo de alto risco, que contagiava o que o tocasse, e um imputo legal
sem direitos à comunidade de culto, porque tornava impuro tudo o que tocasse.
Um grande cristão do nosso tempo Raul Follereau, lutou titanicamente pela sua
erradicação, e ainda hoje a Fundação Anesvad insiste incansável na
conscientização sobre ela. Herói indiscutível desta enfermidade foi o Beato
Damião, de Molokai, missionário contagiado de lepra cuidando dos leprosos. O
bacilo da lepra, conhecido pelo nome do seu descobridor, “Hansen”, não foi
descoberto até 1874. Porém, foi uma freira francesa, Sor. Maria Zuzanne, a que
achou o soro eficaz para combater a lepra, que leva o nome da descobridora,
“Microbacterium Marianum”. Hoje a lepra está mais controlada. Mas tem como
companhia outros males parecidos, como a AIDS, que invade grandes regiões do
mundo.
Em
segundo lugar, na Idade Media, o sacerdote pendurava a estola no pescoço,
empunhava o crucifixo bem alto, colocava o leproso no templo e celebrava para
ele o ofício dos defuntos. Então os arquitetos de templos e catedrais deixavam
uns orifícios nas paredes, os buraquinhos dos leprosos, para que eles pudessem
assistir a missa sem entrar na igreja. Logo, terminando a missa, isolavam-no
nos lazaretos, hospitais imundos onde pudessem tranquilamente morrer de nojo. E
na Idade Pós-moderna, que é a nossa, o que fazemos com os leprosos de ontem que
são os contagiados de AIDS hoje? A AIDS se contagia só de sangue a sangue:
pelas relações sexuais, pelas transfusões, pelas agulhas de drogados
contagiados e pela gestação da mãe ao filho. A AIDS começou as suas andanças
pelas nações em 1981. Em 1987 tínhamos 5 milhões de enfermos de aids no mundo;
no ano seguinte já eram 10 milhões. E hoje? Tenebroso e de dar arrepio. A AIDS
é a peste negra hoje em dia, a que em 1384 esvaziou os conventos de Marseille e
Caracassone, dizimou Europa, destruiu duas gerações e deixou por terminar as
torres das catedrais de Colônia e Estrasburgo. O enfermo da AIDS de hoje é o
leproso de ontem.
Finalmente,
a pior lepra é a do pecado. Necessitamos que Cristo nos toque. Jesus tocou o
leproso, que fazia muitos anos que não tinha experimentado nem um só contato,
desde que a sua mãe o acariciava quando era criança. Agora está sentindo o
cálido afeto do tato da mão todo bondade e ternura de Jesus, enquanto toda uma
oleada de vida eletrizou todo o seu corpo. E mudaram os papéis: o leproso ficou
limpo e Jesus, segundo a lei do Levítico, impuro: “quem tocar um impuro fica
contaminado, porque o impuro transmite a sua impureza” (1,5). São Paulo
relaciona a lepra com o pecado, e nos diz assim: “o que não conheceu pecado, se
fez pecado no nosso lugar, para que fossemos justiça de Deus Nele” (2 Cor
5,21). Sem, a pior lepra é a do pecado. Lepra de mente, quando pensamos coisas
indignas. Lepra de olhos, quando olhamos o que não devemos olhar. Lepra de
coração, quando odiamos e desejamos o mal, o a mulher ou o varão que não nos
corresponde. Lepra de mãos, quando brigamos ou quando não compartilhamos. Lepra
dos pés, quando transitamos pelos lugares tenebrosos. E com esta lepra do
pecado vêm todas as consequências: afastamo-nos de Deus, afastamo-nos dos
homens, matamos a nossa alma, e os demais males do mundo. E por que Deus nos
envia de novo o Dilúvio (Gn 6) ou faz cair fogo sobre as novas Sodomas e
Gomorras (Gn 19)? O Pai ama tanto o mundo que faz o seu Filho leproso, para que
os homens sintam a calor e a ternura de Deus nas suas carnes.
Para
refletir:
Qual lepra invade a minha
vida? O que estou esperando para me aproximar de Cristo para gritar que me cure
na confissão? Por que não ajudo os outros irmãos leprosos para que eles se
aproximem de Cristo?
Para
rezar: Senhor, se quiserdes, podereis
limpar-me. E se me curardes, contarei a todos os que me circundam, tende isso
por seguro, Senhor.
Qualquer
sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:
arivero@legionaries.org
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