sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

I Sábado do Advento

Bto Bartolomeu Fanti
Presbítero de nossa Ordem
Evangelho (Mt 9,35—10,1.6-8): Naquele tempo, Jesus começou a percorrer todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, proclamando a Boa Nova do Reino e curando todo tipo de doença e de enfermidade. Ao ver as multidões, Jesus encheu-se de compaixão por elas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse aos discípulos: «A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita!». Chamando os doze discípulos, Jesus deu-lhes poder para expulsar os espíritos impuros e curar todo tipo de doença e de enfermidade. «Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel! No vosso caminho, proclamai: O Reino dos Céus está próximo. Curai doentes, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expulsai demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar!».

«Pedi (...) ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita»

Rev. D. Xavier PAGÉS i Castañer (Barcelona, Espanha)

Hoje, depois de uma semana dentro do itinerário de preparação para a celebração do Natal, já constatamos que uma das virtudes que queremos fomentar durante o Advento é a esperança. Mas, não passivamente, como quem espera que passe o trem e, sim uma esperança ativa, que nos move a dispor-nos, pondo da nossa parte o que seja necessário para que Jesus possa nascer novamente em nossos corações.

Mas devemos tentar não nos conformar somente com o que esperamos, mas — sobretudo — descobrir o que é que Deus espera de nós. Como os doze Apóstolos, nós também estamos chamados a seguir os seus caminhos. Tomara que hoje possamos escutar a voz do Senhor que - por meio do profeta Isaías — nos diz: «O caminho é este: por aqui deves andar!» (Is 30,21, da primeira leitura de hoje). Seguindo cada um o seu caminho, Deus espera de todos que com a nossa vida anunciemos que «O Reino dos Céus está próximo» (Mt 10,7).

O Evangelho de hoje narra como, diante daquela multidão, Jesus teve compaixão e lhes disse: «A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita» (Mt 9,37-38). Ele quis confiar em nós e quer que nas mais diversas circunstâncias respondamos à vocação de nos convertermos em apóstolos de nosso mundo. A missão para a qual Deus Pai enviou o seu Filho ao mundo requer que nós sejamos seus continuadores. Nos nossos dias também encontramos uma multidão desorientada e sem esperança, que tem sede da Boa Nova da Salvação que Cristo nos trouxe, da qual somos mensageiros. É uma missão confiada a todos. Conhecedores de nossas fraquezas e handicaps, apoiemo-nos na oração constante e estejamos contentes por chegar a ser assim colaboradores do plano redentor que Cristo nos revelou.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* O evangelho de hoje consta de duas partes:
(1) Um breve resumo da atividade apostólica de Jesus (Mt 9,35-38) e
(2) o início do “Sermão da Missão” (Mt 10,1.5-8). O evangelho da liturgia de hoje omite os nomes dos apóstolos que constam no evangelho de Mateus (Mt 10,2-4).

* Mateus 9,35: Resumo da atividade missionária de Jesus
“Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando a Boa Notícia do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade”. Em poucas palavras Mateus descreve os pontos centrais da atividade missionária de Jesus: 
(1) Percorrer todas as cidades e povoados.
Jesus não espera até que o povo venha até ele, mas ele mesmo vai em busca do povo percorrendo todas as cidades e povoados. 
(2) Ensinar nas sinagogas, isto é, nas comunidades. Jesus vai lá onde o povo está reunido ao redor da sua fé em Deus. É lá que ele anuncia a Boa Nova do Reino, isto é, a Boa Nova de Deus. Jesus não ensina doutrinas como se a Boa Nova fosse um novo catecismo, mas em tudo que diz e faz ele deixa transparecer algo da grande Boa Nova que o anima por dentro, a saber, Deus, o Reino de Deus. 
(3) Curar todo tipo de doença e enfermidade. O que mais marcava a vida do povo pobre era a doença, todo tipo de doença, e o que mais marca a atividade de Jesus, é consolar o povo, aliviar sua dor.

* Mateus 9,36: Compaixão de Jesus frente à situação do povo
 “Vendo as multidões, Jesus teve compaixão, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas sem pastor”. Jesus acolhe as pessoas do jeito que elas se encontram diante dele: doentes, abatidas, cansadas. Ele se comporta como o Servo de Isaías, cuja mensagem central consistia em “consolar o povo” (cf. Is 40,1). A atitude de Jesus para com o povo era como a atitude do Servo, cuja missão era definida assim: “Ele não grita, nem levanta a voz, não solta berros pelas ruas, não quebra a planta machucada, nem apaga o pavio de vela que ainda solta um pouco de fumaça” (Is 42,2-3). Como o Servo, Jesus se comove diante da situação sofrida do seu povo “cansado e abatido, como ovelhas sem pastor”. Ele começa a ser Pastor identificando-se com o Servo que dizia: “O Senhor me concedeu o dom de falar como seu discípulo, para eu saber dizer uma palavra de conforto a quem está desanimado” (Is 49,4ª). Como o Servo, Jesus se faz discípulo do Pai e do povo e diz: “Cada manhã, ele me desperta, para que eu o escute, de ouvidos abertos, como o fazem os discípulos” (Is 49,4b). É do contato com o Pai que Jesus colhe a palavra de consolação a ser comunicada aos pobres.

* Mateus 9,37-38: Jesus envolve os discípulos na missão
Diante da imensidão da tarefa missionária, a primeira coisa que Jesus pede aos discípulos é rezar: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos! Por isso, peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita".
A oração é a primeira forma de compromisso dos discípulos com a missão. Pois se você acredita na importância da missão que você tem, você fará todo o possível para que ela não morra com você, mas que continue nos outros através de você e depois de você.

* Mateus 10,1: Jesus confere aos discípulos o poder de curar e de expulsar os demônios
“Então Jesus chamou seus discípulos e deu-lhes poder para expulsar os espíritos maus, e para curar qualquer tipo de doença e enfermidade". A segunda coisa que Jesus pede aos discípulos não é que eles comecem a ensinar doutrinas e leis, mas sim que ajudem o povo a vencer o medo dos maus espíritos e que o ajudem na luta contra as enfermidades. Hoje, os que mais metem medo nos pobres são certos missionários que ameaçam o povo com o castigo de Deus e com o perigo do demônio. Jesus faz o contrário. O que ele mais faz é ajudar o povo a vencer o medo do demônio: “Se eu expulso os demônios, é sinal de que chegou para vocês o Reino de Deus” (Lc 11,20). É triste dizê-lo, mas hoje existem pessoas que precisam do demônio para poder expulsá-lo e assim ganhar dinheiro. Para estes vale a pena ler o que Jesus falou contra os fariseus e doutores da lei que roubavam as casas das viúvas (Mt 23,14).

* Mateus 10,5-6: Vão primeiro para as ovelhas perdidas de Israel
“Jesus enviou os Doze com estas recomendações: "Não tomem o caminho dos pagãos, e não entrem nas cidades dos samaritanos. Vão primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel”. Inicialmente, a missão de Jesus era dirigida para “as ovelhas perdidas de Israel”. Quem eram estas ovelhas perdidas de Israel? Eram as pessoas excluídas, como as prostitutas, os publicanos, os impuros, considerados perdidos e condenados pelas autoridades religiosas da época? Eram os dirigentes como os fariseus, saduceus, anciãos e sacerdotes que se consideravam o povo fiel de Israel? Ou eram as multidões que estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor?
Provavelmente, aqui no contexto do evangelho de Mateus, trata-se deste povo pobre e abandonado que é acolhido por Jesus (Mt 9,36-37). Jesus queria que os discípulos participassem com ele na missão junto a esse povo. Mas na medida em que ele ia atendendo a este povo, o próprio Jesus ia alargando o horizonte. No contato com a mulher Cananéia, ovelha perdida de outra raça e de outra religião, que pedia para ser atendida, Jesus repetiu aos discípulos: "Eu fui enviado somente para as ovelhas perdidas do povo de Israel" (Mt 15,24). E diante da insistência da mãe que desistia de interceder pela filha, Jesus se defendeu dizendo: "Não está certo tirar o pão dos filhos, e jogá-lo aos cachorrinhos" (Mt 15,26). Mas a reação da mãe derrubou a defesa de Jesus: "Sim, Senhor, é verdade; mas também os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos" (Mt 15,27). E de fato, havia muitas migalhas! Doze cestos cheios de pedaços que sobraram da multiplicação do pão para as ovelhas perdidas de Israel (Mt14,20).
A resposta da mulher desfez os argumentos de Jesus. Ele atendeu a mulher: Jesus atende a mulher: "Mulher, é grande a sua fé! Seja feito como você quer." E desde esse momento a filha dela ficou curada”. (Mt 15,28). Foi através da atenção contínua dada às ovelhas perdidas de Israel que Jesus descobriu que no mundo inteiro existem ovelhas perdidas que querem comer das migalhas.

* Mateus 10,7-8: Resumo da atividade de Jesus
“Vão e anunciem: O Reino do Céu está próximo. Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça, deem também de graça!”. Como revelar a proximidade do Reino? A resposta é simples e concreta: curando doentes, ressuscitando os mortos, purificando os leprosos, expulsando os demônios e servindo de graça, sem se enriquecer pelo serviço ao povo. Onde isto acontece o Reino se revela.

Faça um confronto pessoal da leitura com a vida
1) Todos nós recebemos a mesma missão que Jesus deu aos discípulos e discípulas. Você tem consciência de ter esta missão? Como você vive sua missão?
2) Na sua vida você já teve algum contato com as ovelhas perdidas, com o povo cansado e abatido? Qual a lição que você tirou?

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