terça-feira, 19 de julho de 2016

XVII Domingo do Tempo Comum

Evangelho (Lucas 11, 1-13) - Um dia, num certo lugar, estava Jesus a rezar. Terminando a oração, disse-lhe um de seus discípulos: Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos. Disse-lhes ele, então: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino; dai-nos hoje o pão necessário ao nosso sustento; perdoai-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos àqueles que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação. Em seguida, ele continuou: Se alguém de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois um amigo meu acaba de chegar à minha casa, de uma viagem, e não tenho nada para lhe oferecer; e se ele responder lá de dentro: Não me incomodes; a porta já está fechada, meus filhos e eu estamos deitados; não posso levantar-me para te dar os pães; eu vos digo: no caso de não se levantar para lhe dar os pães por ser seu amigo, certamente por causa da sua importunação se levantará e lhe dará quantos pães necessitar. E eu vos digo: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater, se lhe abrirá. Se um filho pedir um pão, qual o pai entre vós que lhe dará uma pedra? Se ele pedir um peixe, acaso lhe dará uma serpente? Ou se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á porventura um escorpião? Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem.

«Jesus estava orando num certo lugar… ‘Senhor, ensina-nos a orar’»

Abbé Jean GOTTIGNY (Bruxelles, Blgica)

Beato João Soreth,
Presbítero da nossa Ordem
Hoje, Jesus em oração nos ensina a orar. Prestemos atenção no que sua atitude nos ensina. Jesus Cristo experimenta em muitas ocasiões a necessidade de encontrar-se cara a cara com seu Pai. Lucas, em seu Evangelho, insiste sobre este ponto.

Sobre que falavam naquele dia? Não sabemos. No entanto, em outra ocasião, nos chegou um fragmento de conversação entre seu Pai e Ele. No momento em que foi batizado no rio Jordão, quando estava orando, «E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu filho amado; em ti está meu pleno agrado’» (Lc 3,22). No parêntese de um diálogo ternamente afetuoso.

Quando, no Evangelho de hoje, um dos discípulos, ao observar seu recolhimento, lhe implora que lhes ensine a falar com Deus, Jesus responde: «Quando ores, diga: ‘Pai, santificado seja teu nome…’» (Lc 11,2). A oração consiste em uma conversação filial com esse Pai que nos ama com loucura. Não definia Teresa de Ávila a oração como “uma íntima relação de amizade”: «estando muitas vezes tratando a sós com quem sabemos que nos ama»?

Bento XVI encontra «significativo que Lucas situe o Pai-nosso no contexto da oração pessoal do próprio Jesus. Desta forma, Ele nos faz participar de sua oração; conduz-nos ao interior do diálogo íntimo do amor trinitário; ou seja, levanta nossas misérias humanas até o coração de Deus».

É significativo que, na linguagem cotidiana, a oração que Jesus Cristo nos ensinou se resume nestas duas únicas palavras: «Pai Nosso». A oração cristã é eminentemente filial.

A liturgia católica põe esta oração nos nossos lábios no momento em que nos preparamos para receber o Corpo e o Sangre de Jesus Cristo. As sete petições que permite e a ordem em que estão formuladas nos dão uma ideia da conduta que devemos de manter quando recebamos a Comunhão Eucarística.

Reflexão de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* O evangelho de hoje traz a passagem na qual Jesus, pela sua maneira de rezar, provoca nos discípulos a vontade de rezar, de aprender dele como rezar.

Btas Maria Pilar de S. Fco de Borja,
Teresa do Menino Jesus
e Maria de São José
Mártires de nossa Ordem
* Lucas 11,1: Jesus, exemplo de oração. “Um dia, Jesus estava rezando em certo lugar. Quando terminou, um dos discípulos pediu: "Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou os discípulos dele." É estranha a pergunta do discípulo, pois naquele tempo, o povo aprendia a rezar desde pequeno. Todos e todas rezavam três vezes ao dia, de manhã, meio dia e à noite. Rezavam muito os salmos. Tinham as suas práticas devocionais, tinham os salmos, tinham as reuniões semanais na sinagoga e os encontros diários em casa. Mas parece que não bastava. O discípulo queria mais: “Ensina-nos a rezar!” Na atitude de Jesus ele descobriu que poderia dar mais um passo e que, para isso necessitaria uma iniciação. O desejo de rezar está em todos, mas a maneira de rezar pede uma ajuda. A maneira de rezar vai mudando ao longo dos anos da vida e mudou ao longo dos séculos. Jesus foi um bom mestre. Ensinou a rezar por palavras e pelo testemunho.

* Lucas 11,2-4: A oração do Pai Nosso.
“Jesus respondeu: "Quando vocês rezarem, digam: Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. Dá-nos a cada dia o pão de amanhã, e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos aqueles que nos devem; e não nos deixes cair em tentação”. No evangelho de Mateus, de maneira muito didática, Jesus resumiu todo o seu ensinamento em sete pedidos dirigidos ao Pai. Aqui no evangelho de Lucas são cinco pedidos. Nestes sete ou cinco pedidos, Jesus retoma as grandes promessas do Antigo Testamento e pede que o Pai nos ajude a realizá-las. Os primeiros três (ou dois) dizem respeito ao relacionamento nosso com Deus. Os outros quatro (ou três) dizem respeito ao relacionamento entre nós.
Introdução: Pai Nosso que estás no céu!
1º pedido Santificação do Nome
2º pedido Vinda do Reino
3º pedido Realização da Vontade
4º pedido Pão de cada dia
5º pedido Perdão das dívidas
6º pedido Não cair nas Tentações
7º pedido Libertação do Maligno

Introdução: Pai
1º pedido Santificação do Nome
2º pedido Vinda do Reino
3º pedido Pão de cada dia
4º pedido Perdão dos pecados
5º pedido Não cair nas tentações

* Pai (Nosso): O título exprime o novo relacionamento com Deus (Pai). É o fundamento da fraternidade.
1. Santificar o Nome: O nome é JAVÉ. Significa Estou com você! Deus conosco. Neste NOME Deus se deu a conhecer (Ex 3,11-15). O Nome de Deus é santificado quando é usado com fé e não com magia; quando é usado conforme o seu verdadeiro objetivo, i.é, não para a opressão, mas sim para a libertação do povo e para a construção do Reino.
2. Vinda do Reino: O único Dono e Rei da vida humana é Deus (Is 45,21; 46,9). A vinda do Reino é a realização de todas as esperanças e promessas. É a vida plena, a superação das frustrações sofridas com os reis e os governos humanos. Este Reino acontecerá, quando a vontade de Deus for plenamente realizada.
3. Pão de cada dia: No êxodo, cada dia, o povo recebia o maná no deserto (Ex 16,35). A Providência Divina passava pela organização fraterna, pela partilha. Jesus nos convida para realizar um novo êxodo, uma nova maneira de convivência fraterna que garante o pão para todos (Mt 6,34-44; Jo 6,48-51).
4. Perdão das dívidas: Cada 50 anos, o Ano Jubilar obrigava todos a perdoar as dívidas. Era um novo começo (Lv 25,8-55). Jesus anuncia um novo Ano Jubilar, "um ano da graça da parte do Senhor" (Lc 4,19). O Evangelho quer recomeçar tudo de novo! Hoje, a dívida externa não é perdoada! Lucas mudou “dívidas” para “pecados”
5. Não cair na tentação: No êxodo, o povo foi tentado e caiu (Dt 9,6-12). Murmurou e quis voltar atrás (Ex 16,3; 17,3). No novo êxodo, a tentação será superada pela força que o povo recebe de Deus (1Cor 10,12-13).

* O testemunho de oração de Jesus no Evangelho de Lucas:
- Aos doze anos de idade, ele vai no Templo, na Casa do Pai (Lc 2,46-50).
- Na hora de ser batizado e de assumir a missão, ele reza (Lc 3,21).
- Na hora de iniciar a missão, passa quarenta dias no deserto (Lc 4,1-2).
- Na hora da tentação, ele enfrenta o diabo com textos da Escritura (Lc 4,3-12).
- Jesus tem o costume de participar das celebrações nas sinagogas aos sábados (Lc 4,16)
- Procura a solidão do deserto para rezar ( Lc 5,16; 9,18).
- Na véspera de escolher os doze Apóstolos, passa a noite em oração (Lc 6,12).
- Reza antes das refeições (Lc 9,16; 24,30).
- Na hora de fazer levantamento da realidade e de falar da sua paixão, ele reza (Lc 9,18).
- Na crise, sobe o Monte para rezar e é transfigurado enquanto reza (Lc 9,28).
- Diante da revelação do Evangelho aos pequenos, ele diz: “Pai eu te agradeço!” (Lc 10,21)
- Rezando, desperta nos apóstolos vontade de rezar (Lc 11,1).
- Rezou por Pedro para ele não desfalecer na fé (Lc 22,32).
- Celebra a Ceia Pascal com seus discípulos (Lc 22,7-14).
- No Horto das Oliveiras, ele reza, mesmo suando sangue (Lc 22,41-42).
- Na angústia da agonia pede aos amigos para rezar com ele (Lc 22,40.46).
- Na hora de ser pregado na cruz, pede perdão pelos carrascos (Lc 23,34).
- Na hora da morte, ele diz: "Em tuas mãos entrego meu espírito!" (Lc 23,46; Sl 31,6)
- Jesus morre soltando o grito do pobre (Lc 23,46).
- Jesus ensina que devemos rezar com fé e insistência, sem esmorecer. Para isto ele usa uma parábola provocadora.

* Lucas 11,5-7: A parábola que provoca. Como de costume, quando ele tem uma coisa importante para ensinar, Jesus recorre a uma comparação, uma parábola. Hoje ele nos conta uma história curiosa que termina em pergunta, e ele dirige esta pergunta ao povo que o escutava e também a nós que hoje lemos ou escutamos a história: "Se alguém de vocês tivesse um amigo, e fosse procurá-lo à meia-noite, dizendo: 'Amigo, me empreste três pães, 6 porque um amigo meu chegou de viagem, e não tenho nada para oferecer a ele'. Será que lá de dentro o outro responderia: 'Não me amole! Já tranquei a porta, meus filhos e eu já nos deitamos; não posso me levantar para lhe dar os pães?” Antes de Jesus mesmo dar a resposta, ele quer que você dê a sua opinião. O que você responderia: sim ou não?

* Lucas 11,8: Jesus mesmo responde à provocação. Jesus dá a sua resposta: “Eu declaro a vocês: mesmo que o outro não se levante para dar os pães porque é um amigo seu, vai levantar-se ao menos por causa da amolação, e dar tudo aquilo que o amigo necessita”. Se não fosse Jesus, será que você teria a coragem de inventar uma história na qual se sugere que Deus atende às nossas orações para ver-se livre da amolação? A resposta de Jesus reforça a mensagem sobre a oração, a saber: Deus atende sempre à nossa oração. Esta parábola lembra a outra, também em Lucas, da viúva que insiste em conseguir seus direitos junto ao juiz ateu que não se importa com Deus nem com a justiça e que atende à viúva não porque quer ser justo, mas porque quer ver-se livre da amolação da mulher (Lc 18,3-5). Em seguida, Jesus tira duas conclusões para aplicar a mensagem da parábola na vida.

* Lucas 11,9-10: A primeira aplicação da Parábola. “Portanto, eu lhes digo: peçam, e lhes será dado! Procurem, e encontrarão! Batam, e abrirão a porta para vocês! Pois, todo aquele que pede, recebe; quem procura, acha; e a quem bate, a porta será aberta”. Pedir, procurar, bater! Jesus não coloca condição. Se você pedir, vai receber. Se você procurar, vai encontrar. Se você bater na porta, ela vai ser aberta. Jesus não diz quanto tempo vai durar o pedir, o buscar, o bater, mas é certo que vai ter resultado.

* Lucas 11,11-12: A segunda aplicação da parábola. “Será que alguém de vocês que é pai, se o filho lhe pede um peixe, em lugar do peixe lhe dá uma cobra? 12 Ou ainda: se pede um ovo, será que vai lhe dar um escorpião?” Esta segunda aplicação deixa transparecer o público que escutava as palavras de Jesus e também o jeito de ele ensinar em forma de diálogo. Ele pergunta: “Vocês que são pais, quando o filho pede um peixe, vocês dão uma cobra?” O povo responde: “Não!” –“E se pede um ovo, vocês dão um escorpião?” -“Não!” Por meio do diálogo, Jesus envolve as pessoas na comparação e, pela resposta que recebe delas, ele as compromete com a mensagem da parábola.

* Lucas 11,13: A mensagem: receber o dom do Espírito Santo. “Se vocês, que são maus, sabem dar coisas boas aos filhos, quanto mais o Pai do céu! Ele dará o Espírito Santo àqueles que o pedirem." O dom máximo que Deus tem para nós é o dom do Espírito Santo. Quando fomos criados, ele soprou o seu espírito nas nossas narinas e nós nos tornamos um ser vivente (Gn 2,7). Na segunda criação através da fé em Jesus, ele nos dá novamente o Espírito, o mesmo Espírito que fez com que a Palavra se encarnasse em Maria (Lc 1,35). Com a ajuda do Espírito Santo, o processo da encarnação da Palavra continuou até à hora da morte da Cruz. No fim, na hora da morte, Jesus devolveu o Espírito ao Pai: “Em tuas mãos entrega o meu espírito” (Lc 23,46). É este Espírito que Jesus nos prometeu como fonte de verdade e de compreensão (Jo 14,14-17; 16,13), e como ajuda no meio das perseguições (Mt 10,20; At 4,31). Este Espírito não se compra a preço de dinheiro nos shoppingcentros. A única maneira de consegui-lo é através da oração. Foram nove dias de oração que conseguiu o dom abundante do Espírito no dia de Pentecostes (At 1,14; 2,1-4).

Para um confronto pessoal
1. Rezo? Como rezo? O que significa a oração para mim?

2. Pai Nosso: passe em revista os cinco pedidos e verifique como estão sendo vividos em sua vida?

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