Patrono do Laicato Carmelita |
Evangelho
(Mt 19,3-12): Naquele tempo, Os fariseus
vieram perguntar-lhe para pô-lo à prova: É permitido a um homem rejeitar sua mulher
por um motivo qualquer? Respondeu-lhes Jesus: Não lestes que o Criador, no
começo, fez o homem e a mulher e disse: Por isso, o homem deixará seu pai e sua
mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão uma só carne? Assim, já não são
dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu. Disseram-lhe
eles: Por que, então, Moisés ordenou dar um documento de divórcio à mulher, ao
rejeitá-la? Jesus respondeu-lhes: É por causa da dureza de vosso coração que
Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres; mas no começo não foi assim. Ora,
eu vos declaro que todo aquele que rejeita sua mulher, exceto no caso de matrimônio
falso, e desposa outra, comete adultério. E aquele que desposa uma mulher
rejeitada, comete também adultério. Seus discípulos disseram-lhe: Se tal é a
condição do homem a respeito da mulher, é melhor não se casar! Respondeu ele:
Nem todos são capazes de compreender o sentido desta palavra, mas somente aqueles
a quem foi concedido. Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães,
há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se
fizeram eunucos por amor do Reino dos céus. Quem puder compreender, compreenda.
Sexualidade e
matrimônio: são algo sagrado!
REDAÇÃO evangeli.net (elaborado com base nos textos de
Bento XVI) (Città del Vaticano, Vaticano)
Hoje, com o
Evangelho, contemplamos a sexualidade como uma realidade central da criação. A
diversidade sexual e o matrimônio (onde os esposos se doam mutuamente na sua
distinção sexuada) são algo sagrado. Não é mero acaso que:
1. Deus
altere a sua linguagem (“fala” na primeira pessoa do plural) quando se dispõe a
criar o homem (“Façamos o homem à nossa semelhança”);
2. Cristo
dignifique o matrimônio com a categoria de sacramento e assista a uma boda no
início do seu ministério.
A palavra
de Deus confirma esta tradição da Igreja. Além disso, lemos no “Gênesis” que
Deus nos criou à sua imagem, fazendo-nos “homem” e “mulher”. Quando duas
pessoas se entregam mutuamente e, juntas, dão vida aos filhos, o sagrado também
fica atingido: cada pessoa alberga o mistério divino. Assim, a convivência de
homem e mulher também se insere no religioso, no sagrado, na responsabilidade
perante Deus.
—Deus-Criador:
tu és o “nós divino” que inspira e guia o “nós humano” (matrimônio).
O homem esteja
“incompleto”, constitutivamente a caminho a fim de encontrar no outro a parte
que falta para a sua totalidade
REDAÇÃO evangeli.net (elaborado com base nos textos de
Bento XVI) (Città del Vaticano, Vaticano)
Bta Victoria Diez y Bustos de
Molina
Virgem Instituto Teresiano e mártir |
Na base
desta narração, é possível entrever concepções semelhantes às que aparecem no
mito referido por Platão, segundo o qual o homem originariamente era esférico,
porque completo em si mesmo e autossuficiente. Mas, como punição pela sua
soberba, foi dividido ao meio por Zeus, de tal modo que agora sempre anseia
pela outra sua metade e caminha para ela a fim de reencontrar a sua
globalidade.
—Na
narração bíblica, não se fala de punição; porém, a ideia de que o homem de
algum modo esteja incompleto, constitutivamente a caminho a fim de encontrar no
outro a parte que falta para a sua totalidade.
À imagem do Deus
monoteísta corresponde o matrimônio monogâmico
REDAÇÃO evangeli.net (elaborado com base nos textos de
Bento XVI) (Città del Vaticano, Vaticano)
Hoje, vemos
que só na comunhão com o outro sexo, o homem possa tornar-se “completo”: o
“eros” (amor-paixão) está de certo modo enraizado na própria natureza do homem.
Adão anda à procura e “deixa o pai e a mãe” para encontrar a mulher (cf. Gn
2,23-24); só no seu conjunto é que representam a totalidade humana, tornam-se
“uma só carne”.
O segundo
aspecto: numa orientação baseada na criação, o “eros” impele o homem ao matrimônio,
a uma ligação caracterizada pela unicidade e para sempre. Deste modo, e somente
assim, é que se realiza a sua finalidade íntima. À imagem do Deus monoteísta
corresponde o matrimônio monogâmico. O matrimônio baseado num amor exclusivo e
definitivo torna-se o ícone do relacionamento de Deus com o seu povo e,
vice-versa, o modo de Deus amar torna-se a medida do amor humano.
—Esta
estreita ligação entre “eros” e matrimônio na Bíblia quase não encontra
paralelos literários fora da mesma.
Reflexão
Até o
capítulo 18, Mateus mostrou como os discursos de Jesus marcaram as diferentes
fases da constituição progressiva e formação da comunidade dos discípulos em
torno de seu Mestre. Agora em 19,1, este pequeno grupo se afasta dos
territórios da Galileia e chega nos territórios da Judéia. O chamado de Jesus
que envolve os seus discípulos avança até a escolha decisiva: a aceitação ou
rejeição da pessoa de Jesus. Esta fase ocorre ao longo da estrada que leva a
Jerusalém (capítulos 19-20), e, finalmente, com a chegada à cidade e junto ao
Templo (capítulos 21-23). Todos os encontros que Jesus experimenta no decorrer
desses capítulos ocorrem ao longo do percurso da Galileia a Jerusalém.
• Encontro com os fariseus.
Passando
pela Transjordânia (19,1), o primeiro encontro é com os fariseus e o tema de
discussão de Jesus com ele se torna motivo de reflexão para o grupo dos
discípulos. A pergunta dos fariseus é sobre o divórcio e, especialmente, coloca
Jesus em dificuldade sobre o amor dentro do casamento, a realidade mais sólida
e estável para toda a comunidade judaica. A intervenção dos fariseus quer
acusar o ensinamento de Jesus. Trata-se de um verdadeiro processo: Mateus o
considera como "colocar à prova", "um tentar". A pergunta é
realmente crucial: “É permitido a um homem rejeitar sua mulher por um motivo
qualquer?” (19,3). Ao leitor não escapa a tentativa equivocada dos fariseus de
interpretar o texto de Dt 24,1 para colocar Jesus em dificuldade: “Se um homem
toma uma mulher e se casa com ela, e esta depois não lhe agrada porque
descobriu nela algo inconveniente, ele lhe escreverá uma certidão de divórcio e
assim despedirá a mulher”. Este texto deu origem ao longo dos séculos a
inúmeras discussões: a admitir o divórcio por qualquer motivo, exigir um mínimo
de mau comportamento, um verdadeiro adultério.
• É Deus que une.
Jesus
responde aos fariseus recorrendo a Gn 1,17; 2,24, trazendo o assunto à vontade
primária de Deus criador. O amor, que une o homem e a mulher, vem de Deus e por
essa origem, unifica e não pode separar. Se Jesus cita Gênesis 2,24: “Por isso,
o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e os dois formarão
uma só carne” (19,5), é porque ele quer enfatizar um princípio particular e
absoluto: é a vontade criadora de Deus que une um homem e uma mulher. Quando um
homem e uma mulher se unem em matrimônio, é Deus que os une; o termo
"cônjuge" vem do verbo conjungir (ligar intimamente), conjugar
(associar, ligar e unir), ou seja, que a conjunção dos dois parceiros sexuais é
o efeito da palavra criadora de Deus. A resposta de Jesus aos fariseus atinge o
seu cume: o casamento é indissolúvel na sua constituição original. Jesus
continua desta vez tempo de Ml 2,13-16: repudiar a própria mulher é romper a
aliança com Deus e segundo os profetas, esta aliança é vivida principalmente
pelos esposos em sua união conjugal (Os 1-3; Is 1,21-26; Jr 2,2; 3,1.6-12; Ez
16; 23; Is 54,6-10; 60-62). A resposta de Jesus aparece em contradição com a
lei de Moisés, que dá a possibilidade de conceder um certificado de divórcio.
No motivar a sua resposta, Jesus lembra aos fariseus: se Moisés deu essa
possibilidade é por causa da dureza dos vossos corações (v. 8), mais
especificamente por causa da vossa desobediência à Palavra de Deus. A lei de Gn
1,26; 2,24 nunca foi modificada, mas Moisés foi forçado a adaptá-la a uma atitude
de desobediência. O primeiro casamento não foi anulado pelo adultério. Ao homem
de hoje e, especialmente, às comunidades eclesiais a palavra de Jesus diz
claramente que não deve haver divórcio, e, no entanto, vemos que existem; na
vida pastoral das pessoas divorciadas são acolhidas, às quais está sempre
aberta à possibilidade de entrar no reino. A reação dos discípulos foi
imediata: “Se tal é a condição do homem a respeito da mulher, é melhor não se
casar!” (v.10). A resposta de Jesus continua a sustentar a indissolubilidade do
matrimônio, impossível para a mentalidade humana, mas possível para Deus. O
eunuco de que Jesus fala não é aquele que não pode gerar, mas aquele que,
separado de sua esposa, continua a viver em continência , mantendo-se fiel ao
primeiro vínculo conjugal: é eunuco em relação a todas as outras mulheres.
Para um confronto pessoal
1) Em relação ao casamento sabemos acolher o ensinamento
de Jesus com simplicidade, sem adaptá-lo às nossas próprias escolhas legítimas
de conveniência?
2) O Evangelho recorda-nos que o plano do Pai para o
homem e a mulher é um maravilhoso projeto de amor. Você está ciente de que o
amor tem uma lei imprescindível: implica o dom total e cheio da própria pessoa
para o outro?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO