Textos: Gênesis 3, 9-15.20; Efésios 1,
3-6.11-12; Lucas 1, 26-38.
Evangelho
(Lc 1,26-38): Quando Isabel estava no
sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia,
chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem de nome José, da
casa de Davi. A virgem se chamava Maria.
O anjo entrou onde ela estava e disse: «Alegra-te, cheia de graça! O
Senhor está contigo». Ela perturbou-se com estas palavras e começou a pensar
qual seria o significado da saudação. O anjo, então, disse: «Não tenhas medo,
Maria! Encontraste graça junto a Deus. Conceberás e darás à luz um filho, e lhe
porás o nome de Jesus. Ele será grande; será chamado Filho do Altíssimo, e o
Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a
descendência de Jacó, e o seu reino não terá fim». Maria, então, perguntou ao
anjo: «Como acontecerá isso, se eu não conheço homem?». O anjo respondeu: «O
Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua
sombra. Por isso, aquele que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus.
Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice. Este já é o sexto
mês daquela que era chamada estéril, pois para Deus nada é impossível». Maria
disse: «Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra». E o
anjo retirou-se».
«Alegra-te, cheia de
graça! O Senhor está contigo»
Rev. D. David COMPTE i Verdaguer (Manlleu, Barcelona,
Espanha)
Hoje,
o Evangelho toca um acorde de três notas. Três notas, nem sempre bem afinadas
na nossa sociedade: a do fazer, a da amizade e a da coerência de vida. Hoje em
dia, fazemos muitas coisas, mas, temos um projeto? Hoje, que navegamos na
sociedade da comunicação, cabe nos nossos corações a solidão? Hoje, na era da
informação, esta permite-nos formar a nossa personalidade?
Um
projeto. Maria, uma mulher «prometida em casamento a um homem de nome José, da
casa de Davi» (Lc 1,28). Maria tem um projeto. Evidentemente, de proporções
humanas. Porém, Deus irrompe na sua vida para apresentar-lhe outro projeto...
de proporções divinas. Também hoje, quer entrar em nossa vida e dar proporções
divinas ao nosso dia-a-dia humano.
Uma
presença. «Não tenhas medo, Maria!» (Lc 1,30). Não construamos de qualquer
jeito! Não seja que a adição ao “fazer” esconda um vazio. O matrimônio, a vida
de serviço, a profissão não têm de ser uma fuga para diante. «Cheia de graça! O
Senhor está contigo» (Lc 1,28). Presença que acompanha e dá sentido. Confiança
em Deus, que — por conseguinte— nos leva à confiança com os outros. Amizade com
Deus que revigora a amizade com os outros.
Formar-nos.
Hoje, recebemos tantos estímulos muitas vezes opostos, que é preciso dar forma
e unidade à nossa vida. Maria, diz São Luís Maria Grignion, «é o molde vivo de
Deus». Existem duas maneiras de fazer uma escultura, expõe Grignion: uma, a mais
difícil, à base de batidas de cinzel. A outra, usando um molde. Esta é mais
simples do que a primeira. Mas o sucesso depende de que a matéria seja maleável
e o molde desenhe com perfeição a imagem. Maria é o molde perfeito.
Procuramo-la, sendo matéria maleável?
A Imaculada Conceição
Pe. Antonio Rivero, L.C.
A
Imaculada Conceição é o primeiro dos privilégios concedidos à Maria, com vista
à sua futura maternidade divina. Privilégio e dom que a torna digna de ser toda
de Deus e somente de Deus, desde o primeiro momento da sua concepção, dado que,
desde então, foi preservada imune de toda mancha do pecado original, com o qual
todos nascemos, herança dos nossos primeiros pais, Adão e Eva. Grande mistério!
Aprofundemos
o mistério. A pobre razão humana dos teólogos, mesmo iluminada pela fé, levou
muitos séculos para encontrar uma maneira de harmonizar o dogma da Imaculada
Conceição, com a redenção universal de Cristo, que inclui todos os seres
humanos, sem exceção, nem sequer a Mãe de Deus. Os cristãos, porém, que ignoram
os tratados científicos, mas têm o sentido da fé que vem do mesmo Espírito
Santo, já aceitavam alegremente, desde muitos séculos, a doutrina da Imaculada
Conceição de Maria, e não davam ouvidos as objeções e as dificuldades que os
estudiosos colocavam na mesma. Por outro lado, louvavam com alegria as razões
de conveniência, embora não satisfizessem os teólogos, que preenchiam
completamente o coração e a piedade dos fiéis. E repetiam, convencidos de que,
se Deus pudesse fazer imaculada a Maria, e era conveniente que a fizesse, não
há dúvida que assim o fez. Era impossível que a Rainha dos anjos, que iria
esmagar a cabeça de Satanás (primeira leitura), estivesse sob seu controle,
mesmo que fosse só por um momento. Também não era concebível que a mediadora
necessária para a reconciliação do mundo com Deus, tivesse sido sua inimiga,
nem sequer por um instante. Era impensável que Maria, por meio da qual a
salvação veio a nós, dando-nos Cristo, tivesse sido concebida em pecado. Não
podia ser possível que o sangue redentor de Cristo brotasse de uma fonte
manchada por culpa.
Façamos
um percorrido histórico pelo Oriente e Ocidente, sempre perguntando sobre este
maravilhoso mistério. Esta festa foi celebrada pela primeira vez em algumas
igrejas do Oriente, a partir do século VIII, na Irlanda desde o IX e na
Inglaterra desde o século XI. Em seguida, ela se espalhou pela Espanha, França
e Alemanha. Apesar de vários teólogos medievais questionarem ou terem negado o
privilégio da Virgem, pelo que dissemos (Cristo redimiu todos), a Igreja
proclamou oficialmente o dogma no século XIX, com o Papa Pio IX, esta doutrina
que estava em sintonia com o senso sobrenatural do coração do cristão,
continuou a se espalhar por todo o mundo. Assim, Maria não foi redimida se não
pecou? A resposta dada pela Igreja e a teologia a este mistério é esta: Maria
recebeu a graça preventiva que era para ser a Mãe do Redentor. A graça
preventiva é mais sublime do que a graça redentora; esta supõe que existia uma
mancha que Deus deveria ter limpado. Em Maria não aconteceu isto. Por isso, o
anjo a chamou: “cheia de graça” (evangelho).
As
três pessoas divinas derramaram a sua misericórdia sobre esta mulher, da
estirpe humana. Primeiro, Deus Pai ao querer associá-la ao mistério da
Encarnação e fazê-la Mãe do seu próprio Filho, escolhe uma mulher quem, desde a
origem da sua existência, adornou de uma santidade esplendorosa. Segundo, Deus
Filho, ao eleger a sua própria Mãe, devia mostrar para ela o amor do melhor dos
filhos, de um filho que quer fazer para a sua mãe todo o bem possível,
admitindo-a à participação dos seus tesouros e das suas riquezas; por isso,
desde o primeiro instante da concepção a adornou com a mais alta pureza e
santidade, não apagando uma mancha já contraída, mas preservando-a de todo
pecado. E terceiro, Deus Espírito Santo, da sua parte, para formar em Maria o
Verbo Encarnado e assim elevá-la à dignidade de Esposa sua, requeria uma
criatura que sempre tivesse sido perfeitamente santa; não bastando para isso os
dons correspondentes aos demais homens, desde toda a eternidade decidiu levar a
término este privilegio que enriquecesse Maria com todas as graças imagináveis
e a elevaria a uma santidade muito superior a de todos os anjos e santos
juntos: “Toda formosa és, Maria, não há em Ti mancha original”, canta a
Igreja.
O que Maria fez diante deste plano
maravilhoso e misericordioso de Deus? Maria não colocou obstáculos a Deus. Ao
contrário, colocou-se em disposição Dele, desde a humildade, e deu o
consentimento da sua fé ao anúncio da sua vocação. Aqui Maria demonstrou também
a sua grande misericórdia para com o gênero humano. E assim aparece como as
primícias da salvação, como a estrela da manhã que anuncia Cristo, “sol de
justiça” (cf. Mal 3,20), como a primeira criatura surgida do poder redentor de
Cristo, como aquela que foi redimida de modo eminente e misericordioso por Deus
em atenção aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano. O plano do
Pai que queria enviar o seu Filho à humanidade exigia, para a mulher destinada
a levá-lo no seu seio, uma perfeita santidade que fosse reflexo da santidade
divina. Ela que não conheceu o pecado, está no centro desta inimizade entre o
demônio e a estirpe humana redimida por Jesus Cristo, a estirpe dos filhos de
Deus. Ela aparece no meio desta singular batalha como a aurora que anuncia a
vitória definitiva da luz sobre a escuridão. Ela vai na frente desse grande
peregrinar da Igreja rumo a casa do Pai. No meio das tempestades que por todas
as partes nos açoitam, Ela, Mãe cheia de misericórdia, não abandona os homens
que peregrinam no claro escuro da fé. Ela é sinal de segura esperança e ardente
caridade.
Finalmente,
esta Solenidade nos compromete, se somos realmente filhos de Maria e criaturas
remidas pelo sangue de Cristo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele
pelo amor (segunda leitura). Em cada Eucaristia o Verbo Encarnado descerá junto
a nós, de maneira análoga ao modo em que desceu ao puro ventre de Maria na Encarnação.
Esperemos que o encontre limpo e puro.
Para
refletir:
luto contra o pecado,
contra o demônio e contra as suas ciladas? Vigio atentamente para rejeitar as
tentações que me oferece o mundo: o prazer desordenado, a avareza, o desenfreio
sexual, as paixões? Tenho misericórdia do mundo diante das ameaças do maligno
hoje: a manipulação genética, a corrupção da linguagem que chega a ser já uma
guerra semântica, a ameaça de uma destruição total, o eclipse da razão diante
de temas fundamentais como são a família, a defesa da vida desde a sua
concepção até o seu término natural, o relativismo e o niilismo que conduzem à
perda total dos valores?
Para
rezar: Meditemos nestes versos:
Olhai
hoje, resplandecente,
A
Rainha celestial.
Olhai
como treme o mal
E
se esconde a serpente.
Vestida
de sol ardente,
A
lua por pedestal
E,
qual coroa nupcial,
Doze
estrelas na cabeça.
É
a Serva e a Senhor,
A
Virgem profetizada,
Do
Sol nascente a Aurora.
Vem
de graça cumulada,
Pois
o seu Filho, em boa hora,
Quis
fazê-la Imaculada.
Qualquer
sugestão ou dúvida entre em contato com o Padre Antonio neste e-mail:
arivero@legionaries.org
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