Textos: Nm 11, 25-29; Sl 5, 1-6; Mc 9,
37-42
SÃO VICENTE, PRESBÍTERO |
«Ninguém que faz
milagres em meu nome poderá logo depois falar mal de mim»
Rev. D. Valentí ALONSO i Roig (Barcelona, Espanha)
Hoje,
conforme ao modelo atual de quem faz televisão, contemplamos a Jesus colocando
vermes e fogo ai aonde devemos evitar ir: o inferno, onde o verme deles não
morre e o fogo nunca se apaga. (Mc 9,48). É uma descrição do estado que pode
ficar uma pessoa quando não dirigiu a sua vida aonde queria. Poderíamos
compará-lo ao momento em que, dirigindo nosso carro, tomamos a estrada errada,
pensando que vamos bem e, vamos a parar em algum lugar desconhecido, sem saber
onde estamos e onde não queríamos estar. Deve-se evitar ir, seja como for,
mesmo que tenhamos que nos desprender de coisas aparentemente irrenunciáveis:
sem mãos (cf. Mc 9,43), sem pés (cf. Mc 9,45), sem olhos (cf. Mc 9,47). É
preciso querer entrar na vida ou no Reino de Deus, mesmo nem que seja sem algo
de nos mesmos.
Possivelmente,
este Evangelho nos leva a refletir para descobrir o quê temos, por muito nosso
que seja, que não nos permite ir a Deus, e ainda mais, que nos distancia dele.
Jesus
mesmo, nos orienta para saber qual é o pecado no que nos fazem cair nossas
coisas (mãos, pés e olhos). Jesus fala dos que escandalizam aos pequenos que
nele creem (cf. Mc 9,42). Escandalizar é distanciar alguém do Senhor. Por
tanto, valoremos em cada pessoa a sua proximidade com Jesus, a fé que tem.
Jesus
nos ensina que não faz falta ser dos Doze ou dos discípulos mais íntimos para
estarmos com Ele: Quem não é contra nós, está a nosso favor, (Mc 9,40). Podemos
entender que Jesus salva tudo. É uma lição do Evangelho de hoje: há muitas
pessoas que estão mais perto do Reino de Deus do que pensamos, porque fazem
milagres em nome de Jesus. Como confessou Santa Teresinha do Menino Jesus: O
Senhor não me poderá premiar segundo minhas obras (...). Pois bem, eu confio
que me premiará segundo as suas.
Cuidemos na nossa vida
a intolerância, os ciúmes e a intransigência, pois não são evangélicos. Ninguém
tem o monopólio do Espírito, pois Ele sopra onde quer quando quer.
Pe. Antonio Rivero, L.C
V Centenário do Nascimento (1515-2015) |
Não
é próprio de o Cristianismo ser intolerante, cortante e radical. Basta ver
Jesus manso e humilde de coração que teve paciência com os apóstolos, que
pregava o Reino com respeito, exigia desde os valores da justiça, verdade e
solidariedade, e valorizava as coisas positivas dos mestres da lei e fariseus.
Em
primeiro lugar, Moises não sentiu ciúmes porque Eldad y Medad profetizavam.
“Quem dera que todo o povo de Deus fosse profeta e descesse sobre todos o
espírito do Senhor”. É um prelúdio do que nos dirá o Espírito Santo no Concilio
Vaticano II: “O Povo santo de Deus participa também da unção profética de
Cristo, difundindo o seu testemunho vivo, sobretudo, com a vida de fé e de
caridade e oferecendo a Deus o sacrifício do louvor... Aliás, o mesmo Espírito
Santo não só santifica e dirige o Povo de Deus mediante os sacramentos e os
ministérios... mas também distribui graças especiais entre os fieis de qualquer
condição, distribuindo a cada um de acordo os seus dons, com os que os faz
aptos e preparados para exercer as diversas obras e deveres que forem uteis
para a renovação e a maior edificação da Igreja” (Lumen Gentium, 12).
Em
segundo lugar, agora é o apostolo João, quem se definia “o discípulo amado”, o
que parece intolerante e proíbe expulsar demônios no nome de Jesus. Acha que só
eles, os apóstolos, têm o monopólio e a exclusividade destes ministérios.
Intolerante, cortante e radical, porque um homem da roça se torna exorcista e
despacha os demônios. Já vimos na primeira leitura como Moises deteve esses
intolerantes que lhe pediam que os proibissem profetizar. A intolerância é
fechamento, ignorância e pecado. A tolerância é cortesia, inteligência e
virtude. Agora entendemos melhor o Papa Francisco. A intolerância é um
escândalo. E escandalizar, segundo a nossa moral e o evangelho, não é dar o que
falar, mas incitar, colaborar... com o pecado. Neste caso a intolerância é
virtude porque o seu objetivo é o mal. As palavras de Jesus hoje são uma
exortação à tolerância e à magnanimidade. A exclusão sectária, o olhar
narcisista, a pretensão monopolizadora, são atitudes estranhas ao espírito de
Jesus. Eliminando todo o fechamento ortodoxo, o cristianismo tem que saber
acolher, apoiar e estimular todos os homens que defendem uma causa nobre,
embora não estejam inscritos na sua comunidade nem pertençam a sua confissão.
Para estes, por mínima que for a sua ação humanitária, não se pode negar a
recompensa divina. E quando menos a acolhida humana!
Finalmente,
teríamos que nos perguntar se realmente somos tolerantes ou intolerantes.
Tolerantes em que. Intolerantes em que e quando. Já sabemos o que chegará para
nós. A intolerância dos intolerantes é tão grave, que Jesus hoje coloca uma
pedra de moinho no pescoço deles e para o mar! Mutila-os-; olho, braço, perna-
e a virar tostadas! Fecha para eles com sete chaves a porta do céu e para o
olho da rua! Naturalmente, é um jeito de dizer, uma hipérbole, mas não um dizer
por dizer. A intolerância religiosa é a vontade fracassada de subir na vida e
tomar o primeiro lugar, isto é, com Deus de modo exclusivo e isso é um
sacrilégio. A intolerância divide os homens, faz a existência deles amarga e
isso é um pecado contra o amor e a sua unidade. A intolerância perturba os
homens, os homens por isso se tornam inimigos de Deus. A intolerância é
intolerável. Ponto final.
Para
refletir: Com quem
sou intolerante: com os outros, comigo? Para que ou com quem devo ser
intolerante: com o meu irmão que pensa ou crê de forma distinta de mim, com o
pecado e com o que me convida a ofender a Deus? Por que acho que tenho o
monopólio da verdade e da salvação? Acho que a “minha” verdade é “a” verdade?
Para
rezar: Senhor,
peço-vos, que me liberteis do meu mau caráter, agressividade e intolerância. A
instabilidade do meu caráter, o mal trato com os que se aproximam de mim ou se
relacionam comigo, assim como com os meus familiares, amigos e vizinhos
governa, tristemente a minha vida, e o dano que causo aos outros, ao próximo,
aos que geralmente tratam comigo, é excessivamente doloroso, e o que me refiro
a mim é também insuportável e me produz uma inevitável e grande culpa, até o
ponto que me paraliso, e vejo passar os dias numa sequência interminável.
Arrependo-me de ter incorrido nesta atitude e conduta, mas necessito do vosso
celestial e poderoso auxílio para me libertar definitivamente da intolerância.
Agradeço-vos, Senhor, porque Vós sempre escutais o que vos invoca. Amém.
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre
Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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