Evangelho
(Lc 17,11-19): Aconteceu que, caminhando
para Jerusalém, Jesus passava pelos confins da Samaria e da Galileia. Ao entrar
numa aldeia, vieram-lhe ao encontro dez leprosos, que pararam ao longe e
elevaram a voz, clamando: Jesus, Mestre, tem compaixão de nós! Jesus viu-os e
disse-lhes: Ide, mostrai-vos ao sacerdote. E quando eles iam andando, ficaram
curados. Um deles, vendo-se curado, voltou, glorificando a Deus em alta voz. Prostrou-se
aos pés de Jesus e lhe agradecia. E era um samaritano. Jesus lhe disse: Não
ficaram curados todos os dez? Onde estão os outros nove? Não se achou senão
este estrangeiro que voltasse para agradecer a Deus?! E acrescentou: Levanta-te
e vai, tua fé te salvou.
Oração de ação de
graças
Elaborado com base nos textos de Bento XVI
Hoje,
imitamos o leproso curado, que volta a Jesus para lhe agradecer? De fato, só
«um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta
voz». Jesus sente a falta dos outros nove. Santo Agostinho deixou a seguinte
sentença: «Graças a Deu: não há nada que alguém possa dizer com maior brevidade
(...) nem fazer com maior utilidade que estas palavras».
Jesus, como
noutras ocasiões, pronuncia a expressão: "Salvou-te a tua fé". É a fé
que salva o homem, restabelecendo-o na sua relação profunda com Deus, consigo
mesmo e com os outros; e a fé se expressa no reconhecimento. Quem, como o
samaritano curado, sabe agradecer, demonstra que não considera tudo como um
direito, mas como um dom que, também quando chega através dos homens ou da
natureza, provém ultimamente de Deus.
A fé exige
que o homem se abra à graça do Senhor; reconheça que tudo é dom, tudo é graça.
Que tesouro se esconde numa pequena palavra: "obrigado!”.
Reflexão
Sto Alberto Magno, bispo e doutor |
* No Evangelho de hoje, Lucas conta como Jesus curou dez
leprosos, mas um só veio agradecer. E este era um samaritano! A gratidão é outro
tema muito próprio de Lucas: viver em gratidão e louvar a Deus por tudo que
dele recebemos. Por isso, Lucas fala tantas vezes que o povo ficava admirado e
louvava a Deus pelas coisas que Jesus realizava (Lc 2,28.38; 5,25.26; 7,16;
13,13; 17,15.18; 18,43; 19,37; etc). O Evangelho de Lucas traz vários cânticos
e hinos que expressam esta experiência de gratidão e de reconhecimento (Lc
1,46-55; 1,68-79; 2,29-32).
* Lucas 17,11: Jesus em viagem para
Jerusalém
Lucas
lembra que Jesus estava de viagem para Jerusalém, passando da Samaria para a Galileia.
Desde o começo da viagem (Lc 9,52) até agora (Lc 17,11), Jesus andou pela
Samaria. Só agora está saindo da Samaria, passando pela Galileia para poder
chegar a Jerusalém. Isto significa que os importantes ensinamentos, dados
nestes capítulos todos de 9 até 17, foram todos dados em território que não era
judeu. Ouvir isto deve ter sido motivo de muita alegria para as comunidades de
Lucas, vindas do paganismo. Jesus, o peregrino, continua a sua viagem até
Jerusalém. Continua tirando as desigualdades que os homens criaram. Continua a
longa e dolorosa caminhada da periferia para a capital, de uma religião fechada
sobre si mesma para a religião aberta que sabe acolher os outros como irmãos e
irmãs, filhos e filhas do mesmo Pai. Esta abertura vai aparecer no acolhimento
dado aos dez leprosos.
* Lucas 17,12-13: O grito dos
leprosos
Dez
leprosos aproximam-se de Jesus, param de longe e gritam: "Jesus, mestre,
tem piedade de nós!" O leproso era uma pessoa excluída. Era marginalizado
e desprezado, sem o direito de conviver com suas famílias. Segundo a lei da
pureza, os leprosos deviam andar com roupa rasgada e cabelos desgrenhados,
gritando: “Impuro! Impuro!” (Lv 13,45-46). Para os leprosos, a busca da cura
significava o mesmo que buscar a pureza para poder ser reintegrados na
comunidade. Não podiam aproximar-se dos outros (Lv 13,45-46). Qualquer toque
num leproso causava impureza e criava um impedimento para a pessoa poder
dirigir-se a Deus. Através do grito, eles expressam a fé de que Jesus pode
curá-los e devolver-lhes a pureza. Obter a pureza significava sentir-se,
novamente, acolhido por Deus, e poder dirigir-se a Ele para receber a bênção
prometida a Abraão.
* Lucas 17,14: A resposta de Jesus e
a cura
Jesus responde:
"Vão mostrar-se aos sacerdotes!" (cf. Mc 1,44). Era o sacerdote que
devia verificar a cura e dar o atestado de pureza (Lv 14,1-32). A resposta de
Jesus exigia muita fé da parte dos leprosos. Devem ir ao sacerdote como se já
estivessem curados, quando, na realidade, o corpo deles continuava coberto de
lepra. Mas eles acreditaram na palavra de Jesus e foram em direção ao sacerdote.
E aconteceu que, enquanto iam caminhando, manifestou-se a cura. Ficaram
purificados. Esta cura evoca a história da purificação de Naaman da Síria (2Rs
5,9-10). O profeta Eliseu mandou o homem lavar-se no Jordão. Naaman tinha de
crer na palavra do profeta. Jesus mandou os dez apresentar-se aos sacerdotes.
Eles tinham de crer na palavra de Jesus.
* Lucas 17,15-16: Reação do
samaritano
“Ao
perceber que estava curado, um deles voltou atrás dando glória a Deus em alta
voz. Jogou-se no chão, aos pés de Jesus, e lhe agradeceu. E este era um
samaritano.” Por que os outros não voltaram? Por que só o samaritano? Na
opinião dos judeus de Jerusalém, o samaritano não observava a lei como devia.
Entre os judeus havia a tendência de observar a lei para poder merecer ou
conquistar a justiça. Pela observância, eles iam acumulando méritos e créditos
diante de Deus. Gratidão e gratuidade não fazem parte do vocabulário de pessoas
que vivem assim o seu relacionamento com Deus. Talvez seja por isso que não
agradeceram o benefício recebido. Na parábola do evangelho de ontem, Jesus
tinha formulado a pergunta sobre a gratidão: “Será que vai agradecer ao
empregado, porque este fez o que lhe havia mandado?” (Lc 17,9) E a resposta
era: “Não!” O samaritano representa as pessoas que têm consciência clara de que
nós, seres humanos, não temos mérito, nem crédito diante de Deus. Tudo é graça,
a começar pelo dom da própria vida!
* Lucas 17,17-19: A observação final
de Jesus
Jesus
estranhou: “Os dez não ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não
houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro!” Para
Jesus, agradecer os outros pelo benefício recebido é uma maneira de dar a Deus
o louvor que lhe é devido. Neste ponto, os samaritanos davam lição aos judeus. Hoje
são os pobres, que fazem o papel de samaritano e nos ajudam a redescobrir esta
dimensão da gratuidade da vida. Tudo que recebemos deve ser visto como um dom
de Deus que vem até nós através do irmão e da irmã.
* A acolhida dada aos samaritanos no
evangelho de Lucas. Para Lucas, o lugar que Jesus dava aos
samaritanos é o mesmo que as comunidades deviam reservar aos pagãos. Jesus
apresenta um samaritano como modelo de gratidão (Lc 17,17-19) e de amor ao
próximo (Lc 10,30-33). Isto devia ser muito chocante, pois, para os judeus,
samaritano ou pagão era a mesma coisa. Não podiam ter acesso aos átrios
interiores do Templo de Jerusalém, nem participar do culto. Eram considerados
portadores de impureza, impuros desde o berço. Para Lucas, porém, a Boa Nova de
Jesus dirige-se, em primeiro lugar, às pessoas e grupos considerados indignos
de recebê-la. A salvação de Deus que chega até nós em Jesus é puro dom. Não
depende dos méritos de ninguém.
Para um confronto pessoal
1. E você, costuma agradecer às pessoas? Agradece por
convicção ou por mero costume? E na oração: agradece ou esquece?
2. Viver na gratidão é um sinal da presença do Reino no
meio de nós. Como transmitir para os outros a importância de viver na gratidão
e na gratuidade?
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