quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Quinta-feira da 26ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Lc 10,1-12): Naquele tempo, O Senhor escolheu outros setenta e dois e enviou-os, dois a dois, à sua frente, a toda cidade e lugar para onde ele mesmo devia ir. E dizia-lhes: «A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para sua colheita. Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não vos demoreis para saudar ninguém pelo caminho! Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz esteja nesta casa!. Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; senão, ela retornará a vós. Permanecei naquela mesma casa; comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador tem direito a seu salário. Não passeis de casa em casa. Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, curai os doentes que nela houver e dizei: O Reino de Deus está próximo de vós. »Mas quando entrardes numa cidade e não fordes bem recebidos, saindo pelas ruas, dizei: Até a poeira de vossa cidade que se grudou aos nossos pés, sacudimos contra vós. No entanto, sabei que o Reino de Deus está próximo!. Eu vos digo: naquele dia, Sodoma receberá sentença menos dura do que aquela cidade».

«Pedi (...) ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para sua colheita»

Rev. D. Ignasi NAVARRI i Benet (La Seu d'Urgell, Lleida, Espanha).

Hoje Jesus nos fala da missão apostólica. Porém «escolheu outros setenta e dois e enviou-os, dois a dois» (Lc 10,1), a proclamação do Evangelho é uma tarefa «que não pode ser delegada a uns poucos especialistas» João Paulo II: todos estamos chamados a essa tarefa e, todos vamos sentirmos responsáveis dela. Cada um desde seu lugar e condição. O dia do Batismo nos disseram: «Sois Sacerdote, Profeta e Rei para a vida eterna». Hoje mais que nunca, nosso mundo precisa do testemunho dos seguidores de Cristo.

«A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos» (Lc 10,2): É interessante esse sentido positivo da missão, pois o texto não diz: «Há muito para semear e poucos trabalhadores». Tal vez, hoje teríamos que falar desse jeito, pelo grande desconhecimento de Jesus Cristo e sua Igreja em nossa sociedade. Um olhar esperançado da missão gera otimismo e ilusão. Não nos deixemos abater pela desilusão e a desesperança.

No inicio, a missão que nos espera é, ao mesmo tempo, apaixonante e difícil. O anúncio da Verdade e da Vida, nossa missão, não pode nem deve pretender forçar a adesão, pelo contrário, deve suscitar uma livre adesão. As ideias, devem se propor e não impor, nos lembra o Papa.

«Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias...» (Lc 10,4): a única força do missionário deve ser Cristo. E para que ele encha sua vida, é preciso que o evangelizador se esvazie de tudo aquilo que não é Cristo. A pobreza evangélica é um requisito importante e, ao mesmo tempo, o testemunho mais crível que o apóstolo pode dar, além de que só esse desprendimento nos fará livres.

O missionário anuncia a paz. É portador de paz, porque leva a Cristo, o Príncipe da Paz. Por isso, «Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz esteja nesta casa! Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; senão, ela retornará a vós» (Lc 10,5-6). Nosso mundo, nossas famílias, nosso Eu pessoal, têm necessidade de Paz. Nossa missão é urgente e apaixonante.

Reflexão de Frei Carlos Mesters, Ocarm.

V Centenário do Nascimento (1515-2015)
O capítulo 10 do qual o nosso texto é o começo, tem um caráter de revelação. Em 9,51, é dito que Jesus "tomou a firme decisão de começar uma viagem em direção a Jerusalém." Este caminho, expressão do seu ser filial, é caracterizado por uma dupla ação: está intimamente unido ao “ser tirado” de Jesus (v. 51), a sua "vinda", mediante o envio dos seus discípulos (V. 52): há uma ligação no duplo movimento:” ser tirado do mundo" para ir ao Pai, e ser enviado aos homens.

Na verdade, acontece que, por vezes, o mensageiro não é aceito (9,52 e, portanto, deve aprender a ser "entregue", sem se deixar desanimar pela recusa dos homens (9,54-55).

Três cenas curtas fazem o leitor a compreender o que significa seguir a Jesus que vai a Jerusalém para ser retirado do mundo. Na primeira cena é apresentado a um homem que quer seguir Jesus onde quer que vá; Jesus convida-o a abandonar tudo o que proporciona bem-estar e segurança. Aqueles que querem segui-lo devem compartilhar o seu destino de nômade.

Na segunda cena é Jesus quem toma a iniciativa e chama um homem cujo pai acabou de morrer. O homem pede um tempo para cumprir com o seu dever de enterrar o pai. A urgência de proclamar o reino supera esse dever: a preocupação de enterrar os mortos é inútil, porque Jesus vai além das portas da morte e o exige inclusive para aqueles que o seguem.

Finalmente na terceira cena é apresentado a um homem que se oferece para seguir Jesus, mas apresenta uma condição: despedir-se antes de seus pais. Entrar no reino não admite atrasos. Após esta tríplice renúncia, a expressão de Lc 9,62: "Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus." introduz o tema do capítulo 10.

• A dinâmica do relato. O trecho, que é o objeto de nossa meditação, começa com expressões bastante densas. A primeira: "Depois disto”, se refere à oração de Jesus e à sua firme decisão de ir a Jerusalém. A segunda relaciona-se com o verbo "designar": "designou setenta e dois outros discípulos e mandou-os..." (10,1), onde se especifica que os mandou adiante de si, ou seja, com a mesma resolução que ele se encaminha para Jerusalém.

As recomendações, que Jesus lhes dá antes do envio, são um convite para estar cientes da realidade em que eles são enviados: colheita abundante em contraste com o pequeno número de operários. O Senhor da colheita chega com toda a sua força, mas a alegria desta chegada é dificultada pelo pequeno número de operários. Daí o convite categórico à oração: "Rogai ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe" (v. 2). A iniciativa de enviar em missão é de responsabilidade do Pai, mas Jesus transmite a ordem: "Ide", e, em seguida, indica como seguir (vv. 4-11). Ela começa com o equipamento: sem bolsa, nem alforje, nem sandálias. Estes elementos denotam a fragilidade daquele que é enviado e a sua dependência da ajuda que recebe do Senhor e dos habitantes da cidade.

As prescrições positivas são sintetizadas em primeiro lugar na chegada à casa (vv. 5-7) e, em seguida, no êxito na cidade (vv. 8-11). Em ambos os casos não se exclui a rejeição. A casa é o primeiro lugar onde os missionários têm os primeiros intercâmbios, os primeiros relacionamentos, valorizando os gestos humanos de comer, beber e descansar, como mediações simples e comuns para comunicar o evangelho. A "paz" é o dom que precede a missão deles, ou seja, a plenitude da vida e relacionamentos, e a alegria verdadeira e real é o sinal que marca a chegada do Reino. Não é necessário buscar conforto, é essencial ser acolhido. A cidade torna-se, no entanto, o maior campo de missão: ali se desenvolve a vida, a atividade política, a possibilidade de conversão, de aceitação ou rejeição.

A este último aspecto se une o ato de sacudir a poeira (vv. 10-11), como que se os discípulos, ao abandonar a cidade que os rejeitou, dissessem aos moradores que estes não aprenderam nada ou ainda poderia expressar o corte de relações. Finalmente, Jesus lembra a culpa daquela cidade que se fecha para a proclamação do evangelho (v. 12).

Para um confronto pessoal
1) Todos os dias, você é enviado pelo Senhor para anunciar o Evangelho aos seus íntimos (a casa) e aos homens (da cidade). Você está assumindo um estilo pobre, essencial, no testemunho de sua identidade como um cristão?
2) Você está ciente de que o sucesso de seu testemunho não depende de sua capacidade individual, mas somente do Senhor que envia e da sua disponibilidade?

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