Textos: Ez 2, 2-5; 2 Cor 12, 7-10; Mc 6, 1-6
Evangelho
(Mc 6,1-6): Naquele tempo Jesus foi para
sua própria terra. Seus discípulos o acompanhavam. No sábado, ele começou a
ensinar na sinagoga, e muitos dos que o ouviam se admiravam. «De onde lhe vem
isso?», diziam. «Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E esses milagres
realizados por suas mãos? Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de
Tiago, Joset, Judas e Simão? E suas irmãs não estão aqui conosco?». E ele se
tornou para eles uma pedra de tropeço. Jesus, então, dizia-lhes: «Um profeta só
não é valorizado na sua própria terra, entre os parentes e na própria casa». E
não conseguia fazer ali nenhum milagre, a não ser impor as mãos a uns poucos
doentes. Ele se admirava da incredulidade deles. E percorria os povoados da
região, ensinando.
«Ele se admirava da
incredulidade deles»
P. Joaquim PETIT Llimona, L.C. (Barcelona, Espanha)
Hoje
a Liturgia nos ajuda a descobrir os sentimentos do coração de Jesus: «Ele se
admirava da incredulidade deles» (Mc 6,6). Sem dúvida, aos discípulos devia
impressionar a incredulidade dos concidadãos do Mestre e a reação de Jesus.
Teria parecido mais natural que as coisas tivessem se sucedido de outra
maneira: ao chegar à terra em que havia vivido tantos anos, e tendo eles ouvido
contar as obras que realizava, a consequência lógica seria que O acolhessem com
carinho e confiança, que tivessem mais disposição que os demais para escutar
seus ensinamentos. Entretanto, não foi assim, pelo contrário: «E Ele se tornou
para eles uma pedra de tropeço» (Mc 6,3).
O
estranhamento de Jesus com a atitude das pessoas de sua terra mostra um coração
que confia nos homens, que espera uma resposta e não fica indiferente perante a
falta dela, porque é um coração que se doa em vista do nosso bem. Já o
expressou bem São Bernardo, quando escreveu: «O Filho de Deus veio ao mundo e
fez tais maravilhas, que tirou nossa compreensão do mundano, para que
meditássemos e nunca deixássemos de ponderar suas maravilhas. Deixou-nos
horizontes infinitos para entretenimento de nossa inteligência, e um rio
caudaloso de ideias que é impossível percorrê-lo todo. Há alguém capaz de
compreender por que razão a Suprema Majestade quis morrer para nos dar a vida,
quis servir para que nós reinássemos, quis viver desterrado para levar-nos à
pátria, e quis rebaixar-se ao mais desprezível e ordinário para nos exaltar
acima de tudo?».
Poderíamos
pensar como poderia ter mudado a vida dos habitantes de Nazaré se tivessem se
aproximado de Jesus com fé. Por isso todos os dias temos que pedir como seus
discípulos: «Aumenta a nossa fé!»” (Lc 17,5), para que nos abramos mais e mais
à Sua ação amorosa em nós.
Teimosia e incredulidade
diante da mensagem de Cristo.
Pe. Antonio Rivero, L.C.
Sto Antônio Maria Zaccaria - Presbítero |
As
três leituras deste domingo nos apresentam um panorama nada agradável e
consolador: a incredulidade e a teimosia de tantos diante da mensagem de
Cristo. Onde não experimentamos isto, sobretudo nessas terras e nações
opulentas, materialistas, empanturradas em si mesmas e fechadas à
transcendência?
Em
primeiro lugar, o pobre profeta Ezequiel (1 leitura) experimentou essa teimosia
e rejeição diante da mensagem de Deus que ele devia pregar. É enviado aos
israelitas, aos rebeldes de Israel, teimosos e obstinados. Rebeldes pela sua
apostasia e idolatria e também pela sua oposição contra Nabucodonosor, feita
realidade na atitude de Jecomias e Sedecias na dos seus súditos contra o rei de
Babilônia. Mas Ezequiel é fiel à sua missão e ele transmite as palavras de
Deus, especialmente palavras de juízo, que Deus lhe entrega num rolo e que ele
há de comer e assumir para fazê-las próprias. O resultado destas palavras de
juízo será para o povo de Israel, lamentações, gemidos e ameaças (Ez 2,10), mas
para o profeta será algo doce como o mel (Ez 3,3). Isto manifesta o implícito
contraste da obediência de Ezequiel à voz divina com a rebeldia do povo de
Israel. Ezequiel é um autêntico mártir no duplo sentido da palavra: testemunha
e vítima. Mas ele se manterá firme na hostilidade e no isolamento que
experimenta.
Em
segundo lugar, no evangelho o mesmo Jesus sofreu também essa teimosia na sua
própria terra (evangelho); essa solidão e hostilidade. Que humilhação! Ele
mesmo se estranhou porque não esperava isso e nem merecia. Prega na Sinagoga,
mas a única coisa que consegue é que os seus paisanos se perguntem de onde lhe
veem essa sabedoria e esses milagres que dizem fazer. Felizes deveriam estar e
festejar que um grande profeta tenha saído do seu povoado! Mas não, não foi
assim. Os seus conterrâneos sofrem de miopia espiritual; não veem nada da
grandeza de Jesus, cegados pelas suas mesquinhezes e preocupações diárias. Por
isso, não realizou muitos milagres entre eles, pois não são números de circo
para sugestionar os curiosos e fazer gritar os exaltados. Não os fez, não
porque não pudesse, já que era onipotente, mas porque esse povo não estava
disposto para receber a fé que lhe oferecia. Esse povo não aceitou Deus com
roupagem humano: detrás desse filho do carpinteiro se escondia o Verbo de Deus
e o Salvador da humanidade. Pedra de escândalo foi Jesus para esses homens
incrédulos! Desde aquele dia, Jesus se calará no seu povo. Se alguém pensa que
na vida tudo são aplausos e saúde, é bom ler de novo o evangelho de hoje, para
não se enganar.
V Centenário do Nascimento (1515-2015) |
Finalmente,
também nós experimentamos esta teimosia. Paulo assim o experimentou (2ª
leitura): açoites, cárcere, ameaças, perseguições. Quantas humilhações sofrem
os pais de família por parte dos seus filhos ingratos! Quantas humilhações
podem sofrer os trabalhadores dos seus chefes! E nas paróquias, quanta teimosia
e pretensões de soberba de alguns que estão na frente dos grupos. Deus seguirá
dizendo o que disse a Ezequiel: continua falando, embora não te deem bola. Se
não te dão atenção, será responsabilidade deles. Devemos cuidar e acrescentar a
nossa própria fé, e ao mesmo tempo não abrandar no nosso empenho de ajudar os
demais também nesse crescimento da própria fé, sem esperar necessariamente
frutos à curto prazo.
Para refletir: O que experimento quando sofro
teimosias e hostilidade ao meu redor, por pregar e dar testemunho da minha fé
em Cristo Jesus? Desanimo-me ou, ao contrário, cresço e peço forças a Deus?
Para rezar: Medita estas palavras: “Filho, se te
aproximas para servir ao Senhor, prepara a tua alma para a prova. Corrige o teu
coração, e fica firme, e não te angusties no tempo da adversidade. Junta-te a
Ele e não te separes, para que sejas exaltado no final da tua vida. Tudo o que te
acontecer, aceita, e nas humilhações, sê paciente. Porque no fogo se purifica o
ouro, e os que agradam a Deus, no forno da humilhação. Confia Nele, e Ele te
ajudará, endireita os teus caminhos e espera nele. Os que temeis ao Senhor,
aguardai a sua misericórdia, e não vos desvieis, não seja que caiais. Os que
temeis ao Senhor, confiai nele, e não vos faltará a recompensa. Os que temeis
ao Senhor, esperai bens, gozo eterno e misericórdia” (Eclesiástico 2,1-22).
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre
Antonio neste e-mail:
arivero@legionaries.org
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