domingo, 9 de julho de 2017

Segunda-feira da 14ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Mt 9,18-26): Enquanto Jesus estava falando, um chefe aproximou-se, prostrou-se diante dele e disse: «Minha filha faleceu agora mesmo; mas vem impor a mão sobre ela, e viverá». Jesus levantou-se e o acompanhou, junto com os discípulos. Nisto, uma mulher que havia doze anos sofria de hemorragias veio por trás dele e tocou na franja de seu manto. Ela pensava consigo: «Se eu conseguir ao menos tocar no seu manto, ficarei curada». Jesus voltou-se e, ao vê-la, disse: «Coragem, filha! A tua fé te salvou». E a mulher ficou curada a partir daquele instante. Chegando à casa do chefe, Jesus viu os tocadores de flauta e a multidão agitada, e disse: «Retirai-vos! A menina não morreu; ela dorme». Mas eles zombavam dele. Afastada a multidão, ele entrou, pegou a menina pela mão, e ela se levantou. E a notícia disso espalhou-se por toda aquela região.

«A tua fé te Salvou»

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje, a Liturgia da Palavra nos convida a admirar duas magníficas manifestações de fé. Tão magníficas que comoveram o coração de Jesus Cristo e provocaram imediatamente a sua resposta. O Senhor não se deixa vencer em generosidade!

«Minha filha faleceu agora mesmo; mas vem impor a mão sobre ela, e viverá» (Mt 9,18). Quase poderíamos dizer que com uma fé consistente nós «obrigamos» a Deus. Ele gosta desta espécie de obrigação. O outro testemunho de fé do Evangelho de hoje também é impressionante: «Se eu conseguir ao menos tocar no seu manto, ficarei curada» (Mt 9,21).

Poderíamos afirmar que Deus se deixa «manipular» de bom grado pela nossa boa-fé. O que Ele não admite é que O tentemos por desconfiança. Este foi o caso de Zacarias, que pediu uma prova ao arcanjo Gabriel: «Zacarias disse ao anjo: Como posso ter certeza disso?» (Lc 1,18). O Arcanjo não cedeu à desconfiança de Zacarias e respondeu: «Eu sou Gabriel, e estou sempre na presença de Deus (...). E agora, ficarás mudo, sem poder falar até o dia em que estas coisas acontecerem, já que não acreditaste nas minhas palavras, que se cumprirão no tempo certo» (Lc 1,19-20). E assim aconteceu.

É Ele mesmo quem deseja “obrigar-se” conosco e deixar-se “prender” por nossa fé: «Eu vos digo: pedi e vos será dado; procurai e encontrareis; batei e a porta vos será aberta» (Lc 11,9). Ele é nosso Pai, e não quer negar nada do que convém aos seus filhos.

Entretanto, é necessário que lhe manifestemos confiantemente os nossos pedidos. A confiança e a conaturalidade com Deus requerem intimidade: para confiar em alguém é preciso conhecê-lo, e para conhecê-lo é necessário conviver com ele. Assim, «a fé faz brotar a oração, e a oração - enquanto brota - alcança a firmeza da fé» (Santo Agostinho). Não nos esqueçamos do louvor que mereceu Santa Maria: «Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!» (Lc 1,45).

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje nos leva a meditar dois milagres de Jesus em favor de duas mulheres. O primeiro foi em favor de uma senhora, considerada impura por causa de uma hemorragia irregular que já durava doze anos. O outro, em favor de uma menina que acabava de falecer. Conforme a mentalidade daquela época, qualquer pessoa que tocasse em sangue ou em cadáver era considerada impura e quem tocasse nela também ficava impura. Sangue e morte eram fatores de exclusão! Por isso, aquelas duas mulheres eram pessoas marginalizadas, excluídas da participação na comunidade. Quem nelas tocasse também estaria impura, impedida de participar na comunidade, e já não poderia relacionar-se com Deus. Para poder ser readmitida na plena participação comunitária teria de fazer o rito de purificação, prescrito pelas normas da lei. Ora, curando através da fé a impureza daquela senhora, Jesus abriu um novo caminho para Deus que já não dependia dos ritos de purificação, controlados pelos sacerdotes. Ressuscitando a menina, venceu o poder da morte e abriu um novo horizonte para a vida.

* Mateus 9,18-19: A morte da menina.
Enquanto Jesus ainda estava falando, um chefe do lugar vem interceder pela filha que acabava de morrer. Ele pede que Jesus venha e imponha a mão na menina, “e ela viverá”. O chefe crê que Jesus tem o poder de devolver a vida à filha. Sinal de muita fé em Jesus da parte do pai da menina. Jesus se levanta e vai com ele levando consigo os discípulos. Este é o ponto de partida para os dois episódios que seguem: a cura da mulher com doze anos de hemorragia e a ressurreição da menina. O evangelho de Marcos traz os mesmos dois episódios, mas com muitos detalhes: o chefe se chamava Jairo e era um dos chefes da sinagoga. A menina ainda não estava morta, e tinha doze anos, etc. (Mc 5,21-43). Mateus abreviou a narração tão viva de Marcos.

* Mateus 9,20-21: A situação da mulher.
Durante a caminhada para a casa do chefe, uma mulher que sofria doze anos de hemorragia irregular aproxima-se de Jesus em busca de cura. Doze anos de hemorragia! Por isso, ela vivia excluída, pois, como dissemos, naquele tempo o sangue tornava a pessoa impura. Marcos informa que a mulher tinha gastado toda a sua economia com os médicos e, em vez de ficar melhor, ficou pior (Mc 5,25-26). Ela tinha ouvido falar de Jesus (Mc 5,27). Por isso, nasceu nela uma nova esperança. Dizia consigo: “Se ao menos tocar na roupa dele, eu ficarei curada”. O catecismo da época mandava dizer: “Se eu tocar na roupa dele, ele ficará impuro”. A mulher pensava exatamente o contrário! Sinal de muita coragem. Sinal de que as mulheres não concordavam com tudo o que as autoridades religiosas ensinavam. O ensinamento dos fariseus e dos escribas não conseguia controlar o pensamento do povo! Graças a Deus! A mulher aproximou-se por de trás de Jesus, tocou na roupa dele, e ficou curada.

* Mateus 9,22. A palavra iluminadora de Jesus
Jesus voltando-se e vendo a mulher declara: “Coragem, minha filha, sua fé curou você!” Frase curta, mas que deixa transparecer três pontos muito importantes:
(1) Dizendo “Minha filha”, Jesus acolhe a mulher na nova comunidade, que se formava ao seu redor. Ela já não é uma excluída.
(2) Aquilo que ela esperava e acreditava aconteceu de fato. Ela ficou curada. Prova de que o catecismo das autoridades religiosas não estava correto e que em Jesus se abriu um novo caminho para as pessoas poderem obter a pureza exigida pela lei e entrar em contato com Deus.
(3) Jesus reconhece que, sem a fé daquela senhora, ele não poderia ter feito o milagre. A cura não foi um rito mágico, mas um ato de fé.

* Mateus 9,23-24:  Na casa de chefe.
Em seguida, Jesus vai para a casa do chefe. Ao ver o alvoroço dos que faziam luto pela morte da menina, mandou que todo mundo saísse. Dizia: “A criança não morreu. Está dormindo!”. O pessoal deu risada. O povo sabe distinguir quando uma pessoa está dormindo ou quando está morta. Para eles, a morte era uma barreira que ninguém poderia ultrapassar! É a risada de Abraão e de Sara, isto é, dos que não conseguem crer que para Deus nada é impossível (Gn 17,17; 18,12-14; Lc 1,37). As palavras de Jesus têm ainda um significado mais profundo. A situação das comunidades do tempo de Mateus parecia uma situação de morte. Elas também tinham que ouvir: “Não é morte! Vocês é que estão dormindo! Acordem!”

* Mateus 9,25-26:  A ressurreição da menina.
Jesus não deu importância à risada do povo. Ele esperou até que todos saíssem da casa. Aí ele entrou, tomou a criança pela mão e ela se levantou. Marcos conservou as palavras de Jesus: “Talita kúmi!”, o que quer dizer: Menina, levanta-te (Mc 5,41). A notícia espalhou-se por toda aquela região. Fez o povo acreditar que Jesus é o Senhor da vida que vence a morte.

Para um confronto pessoal
1. Hoje, quais as categorias de pessoas que se sentem excluídas da participação na comunidade cristã?  Quais os fatores que hoje causam a exclusão de tantas pessoas e lhes dificultam a vida tanto na família como na sociedade?
2. “A criança não morreu. Está dormindo!” “Não é morte! Vocês é que estão dormindo! Acordem!” Esta é a mensagem do evangelho de hoje. O que ela diz para mim? Sou daqueles que dão risada?

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