Sta Cecília, virgem e mártir |
«Não ficará pedra
sobre pedra»
+ Rev. D. Antoni ORIOL i Tataret (Vic, Barcelona,
Espanha).
Hoje,
escutamos com assombro a severa advertência do Senhor: «Admirais essas coisas?
Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra» (Lc 21,6). Essas palavras de
Jesus situam-se nas antípodas de uma denominada “cultura do progresso
indefinido da humanidade”, ou, se preferimos, de uns quantos cabecinhas
técnico-científicos e político-militares da espécie humana, em evolução
imparável.
Desde onde?
Até onde? Ninguém sabe, nem pode saber, com exceção, em última análise, de uma
suposta matéria eterna que nega Deus, usurpando-o dos Seus atributos. Como
tentam fazer-nos comungar com rodas de moinho aqueles que recusam comungar com
a finitude e precariedade próprias da condição humana!
Nós, os
discípulos do Filho de Deus feito homem, de Jesus, escutamos as Suas palavras
e, fazendo-as muito nossas, meditamos nelas. Eis que nos diz: «Cuidado para não
serdes enganados» (Lc 21,8). Quem no-lo diz é Aquele que veio para dar
testemunho da verdade, afirmando que aqueles que são da verdade escutam a Sua
voz.
E também
nos garante: «Não será logo o fim» (Lc 21,9). O que, por um lado, quer dizer
que dispomos de um tempo de salvação e que nos convém aproveitá-lo; e, por
outro lado, que, de qualquer modo, o fim virá. Sim, Jesus virá «julgar os vivos
e os mortos», como professamos no Credo.
Leitores de
Meditando o Evangelho de hoje, queridos irmãos e amigos: em uns versículos mais
adiante, do fragmento que agora comento, Jesus anima-nos e consola-nos com
estas palavras que, em Seu nome, vos repito: «É pela vossa perseverança que
conseguireis salvar a vossa vida!» (Lc 21,19).
Respondendo
com a energia de um hino cristão da Catalunha, exortamo-nos uns aos outros:
«Perseveremos, pois já tocamos o Céu com a mão!»
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* No Evangelho de hoje, Jesus elogia uma viúva pobre que
soube partilhar mais que os ricos. Muitos pobres de hoje fazem o mesmo. O povo
diz: “Pobre não deixa pobre morrer de fome”. Mas às vezes, nem isso é possível.
Dona Cícera que veio do interior da Paraíba, Brasil, para morar na periferia da
cidade dizia: “No interior, a gente era pobre, mas tinha sempre uma coisinha
para dividir com o pobre na porta. Agora que estou aqui na cidade, quando vejo
um pobre que vem bater na porta, eu me escondo de vergonha, porque não tenho
nada em casa para dividir com ele!” De um lado: gente rica que tem tudo, mas
não quer partilhar. Do outro lado: gente pobre que não tem quase nada, mas quer
partilhar o pouco que tem.
* No início da Igreja, as primeiras comunidades cristãs,
na sua maioria, eram de gente pobre (1 Cor 1,26). Aos poucos, foram entrando
também pessoas mais ricas, o que trouxe consigo vários problemas. As tensões
sociais, que marcavam o império romano, começaram a marcar também a vida das
comunidades. Isto se manifestava, por exemplo, quando elas se reuniam para
celebrar a ceia (1Cor 11,20-22), ou quando faziam reunião (Tg 2,1-4). Por isso,
o ensinamento do gesto da viúva era muito atual, tanto para eles, como para nós
hoje.
* Lucas 21,1-2: A esmola da viúva.
Jesus estava em frente ao cofre do Templo e
observava como todo mundo colocava aí a sua esmola. Os pobres jogavam poucos
centavos, os ricos jogavam moedas de grande valor. Os cofres do Templo recebiam
muito dinheiro. Todo mundo trazia alguma coisa para a manutenção do culto, para
o sustento do clero e para a conservação do prédio. Parte deste dinheiro era
usada para ajudar os pobres, pois naquele tempo não havia previdência social.
Os pobres viviam entregues à caridade pública. As pessoas mais necessitadas
eram os órfãos e as viúvas. Elas dependiam em tudo da caridade dos outros, mas
mesmo assim, faziam questão de partilhar com os outros o pouco que possuíam.
Assim, uma viúva bem pobre colocou sua esmola no cofre do templo. Dois
centavos, apenas!
* Lucas 21,3-4: O comentário de
Jesus
O que vale mais: os poucos centavos da viúva
ou as muitas moedas dos ricos? Para a maioria, as moedas dos ricos eram muito
mais úteis para fazer caridade, do que os poucos centavos da viúva. Os
discípulos, por exemplo, pensavam que o problema do povo só poderia ser
resolvido com muito dinheiro. Por ocasião da multiplicação dos pães, eles
tinham dado a sugestão de comprar pão para dar de comer ao povo (Lc 9,13; Mc
6,37). Filipe chegou a dizer: “Duzentos denários não bastam para dar um pouco
para cada um!” (Jo 6,7). De fato, para quem pensa assim, os dois centavos da
viúva não servem para nada. Mas Jesus diz: “Esta viúva depositou mais do que
todos os outros”. Jesus tem critérios diferentes. Chamando a atenção dos
discípulos para o gesto da viúva, ele ensina a eles e a nós onde devemos
procurar a manifestação da vontade de Deus, a saber, nos pobres e na partilha.
E um critério muito importante é este: “Todos os outros depositaram do que
estava sobrando para eles. Mas a viúva, na sua pobreza, depositou tudo o que
possuía para viver”.
* Esmola, partilha, riqueza
A prática
de dar esmolas era muito importante para os judeus. Era considerada uma “boa
obra”, pois a lei do Antigo Testamento dizia: “Nunca deixará de haver pobres na
terra; por isso, eu te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, do teu humilde
e do teu pobre em tua terra”. (Dt 15,11). As esmolas, colocadas no cofre do
templo, seja para o culto, seja para os necessitados, órfãos ou viúvas, eram
consideradas como uma ação agradável a Deus (Eclo 35,2; cf. Eclo 17,17; 29,12;
40,24). Dar esmola era uma maneira de reconhecer que todos os bens e dons
pertencem a Deus e que nós somos apenas administradores desses dons. Mas a
tendência à acumulação continua muito forte. Cada vez de novo, ela renasce no
coração humano. A conversão é sempre necessária. Por isso Jesus dizia ao jovem
rico: “Vai, vende tudo o que tens, dá para os pobres” (Mc 10,21). A mesma
exigência é repetida nos outros evangelhos: “Vendei vossos bens e dai esmolas.
Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro inesgotável nos céus, aonde o
ladrão não chega nem a traça rói” (Lc 12,33-34; Mt 6,9-20). A prática da
partilha e da solidariedade é uma das características que o Espírito de Jesus
quer realizar nas comunidades. O resultado da efusão do Espírito no dia de
Pentecoste era este: “Não havia entre eles necessitado algum. De fato, os que
possuíam terrenos ou casas, vendendo-os, traziam o resultado da venda e o
colocavam aos pés dos apóstolos” (At 4,34-35ª; 2,44-45). Estas esmolas
colocadas aos pés dos apóstolos não eram acumuladas, mas “distribuía-se, então,
a cada um, segundo a sua necessidade” (At 4,35b; 2,45). A entrada de ricos na
comunidade cristã possibilitou, por um lado, uma expansão do cristianismo,
dando melhores condições para as viagens missionárias. Mas, por outro lado, a
tendência à acumulação bloqueava o movimento da solidariedade e da partilha.
Tiago ajudava as pessoas a tomarem consciência do caminho equivocado: “Pois
bem, agora vós, ricos, chorai por causa das desgraças que estão a sobrevir. A
vossa riqueza apodreceu e as vossas vestes estão carcomidas pelas traças.” (Tg
5,1-3). Para aprender o caminho do Reino, todos precisam tornar-se alunos
daquela viúva pobre, que partilhou com os outros até o necessário para viver
(Lc 21,4).
Para um confronto pessoal
1. Quais as dificuldades e alegrias que você já encontrou
em sua vida ao praticar a solidariedade e a partilha com os outros?
2. Como é que os dois centavos da viúva podem valer mais
que as muitas moedas dos ricos? Qual a mensagem deste texto para nós hoje?
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