Passadas as
comemorações de Nossa Senhora, Irmã, Mãe, Patrona e Rainha do Carmelo,
preparemo-nos para a segunda maior solenidade de nossa Ordem, celebrando Santo
Elias, nosso pai e inspiração.
Por isso,
damos, hoje, início ao tríduo que nos levará a aprofundar a figura deste “Doutor
de Israel” para que possamos, como verdadeiros carmelitas, amá-lo e imitá-lo.
Elias foi,
diz São Bernardo, “modelo de justiça, espelho de santidade, exemplo de piedade,
o propugnador da verdade, o defensor da fé, o doutor de Israel, o mestre dos
incultos, o refúgio dos oprimidos, o advogado dos pobres, o braço das viúvas, o
olho dos cegos, a língua dos mudos, o vingador dos crimes, o pavor dos maus, a
glória dos bons, a vara dos poderosos, o martelo dos tiranos, o pai dos reis, o
sal da terra, a luz do orbe, o Profeta do Altíssimo, o precursor de Cristo, o
terror dos baalitas, o raio dos idólatras” (De Consideratione, lib. IV,
in fine, apud Cornelii a Lapide, Commentaria in Scripturam Sacram, In Librum
III Regum, Cap. XVII).
S. Elias é o
mais ecumênico de todos os santos. Até hoje é venerado por judeus, cristãos e
muçulmanos.
- O
Eclesiástico vê em Elias o Homem obediente à Palavra (Eclo 48,1-11).
- Malaquias
espera o retorno dele como o Homem da Aliança (Ml 2,23-24).
- No
Evangelho de Lucas, ele aparece como o homem que reorganiza o povo (Lc 1,17)
- Na
Transfiguração, ao lado de Moisés, ele encarna a profecia (Lc 9,30).
- Para
Paulo ele é o Homem que denuncia a infidelidade (Rom 11,2-4).
- Tiago
resume a vida de Elias como Homem da Oração (Tg 5,17-18).
- No
Apocalipse ele é o homem do testemunho até à morte (Ap 11,3.5.6).
- Na
tradição rabínica ele é a imagem do homem do deserto.
- A
devoção popular invoca Elias como o Santo dos impossíveis.
- A
tradição carmelitana acentua nele o homem do Caminho. O profeta Elias é um
ícone eloquente do caminho que nós carmelitas queremos percorrer.
1º DIA
ORAÇÃO PARA TODOS OS
DIAS:
Deus
Todo-Poderoso e eterno, que concedeste a teu Profeta Elias, nosso pai, viver em
tua presença e arder pelo zelo de tua glória, concede-nos buscar sempre teu
Rosto e ser no mundo testemunhas de teu Amor. Amém.
MEDITAÇÃO:
Evangelho (Mt
10,34--11,1): Naquele tempo, disse Jesus
a seus discípulos: «Não penseis que vim trazer paz à terra! Não vim trazer paz,
mas sim, a espada. De fato, eu vim pôr oposição entre o filho e seu pai, a
filha e sua mãe, a nora e sua sogra; e os inimigos serão os próprios
familiares. Quem ama pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim. E quem
ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua
cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem buscar sua vida a perderá, e quem
perder sua vida por causa de mim a encontrará. Quem vos recebe, é a mim que
está recebendo; e quem me recebe, está recebendo aquele que me enviou. Quem
receber um profeta por ele ser profeta, terá uma recompensa de profeta. Quem
receber um justo por ele ser justo, terá uma recompensa de justo. E quem der,
ainda que seja apenas um copo de água fresca, a um desses pequenos, por ser meu
discípulo, em verdade vos digo: não ficará sem receber sua recompensa». Quando
Jesus terminou estas instruções aos doze discípulos, partiu dali, a fim de
ensinar e proclamar a Boa Nova nas cidades da região.
«E quem não toma a sua
cruz e não me segue, não é digno de mim»
Rev. D. Valentí ALONSO i Roig (Barcelona, Espanha)
B. Teresa
de S. Agostinho e Companheiras
Virgens de nossa Ordem e mártires
|
Jesus começa
dando a conhecer o efeito do seu ensino. Não obstante os efeitos positivos,
evidentes na atuação do Senhor, o Evangelho evoca as contrariedades e
contratempos da predicação: «e os inimigos serão os próprios familiares» (Mt
10,36). Isso é o contraditório de viver na fé, temos a possibilidade de
enfrentarmos, até mesmo com os que estão mais perto de nós, quando não
compreendemos quem é Jesus, o Senhor, e não o percebemos como o Mestre da
comunhão.
Em um segundo
momento Jesus nos pede para ocupar o lugar mais alto na escala do amor: «Quem
ama pai ou mãe mais do que a mim...» (Mt 10,37), «e quem ama filho ou filha
mais do que a mim...» (Mt 10,37). Desse jeito, propõe deixarmos acompanhar por
Ele como presença de Deus, já que «quem me recebe, está recebendo aquele que me
enviou» (Mt 10,40). O resultado de morar acompanhados pelo Senhor, acolhido em
nossa morada, é gozar da recompensa dos profetas e justos, porque temos
recebido um profeta e um justo.
A
recomendação do Mestre acaba valorizando as pequenas demonstrações de ajuda e
proteção às pessoas que moram acompanhadas pelo Senhor, os seus discípulos, que
somos todos os cristãos. «Quem der, ainda que seja apenas um copo de água
fresca, a um desses pequenos, por ser meu discípulo...» (Mt 10,42). A partir
deste conselho, nasce uma responsabilidade: em relação ao próximo, sejamos
conscientes de que as pessoas que moram com o Senhor, quem quer que sejam,
devem ser tratadas como Ele mesmo. São João Crisóstomo diz: «Se o amor
estivesse espalhado por todas as partes, nasceria dele uma quantidade infinita
de bens».
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
Beatos Inácio de Azevedo e 39 companheiros 40 Mártires do Brasil, |
* Mateus 10,34-36: Não vim trazer a
paz, mas sim a espada
Jesus sempre
fala em paz (Mt 5,9; Mc 9,50; Lc 1,79; 10,5; 19,38; 24,36; Jo 14,27; 16,33;
20,21.26). Então, como entender a frase do evangelho de hoje que parece dizer o
contrário: "Não pensem que eu vim trazer paz à terra; eu não vim trazer a
paz, e sim a espada”? Esta afirmação não
significa que Jesus estivesse a favor da divisão e da espada. Não! Jesus não quer
a espada (Jo 18,11) nem a divisão. Ele quer é a união de todos na verdade (cf.
Jo 17,17-23). Naquele tempo, porém, o anúncio da verdade de que ele, Jesus de
Nazaré, era o Messias tornou-se motivo de muita divisão entre os judeus. Dentro
da mesma família ou comunidade, uns eram a favor e outros radicalmente contra.
Neste sentido a Boa Nova de Jesus era realmente uma fonte de divisão, um “sinal
de contradição” (Lc 2,34) ou, como dizia Jesus, ela trazia a espada. Assim se
entende a outra advertência: “Eu vim separar o filho de seu pai, a filha de sua
mãe, a nora de sua sogra. E os inimigos do homem serão os seus próprios
familiares”. Era o que estava acontecendo, de fato, nas famílias e nas
comunidades: muita divisão, muita discussão, como consequência do anúncio da
Boa Nova entre os judeus daquela época, uns aceitando, outros negando. Até hoje
é assim. Muitas vezes, lá onde a Igreja se renova, o apelo da Boa Nova se torna
um “sinal de contradição” e de divisão. Pessoas que durante anos viveram
acomodadas na rotina da sua vida cristã, já não querem ser incomodadas pelas
“inovações” do Vaticano II. Incomodadas pelas mudanças, elas usam toda a sua
inteligência para encontrar argumentos em defesa de suas opiniões e para
condenar as mudanças como contrárias ao que elas pensam ser a verdadeira
fé.
* Mateus 10,37: Quem ama seu pai e sua
mãe mais do que a mim, não é digno de mim
Lucas traz
esta mesma frase, mas muito mais exigente. Ele diz literalmente: "Se
alguém vem a mim, e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos,
irmãs, e até mesmo sua própria vida, esse não pode ser meu discípulo” (Lc
14,26). Como combinar esta afirmação de Jesus com aquela outra em que ele manda
observar o quarto mandamento: amar e honrar pai e mãe? (Mc 7,10-12; Mt 19,19).
Duas
observações:
(1) O critério básico em que Jesus sempre insiste é este: a
Boa Nova de Deus deve ser o valor supremo da nossa vida. Não pode haver um
valor mais alto na vida.
(2) A situação econômica social na época de Jesus era tal
que as famílias eram obrigadas a se fechar sobre si mesmas. Já não tinham
condições de manter as obrigações da convivência comunitária como, por exemplo,
a partilha, a hospitalidade, a comunhão de mesa e a acolhida aos excluídos.
Este
fechamento individualista, causado pela conjuntura nacional e internacional,
provocava as seguintes distorções:
(1) Impossibilitava a vida em comunidade.
(2) Estreitava o mandamento “honrar pai e mãe”
exclusivamente para a pequena família nuclear e não mais para a grande família
da comunidade.
(3) Impedia a manifestação plena da Boa Nova de Deus, pois
se Deus é Pai/Mãe, nós somos irmãos e irmãs uns dos outros.
E esta
verdade deve encontrar sua expressão na vida em comunidade. Uma comunidade viva
e fraterna é o espelho do rosto de Deus. Convivência humana sem comunidade é
espelho rachado que desfigura o rosto de Deus. Neste contexto, o pedido de
Jesus para “odiar pai e mãe” significava que os discípulos e as discípulas
deviam superar o fechamento individualista da pequena família sobre si mesma e
alargá-la para a dimensão da comunidade. Jesus mesmo praticou o que ensinou
para os outros. Sua família queria chama-lo de volta e fechar-se sobre si
mesma. Quando lhe deram o aviso: “Olha, tua mãe e teus irmãos estão aí fora e
te procuram”, ele respondeu: “Quem é minha mãe e meus irmãos?. E olhando para
as pessoas ao redor ele disse: “Aqui estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a
vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mc 3,32-35).
Alargou a família! Aliás, este era, e continua sendo até hoje, o único caminho
para a pequena família poder preservar e transmitir os valores em que acredita.
* Mateus 10,38-39: As exigências da
missão dos discípulos
Nestes dois
versículos Jesus dá dois conselhos importantes e exigentes:
(1) Tomar a cruz atrás de Jesus: Quem não toma a sua cruz e
não me segue, não é digno de mim. Para perceber todo o alcance deste primeiro
conselho convém ter presente o testemunho de São Paulo: “Quanto a mim, que eu
não me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual
o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo” (Gl 6,14). Carregar a cruz
implica, até hoje, na ruptura radical com o sistema iníquo vigente no mundo.
(2) Ter a coragem de doar a vida: Quem procura conservar a
própria vida, vai perdê-la. E quem perde a sua vida por causa de mim, vai
encontrá-la. Só se sente realizado na vida quem for capaz de doar-se
inteiramente pelos outros. Perde a vida quem quer conservá-la só para si. Este
segundo conselho é a confirmação da mais profunda experiência humana: a fonte
da vida está na doação da vida. É dando que se recebe. Se o grão de trigo não
morrer. (Jo 12,24).
* Mateus 10,40: A identificação do discípulo
com Jesus e com o próprio Deus
Esta
experiência tão humana da doação e da entrega recebe aqui um clarão, um
aprofundamento: “Quem recebe a vocês, recebe a mim; e quem me recebe, recebe
aquele que me enviou”. É na doação total de si que o discípulo se identifica
com Jesus; que se realiza o encontro dele com Deus, e que Deus se deixa
encontrar por quem o procura.
* Mateus 10,41-42: A recompensa de
profeta, de justo e de discípulo
Para encerrar
o Sermão da Missão segue uma frase sobre a recompensa: Quem recebe um profeta,
por ser profeta, receberá a recompensa de profeta. E quem recebe um justo, por
ser justo, receberá a recompensa de justo.
Quem der ainda que seja apenas um copo de água fria a um desses pequeninos,
por ser meu discípulo, eu garanto a vocês: não perderá a sua recompensa. Nesta
frase existe uma sequência muito significativa: o profeta é reconhecido pela
sua missão como enviado de Deus. O justo é reconhecido pelo seu comportamento,
pela sua maneira perfeita de observar a lei de Deus. O discípulo é reconhecido
por nenhuma qualidade ou missão especial, mas simplesmente pela sua condição
social de gente pequena. O Reino não é feito de coisas grandes. É como um
prédio muito grande que se constrói com tijolos pequenos. Quem despreza o
tijolo nunca vai ter o prédio. Até um copo de água serve de tijolo na
construção do Reino.
* Mateus 11,1: O final do Sermão da
Missão
Fim do Sermão
da Missão. Quando Jesus terminou de dar essas instruções aos seus doze
discípulos, partiu daí, a fim de ensinar e pregar nas cidades deles Agora Jesus
parte para praticar o que ensinou. É o que veremos nos próximos dias meditando
os capítulos 11 e 12 do evangelho de Mateus.
Para um confronto pessoal
1) Perder a vida para poder ganhá-la. Você já teve alguma
experiência de sentir-se recompensado/a por um ato de doação ou de entrega
gratuita de si aos outros?
2) Quem recebe a vocês, recebe a mim, e quem recebe a mim,
recebe aquele que me enviou. Pare e pense no que Jesus diz aqui: ele e o
próprio Deus se identificam com você.
LADAINHA I (Frei Carlos Mesters, 0.Carm.)
Senhor, tende piedade de nós,
Jesus Cristo, tende piedade de nós,
Senhor, tende piedade de nós,
Deus Pai do Céu, tende
piedade de nós
Deus Filho Redentor do mundo, tende
piedade de nós
Deus Espírito Santo, tende
piedade de nós
Santíssima Trindade que sois um só
Deus, tende piedade de nós
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai
por nós
Santa Maria, Mãe dos Carmelitas,
São José, Patrono do Carmelo,
Santo Elias, Profeta de Deus e nosso
Pai,
Santo Elias, Profeta de fogo,
Santo Elias, homem do silêncio e da
oração,
Santo Elias, homem do deserto,
Santo Elias, homem da brisa leve,
Santo Elias, homem da Aliança,
Santo Elias, homem que defende a vida,
Santo Elias, homem do conflito,
Santo Elias, homem do Espírito e do
fogo,
Santo Elias, homem de Deus,
Santo Elias, que humilhastes os
profetas de Baal,
Santo Elias, que abatestes o orgulho
do rei Acab,
Santo Elias, que vos compadecestes da
viúva de Sarepta,
Santo Elias, que conduzistes o povo na
esperança da salvação,
Santo Elias, que obedecestes à Palavra
e a revelastes ao povo,
Santo Elias, que refizestes a história
e criastes um novo começo,
Santo Elias, que fizestes o povo
abandonar Baal e escolher a Javé,
Santo Elias, que caminhastes sempre na
presença do Senhor,
Santo Elias, que atravessastes o
Jordão e vos escondestes no Carit,
Santo Elias, que não vos deixastes
abater pelo desânimo,
Santo Elias, que caminhastes pelo
deserto até a Montanha de Deus,
Santo Elias, que chamastes Eliseu para
ser vosso sucessor,
Santo Elias, príncipe dos profetas,
Santo Elias, mestre da oração,
Santo Elias, servo do Deus vivo,
Santo Elias, guardião do povo de
Israel,
Santo Elias, pregador incansável da
Palavra de Deus,
Santo Elias, martelo dos hereges e
idólatras,
Santo Elias, abrasado do amor de Deus,
Santo Elias, honrado com a divina
amizade,
Santo Elias, fortalecido com o pão do
anjo,
Santo Elias, zeloso na defesa do culto
do Deus único,
Santo Elias, defensor dos pobres e oprimidos,
Santo Elias, perseguido por causa da
justiça,
Santo Elias, arauto da onipotência e
da misericórdia divinas,
Santo Elias, realizador de milagres,
Santo Elias, multiplicador de
alimentos,
Santo Elias, ressuscitador dos mortos,
Santo Elias, cantor incansável do Deus
vivo,
Santo Elias, ministro da reconciliação
dos pais com os filhos,
Santo Elias, modelo da perfeição,
Santo Elias, pai dos eremitas,
Santo Elias, modelo dos monges,
Santo Elias, arrebatado ao céu em um
carro de fogo,
Santo Elias, testemunha da
Transfiguração de Jesus,
Santo Elias, Patriarca do Carmelo,
Santo Elias, inspirador da Ordem do
Carmo,
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado
do mundo,
perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado
do mundo, ouvi-nos,
Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado
do mundo, tende
piedade de nós.
Rogai por
nós, Santo Pai Elias,
Para que sejamos dignos das promessas
de Cristo.
Oremos: Deus eterno e todo-poderoso, que
concedestes ao bem-aventurado Elias, vosso profeta e nosso pai, a graça de
viver na vossa presença e de se inflamar de zelo pela vossa glória, fazei que,
procurando sempre a vossa presença, nos tornemos testemunhas do vosso
amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo,
vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Amem.
ORAÇÃO FINAL
Santo Profeta
Elias, pai admirável do Carmelo, olha clemente para este vosso filho que, sob a
vossa inspiração, busca seguir o caminho que conduz à santidade. Cobri-me com o
zelo do Senhor, infundi no meu coração o amor ao bem, aumentai em mim a fé a
esperança e a caridade, para que eu possa descobrir na vida dos homens o
verdadeiro Deus que passa, e convosco possa subir ao cume do monte Carmelo,
monte do Senhor que vive e reina para sempre. Amém.
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