sábado, 23 de dezembro de 2017

IV Domingo do Advento

Textos: 2 Sam 7, 1-5.8-12.14.16; Rom 16, 25-27; Lc 1, 26-38

Evangelho (Lc 1,26-38): Quando Isabel estava no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem de nome José, da casa de Davi. A virgem se chamava Maria. O anjo entrou onde ela estava e disse: «Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo». Ela perturbou-se com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação.  O anjo, então, disse: «Não tenhas medo, Maria! Encontraste graça junto a Deus. Conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande; será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a descendência de Jacó, e o seu reino não terá fim». Maria, então, perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem?» O anjo respondeu: «O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice. Este já é o sexto mês daquela que era chamada estéril, pois para Deus nada é impossível”. Maria disse: «Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra». E o anjo retirou-se».

«Conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus»

Fray Josep Mª MASSANA i Mola OFM (Barcelona, Espanha)

Hoje o Evangelho se assemelha a um conto popular. Começa assim: «Era uma vez...», apresentam-se as personagens, à época, o lugar e o tema. Esta chegará ao ponto crucial com o centro da narração e finalmente, há o desenlace.

São Lucas, de modo semelhante, conta-nos de forma popular e acessível, a maior história. Apresenta não uma narração criada pela imaginação, senão uma realidade tecida pelo mesmo Deus com colaboração humana. O ponto crucial é: «Conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus» (Lc 1,31).

Essa mensagem diz-nos que o Natal já está próximo. Maria nos abrirá a porta com a sua colaboração na obra de Deus. A humilde donzela de Nazaré escuta surpreendida o anúncio do Anjo. Precisamente orava para que Deus enviasse o Ungido, para salvar o mundo. Não podia imaginar, no seu modesto entendimento, que Deus a escolhia justamente a Ela para realizar seus planos.

Maria vive no seu coração uns momentos de tensão, dramáticos: era e queria continuar virgem; Deus agora lhe propõe uma maternidade. Maria não o entende: «Como acontecerá isso?» (Lc 1,34), pergunta. O Anjo disse-lhe que virgindade e maternidade não se contradizem, senão que, pela força do Espírito Santo, integram-se perfeitamente. Não é que ela agora o compreenda melhor. Mas já lhe é suficiente, pois o prodígio será obra de Deus: «Para Deus nada é impossível» (Lc 1,38). Por isso responde: «Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38). Que se realizem! Que se faça! Fiat! Sim. Total aceitação da vontade de Deus, ainda que meio a cegas, mas sem condições.

Naquele mesmo instante, «a Palavra se fez carne e veio morar no entre nós» (Jo 1,14). Aquele conto popular converte-se ao mesmo tempo em realidade mais divina e mais humana. Paulo VI escreveu no ano 1974: «Em Maria vemos a resposta que Deus dá ao mistério do homem; e a pergunta que o homem faz sobre Deus e a sua própria vida».

Meditemos no Mistério mais importante da história: A Encarnação do Verbo de Deus no seio de uma jovem chamada Maria de Nazaré.

Pe. Antonio Rivero, L.C

I Vésperas do Natal do Senhor
Acabamos de escutar esse Mistério no evangelho de hoje: um menino foi concebido, de mãe solteira, já prometida em casamento, mas não casada. E esse filho não tem pai. Ponto final! Foi concebido um menino; o filho é de outro. Aborto? Mas a mãe é mulher demais, mãe demais e crê demais como para assassinar o filho e o filho é filho demais porque é Filho de Deus, que não se deixaria assassinar impunemente. E esse filho não tem pai; nem conhecido nem desconhecido nem suspeitado. Simplesmente não tem pai. Surpresa? Aliás, nem geração espontânea nem inseminação artificial nem menino à prova de teste. Caso único de partenogênese humana na história da biologia cientifica. Ponto final! Creiamos, admiremos, agradeçamos e adoremos o Mistério.

Em primeiro lugar, temos que encaixar este Mistério. As pessoas perderam o sentido do poderoso, do sagrado e do divino. Por isso existem tantos que rejeitam os mistérios. Isso é interessante, pois essas pessoas tomam café da manhã, almoçam, merendam e jantam com mistérios: a eletricidade na televisão, os átomos e moléculas, o amor e a vida. Por que elas comungam com estes mistérios com minúsculo e não se admiram diante do grande Mistério da Encarnação que tanta alegria deveria produzir, ao saber que Deus quer armar a sua tenda entre nós? Em alguns que negam este Mistério é porque não encaixa nas suas mentes compostas só de matéria cinza e dizem que é irracional: não encaixa no seu coração onde só cabe ele sozinho como a história do gigante egoísta; não encaixa na sua vontade porque este mistério pede muita mudança de vida e dizem que é chato. Maria nos dá exemplo de como encaixar esse Mistério: abrindo os ouvidos da alma, refletindo com serenidade no que implicava esse mistério e abrindo-se a esse Mistério, deixando-se possuir por ele.

Em segundo lugar, temos que crer neste Mistério. Crer é muito mais que entender. É mais, é ir além do mero entender, confiando na Palavra de Deus que não engana, nem decepciona. Crer é entregar o cheque em branco a Deus para Ele escrever o que Ele quiser, porque sempre será para a nossa salvação e felicidade. Maria nesses segundos ou minutos de silêncio reflexivo de discernimento, antes de dar o seu “sim, creio”, repassaria toda a história de fidelidade de Deus no Antigo Testamento, desde Abraão até o último profeta… e deixou que uma imensa paz a invadisse e também um contentamento interior e uma grande certeza, a fé em Deus. Diz-nos santo Agostinho: “Cheia de fé concebeu Cristo na sua mente antes que no seu seio, ao responder: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa Palavra” (Lc 1,35)”. Antes de habitar o Filho de Deus no seio de Maria, sem dúvida já “morava Cristo pela fé no coração” (Ef 3,17) de quem, pela fé, “concebeu antes na sua mente que no seu ventre virginal”. “Na alma a fé, y no ventre Cristo”. Assim “Maria foi mais feliz por receber a fé de Cristo do que por conceber a carne de Cristo” “já que não teria nenhum proveito a divina maternidade de Maria, se não tivesse sido mais feliz por levar Cristo no seu coração que na sua carne”.

Finalmente, temos que viver este Mistério e segundo este Mistério. Logicamente este Mistério não pode ficar só no nível intelectual e afetivo. Tem que invadir a nossa vida, tocar e transformar a nossa vida. São João Paulo II na sua primeira viagem ao México em 1979 ao tratar da fé, vista em Maria, disse: “Coerência, é a terceira dimensão da fidelidade. Viver de acordo com o que se crê. Ajustar a própria vida ao objeto da própria adesão. Aceitar incompreensões, perseguições antes que permitir rupturas entre o que se vive e o que se crê: esta é a coerência. Aqui se encontra, talvez, o núcleo mais íntimo da fidelidade… E só pode chamar-se fidelidade uma coerência que dura ao longo de toda a vida. O fiat de Maria na Anunciação encontra a sua plenitude no fiat silencioso que repete ao pé da cruz. Ser fiel é não trair nas trevas o que se aceitou publicamente”. Por isso, que se abre a este Mistério da Encarnação tem que viver as consequências da sua fé: uma fidelidade nas boas e nas más, nos momentos duros e nos momentos alegres.

Para refletir: Já encaixei este Mistério ou ainda tenho as portas fechadas como narra a poesia de José Maria Pemán sobre o estalajadeiro:
 “O Evangelho começa diante de uma porta
de uma pousada em Belém e um estalajadeiro.
– Não terá um quarto para esta noite?
– Nenhuma cama livre; tudo cheio.
E Deus seguiu adiante. Que pena, estalajadeiro!”?
Já cri neste Mistério no profundo do meu ser e me enche de alegria? Estou vivendo conforme este Mistério?

Para rezar: Por ser um Mistério incompreensível, ajoelho-me e vos adoro, Senhor. Por ser um Mistério de imensa beleza, extasio-me e vos agradeço, Senhor. Por ser um Mistério inefável, presto-vos a minha boca para levar este Mistério por todas as partes onde eu for.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

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