Extraído do
livro “Santo Antônio, a realidade e o mito”,
de Carmen
Sílvia Machado Galvão e Antônio Mesquista Galvão,
da Editora
Vozes
a) O HÁBITO FRANCISCANO - É um atributo que aparece desde a
primeira hora e sempre serviu como mesma chave-de-leitura: quer dizer que ele
foi franciscano. No século XV apareceram algumas breves representações que
mostravam o santo com um hábito cinza, dos penitentes ou mendicantes; o corte
tonsurado do cabelo tem o mesmo significado.
b) O LIVRO (o atributo mais antigo) -
Representa o Evangelho e a sabedoria de Antônio, primeiro mestre de Teologia da
Ordem dos Frades Menores e doutor da Igreja. Lembra o pregador que arrebatava
as multidões com as palavras do Evangelho. Por sua sabedoria bíblica, o Papa
Gregório IX chamou-o de “Armário (Arca) do Testamento”.
c) O MENINO - O menino é visto em três tipos de
representação:
1. Em cima do livro: em geral aparece sobre o livro
aberto que o santo tem na mão, em gesto de quem abençoa, ou, usando um gesto de
origem grega, com os dedos médio e indicador levantados, juntos, como a chamar
a atenção para alguém que vai falar (no caso, o santo, pregando); pode
representar a visão presenciada pelo Conde Tiso, em sua residência; o estar em
cima do livro (Bíblia) evoca a característica de Frei Antônio como pregador do
Verbo encarnado; o menino, segundo algumas fontes, nos primeiros tempos, não
seria Jesus, mas as crianças, por quem o santo tinha enorme predileção; numa
obra de El Greco, o menino (Jesus) aparece como brotando das páginas do livro,
onde Antônio mostra a revelação do Verbo.
2. No colo do santo: em outras representações, o livro
aparece de lado, e o menino Jesus está no colo de Antônio, numa atitude de
extraordinária familiaridade, acariciando-lhe o rosto.
3. Sendo mostrado ao santo, pela Virgem Maria: Um quadro
(reproduzido em alguns “santinhos”, mostra a Virgem apresentando o Filho à
adoração de Antônio).
d) O LÍRIO - O lírio é um símbolo-atributo que
aparece nas representações artísticas após o século XV e se toma popularíssimo;
tem dois significados: o mais antigo remete a Pádua; o lírio é a flor da
estação na qual Antônio morreu; é a flor do campo, ornamental,
perfumada,medicinal e frágil. O outro significado simbólico, posterior ao
primeiro, refere-se à pureza, à castidade, à pobreza e ao vigor do testemunho
de vida, na entrega do coração virginal a Deus. Há ainda um terceiro atributo,
paralelo: a natureza, mostrada, pelos franciscanos, como sinal de Deus.
e) A CRUZ - A cruz na mão (do século XVI)
pode significar duas coisas: o espírito missionário do santo, ou, seu desejo de
tomar-se um mártir da fé.
f) OS PÉS DESENCONTRADOS - Se observarmos as imagens de
Santo Antônio, veremos que seus pés não estão um ao lado do outro, mas um mais
à frente do outro; trata-se de um indicativo de “em marcha”, “a caminho”,
atitude que sempre caracterizou seu trabalho missionário.
g) A FISIONOMIA ADOLESCENTE - O rosto jovem, alegre e belo é
consequência, como já vimos, daquela perfeição que a religiosidade popular
passa à arte, relativamente aos santos e bem-aventurados; significa, também, a
jovialidade do espírito do cristão.
h) O PÃO - Em certas obras de arte antigas
(século XVI-XVII) vê-se o santo distribuindo o “pão dos pobres”; esse atributo
é o mais recente; apareceu em Messina, na Sicília, em meados do século XIX,
durante uma época de fome.
i) A CHAMA - A chama de fogo que aparece em
alguns ícones, especialmente orientais, simboliza o amor divino, o zelo e a
paixão do santo por Jesus e seu Evangelho.
j) A NOGUEIRA - Esta é uma representação não
muito conhecida; pouco antes de morrer, com falta de ar, Frei Antônio pediu que
armassem sua cela no topo de uma nogueira frondosa, possivelmente nas
propriedades do Conde Tiso. O santo já estava doente; falam em hidropisia e
asma; há quem suspeite de obesidade (“adquirira certa corpulência…”) e
diabetes; ali, além da altura (que proporcionava o ar fresco), o odor das resinas
da árvore mantinha-o defendido dos mosquitos; pois mesmo ali vinha gente ouvir
sua palavra. Uma pintura renascentista mostra o santo em cima da árvore,
pregando ao povo, sentado, com a Bíblia na mão, como se estivesse numa cátedra,
tendo, abaixo de si, São Boaventura, na época, o coordenador geral dos
franciscanos; o estar na árvore é figura do desprender-se da vida terrena, já
que o santo estava nos últimos dias de vida.
l) O TERÇO ou COROA FRANCISCANA - Para explicitar que Santo Antônio
era um homem de oração, a iconografia do século XVI representou-o com um terço
pendurado à cintura. O terço foi criado por São Domingos de Guzman (f 1221),
utilizando antigos modelos orientais.
Há vários
aspectos da vida, das pregações e dos milagres de Santo Antônio constantes de
sua iconografia. O “sermão aos peixes”, em Rimini, o “coração do avarento
dentro do cofre”, em Florença, “a mula ajoelhada diante do Santíssimo” em
Rimini, fazem parte desse emocionante acervo, criado por mestres da pintura. A
morte do santo, em Arcella, e lá fora as crianças fazendo o miraculoso anúncio,
está magistralmente pintada numa obra de Murillo.
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