Sta Teresa Benedita da Cruz Virgem e Mártir de nossa Ordem |
«Mulher, grande é tua
fé»
Rev. D. Jordi CASTELLET i Sala (Sant Hipòlit de
Voltregà, Barcelona, Espanha)
Hoje,
frequentemente, escutamos expressões como já não existe mais fé, e o dizem
pessoas que pedem às nossas comunidades o batismo de seus filhos ou a catequese
das crianças ou o sacramento do matrimônio. Essas palavras refletem uma visão
negativa do mundo, mostra o convencimento de que em qualquer tempo passado as
coisas eram melhores do que agora e que estamos no fim de uma etapa em que não
há nada novo a dizer, nem tampouco nada de novo a fazer. Evidentemente são
pessoas jovens que, em sua maioria, veem com certa tristeza que o mundo mudou
muito, desde o tempo de seus pais, que talvez vivessem uma fé mais popular, a
qual eles não se souberam ajustar. Esta experiência os deixa insatisfeitos e
sem capacidade de reação quando, na verdade, quem sabe, não estão às portas de
uma nova etapa que deveriam aproveitar.
Esta
passagem do Evangelho chama a nossa atenção para aquela mãe Cananéia que pede
uma graça para sua filha, reconhecendo em Jesus o Filho de Davi: «Senhor, filho
de Davi, tem compaixão de mim: minha filha é cruelmente atormentada por um
demônio!» (Mt 15,22). O Mestre é surpreso: «Mulher, grande é tua fé!», e não
pode fazer outra coisa senão atuar em favor daquelas pessoas: «Como queres, te
seja feito!» (Mt 15,28), ainda que isto não pareça estar em seus planos. Apesar
da realidade humana, a graça de Deus sempre se manifesta.
A fé não é
patrimônio de uns quantos, nem tampouco é propriedade dos que se creem bons ou
dos que o foram, ou de quem tem esta etiqueta social ou eclesial. A ação de
Deus precede a ação da Igreja e, o Espírito Santo está atuando já em pessoas
que não havíamos suspeitado que nos trouxessem uma mensagem de parte de Deus,
uma solicitação em favor dos mais necessitados. Diz São Leão: «Amados meus, a
virtude e a sabedoria da fé cristã são o amor a Deus e ao próximo: nada falta a
nenhuma obrigação de piedade a quem procura dar culto a Deus e a ajudar a seu
irmão».
Reflexão
• Contexto.
O pão dos filhos e a grande fé de uma mulher cananeia é a questão apresentada
por esta passagem do capítulo 15 de Mateus, que propõe ao leitor do seu
Evangelho um posterior aprofundamento da fé em Cristo. O episódio é precedido
por uma iniciativa dos escribas e fariseus chegados de Jerusalém, que causam um
encontro de curta duração com Jesus, até que ele se afastou com os seus
discípulos para se retirar à região de Tiro e Sidônia.
Enquanto ia
pelo caminho, é alcançado por uma mulher que vem de lugares pagãos. Mateus
apresenta esta mulher com o nome de "cananeia", que aparece no Antigo
Testamento com toda a sua dureza. No livro do Deuteronômio, os habitantes de
Canaã são vistos como um povo cheio de pecado e por consequência um povo mau e
idólatra.
• Dinâmica
da história. Enquanto Jesus desenvolvia sua atividade na Galileia e está a
caminho de Tiro e de Sidônia, uma mulher se aproxima dele e começa a
incomodá-lo com um pedido de ajuda para sua filha doente. A mulher aborda Jesus
com o título de "filho de Davi", um título que soa estranho na boca
de um pagão e poderia se justificar pela extrema necessidade em que vivia
aquela mulher. Poderia se pensar que esta mulher já acreditava de em alguma
forma na pessoa de Jesus como o salvador final, mas se exclui visto que só no
v. 28 aparece reconhecido seu ato de fé, precisamente por Jesus.
No diálogo com a mulher, parece que
Jesus mostra a mesma distância e desconfiança que existia entre o povo de
Israel e os pagãos. Por um lado, Jesus manifesta à mulher a prioridade de
Israel em relação à salvação, e diante do insistente pedido de sua interlocutora,
Jesus parece tomar distância, uma atitude incompreensível para o leitor, mas na
intenção de Jesus expressa um alto valor pedagógico. A primeira súplica
"Tem misericórdia de mim, Senhor, Filho de Davi", Jesus não responde.
À segunda intervenção, desta vez pelos discípulos que o convidam para atender a
mulher, apenas expressa uma rejeição que sublinha a distância secular entre o
povo escolhido e os povos pagãos (vv. 23b-24). Mas, devido à insistência da
mulher que se prostra ante Jesus, segue uma resposta difícil e misteriosa:
"Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos" (v. 26). Ela vai
além da dureza das palavras de Jesus e apega a um pequeno sinal de esperança: a
mulher reconhece que o plano de Deus que Jesus realiza inicialmente afeta o
povo escolhido e Jesus pede a observância desta prioridade; a mulher explora
esta prioridade, a fim de apresentar um motivo forte para o milagre: “os
cachorrinhos ao menos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos” (v.
27). A mulher superou a prova de fé: "Ó mulher, grande é tua fé!" (v.
28); na verdade, à humilde insistência de sua fé, Jesus responde com um gesto
de salvação.
Este
episódio dirige a todo leitor do Evangelho um convite para ter uma atitude de
"abertura" para todos, crentes ou não, ou seja, disponibilidade e
aceitação sem reserva para qualquer pessoa.
Para um confronto pessoal
1. A palavra Deus convida-o a romper seu fechamento e
seus esquemas pequenos. Você é capaz de acolher todos os irmãos que vêm até
você?
2. Você está ciente de sua pobreza para ser capaz, como a
cananeia, de confiar na palavra salvadora de Jesus?
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