Beato Carlos I, leigo Imperador da Áustria e Hungria |
«Como é que não sabeis
avaliar (...) o tempo presente? Por que não julgais por vós mesmos o que é justo»
Rev. D. Frederic RÀFOLS i Vidal (Barcelona, Espanha).
Hoje, Jesus
quer que levantemos os olhos para o céu. Esta manhã, depois de três dias de
chuva persistente, o céu apareceu luminoso e claro num dos dias mais
esplêndidos deste outono. Vamos entendendo o tema das mudanças do tempo, já que
agora os meteorologistas são quase da família. Pelo contrário, custa-nos mais a
entender em que tempo estamos ou vivemos: «Sabeis avaliar o aspecto da terra e
do céu. Como é que não sabeis avaliar o tempo presente?». (Lc 12,56). Muitos
dos que escutavam Jesus perderam uma oportunidade única na História de toda a
Humanidade. Não viram em Jesus o Filho de Deus. Não perceberam o tempo, a hora
da salvação.
O Concílio
Vaticano II, na Constituição Gaudium et Spes (n. 4), atualiza o Evangelho de
hoje: «Pesa sobre a Igreja o dever permanente de escutar a fundo os sinais dos
tempos e interpretá-los à luz do Evangelho (...)». É preciso, portanto,
conhecer e compreender o mundo em que vivemos e as suas esperanças, as suas
aspirações, o seu modo de ser, frequentemente dramático.
Quando
vemos a história, não nos custa muito assinalar as ocasiões perdidas pela
Igreja por não ter descoberto o momento que então se vivia. Mas, Senhor:
«Quantas ocasiões não teremos perdido agora por não descobrir os sinais dos
tempos ou, o que significa o mesmo, por não viver e iluminar a problemática
atual com a luz do Evangelho? Por que não julgais por vós mesmos o que é
justo?» (Lc 12,57), continua a recordar-nos hoje Jesus.
Não vivemos
num mundo de maldade, ainda que também haja bastante. Deus não abandonou o seu
mundo. Como recordava São João da Cruz, habitamos uma terra onde andou o
próprio Deus e que ele encheu de formosura. A beata Teresa de Calcutá captou os
sinais dos tempos, e o tempo, o nosso tempo, entendeu a beata Teresa de
Calcutá. Que ela nos estimule. Não deixemos de olhar para o alto, sem perder de
vista a terra.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* O
evangelho de hoje traz um apelo da parte de Jesus para aprendermos a ler os
Sinais dos Tempos. Foi este texto que inspirou o Papa João XXIII a convocar a
Igreja para prestar atenção aos Sinais dos Tempos e perceber melhor os apelos
de Deus nos acontecimentos da história da humanidade.
* Lucas 12,54-55: Todos sabem interpretar os aspectos
do terra e do céu, ... “Jesus também dizia às multidões: "Quando vocês veem
uma nuvem vinda do ocidente, vocês logo dizem que vem chuva; e assim acontece.
Quando vocês sentem soprar o vento do sul, vocês dizem que vai fazer calor; e
assim acontece”. Jesus verbaliza uma experiência humana universal. Todos e
todas, cada qual no seu país e na sua região, sabemos ler os aspectos do céu e
da terra. O próprio corpo sente quando ameaça chuva ou quando o tempo começa a
mudar: “Vamos ter chuva!”Jesus se refere à contemplação da natureza como sendo
uma das fontes mais importantes do conhecimento e da experiência que ele mesmo
tinha de Deus. Foi a contemplação da natureza que o ajudou a descobrir aspectos
novos na fé e na história do seu povo. Por exemplo, a chuva que cai sobre bons
e maus, e o sol que nasce sobre justos injustos, o ajudaram a formular uma das
mensagens mais revolucionárias: “Amais os vossos inimigos!”(Mt 5,43-45).
* Lucas 12,56-57: ..., mas não sabem ler os sinais
dos tempos. E Jesus tira a conclusão para os seus contemporâneos e para todos
nós: “Hipócritas! Vocês sabem interpretar o aspecto da terra e do céu. Como é
que vocês não sabem interpretar o tempo presente?” Santo Agostinho dizia que a
natureza, a criação, é o primeiro livro que Deus escreveu. Por meio dela Deus
nos fala. O pecado embaralhou as letras do livro da natureza e, por isso, já
não conseguimos ler a mensagem de Deus estampada nas coisas da natureza e nos
fatos da vida. A Bíblia, o segundo livro de Deus, foi escrito não para ocupar
ou substituir a Vida, mas para nos ajudar a interpretar a natureza e a vida e
aprender de novo a descobrir os apelos de Deus nos acontecimentos. “Por que
vocês não julgam por si mesmos o que é justo?” Partilhando entre nós o que
enxergamos na natureza, iremos descobrindo o apelo de Deus na vida.
* Lucas 12,58-59: Saber tirar a lição para a vida.
“Quando, pois, você está para se apresentar com seu adversário diante do
magistrado, procure resolver o caso com o adversário enquanto estão a caminho,
senão este o levará ao juiz, e o juiz entregará você ao guarda, e o guarda o
jogará na cadeia. Eu digo: daí você não sairá, enquanto não pagar o último
centavo”. Um dos pontos em que Jesus mais insistia é a reconciliação. Naquela
época havia muitas tensões e conflitos entre grupos radicais com tendências
diferentes, sem diálogo: zelotes, essênios, fariseus, saduceus, herodianos.
Ninguém queria ceder diante do outro. As palavras de Jesus sobre a
reconciliação pedindo acolhimento e compreensão iluminam esta situação. Pois o
único pecado que Deus não consegue perdoar é a nossa falta de perdão aos outros
(Mt 6,14). Por isso, ele aconselha procurar a reconciliação antes que seja
tarde demais! Quando chegar a hora do julgamento, será tarde demais. Enquanto
tiver tempo, procure mudar de vida, de comportamento e de modo de pensar e
procure acertar o passo (cf. Mt 5,25-26; Col 3,13; Ef 4,32; Mc 11,25).
Para um confronto pessoal
1. Ler os Sinais dos Tempos. Quando escuto ou leio as
notícias na TV ou nos jornais, tenho a preocupação de perceber os apelos de
Deus nesses fatos?
2. Reconciliar é o pedido mais insistente de Jesus. Como
procuro colaborar na reconciliação entre as pessoas, as raças, os povos, as
tendências?
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