Bta Maria dos Anjos, Virgem de nossa Ordem |
«Cegos recuperam a
vista, paralíticos andam, leprosos são purificados»
Rev. D. Bernat GIMENO i Capín (Barcelona, Espanha)
Hoje,
quando vemos que, na nossa vida, não sabemos que esperar, quando por vezes
perdemos a confiança, porque não nos atrevemos a olhar para além das nossas
imperfeições, quando estamos alegres por ser fiéis a Jesus Cristo e, ao mesmo
tempo, inquietos ou abatidos porque não saboreamos os frutos da nossa missão
apostólica, então o Senhor quer que, como João Batista, nos perguntemos:
«Devemos esperar outro?» (Lc 7,20).
É
claro que o Senhor é “rápido” e quer aproveitar estas incertezas —sem dúvida,
perfeitamente normais— para que façamos um exame de toda a nossa vida, vejamos
as nossas imperfeições, os nossos esforços, as nossas enfermidades… e, assim,
nos confirmemos na nossa fé e multipliquemos “infinitamente” a nossa esperança.
O
Senhor não tem limites na hora de cumprir a sua missão: «Cegos recuperam a
vista, paralíticos andam, leprosos são purificados…» (Lc 7,22). Onde ponho a
minha esperança? Onde está a minha alegria? Porque a esperança está intimamente
relacionada com a alegria interior. O cristão, como é natural, tem de viver
como uma pessoa normal, na rua, mas sempre com os olhos postos em Cristo, que
nunca falha. Um cristão não pode viver a sua vida à margem da de Cristo e do
Seu Evangelho. Centremos o nosso olhar Nele, que tudo pode, absolutamente tudo,
e não coloquemos limites à nossa esperança. “Nele encontrarás muito mais do que
podes desejar ou pedir» (S. João da Cruz).
A
liturgia não é um “jogo sagrado”, e a Igreja dá-nos este tempo de Advento
porque quer que cada crente reanime em Cristo a virtude da esperança na sua
vida. Perdemo-la freqüentemente porque confiamos demais nas nossas forças e não
queremos reconhecer que estamos “doentes”, necessitados dos cuidados da mão do
Senhor. Mas é assim que tem de ser, e como Ele nos conhece e sabe que todos
somos feitos da mesma “pasta”, oferece-nos a sua mão salvadora.
—Obrigado,
Senhor, por me tirares do barro e encheres o meu coração de esperança.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm
Este
texto é encontrado em Mateus e Lucas e inserido no segundo, entre o relato do
milagre da restauração para a vida do filho da viúva de Naim (que é próprio de
Lucas) e o discurso de Jesus sobre João Batista. É neste contexto que sugere
uma espécie de passagem entre a imagem de Jesus que cura, até mesmo a morte, e
o convite à conversão, feita pelo próprio Jesus nas três passagens sucessivas:
um enfoque sobre João Batista, o juízo sobre sua geração e para a aceitação do
gesto da mulher pecadora na casa do fariseu.
Este
texto pode ser entendido em um contexto maior: dentro de todo o evento de
Batista e na experiência profética de Israel, que espera, e que tem a
expectativa de que Deus vem até eles.
Os
discípulos de João Batista tem aqui um papel de primeiro plano, são eles que
abrem e fecham a passagem, são eles que criam o elo de comunicação entre o seu
mestre, detido na prisão de Herodes (Lc 3,19-20) e Jesus. Dois deles são
enviados em seu nome, para retornar com a pergunta direta para o mestre de
Nazaré: duas vezes Lucas coloca a questão, que é de grande importância. E a
pergunta é sobre a espera. João sabe que alguém deve vir. O problema é saber se
é Jesus ou devem esperar por outro. O fato de João enviar a questão
expressamente a Jesus significa que ele já confia nele. Talvez ele tenha
confundido por causa da falta de compreensão do cumprimento na imagem bíblica
do "Dia do Senhor", que é fundamental para toda a sua pregação (cf.
Lc 3,7 ss).
Aqui
a passagem dá um grande salto : a questão é deixada em suspenso e
instantaneamente são listadas todas as obras de cura realizados por Jesus em
favor de "muitos". Como parte final, menciona o dom da vista aos
cegos. E, após as obras, vem a resposta. "Ide", Jesus diz aos
discípulos de João: é uma missão, à luz do que já transpareceu - por qualquer
meio - o que já foi anunciado. (Ver Lc 3,18). Agora a boa notícia é completa e
está acontecendo, já que as obras que ele faz são aquelas anunciadas pelos
profetas (como um "lectio", em várias passagens de Isaías, mas desta vez
é a vista aos cegos que é mencionado em primeiro lugar). Esta é uma mensagem
inequívoca para um homem como João, a quem a Palavra de Deus já chegou (cf. Lc
3,2). Finalmente, há uma mensagem que pode parecer estranha, pois é expressa
negativamente: bem-aventurados são aqueles que não encontram em Jesus uma pedra
de tropeço, um obstáculo no caminho da fé. Como podemos entender isso?
Certamente é uma mensagem maior do que a mensagem de João Batista, e é dirigida
ao ouvinte da Palavra.
O
contexto sugere a circularidade entre graça e compromisso, entre a iniciativa
de Deus em Cristo e na necessária correspondência do homem. Deus chama e ama em
primeiro lugar, mas quer um consentimento livre e responsável: uma tal reação é
possível porque Deus nos amou primeiro.
O
fato de que os discípulos entram em jogo neste momento mostra que João não está
interessado apenas no momento presente, mas também do interesse para os
"filhos espirituais" de movimentos cujo expoente é João. Já no início
do ministério público de Jesus dois discípulos de João Batista se tornam seus
discípulos (cf. Jo 1,37), e até mesmo alguns anos depois, Paulo encontra
pessoas que receberam o batismo de João (cf. At 19,1-7).
No
centro da passagem, o tema é o da espera, mas segundo o desígnio de Deus,
anunciado pelos profetas de Israel que não são fáceis de serem compreendidos.
Até mesmo a Palavra de Deus não diminui a dificuldade de se entender um Deus
que ama e oferece em sua misericórdia o próprio Filho e a possibilidade de
receber com fé, assim como a cura do cego sugere. E é a fé que conduz à
bem-aventurança. O que é proclamado por Jesus no final da passagem é entendida
apenas quando se considera o peso da responsabilidade por parte do observador,
com o risco de dar escândalo. É necessário, então, refletir, deixando de lado
as pretensões humanas e preconceitos, a fim de abrir-se livremente com
simplicidade o que Deus em Jesus está fazendo. É a lógica do Reino de Deus, que
excede o heroísmo de João (Lc 2,28)
Para um confronto
pessoal
•
Vivemos a ouvir a Palavra como forma de conversão?
•
Sabemos conhecer os sinais da presença ativa de Jesus, mesmo no nosso tempo?
•
Sabemos confiar no Evangelho de maneira ativa, como verdadeiros discípulos?
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