«Alegra-te, cheia de
graça!»
Dr. Johannes VILAR (Köln, Alemanha)
Hoje,
no «Alegra-te, cheia de graça!» (Lc 1,28) escutamos pela primeira vez o nome da
Mãe de Deus: Maria (segunda frase do arcanjo Gabriel). Ela tem a plenitude da
graça e dos dons. Chama-se assim: «kecharitoméne», «cheia de graça» (saudação
do Anjo).
Possívelmente
com 15 anos e só, Maria tem que dar uma resposta que mudará a história inteira
da humanidade. São Bernardo suplicava: «Oferece-se te o preço de nossa
Redenção. Seremos libertos imediatamente, se dizei que sim. O orbe todo está a
seus pés esperando sua resposta. Ó minha senhora, dizei uma palavra e recebei a
Palavra proferi uma palavra e recebei a palavra divina, dizei uma palavra
transitória e recebei a eterna, Deus espera uma resposta livre e cheia de
graça, representando a todos os necessitados da Redenção, responde: «Génoitó
moi» Faça-se em mim! A partir de hoje Maria fica livremente unida à Obra do seu
Filho, hoje começa sua Mediação. A partir de hoje é Mãe dos que são um só, em
Cristo Jesus (Gal 3,28).
Bento
XVI disse em uma entrevista; «Ousai decisões definitivas, porque na verdade são
as únicas que não destroem a liberdade, mas lhe criam a justa direção,
possibilitando seguir em frente e alcançar algo de grande na vida. Sem dúvida,
a vida só pode valer se tiverdes a coragem da aventura, a confiança de que o
Senhor nunca vos deixará sozinhos. Eu digo-vos: Coragem! Tomar o risco — o
salto ao decisivo — e com isso aceitar a vida por inteira, isso desejo
transmitir». Maria: Eis aqui um exemplo!
São
José também não fica à margem dos planos de Deus: ele deve receber sua esposa e
pôr o nome ao filho (cfr. Mt 1,20s): Jesua, «o Senhor salva». E o faz. Outro
exemplo!
A
Anunciação revela também à Trindade: O Pai envia o Filho, encarnado por obra do
Espírito Santo. E a Igreja canta: E a Palavra se fez carne e veio morar entre
nós. Sua obra redentora — Natal, Sexta Santa, Páscoa— está presente nesta
semente. Ele é Emanuel, «Deus convosco» (Is 7,15). Alegra-te humanidade!
As
festas São José e a Anunciação preparam-nos admiravelmente para comemorar os
Mistérios Pascais.
«Não tenhas medo,
Maria! Encontraste graça junto a Deus»
+ Rev. D. Josep VALL i Mundó (Barcelona, Espanha)
Hoje,
celebramos a festa da Anunciação do Senhor. Com o anúncio do anjo Gabriel e a
aceitação de Maria da vontade divina expressa de encarnar nas suas entranhas,
Deus assume a natureza humana – «assumiu em tudo a nossa condição humana, salvo
no pecado» – para nos elevar à condição de filhos de Deus e fazer-nos assim
participantes da Sua natureza divina. O mistério da fé é tão grande que Maria,
perante este anúncio, fica como que assustada. Gabriel diz-lhe: «Não tenhas
medo, Maria!» (Lc 1,30): o Todo-Poderoso olhou-te com predileção, escolheu-te
para Mãe do Salvador do mundo. As iniciativas divinas destroem os débeis
argumentos humanos.
«Não
tenhas medo!», palavras que lemos frequentemente no Evangelho; o próprio Senhor
as terá de repetir aos Apóstolos quando estes sintam de perto a força
sobrenatural e também o medo ou susto perante as obras prodigiosas de Deus.
Podemos perguntar-nos qual a razão deste medo. Será um medo mau, um temor irracional?
Não! É um temor lógico naqueles que se veem pequenos e pobres face a Deus, que
sentem distintamente a sua fraqueza, a debilidade perante a grandeza divina e
experimentam a sua penúria frente à riqueza do Onipotente. O Papa São Leão
pergunta: «Quem não verá em Cristo a sua própria debilidade?». Maria, a humilde
jovem da aldeia, acha-se tão pouca coisa…, mas em Cristo sente-se forte e o
medo desaparece!
Então
compreendemos bem que Cristo «tenha escolhido o que para o mundo é fraqueza,
para envergonhar o que é forte (1Cor 1,26). O Senhor olha-a, vendo a pequenez
da sua escrava e realizando nela a maior maravilha da história: a Encarnação do
Verbo Eterno como Cabeça de uma Humanidade renovada. Que bem se aplicam a Maria
aquelas palavras que Bernanos disse à protagonista de “La alegria”:
«Reconfortava-a e consolava-a maravilhosamente um sentido raro da sua própria
fraqueza, porque era como se fosse o sinal inefável da presença de Deus nela; o
próprio Deus resplandecia no seu coração».
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
O
texto que meditamos no evangelho descreve a visita do anjo a Maria (Lc
1,26-38). A Palavra de Deus chega a Maria não através de um texto bíblico, mas
através de uma experiência profunda de Deus, manifestada na visita do anjo. No
AT, muitas vezes, o Anjo de Deus é o próprio Deus. Foi graças à ruminação da
Palavra escrita de Deus na Bíblia, que Maria foi capaz de perceber a Palavra
viva de Deus na visita do Anjo. Assim também acontece com a visita de Deus em
nossas vidas. As visitas de Deus são frequentes. Mas por falta de ruminação da
Palavra escrita de Deus na Bíblia, não percebemos a visita de Deus em nossas
vidas. A visita de Deus é tão presente e tão contínua que, muitas vezes, já nem
a percebemos e, por isso, perdemos uma grande oportunidade de viver na paz e na
alegria.
* Lucas 1,26-27: A
Palavra faz a sua entrada na vida.
Lucas apresenta as pessoas e os lugares: uma
virgem chamada Maria, prometida em casamento a um homem, chamado José, da casa
de Davi. Nazaré, uma cidadezinha na Galileia. Galileia era periferia. O centro
era Judéia e Jerusalém. O anjo Gabriel é o enviado de Deus para esta moça
virgem que morava na periferia. O nome Gabriel significa Deus é forte. O nome
Maria significa amada de Javé ou Javé é o meu Senhor. A história da visita de
Deus a Maria começa com a expressão “No sexto mês”. Trata-se do "sexto
mês" da gravidez de Isabel, parenta de Maria, uma senhora já de idade,
precisando de ajuda. A necessidade concreta de Isabel é o pano de fundo de todo
este episódio. Encontra-se no começo (Lc 1,26) e no fim (Lc 1,36.39).
* Lucas 1,28-29: A
reação de Maria.
Foi
no Templo que o anjo apareceu a Zacarias. A Maria ele aparece na casa dela. A
Palavra de Deus atinge Maria no ambiente da vida de cada dia. O anjo diz:
“Alegra-te! Cheia de graça! O Senhor está contigo!” Palavras semelhantes já
tinham sido ditas a Moisés (Ex 3,12), a Jeremias (Jr 1,8), a Gedeão (Jz 6,12),
a Rute (Rt 2,4) e a muitos outros. Elas abrem o horizonte para a missão que
estas pessoas do Antigo Testamento deviam realizar a serviço do povo de Deus.
Intrigada com a saudação, Maria procura saber o significado. Ela é realista,
usa a cabeça. Quer entender. Não aceita qualquer aparição ou inspiração.
* Lucas 1,30-33: A
explicação do anjo.
“Não
tenha medo, Maria!” Esta é sempre a primeira saudação de Deus ao ser humano:
não ter medo! Em seguida, o anjo recorda as grandes promessas do passado que
vão ser realizadas através do filho que vai nascer de Maria. Este filho deve
receber o nome de Jesus. Ele será chamado Filho do Altíssimo e nele se
realizará, finalmente, o Reino de Deus prometido a Davi, que todos estavam
esperando ansiosamente. Esta é a explicação que o anjo dá a Maria para ela não
ficar assustada.
* Lucas 1,34: Nova
pergunta de Maria
Maria
tem consciência da missão importante que está recebendo, mas ela permanece
realista. Não se deixa embalar pela grandeza da oferta e olha a sua condição:
“Como é que vai ser isto, se eu não conheço homem algum?” Ela analisa a oferta
a partir dos critérios que nós, seres humanos, temos à nossa disposição. Pois,
humanamente falando, não era possível que aquela oferta da Palavra de Deus se
realizasse naquele momento.
* Lucas 1,35-37: Nova
explicação do anjo
"O
Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com sua
sombra. Por isso, o Santo que vai nascer de você será chamado Filho de Deus”. O
Espírito Santo, presente na Palavra de Deus desde o dia da Criação (Gênesis
1,2), consegue realizar coisas que parecem impossíveis. Por isso, o Santo que
vai nascer de Maria será chamado Filho de Deus. Quando hoje a Palavra de Deus é
acolhida pelos pobres sem estudo, algo novo acontece pela força do Espírito
Santo! Algo tão novo e tão surpreendente como um filho nascer de uma virgem ou
como um filho nascer de Isabel, uma senhora já de idade, da qual todo mundo
dizia que ela não podia ter nenê! E o anjo acrescenta: “E olhe, Maria! Isabel,
tua prima, já está no sexto mês!”
* Lucas 1,38: A
entrega de Maria.
A
resposta do anjo clareou tudo para Maria. Ela se entrega ao que Deus estava
pedindo: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua Palavra”.
Maria usa para si o título de Serva, empregada do Senhor. O título vem de
Isaías, que apresenta a missão do povo não como um privilégio, mas sim como um
serviço aos outros povos (Is 42,1-9; 49,3-6). Mais tarde, Jesus, o filho que
estava sendo gerado naquele momento, definirá sua missão: “Não vim para ser
servido, mas para servir!” (Mt 20,28). Aprendeu da Mãe!
Para um confronto
pessoal
1. Como você percebe a visita de Deus
em sua vida? Você já foi visitada ou visitado? Você já foi uma visita de Deus
na vida dos outros, sobretudo dos pobres?
2.Como este texto nos ajuda a
descobrir as visitas de Deus em nossa vida?
3. A Palavra de Deus se encarnou em
Maria. Como a Palavra de Deus está tomando carne na minha vida pessoal e na
vida da comunidade?
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