segunda-feira, 3 de abril de 2017

Terça-feira da 5ª semana da Quaresma

Evangelho (Jo 8,21-30): De novo, Jesus lhes disse: «Eu me vou, e vós me procurareis; mas morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir». Os judeus, então, comentavam: «Acaso ele irá se matar? Pois ele diz: ‘Para onde eu vou, vós não podeis ir’». Ele continuou a falar: «Vós sois daqui de baixo; eu sou do alto. Vós sois deste mundo; eu não sou deste mundo. Eu vos disse que morrereis nos vossos pecados. De fato, se não acreditais que ‘eu sou’, morrereis nos vossos pecados».  Eles lhe perguntaram: «Quem és tu, então? Jesus respondeu: «De início, isto mesmo que vos estou falando». Tenho muitas coisas a dizer a vosso respeito, e a julgar também. Mas, aquele que me enviou é verdadeiro, e o que ouvi dele é o que eu falo ao mundo”. Eles, porém, não compreenderam que estava lhes falando do Pai. Por isso, Jesus continuou: «Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que ‘eu sou’, e que nada faço por mim mesmo, mas falo apenas aquilo que o Pai me ensinou. Aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou sozinho, porque eu sempre faço o que é do seu agrado». Como falasse estas coisas, muitos passaram a crer nele.

«Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que ‘eu sou’»

Rev. D. Josep Mª MANRESA Lamarca  (Valldoreix, Barcelona, Espanha)

Hoje, Terça-feira V da Quaresma, a uma semana da contemplação da Paixão do Senhor, Ele nos convida a olhar-lhe antecipadamente redimindo-nos desde a Cruz. «Jesus Cristo é nosso pontífice, seu corpo precioso é nosso sacrifício que Ele ofereceu na ara da Cruz para a salvação de todos os homens» (São João Fisher).

«Quando tiverdes elevado o Filho do Homem...» (Jo 8,28). Efetivamente, Cristo Crucificado — Cristo “levantado”!— é o grande e definitivo signo do amor do Pai à Humanidade caída. Seus braços abertos, estendidos entre o céu e a terra, traçam o signo indelével da sua amizade com nós os homens. Ao lhe ver assim, alçado ante o nosso olhar pecador, saberemos que Ele é (cf. Jo 8,28), e então, como aqueles judeus que o escutavam, também nós creremos Nele.

Só a amizade de quem está familiarizado com a Cruz pode proporcionar-nos o adequado para adentrar-nos no Coração do Redentor. Pretender um Evangelho sem Cruz, despojado do sentido cristão da mortificação, ou contagiado do ambiente pagão e naturalista que nos impede entender o valor redentor do sofrimento, colocaria-nos na terrível posibilidade de ouvir dos lábios de Cristo: «Depois de tudo, para que seguir falando-vos?».

Que o nosso olhar à Cruz, olhar sossegado e contemplativo, seja uma pergunta ao Crucificado, em que sem o ruído de palavras lhe digamos: ”Quem és tu, então?(Jo 8,25).Ele nos responderá que é «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida»(Jo 14,6), a Videira à qual sem estar unidos, nós, pobres ramos, não poderemos dar fruto, porque só Ele tem palavras de vida eterna. E assim, se não cremos que Ele é, morreremos pelos nossos pecados. Viveremos, no entanto, e viveremos já nesta terra vida de céu se aprendemos Dele a gozosa certeza de que o Pai está conosco, não nos deixa sozinhos. Assim imitaremos o Filho em fazer sempre o que agrada-lhe ao Pai.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

Setenário das Dores de Nossa Senhora
5ª dor
* No Evangelho de hoje, vamos meditar sobre o encontro de Jesus com a mulher que ia ser apedrejada. Pela sua pregação e pelo seu jeito de agir, Jesus incomodava as autoridades religiosas. Por isso, elas procuravam todos os meios possíveis para acusá-lo e eliminá-lo. Assim, levam até ele uma mulher, pega em flagrante de adultério. Sob a aparência de fidelidade à lei, usam a mulher para ter argumentos contra Jesus. Também hoje, sob a aparência de fidelidade às leis da igreja, muitas pessoas são marginalizadas: divorciados, aidéticos, prostitutas, mães solteiras, homossexuais, etc. Vejamos como Jesus reage:

* João 8,1-2: Jesus e o povo.  Depois da discussão sobre a origem do Messias, descrita no fim do capítulo 7 (Jo 7,37-52), “cada um tinha voltado para casa” (Jo 7,53). Jesus não tinha casa em Jerusalém. Por isso, foi para o Monte das Oliveiras. Lá havia um Horto, onde ele costumava passar a noite em oração (Jo 18,1). No dia seguinte, antes do nascer do sol, Jesus já estava novamente no templo. O povo também veio bem cedo para poder escutá-lo. Eles sentavam no chão ao redor de Jesus e ele os ensinava. O que será que Jesus ensinava? Deve ter sido muito bonito, pois o povo vinha antes do nascer do sol para poder escutá-lo!

* João 8,3-6a: Os escribas armam uma cilada.  De repente, chegam os escribas e os fariseus, trazendo consigo uma mulher pega em flagrante de adultério. Eles a colocam no meio da roda. Conforme a lei, esta mulher deveria ser apedrejada (Lv 20,10; Dt 22,22.24). Eles perguntam: "E qual é a sua opinião?" Era uma cilada. Se Jesus dissesse: "Apliquem a lei", eles diriam: “Ele não é tão bom como parece, porque mandou matar a pobre da mulher!” Se dissesse: "Não matem", diriam: "Ele não é tão bom como parece, porque nem sequer observa a lei!" Sob a aparência de fidelidade a Deus, eles manipulam a lei e usam a pessoa da mulher para poder acusar Jesus.

* João 8,6b-8: Reação de Jesus: escreve no chão.  Parecia um beco sem saída. Mas Jesus não se apavora nem fica nervoso. Pelo contrário. Calmamente, como quem é dono da situação, ele se inclina e começa a escrever no chão com o dedo. Quem fica nervoso, são os adversários. Eles insistem para que Jesus dê a sua opinião. Então, Jesus se levanta e diz: "Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra!" E inclinando-se tornou a escrever no chão. Jesus não discute a lei. Apenas muda o alvo do julgamento. Em vez de permitir que eles coloquem a luz da lei em cima da mulher para poder condená-la, pede que eles se examinem a si mesmos à luz do que a lei exige deles. A ação simbólica da escritura no chão esclarece tudo. A palavra da Lei de Deus tem consistência. Uma palavra escrita no chão não tem consistência. A chuva e o vento a apagam logo. O perdão de Deus apaga o pecado identificada e denunciado pela lei.

Sto Isidoro, Bispo e Doutor da Igreja
* João 8,9-11: Jesus e a mulher.  O gesto e a resposta de Jesus derrubaram os adversários. Os fariseus e os escribas se retiram envergonhados, um depois do outro, a começar pelos mais velhos. Aconteceu o contrário do que eles esperavam. A pessoa condenada pela lei não era a mulher, mas eles mesmos que pensavam ser fiéis à lei. No fim, Jesus ficou sozinho com a mulher no meio da roda. Jesus se levanta e olha para ela: "Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou!" Ela responde: "Ninguém, Senhor!" E Jesus: "Nem eu te condeno! Vai, e de agora em diante não peques mais!"

* Jesus não permite que alguém use a lei de Deus para condenar o irmão ou a irmã, quando ele mesmo ou ela mesma é pecador ou pecadora. Este episódio, melhor do que qualquer outro ensinamento, revela que Jesus é a luz que faz aparecer a verdade. Ele faz aparecer o que existe de escondido dentro das pessoas, no mais íntimo de cada um de nós. À luz da sua palavra, os que pareciam os defensores da lei, se revelam cheios de pecado e eles mesmos o reconhecem, pois vão embora, a começar pelos mais velhos. E a mulher, considerada culpada e merecedora da pena de morte, está de pé diante de Jesus, absolvida, redimida e dignificada (cf. Jo 3,19-21). 

Para um confronto pessoal
1) Procure colocar-se na pele da mulher: quais eram os sentimentos dela naquele momento?
2) Que passos nossa comunidade pode e deve dar para acolher os excluídos?

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