domingo, 1 de novembro de 2015

2 de novembro: Comemoração de todos os fiéis defuntos

2 de novembro: Comemoração de todos os fiéis defuntos

Evangelho (Lc 23,33.39-43): Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali crucificaram Jesus e os malfeitores: um à sua direita e outro à sua esquerda. Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós! Mas o outro o repreendeu: Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma pena? Para nós, é justo sofrermos, pois estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando começares a reinar. Ele lhe respondeu: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso

«Construís os túmulos dos profetas! No entanto, foram vossos pais que os mataram»

Fra. Agustí BOADAS Llavat OFM (Barcelona, Espanha)

Hoje, o Evangelho recorda o fato fundamental do Cristianismo: a morte e ressurreição de Jesus. Façamos nossa, agora, a oração do Bom Ladrão: Jesus, lembra-te de mim (Lc 23, 42). A Igreja não reza pelos santos como ora pelos defuntos, que dormem no Senhor, mas encomenda-se às orações daqueles e reza por estes, diz Sto. Agostinho num Sermão. Pelo menos uma vez por ano nós, os cristãos, questionamo-nos sobre o sentido da nossa vida e sobre o sentido da nossa morte e ressurreição. É no dia da comemoração dos fiéis defuntos, da qual Sto. Agostinho nos apontou a diferença em relação à festa de Todos os Santos.

Os sofrimentos da Humanidade são os sofrimentos da Igreja e têm em comum, sem dúvida, o fato de todo o sofrimento ser de algum modo privação de vida. Por isso a morte de um ser querido nos causa uma dor tão indescritível que nem a fé sozinha consegue aliviá-la. Assim, os homens sempre quiseram honrar os defuntos. Na verdade, a memória é uma forma de fazer com que os ausentes estejam presentes, de perpetuar a sua vida. Mas os mecanismos psicológicos e sociais, com o tempo, amortecem as recordações. E se, humanamente, esse fato pode levar à angústia, os cristãos, graças à ressurreição, têm paz. A vantagem de nela crermos é que nos permite confiar em que, apesar do esquecimento, voltaremos a encontrar-nos na outra vida.

Uma segunda vantagem de crermos consiste em que, ao recordar os defuntos, rezamos por eles. Fazemo-lo no nosso interior, na intimidade com Deus, e cada vez que rezamos juntos, na Eucaristia: não estamos sós perante o mistério da morte e da vida, antes o compartilhamos como membros do Corpo de Cristo. Mais ainda: ao ver a cruz, suspensa entre o céu e a terra, sabemos que se estabelece uma comunhão entre nós e os nossos defuntos. Por isso S. Francisco proclamou agradecido: Louvado sejas, Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal.

Naquele tempo, os chefes dos judeus zombavam de Jesus, dizendo: «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito».
Não é difícil “ver” o quadro que nos é descrito. O povo curioso, como todos os povos, acompanha tudo. Não quer perder nada. Não se envolve. Os chefes, lançam a Jesus um desafio em jeito de acusação que Ele não deixará de incluir na sua missão salvadora: a aparente derrota pessoal de Jesus converter-se-á em sacramento de salvação universal.
A atitude do Povo pode ser assumida também por cada um de nós… ou então a dos chefes que reúnem todos os argumentos para espezinhar Jesus até ao fim… Mas os cristãos são convidados a interferir em todo este processo com a inteligência aberta ao mistério de Deus, o coração sensível a quem luta pela libertação do seu povo e a unir as mãos com aqueles que querem positivamente construir um futuro melhor.

Também os soldados troçavam d’Ele; aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo».
Que os soldados fizessem coro com todos aqueles que escarneciam de Jesus é quase normal... E como tinham os seus meios refinados de fazer sofrer os condenados, quais artistas do espectáculo, usavam todas as possibilidades para entreter o povo que assistia e os chefes que lhes davam ordens e pagavam o soldo…
Os soldados tomaram os seus chefes como modelos e exemplos nos maus tratos feitos a Jesus. Ninguém pensa diferente, ninguém reflete, ninguém se afirma de forma diversa. É mais fácil embarcar naquilo que todos fazem… Vale a pena meditar um pouco no meu agir quotidiano.

Por cima d’Ele havia um letreiro: «Este é o Rei dos judeus».
Pilatos teve um comportamento reprovável em todo o processo de condenação de Jesus. Defendeu mais a sua posição que a justiça, lavou as mãos “como Pilatos” quando nelas esteve a possibilidade da libertação de Jesus concedida depois a Barrabás. Mas na cruz com o seu “quod scripsi, scripsi” (Jo. 19, 22), sem o saber, atribuiu a Jesus Cristo a realeza que lhe era devida.
Quantas vezes se age a pensar no melhor e as coisas não se cumprem como previsto. É bem verdade que Deus escreve por linhas direitas e, por vezes, escrevendo, endireita aquelas que são tortas. A retidão de vida, o verdadeiro interesse pelas pessoas e pelas suas circunstâncias e contextos, podem contribuir para acertar mais naquilo que em termos clássicos se refere como vontade de Deus.

Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também».
Continua na mente deste homem a incapacidade de reconhecer a realidade nua e crua: está crucificado e vai morrer na cruz. Não se dá conta que a sua vida está presa por um fio e que está a desperdiçar uma última oportunidade. Apesar de tudo note-se, que a súplica é feita no plural com se pedisse a salvação para a humanidade inteira: “salva-te a ti mesmo e a nós também”.
A rotina das ações quotidianas da vida pode impedir uma visão essencial da mesma. O que de pior nos pode acontecer é olhar e não ver, receber estímulos e não os sentir, ter e não possuir, procurar e não encontrar, ser amado e não deixar transparecer esse amor.

Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Não temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício?
Apenas mudámos de um para o outro lado da cruz. Que diferença na maneira de olhar e ver! Aquele revoltado junta-se ao coro que não percebe nada daquilo que se está a passar mas, apesar de tudo, enche-se de razões contra o crucificado; mas Este convertido intui que Jesus não era um homem qualquer e apresenta-o: “Ecce Homo” (Jo. 19,5). O bom ladrão reconhece a inocência de Jesus. Recebe a luz e a salvação. Com ele Jesus inaugura a nova época da história oferecendo-lhe a salvação “hoje mesmo”.
É tão fácil orientar o nosso olhar para o belo, para o justo, para a harmonia, para a paz. Quantas vezes, porém, somos levados a juntar as nossas vozes aos coros das desgraças e das injustiças por não termos a coragem de dizer aquilo que sentimos e julgamos mais certo!

Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo das nossas más acções. Mas Ele nada praticou de condenável». E acrescentou: «Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza». Jesus respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
O bom ladrão reconheceu a irregularidade da sua vida, concorda com o castigo que lhe foi aplicado e também sabe que Jesus nada praticou de condenável. Mas a sua grandeza não está no exame de consciência. Aquilo que lhe fez merecer o Paraíso foi a entrega incondicional à misericórdia de Deus: “lembra-te de mim quando estiveres no teu Reino”.
Alegrai-vos, não porque os demônios vos obedecem, mas porque os vossos nomes estão inscritos no Céu. A misericórdia de Deus é o maior dom que podemos pedir a Deus em atenção aos méritos da morte e ressurreição de Jesus Cristo seu filho, Rei e Senhor do 

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