sábado, 16 de julho de 2016

16º Domingo do Tempo Comum

Evangelho (Lc 10,38-42): Jesus entrou num povoado, e uma mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. Ela tinha uma irmã, Maria, a qual se sentou aos pés do Senhor e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com os muitos afazeres da casa. Ela aproximou-se e disse: «Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda pois que ela venha me ajudar!». O Senhor, porém, lhe respondeu: «Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada».

«No entanto, uma só é necessária»

Rev. D. Bernat GIMENO i Capín (Barcelona, Espanha)

Hoje vemos a um Jesus tão divino como humano: está cansado da viagem e deixa-se acolher por esta família que tanto ama, em Betânia. Aproveitará a ocasião para nos dizer que é “o mais importante”.

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Na atitude de estas duas irmãs se acostumava a ver duas maneiras de viver a vocação cristã: a vida ativa e a vida contemplativa. Maria, «se sentou aos pés do Senhor»; Marta, ocupada com muitas coisas e ocupações, sempre servindo e contente, mas cansada (cf. Lc 10,39-40.42). —«Calma», lhe diz Jesus, «é importante o que fazes, mas é necessário que descanses, e mais importante ainda que descanses estando comigo, mirando-me e escutando-me». Dois modelos de vida cristã que temos de coordenar e integrar: viver tanto como a vida de Marta como a de Maria. Temos de estar atentos à Palavra do Senhor, e vigilantes, já que o barulho e o movimento do dia a dia — frequentemente — escondem a presença de Deus. Porque a vida e a força de um cristão só se mantêm firmes e crescem se ele permanece unido à verdadeira vide, de onde lhe vem a vida, o amor, a vontade de continuar adiante... E de não olhar para trás.

À maioria, Deus nos chamou a ser como “Marta”. Mas não podemos esquecer que o Senhor quer que sejamos cada vez mais como “Maria”: Jesus Cristo também nos chamou a “escolher a melhor parte” e a não deixar que nada a roube.

Ele lembra-nos que o mais importante não é o que podamos fazer, senão a Palavra de Deus que ilumina as nossas vidas e, assim pelo Espírito Santo também as nossas obras serão impregnadas do seu amor.

Descansar no Senhor só é possível se gozamos da sua presença real na Eucaristia. Oração diante do sacrário! É o maior tesouro que temos os cristãos. Façamos memória da última encíclica de João Paulo II: A Igreja vive da Eucaristia. O Senhor tem muitas coisas a nos dizer, mais do que pensamos. Procuremos sempre momentos de silêncio e de paz para encontrar a Jesus e Nele reencontrarmo-nos a nós mesmos. Jesus convida-nos hoje a fazer uma opção: escolher «a melhor parte» (Lc 10,42).

“O único necessário”.

Neste domingo, a liturgia nos propõe dois exemplos de hospitalidade, o de Abraão e o de Marta. A história de Abraão dirige nosso olhar para o mistério escondido na hospitalidade. A história de Marta e Maria nos ensina que, antes de se desdobrar em gestos de hospitalidade, importa saber acolher. A verdadeira hospitalidade não consiste em preparar muitas coisas, mas em acolher o dom que é a pessoa. Receber as pessoas com atenção, dar-lhes audiência, pode ser uma ocasião para receber a única coisa verdadeiramente necessária, a palavra de Deus: sua promessa (no caso de Abraão), seu ensinamento (no caso de Maria). O lema que se repete durante este dia pode ser: “Em primeiro lugar, escute o Senhor”.

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Quem acolhe um hóspede parece estar oferecendo algo – a hospitalidade –, mas pode ser que, na realidade, esteja recebendo mais do que oferece, como foi o caso de Abraão na primeira leitura. Lida nessa ótica, a história de Marta e Maria se torna reveladora. Hospedar e cuidar é bom; mais fundamental, porém, é “receber” o dom que é o hóspede, com tudo o que tem de mais importante. E o mais importante, no caso, é a palavra de Jesus. Ele não veio para se fazer servir como um freguês num hotel; veio para servir (Mt 20,28), e serve por meio de sua palavra, de sua vida inteira. Ele é inteiramente palavra, palavra de Deus, no seu dizer, no seu fazer, no seu sofrer. Acolher essa palavra é o único necessário.

Quem se esgota em “fazer coisas” para o outro, sem realmente o “receber”, pode ser chamado de ativista. O ativismo é um mal de nosso tempo, mas não data deste século. É doença que espreita a humanidade desde sempre. Jesus aproveita as intensas ocupações da “dona Marta”, sua anfitriã, para falar desse assunto. Marta dá muita importância aos próprios afazeres e pouca àquilo que recebe de Jesus. Ela deseja que Maria, imersa na escuta das palavras do Mestre, interrompa sua escuta e a ajude a preparar a comida. Mas por que preparar comida se não se sabe para quê? Se alguém não se abre para receber a mensagem, para que acolher o mensageiro? Um bom anfitrião procura servir o melhor possível, mas, se não escuta o que o visitante tem para dizer, fará um monte de coisas, mas a finalidade real da visita não se realizará. “Marta, Marta, tu te ocupas com muitas coisas; uma só, porém, é realmente necessária…” Jesus não diz o que é essa coisa necessária, mas a história nos faz entender que é o que Maria estava fazendo: escutar Jesus. Maria escolheu a parte certa. Mais fundamental do que a casa bem arrumada e a mesa bem provida com que Marta se preocupa é acolher Jesus, com suas palavras, no coração. Então a mesa bem preparada servirá para sua verdadeira finalidade.

O ativismo, mesmo a serviço dos outros, corre o perigo de ser um serviço a si mesmo: autoafirmação à custa de quem é o “objeto” de nossa caridade. A superação do ativismo consiste em ver o mistério de Deus nas pessoas, assim como Maria o enxergou em Jesus, o porta-voz de Deus, o portador das “palavras de vida eterna” (cf. Jo 6,68).

O hóspede vem a nós com uma recomendação de Deus, e por isso lhe dedicamos atenção. Nossa preocupação não deve ser os nossos próprios afazeres, mas a interpelação que o rosto do outro nos dirige. Então não lhe imporemos uma hospitalidade que nós inventamos em proveito de nossa autoafirmação, mas abriremos o coração àquilo que ele diz e é. É isso que Jesus lembra a Marta.

A verdadeira contemplação não é uma fuga a pensamentos aéreos, mas aquele realismo superior que nos leva a ver Deus no ser humano e o ser humano em Deus. Essa contemplação é também o fundamento da verdadeira práxis da fé, que consiste, precisamente, em tratar o ser humano como filho e representante de Deus. Para isso, o centro de nossa preocupação não deve ser nossa atividade, mas a pessoa humana que nos é dada e que nós “recebemos” como um dom da parte de Deus.

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