Textos: Joel 2, 12-18; Sal 50, 3-6.12-14-17; 2
Co 5, 20-6,2; Mt 6, 1-6.16-18
Conversão para avançar
no caminho da santidade que nos conduz ao Cristo Pascal.
Pe. Antonio Rivero, L.C
A
cinza que agora será colocada sobre nós tem que nos lembrar que somos pouca
coisa, que não podemos nos sentir orgulhosos, nem ter ódios, nem egoísmos… e
desta maneira alcançarmos “mediante as práticas quaresmais, o perdão dos
pecados; e alcançarmos, à imagem do vosso Filho ressuscitado, a vida nova do
vosso Reino”.
Em
primeiro lugar, um pouco de história. Nos séculos VIII e IX a imposição da
cinza se uma, no contexto litúrgico, à penitência pública. Naquele dia mandavam
os “penitentes” saírem da igreja. E este geste repetia, de alguma forma, aquele
outro de Deus expulsando Adão e Eva, pecadores, do paraíso… Nesta perspectiva
se colocam as palavras do Gênese que se referem precisamente à este episódio:
“Com o suor da tua frente comerás o pão até voltares à terra, porque dela te
tiraram; pois és pó e ao pó voltarás… E o Senhor Deus o expulsou do jardim do
Éden, para lavrar o chão de onde o tinha tirado” (Gn 2,19s). Só mais tarde a
imposição da cinza tomou um simbolismo distinto: o da fragilidade e brevidade
da vida. A lembrança da morte. A referência à tumba. Parece-me, porém, que é
válido, sobretudo, o significado primitivo, que expressa penitencia, expiação
pelo pecado. “O homem-pó” quer dizer o homem que se afastou de Deus, que
recusou o diálogo, que foi expulso da sua casa, que rejeitou o dinamismo do
amor para caminhar seguindo uma trajetória de desilusão e de morte. “O
homem-pó” é o homem que se opõe a Deus, que dá as costas ao seu próprio ser e
se condena à nada. Mas neste dramático itinerário de afastamento e visitação,
existe a possibilidade do retorno. Retorno à origem. Em vez de se precipitar à
tumba, é possível mudar de direção- eis aqui a conversão! – e voltar à fonte.
“Lembra que és pó e como pó voltarás… a Deus”. Se quiseres. Agora mesmo, neste
exato momento.
Em
segundo lugar, e o que Deus espera de nós? Conversão, mudança de vida, voltar a
começar! Torno-me terra e me confio ao Construtor para me refazer totalmente.
Errei. Perdi o caminho da vida. Perdi o reino. Comprometi inclusive os outros
no meu pecado (todo pecado é um pecado “público” com consequências desastrosas
para toda a comunidade eclesial). É justo que eu fique na porta. Mas, ao rodear
a esquina, volto à condição de… pó. Ou seja, de matéria prima. E Ele se
inclinará ainda sobre este pó para dar-lhe um hálito de vida. Assim o meu
“nada” é tocado pela plenitude divina. Da cinza pula uma faísca de vida. E
agora a camada sutil de pó já não pode ocultar o esplendor do rosto de um filho
de Deus. Tudo, pois, começa de novo. Pode ser “novo” se aceitar não o… fim, mas
o princípio. Não o montinho de cinza da tumba. Mas o punhado de terra nas mãos
do Artífice. O pouco de terra disposta para receber o “hálito”. E se converter
assim, de novo, num “vivente”. A consulta, pois, com a cinza é fundamentalmente
a consulta com a Vida. A cinza me recorda o berço, não a tumba!
Finalmente,
os meios que Deus põe nas nossas mãos nesta Quaresma para levar a termo a nossa
conversão são os que Jesus nos recomenda no evangelho de hoje: oração, esmola
ou caridade e jejum. Oração: Intensificar os nossos espaços de oração. Mas
sobretudo orar melhor. Jejum: Jejuar das muitas coisas que diminuem a nossa
vida cristã. Esmola: chamamos também “caridade”: amor. O amor ao irmão,
sobretudo ao necessitado, em quem Cristo se faz mais presente, passa pelo
socorro material suficiente e digno, não mesquinho. Tudo isso se converte então
num grande empurrão para avançar, para caminhar. Jesus, no evangelho, nos falou
deste caminho. Disse para nós que temos que dar do nosso aos que necessitam:
disse para nós que temos que orar, que temos que nos aproximar de Deus com todo
o nosso ser; disse que temos que jejuar, que temos que renunciar tantas coisas
(comida, televisão, diversão, ou que for) para nos dedicar com mais tenacidade
ao Evangelho. E nos disse que temos que fazer tudo isso não para sermos vistos,
para que nos parabenizem, mas pela fé, por amor, por desejo de fidelidade.
Neste tempo de Quaresma temos que viver intensamente este empurrão para
avançar. Cada um de nós temos que nos propor a fazer desta Quaresma uma
verdadeira passo adiante na vida cristã. Reconhecendo o próprio pecado, pondo
toda a confiança em Deus, esforçando-nos de verdade no seguimento de Jesus
Cristo. Para chegar cheios de gozo à Páscoa.
Para
refletir:
o chamado continua sendo
o mesmo: das de verdade esmola, sim ou não? E isto quer dizer: compartilhas com
os outros e vais compartilhar ainda mais durante esta quaresma? Rezas ou não
rezas, e estás disposto a rezar mais durante esta quaresma? Aceitarás uma vida
mais ascética para sair da comodidade… e também para poder compartilhar um
pouco mais? Não existe nada que nos impeça de escolher outros esforços, outros
progressos; não faltam sugestões para isso no evangelho. O que deve nos animar
e até mesmo nos entusiasmar é que uma quaresma vivida assim, em sério, pode
marcar profundamente a nossa vida.
Para
rezar: Rezemos com o
salmo 50, 9-11:
Escondei
o vosso rosto dos meus pecados, e apagai todas as minhas iniquidades. Criai em
mim, ó Deus, um coração que seja puro, e renovai dentro de mim um espírito
decidido. Não me rejeiteis da vossa presença, e não tirardes de mim o vosso
santo Espírito.
Qualquer
sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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