Sto Antonio Maria Claret Presbítero |
«O chefe da sinagoga,
porém, furioso porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado»
Rev. D. Francesc JORDANA i Soler (Mirasol, Barcelona,
Espanha).
Hoje, vemos
a Jesus realizar uma ação que proclama seu messianismo. E ante ela o chefe da
sinagoga se indigna e repreende as pessoas para que não venham curar-se em dia
de sábado: Mas o chefe da sinagoga, indignado de ver que Jesus curava no
sábado, disse ao povo: «São seis os dias em que se deve trabalhar; vinde, pois,
nestes dias para vos curar, mas não em dia de sábado» (Lc 13,14).
Eu gostaria
que nos concentrássemos na atitude deste personagem. Sempre me surpreendeu que,
diante de um milagre evidente, alguém seja capaz de fechar-se de tal modo que o
que Ele viu, não lhe afeta no mais mínimo. É como se não tivesse visto o que
acabava de ocorrer e o que isso significa. O motivo está na vivência equivocada
das mediações que muitos judeus tinham naquele tempo. Por diferentes motivos -
antropológicos, culturais, desígnio divino- é inevitável que entre Deus e o
homem haja umas mediações. O problema é que alguns judeus fazem da mediação um
absoluto. De maneira que a mediação não lhes põe em comunicação com Deus, e
sim, ficam na sua própria mediação. Esquecem que são os últimos e ficam no
meio. Dessa maneira não pode comunicar-lhes suas graças, seus dons, seu amor e,
portanto sua experiência religiosa não enriquecerá sua vida.
Tudo isso
lhes conduz a uma vivência rigorosa da religião, a encerrar seu deus em uns
meios. Fazem um deus sob medida e não o deixam entrar em suas vidas. Na sua
religiosidade acham que tudo está solucionado se cumprem com algumas normas. Compreende-se
assim a reação de Jesus: «Hipócritas! - disse-lhes o Senhor. Não desamarra cada
um de vós no sábado o seu boi ou o seu jumento da manjedoura, para levá-los a
beber?» (Lc 13,15). Jesus descobre a falta de sentido dessa equivocada vivência
do sabath.
Esta
palavra de Deus deveria nos ajudar a examinar nossa vivência religiosa e
descobrir se realmente as mediações que utilizamos nos põe em comunicação com
Deus e com a vida. Somente desde a correta vivência das mediações podemos
entender a frase de Santo Agostinho: «Ama e faz o que queiras».
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje descreve a cura da mulher
encurvada. Trata-se de um dos muitos episódios que Lucas vai narrando, sem
muita ordem, ao descrever a longa caminhada de Jesus para Jerusalém (Lc 9,51 a
19,28).
* Lucas 13,10-11: A situação que vai
provocar a ação de Jesus
Jesus está
na sinagoga num dia do repouso. Ele cumpre a lei, guardando o sábado e
participando da celebração com seu povo. Lucas informa que Jesus estava
ensinando. Havia na sinagoga uma mulher encurvada. Lucas diz que um espírito de
fraqueza a impedia de tomar posição reta. Era a maneira do povo daquele tempo
explicar as doenças. Já fazia dezoito anos que a mulher estava nessa situação.
Ela não fala, não tem nome, não pede para ser curada, não toma nenhuma
iniciativa. Sua passividade chama a atenção.
* Lucas 13,12-13: Jesus cura a
mulher
Vendo a
mulher, Jesus a chama e lhe diz: “Mulher, você está livre da sua doença!”. A
ação de libertar é realizada pela palavra, dirigida diretamente à mulher, e
pelo toque da imposição das mãos. Imediatamente, ela fica de pé e começa a
louvar o Senhor. Há uma relação entre o colocar-se de pé e dar glória a Deus.
Jesus faz a mulher ficar de pé, para que ela possa louvar a Deus no meio do
povo reunido em assembleia. A sogra de Pedro, quando curada, levantou-se e se
pôs a servir (Mc 1,31). Louvar a Deus e servir aos irmãos!
* Lucas 13,14: A reação do chefe da
sinagoga
O chefe da
sinagoga ficou furioso com a ação de Jesus, por ele ter feito a cura num dia de
sábado: “Há seis dias para o trabalho! Portanto, venham num destes dias para
serem curados e não no dia de sábado!”. Na crítica do chefe da sinagoga ao povo
ressoa a palavra da Lei de Deus que dizia: “Lembre-se do dia de sábado, para
santificá-lo. Trabalhe durante seis dias e faça todas as suas tarefas. O sétimo
dia, porém, é o sábado de Javé seu Deus. Não faça nenhum trabalho”. (Ex
20,8-10). Nesta reação autoritária do chefe temos uma chave para entender por
que motivo o povo estava tão oprimido e por que a mulher não podia participar
naquele tempo. A dominação das consciências através da manipulação da lei de
Deus era muito forte. Era esta a maneira de eles manterem o povo submisso e
encurvado.
* Lucas 13,15-16: A resposta de
Jesus ao chefe da sinagoga
O chefe
condenou as pessoas porque ele queria que observassem a Lei de Deus. Aquilo que
para o chefe da sinagoga é observância da lei de Deus, é hipocrisia para Jesus:
"Hipócritas! Cada um de vocês não solta do curral o boi ou o jumento para
dar-lhe de beber, mesmo que seja dia de sábado? Aqui está uma filha de Abraão
que Satanás amarrou durante dezoito anos. Será que não deveria ser libertada
dessa prisão, em dia de sábado?" Com este exemplo tirado da vida diária,
Jesus mostra a incoerência desse tipo de observância da lei de Deus. Se é
permitido desamarrar um boi e um jumento em dia de sábado só para dar-lhes de
beber, muito mais é permitido desamarrar uma filha de Abraão para liberta-la do
poder do mal. O verdadeiro sentido da observância da Lei que agrada a Deus é
este: libertar as pessoas do poder do mal e colocá-las de pé, para que possam
glorificar a Deus e render-lhe homenagem. Jesus imita Deus que endireita os
encurvados (Sl 145,14; 146,8).
* Lucas 13,17: A reação do povo
diante da ação de Jesus
O
ensinamento de Jesus deixa confusos os seus adversários, mas a multidão se
enche de alegria pelas coisas maravilhosas que Jesus está realizando: “Toda a
multidão se alegrava com as maravilhas que Jesus fazia”. Na Palestina do tempo
de Jesus, a mulher vivia encurvada, submissa ao marido, aos pais e aos chefes
religiosos do seu povo. Esta situação de submissão era justificada pela
religião. Mas Jesus não quer que ela fique encurvada. Desatar e libertar as
pessoas não tem dia marcado. É todos os dias, mesmo em dia de sábado!
Para um confronto pessoal
1. Será que a situação da mulher mudou muito de lá para
cá? Qual a situação da mulher hoje na sociedade e na igreja? Tem alguma relação
entre religião e opressão da mulher?
2. A multidão se alegrou com a ação de Jesus. Qual a
libertação que está acontecendo hoje e que está levando a multidão a se alegrar
e dar graças a Deus?
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