Textos: 1Re 17,10-16; Heb 9, 24-28; Mc 12,38-44
Beata Elisabete da Trindade Virgem de nossa Ordem |
Evangelho
(Mt 25,1-13): Naquele tempo, ao ensinar,
Jesus dizia: «Cuidado com os escribas! Eles fazem questão de andar com amplas
túnicas e de serem cumprimentados nas praças, gostam dos primeiros assentos na
sinagoga e dos lugares de honra nos banquetes. Mas devoram as casas das viúvas,
enquanto ostentam longas orações. Por isso, serão julgados com mais rigor».
Jesus estava sentado em frente do cofre das ofertas e observava como a multidão
punha dinheiro no cofre. Muitos ricos depositavam muito. Chegou então uma pobre
viúva e deu duas moedinhas. Jesus chamou os discípulos e disse: «Em verdade vos
digo: esta viúva pobre deu mais do que todos os outros que depositaram no cofre.
Pois todos eles deram do que tinham de sobra, ao passo que ela, da sua pobreza,
ofereceu tudo o que tinha para viver».
«Todos eles deram do que
tinham de sobra, ao passo que ela, da sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha
para viver»
Pbro. José MARTÍNEZ Colín (Culiacán, México)
Hoje,
o Evangelho apresenta-nos a Cristo como Mestre, e fala-nos do desprendimento
que devemos viver. Um desprendimento, em primeiro lugar, da honra e do
reconhecimento próprios, que por vezes vamos procurando: «Cuidado com (...) de
serem cumprimentados nas praças, gostam dos primeiros assentos na sinagoga e
dos lugares de honra nos banquetes» (cf. Mc 12,38-39). Neste sentido, Jesus
previne-nos do mau exemplo dos escribas.
Desprendimento,
em segundo lugar, das coisas materiais. Jesus louva à viúva pobre, ao mesmo
tempo que lamenta a falsidade de outros: «Todos eles deram do que tinham de
sobra, ao passo que ela [a viúva], da sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha
para viver»» (Mc 12,44).
Quem
não vive o desprendimento dos bens temporais vive cheio do seu próprio eu, e
não pode amar. Em tal estado de alma não há espaço para os outros: nem
compaixão, nem misericórdia, nem atenção para com o próximo.
Os
santos dão-nos o exemplo. Eis aqui um feito da vida de São Pio X, quando ainda
era bispo de Mântua. Um comerciante escreveu calunias contra o bispo. Muitos
dos seus amigos aconselharam-no a denunciar judicialmente o caluniador, mas o
futuro Papa respondeu-lhes: «Esse pobre homem necessita mais de oração do que
de castigo». Não o acusou e rezou por ele.
Nem
tudo ficou por aqui, mas depois de certo tempo, ao dito comerciante
correram-lhe mal os negócios, e declarou-se a bancarrota. Todos os credores lhe
caíram em cima, e ficou sem nada. Apenas uma pessoa foi em seu ajuda: foi o
próprio bispo de Mântua quem, anonimamente, fez enviar um envelope com dinheiro
ao comerciante, fazendo-o saber que aquele dinheiro vinha da Senhora mais misericordiosa,
ou seja, da Virgem do Perpétuo Socorro.
Vivo
realmente o desprendimento das realidades terrenas? Está o meu coração vazio de
coisas? Pode o meu coração ver as necessidades dos outros? «O programa do
cristão, o programa de Jesus, é um coração que vê? » (Benedito XVI).
Com quem queremos
parecer-nos: com esses mestres da lei ou com a pobre viúva que dá a Deus
generosamente, não as sobras, mas o que necessita para viver?
Pe. Antonio Rivero L.C.
Beato João Duns Scotus, Presbítero da OFM |
Em
primeiro lugar, vejamos primeiro esses mestres da lei. Cristo já os atacou no
plano doutrinal; agora, faz o mesmo no plano da vida prática. Essas pessoas tão
estimadas e admiradas pelo povo escondem, debaixo de um comportamento
aparentemente irrepreensível, dois defeitos que faz inútil qualquer ato de
culto: vaidade e avareza. A sua vaidade fica bem ressaltada com quatro
pinceladas que encontram fácil confirmação nas fontes judaicas. A sua avareza é
singularmente grave por levá-los à exploração dos mais indefesos, das viúvas,
servindo-se precisamente do seu prestígio religioso. Em vez de ajudar os pobres
e necessitados, como mandava já Êxodo 22,21, não duvidam em aproveitar-se deles
descaradamente, recorrendo a uma devoção ostentosa, feita como espetáculo, para
atrair a admiração e o respeito das pessoas. Nada pode existir de mais corrupto
e abominável que um comportamento hipocritamente religioso em função de uma
ambição sem escrúpulos. Vaidade e avareza não são só duas atitudes que viciam
qualquer ato de culto, mas as atitudes que Jesus condenou várias vezes: em vez
de reivindicar privilégios e honras, deveriam fazer-se os últimos e servidores
de todos; em vez de oprimir e explorar os indefesos, deveriam compartilhar com
os indigentes as suas próprias riquezas. Mas eles não faziam nada disso.
Em
segundo lugar, vejamos agora a viúva. Jesus quer que os seus discípulos
memorizem bem a lição desta pobre viúva. Aproxima-se tremendo do cofre do
templo – exemplo de humildade, piedade e reverência perante Deus e perante as
coisas de Deus! -. Não se atrevendo a falar, com um gesto bem eloquente nos dá
um exemplo do que deve ser o verdadeiro ato de culto: ela deposita as suas duas
únicas moedas - exemplo de generosidade! -. As suas duas únicas moedas levam o
carimbo desse dom total que exige o primeiro mandamento e que pede todo
verdadeiro ato de culto. O encontro com Deus não se consegue através duns ritos
externos, mais ou menos suntuosos e vistosos, mas através desses gestos simples
e silenciosos, que podem passar inclusive despercebidos, mas nos quais o homem
deposita todas as suas seguranças para abandonar-se por completo nas mãos de
Deus. O que conta é um coração generoso,
desprendido e confiante na ação divina, já que Deus não olha tanto o que damos,
quanto o que reservamos para nós. Para Cristo vale mais a interioridade do
coração desta viúva do que as aparências chamativas dos farsantes.
Finalmente,
agora é o momento de olhar o nosso coração. Todos gostamos dos primeiros
lugares, que nos louvem e sejamos importantes e santos. Todos gostamos do
dinheiro. Gostamos de aparecer e chamar a atenção. Somo levados pelas
aparências. Valorizamos os outros pelo que têm, não pelo que são.
Ordinariamente tendemos a dar do que nos sobra, mas não queremos correr o risco
de um futuro desconhecido, sem nenhuma segurança. Damos rápido, talvez, uma pequena
esmola, para dar algo por dar..., porém entregar-nos, entregar o nosso tempo, o
nosso trabalho, o nosso amor, dar do que necessitamos... Isso já é outra coisa!
Interessante que depois de levar ao altar na santa missa o pão e o vinho para a
Eucaristia, a única coisa que a introdução ao missal nos pede levar, não são as
oferendas pitorescas, mais ou menos simbólicas, mas “dinheiro ou outras doações
para os pobres ou para a igreja” (Instrução Geral Missal Romano 73). Também diz
o seguinte: na Eucaristia não só “oferecem a vítima imaculada, mas que aprendam
a oferecer-se a si mesmo” (Instrução Geral Missal Romano 79). Deus não se
deixará ganhar em generosidade, se formos como essas boas mulheres viúvas que,
desde a sua pobreza, e confiando Nele, dão tudo; se formos capazes de correr a
aventura de dar o último que possuímos, Deus nos felicitará.
Para
refletir:
Com quem me pareço: com
esses vaidosos e avarentos mestres da lei, ou com essa viúva generosa e
humilde? Tenho vergonha de ver que Jesus está perto dos pobres? A quem se
costuma dar os créditos: aos que têm ou aos que necessitam?
Para
rezar: Senhor Jesus, que conheceis todos os
nossos gestos e as nossas intenções mais ocultas, renovai-nos por dentro, para
que sejamos agradáveis aos vossos olhos. Amém.
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre
Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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