Textos: Ex 24, 3-8; Heb 9, 11-15; Mc 14,
12-16.22-26
Comentário: Mons.
Josep Àngel SAIZ i Meneses Bispo de Terrassa. (Barcelona, Espanha)
Tomai, isto é o meu corpo. Este é o meu sangue
Hoje, celebramos solenemente a presença
eucarística de Cristo entre nós, o “dom por Excelência”: «Durante a refeição, Jesus
tomou o pão e, depois de benzê-lo, partiu-o e deu-lho, dizendo: Tomai, isto é o
meu corpo. (...).» (Mc 14,22.24). Depois disse-lhes: Isto é o meu sangue, o
sangue da aliança, que é derramado por muitos. Disponhamos a suscitar em nossa
alma o “assombro eucarístico” (João Paulo II).
O povo judeu em sua ceia pascal comemorava a
história da salvação, as maravilhas de Deus para com seu povo, especialmente a
libertação da escravidão de Egito. Nesta comemoração, cada família comia o
cordeiro pascal. Jesus Cristo se converte no novo e definitivo cordeiro pascal
sacrificado na cruz e comido em Pão Eucarístico.
A Eucaristia é sacrifício: é o sacrifício do
corpo imolado de Cristo e de seu sangue derramado por todos nós. Na Última Ceia
isto se antecipou. Ao longo da historia se irá atualizando em cada Eucaristia.
Nela temos o alimento: é o novo alimento que dá vida e força ao cristão
enquanto caminha em direção ao Pai.
A Eucaristia é presença de Cristo entre nós.
Cristo ressuscitado e glorioso permanece entre nós de uma maneira misteriosa,
mas real na Eucaristia. Esta presença implica uma atitude de adoração por nossa
parte e uma atitude de comunhão pessoal com Ele. A presença eucarística nos
garante que Ele permanece entre nós e opera a obra da salvação.
A Eucaristia é mistério de fé. É o centro e a
chave da vida da Igreja. É a fonte e raiz da existência cristã. Sem vivência
eucarística a fé cristã se reduziria a uma filosofia.
Jesus nos dá o mandamento do amor de caridade
na instituição da Eucaristia. Não se trata da última recomendação do amigo que
vai embora para longe ou do pai que vê próxima a morte. É a afirmação do
dinamismo que Ele põe em nós. Pelo Batismo começamos uma vida nova, que é
alimentada pela Eucaristia. O dinamismo desta vida leva a amar aos outros, e é
um dinamismo em crescimento até dar a vida: nisto notarão que somos cristãos.
Cristo nos ama porque recebe a vida do Pai.
Nós amaremos recebendo do Pai a vida, especialmente através do alimento
eucarístico.
A Eucaristia é para ser
celebrada (missa) e prolongada (adoração e culto).
Comentário do Pe. Antonio Rivero, L.C.
Esta
festa do Corpus Christi nasceu no século XIII. Jesus quis entregar-se a nós
como alimento para o caminho, fazendo que nós comungássemos com a sua própria
Pessoa, com o seu Corpo e o seu Sangue, sob a forma do pão e vinho.
Em
primeiro lugar, um pouco de história desta esplêndida Solenidade do Corpus
Christi. No ano 1208, uma jovem de 17 anos, Juan de Retine, religiosa
hospitaleira em Mont Cornillon (Lieja, Bélgica) teve uma visão de uma lua
resplandecente e cheia, mas com uma mancha. Esta visão durou dois anos. Por fim
a decifrou: no esplêndido calendário litúrgico faltava uma festa da Eucaristia.
Foi a origem do Corpus Christi, cuja primeira procissão se pôs em marcha pelas
ruas de Lieja no ano de 1245 e pelas ruas de todo o mundo a partir de 1264. A
partir da festa do Corpus, a fé e o entusiasmo pela Eucaristia levou os
habitantes de Bolzano (Itália) do século XIII a crer nas hóstias profanadas que
começaram a sangrar. E os habitantes de Daroca (Zaragoza) do século XIII a crer
no milagre dos corporais que, para defendê-las contra a profanação da
soldadesca muçulmana, entre as suas dobraduras guardaram seis hóstias, que
deixaram seis pegadas redondas. Só desde a fé é possível crer nestas coisas.
Em
segundo lugar, a Eucaristia tem duas dimensões: primeiro, a sua celebração, a
missa, ao redor do altar; e depois, a sua prolongação, com a reserva do Pão
eucarísticos no Sacrário e a conseguinte veneração e adoração que lhe dedica a
comunidade cristã. A finalidade principal da Eucaristia é a sua celebração- a
missa-, isto é, para os fiéis comungarem o Corpo e o Sangue de Cristo. Porém,
desde que, já nos primeiros séculos, a comunidade cristã começou a guardar o
Pão eucarísticos para os enfermos e para os moribundos, foi nascendo cada vez
mais “conatural” que se rodeasse o lugar da reserva (o Sacrário) de sinais de
fé e adoração ao Senhor. A Eucaristia na celebração é para ser comida para a
saúde das nossas almas e assimilar Cristo, Pão de vida. A Eucaristia na
prolongação é para ser adorada, festejada e cantada. Na celebração da
Eucaristia entramos em comunhão com Cristo na hora de comungá-lo. Na
prolongação da Eucaristia caímos de joelhos para agradecer, adorar, contemplar
e abrir o coração diante de quem está ali sacramentalmente presente e sabemos
que nos olha e nos ama.
Finalmente,
este culto por Cristo Eucaristia prolongado deve nos levar a cuidá-lo sempre.
Daqui a dignidade dos Sacrários: sempre colocados num lugar nobre e destacado,
convenientemente adornados, fixados permanentemente sobre um altar, pilar, ou
também metidos na parede ou incorporados a um retábulo. O Sacrário deve estar
construído de matéria sólida (podem ser metais preciosos como ouro, prata,
metal prateado, madeira, cerâmica e similares) e não transparente, fechado com
chave, num ambiente que seja fácil à oração pessoal fora do momento da
celebração, e, portanto, melhor numa capela separada (capela sacramental).
Daqui que junto ao Sacrário brilhe constantemente uma lâmpada, com a qual se
indica e honra a presencia real e silenciosa de Cristo. Daqui a genuflexão
quando passamos diante dele. Daqui os momentos pessoais de oração ou “visita”
diante do Senhor na Eucaristia. Daqui a organização da “benção com o
Santíssimo” com uma “exposição” mais ou menos prolongada e solene para a
adoração comunitária. São momentos que deveríamos desejar, ter saudades e
buscar, tanto pessoalmente como em comunidade; momentos de oração mais pausada,
meditativa e serena diante do Sacrário.
Para
refletir e rezar: meditemos a sequência deste dia intitulada: “Lauda Sion”:
1.
Canta, ó Sião, com voz solene,
O
que para te redimir vem,
O
teu Rei, e o teu Pastor,
2.
Louva quanto possas,
Que
o teu louvor excede,
Pois
pouco é o seu louvor.
3.
De louvores sem medida,
O
pão vivo e que dá vida,
Alto
objeto é hoje onde for.
4.
Que o colégio dos Doze,
Nossa
Igreja reconhece,
Dado
na ceia derradeira.
5.
Ao cantar pleno e sonoro,
Com
transporte, com decoro,
Acompanhe
o coração.
6.
Pois a festa hoje se repete,
Que
recorda o convite,
A
primeira instituição.
7.
Nova Páscoa é nova lei,
O
novo Rei ao mundo leva,
E
à antiga dá seu fim.
8.
Luz sucede à noite escura,
A
verdade à figura,
O
novo ao velho festim.
9.
O que realizou na ceia,
Repetir
Cristo ordena,
Em
memória do seu amor.
10.
E no holocausto divino
Consagramos
pão e vinho,
À
exemplo do Senhor.
11.
Sendo dogma, o fiel não duvida.
Que
o vinho em sangue muda
E
a hóstia em carne divina.
12.
O que não vês nem compreendes
Com
fé valente defendes
Por
ser preternatural.
13.
Sob espécies diferentes
Só
signos e acidentes,
Grande
portento oculto está.
14.
Sangue, o vinho é, do Cordeiro;
Carne
o pão; mas Cristo inteiro
Sob
cada espécie está.
15.
Não em pedaços dividido,
Nem
incompleto, nem partido,
Mas
inteiro se nos dá.
16.
Um ou mil o seu corpo comem,
Todos
inteiro o comem,
E
nem comido perde o ser.
17.
Recebe-o tanto mau como o bom:
Para
este é de vida cheio,
Para
o outro manjar mortal.
18.
Vida ao bom, morte ao mau,
Dá
este manjar presenteado.
Ó
que efeito desigual!
19.
Dividido o Sacramento,
Não
vaciles um momento,
Que
fechado num fragmento
Como
no total está.
20.
Na coisa não há fratura,
Há
só na figura,
Nem
no seu estado e estatura
Detrimento
ao corpo dá.
21.
Pão do Anjo, pão divino,
Nutre
o homem peregrino;
Pão
de filhos, dom tão fino,
Não
se pode jogar aos cães!
22.
Por figuras anunciado,
Em
Isaac é imolado,
Maná
descido do céu,
Cordeiro
sobre o altar,
23.
Bom Pastor, Jesus clemente!
Teu
manjar de graça fonte,
Nos
proteja e apascente,
E
na alta região vivente,
Faze-nos
ver a tua gloria, ó Deus!
24.
Tu, que sabes e podes,
E
que o mortal sustentas;
Por
comensais perenes,
Ao
festim de eternos bens
Com
teus Santos, chama-nos.
Amém-Aleluia!
Qualquer
sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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