Textos: Dt 30, 10-14; Col 1, 15-20; Lc 10,
25-37
Evangelho
(Lc 10,25-37): Um doutor da Lei se
levantou e, querendo experimentar Jesus, perguntou: «Mestre, que devo fazer
para herdar a vida eterna?». Jesus lhe disse: «Que está escrito na Lei? Como
lês?». Ele respondeu: «Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com
toda a tua alma, com toda a tua força e com todo o teu entendimento; e teu
próximo como a ti mesmo!». Jesus lhe disse: «Respondeste corretamente. Faze
isso e viverás». Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: «E quem é o
meu próximo?». Jesus retomou: «Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e
caiu nas mãos de assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no e
foram-se embora, deixando-o quase morto. Por acaso, um sacerdote estava
passando por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro
lado. O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu
adiante, pelo outro lado. Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto
dele, viu, e moveu-se de compaixão. Aproximou-se dele e tratou-lhe as feridas, derramando
nelas óleo e vinho. Depois colocou-o em seu próprio animal e o levou a uma
pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou dois denários e entregou-os ao
dono da pensão, recomendando: «Toma conta dele! Quando eu voltar, pagarei o que
tiveres gasto a mais». E Jesus perguntou: “Na tua opinião, qual dos três foi o
próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?». Ele respondeu: «Aquele
que usou de misericórdia para com ele». Então Jesus lhe disse: «Vai e faze tu a
mesma coisa».
«Mas um samaritano
moveu-se de compaixão. Aproximou-se dele e tratou-lhe as feridas e colocou-o em
seu próprio animal»
Rev. D. Llucià POU i Sabater (Granada, Espanha)
Hoje
perguntamo-nos: «E quem é o meu próximo?» (Lc 10,29). Relatam que alguns judeus
sentiam curiosidade ao ver seu rabino desaparecer na vigília do dia sábado.
Suspeitavam que ele estivesse se encontrando em segredo, talvez com Deus, então
um deles o seguiu... E o fez assim, cheio de emoção, até uns bairros
miseráveis, onde viu o rabino cuidando e varrendo a casa de uma mulher: ela era
paralitica, e a servia e lhe preparava uma comida especial para a festa. Ao
voltar, todos perguntaram: «Onde o rabino foi? Subiu ao céu?». E respondeu:
«Não, ele subiu ainda mais alto».
O
que existe de melhor é amar ao próximo realizando boas obras; aí se manifesta o
amor. Sem ignorar quem precisa de nós! «É Cristo quem eleva sua voz nos pobres
para chamar à caridade nos seus discípulos» afirma o Concilio Vaticano II num
documento.
Ser
como o bom samaritano, é mudar os planos («chegou perto dele»), dedicar tempo
(«cuidou dele») ... Isso nos leva a contemplar também, a figura do anfitrião
como disse João Paulo II: «O que teria feito sem ele? O anfitrião, permanecendo
anônimo, realizou as tarefas mais importantes. Todos podem atuar como ele,
cumprindo as próprias tarefas com espírito de serviço. Toda atividade, oferece
a oportunidade, mais ou menos direta, de ajudar a quem precisar (...). Cumprir
fielmente com os deveres próprios da profissão é praticar o amor pelas pessoas
e à sociedade».
Deixar
tudo, para acolher a quem precisa de nós (o bom samaritano) e fazer bem o
trabalho por amor (o anfitrião), são as duas maneiras de amar que nos
correspondem: «qual dos três foi o próximo. `Aquele que usou de misericórdia para
com ele´. Jesus lhe disse: `Vai e faz tu a mesma coisa» (Lc 10, 36,37).
Acudimos
à Virgem Maria e, Ela — que é modelo — ajude-nos a descobrir as necessidades
dos outros, materiais e espirituais.
A caridade
misericordiosa é o distintivo próprio do cristão.
Pe. Antonio Rivero, L.C.
Em
pleno ano jubilar da misericórdia nos surpreende este evangelho de Lucas sobre
o bom samaritano, que recolhe todas as características da caridade
misericordiosa, pregadas e vividas por Cristo durante a sua vida terrena, para
que também nós o imitemos.
Em
primeiro lugar, fixemos a atenção no sacerdote que passa reto. Qual era a
função ou ministério do sacerdote- em hebraico kún- do Antigo Testamento? É o
homem que “está diante de Deus” (Dt 10,8). Também, o sacerdote seria o homem
que se inclina em adoração diante da divindade. Outros ainda relacionam o termo
com uma raiz com fundamento em siríaco, que expressa o conceito de
prosperidade; o sacerdote é o homem que, por meio da bênção, procura a
prosperidade para todos. Em grego, kohen foi traduzido por hiereús, termo
emparentado com hierós, sagrado; o sacerdote é o homem do sagrado. Resumindo as
suas funções: fazer oráculos por meio de objetos chamados tummim e ‘urim (cf.
1Sam 23,9; 30,7) ensinam os preceitos de Deus (cf. Ag 2,11s; Zac 7,3; Dt 31,9;
Mal 2,7); à função do ensino vai ligada também uma certa competência jurídica
(cf. Dt 21,5); outra função, oferecer os sacrifícios (cf. Dt 33,10); pureza
ritual, e por isso deviam evitar todo contato que os tornasse impuros (basta
ler o livro do Levítico), transmitir a bênção de Deus e a custódia do
Santuário. Agora entendemos como foi gravíssima aos olhos de Deus a omissão
deste sacerdote diante desse homem jogado e apanhado no meio do caminho e quase
morrendo. Nada fez para socorrê-lo. Os seus olhos fechados por egoísmo. O seu
coração petrificado pelo legalismo. As suas mãos escleróticas pelo peso de
tantos candelabros. De que serviriam as suas rezas sem caridade misericordiosa?
De que lhe serviam os seus incensos cheirosos no templo, se não soube ver a
imagem de Deus ferida nesse próximo que agonizava e que cheirava à injustiça, à
abuso? “Não serve para nada”, dir-nos-á são Paulo no famoso hino da caridade
(cf. 1 Cor 13, 1-13).
Em
segundo lugar, fixemos a atenção no levita que também passa reto. Qual função realizava
o levita? Em Israel as funções cultuais foram confiadas aos levitas,
competência especial para o culto (cf. Juízes 17, 7-13). Também, atuavam como
guardiões do templo e das diversas cerimônias e oferendas que aconteciam ali
dentro. Os levitas oficiavam o serviço da manhã, ofereciam a bênção no final do
serviço- como porta-vozes diretos de Javé- e pediam a influência divina do seu
deus. Eles eram criados dentro do templo ajudando outros sacerdotes, e se
desempenhavam como guardiões do tabernáculo. Dado que se sacrificavam muitos
animais como oferendas no templo, eles realizavam estes sacrifícios.
Esperava-se que os levitas sentissem zelo pelo Senhor, até o ponto de
sacrificar qualquer direito sobre uma propriedade ou posse de terras. Como
representantes de Javé, ou “Cohen” em hebraico, deviam mostrar certas
características piedosas como a bondade, a sabedoria e a justiça. Agora se
entende a gravidade da omissão do levita deste evangelho de hoje: viu o irmão
jogado, ferido, meio morto, e passou reto. De que serve a piedade sem a
caridade? De que serve a sabedoria sem a caridade? De que serve abrir e fechar
portas dos templos e acender velas aos santos e oferecer ex-votos e fazer
peregrinações a pé e flagelar-se, e impor-se jejuns e abstinências fortes, sem
a caridade? De novo responde são Paulo: “Não serve para nada”.
Finalmente,
fixemos a atenção no bom samaritano. O que e quem era um samaritano? Os
samaritanos (habitantes da cidade e região da Samaria), não eram bem vistos
pelos judeus do Sul, devido a certas diferenças raciais que provinham desde a
época do primeiro cativeiro. Embora eram
hebreus, eram desprezados e considerados como hebreus estrangeiros, ou hebreus
de segunda classe, pelos que eram de Judá (no Sul). E porque se misturaram com
os estrangeiros que tinham trazido de Assíria e Babilônia, eram tidos como
mestiços e racialmente impuros. Aliás, adotaram uma religião que era uma
mistura de judaísmo e idolatria (2 Re 17,26-28). Mais motivos de ódio contra os
samaritanos: os judeus, depois da sua volta da Babilônia, começaram a
reconstruir o seu templo, e enquanto Neemias estava comprometido na construção
dos muros de Jerusalém, os samaritanos vigorosamente tentavam deter o projeto
(Neemias 6, 1-14); e eles mesmos construíram um templo para eles mesmos no
“Monte Gerizim”. Mais, Samaria se converteu num lugar de refúgio para todos os
foragidos da Judeia (Josué 20, 7; 21, 21). E o cúmulo: os samaritanos receberam
somente os cinco livros de Moisés e rejeitaram os escritos dos profetas e todas
as tradições judaicas. Agora entendemos todo o ódio, o desprezo dos judeus
contra essa raça. E, porém, o samaritano do evangelho, como reagiu diante do
pobre judeu jogado e meio morto pelo espancamento propinado? Viu esse homem. Sentiu compaixão dele. E
tirou do seu coração gestos da caridade misericordiosa: aproxima-se, desce do
jumento, derrama vinho e azeite sobre as suas feridas, venda-as, monta-o sobre
a cavalgadura, leva-o a uma hospedagem, paga por ele. Caridade que não
desemboque em detalhes concretos não é caridade misericordiosa: será, quem
sabe, filantropia.
Para
refletir: Santo
Agostinho nos faz refletir sobre esta parábola. Quem está jogado e espancado na
beira do caminho é toda a humanidade. Os três grandes inimigos do homem- mundo,
demônio e as nossas paixões- são os que nos deixam meio mortos. Cristo é o Bom
Samaritano que desce do céu e se aproximou de nós, colocando em nós o balsamo
dos seus sacramentos, levando-nos à hospedagem da Igreja e pagando com o seu
sangue o preço que exigiam tantos cuidados. Em qual personagem nos refletimos:
sacerdote, levita ou samaritano?
Para
rezar:
Senhor,
não quero passar de longe
Diante
do homem ferido no caminho da vida.
Quero
me aproximar
E
me contagiar da vossa compaixão
Para
exprimir a vossa ternura,
Para
oferecer o azeite que cura feridas,
O
vinho que recreia e enamora.
Vós,
Jesus, bom samaritano,
Aproximai-vos
de mim,
Como
fizeste sempre.
Vinde
a mim para me introduzir na hospedagem do vosso coração.
Aproximai-vos
de mim,
Ferido
pelas flechas da vida,
Pela
dor de tantos irmãos,
Pelos
mísseis da guerra,
Pela
violência dos poderosos.
Sim,
aproximai-vos de mim,
Bom
samaritano;
Levai-me
nos vossos ombros, pois ou ovelha perdida;
Carregai
todas as minhas quedas,
Ajudai-me
em todas as minhas tribulações,
Fazei-vos
presente em todas as minhas horas baixas.
Vinde,
bom samaritano,
E
fazei-me ter os vossos mesmos sentimentos,
Para
não dar nunca uma volta
Diante
do irmão que sofre,
Sem
fazer-me companheiro dos seus caminhos,
Amigo
das vossas solidões,
Próximo
das vossas doenças,
Para
ser, como Vós, “ilimitadamente bom”
E
passar pelo mundo “fazendo o bem”
E
“curando as doenças”
Amém.
Qualquer
sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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