Textos: Deut 4, 32-34.39-40; Rm 8, 14-17; Mt
28, 16-20
Evangelho
(Mt 28,16-20): Os onze discípulos
voltaram à Galileia, à montanha que Jesus lhes tinha indicado. Quando o viram,
prostraram-se; mas alguns tiveram dúvida. Jesus se aproximou deles e disse:
«Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Ide, pois, fazer discípulos
entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou
convosco todos os dias, até o fim dos tempos».
Comentário: Mons. F. Xavier CIURANETA i Aymí Bispo
Emérito de Lleida (Lleida, Espanha).
Ide, pois, fazer
discípulos entre todas as nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo.
Hoje,
a liturgia convida-nos adorar a Santíssima Trindade, nosso Deus, que é Pai,
Filho e Espírito Santo. Um só deus em três pessoas, em nome do qual temos sido
batizados. Pela graça do Batismo estamos chamados a formar parte na vida da
Santíssima Trindade, aqui neste mundo, na escuridão da fé e, após da morte, na
vida eterna. Pelo Sacramento do Batismo, temos sido criados para participar da
vida divina, chegando a ser até filho do Pai Deus, irmãos em Cristo e templos
do Espírito Santo. No Batismo tem começado a nossa vida cristã, recebendo a
vocação à santidade. Pelo Batismo, pertencemos a Aquele que é por excelência o
Santo o «três vezes Santo». (cf.Is6,3)
O
dom da santidade recebido no batismo pede a fidelidade uma tarefa de conversão
evangélica que vai dirigir sempre a vida toda dos filhos de Deus: «A vontade de
Deus é que sejais santos e que vos afasteis da imoralidade sexual» (1Tes 4,3).
É um compromisso que afeta a todos os batizados. «Todos os fiéis, seja qual for
o seu estado ou condição, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição
da caridade» (Concilio Vaticano II, Lumen Gentium,n.40).
Se
nosso batismo foi uma verdadeira entrada na santidade de Deus, não podemos
conformarmos com uma vida medíocre, rotineira e superficial. Estamos chamados à
perfeição no amor, já que o Batismo introduziu-nos na vida e na intimidade do
amor de Deus.
Com
agradecimento sincero, pelo desígnio benévolo de nosso Deus, que nos tem
chamado a participar de sua vida de amor, o adoremos e o louvemos, hoje e
sempre. «Seja abençoado Pai Deus, seu único Filho e o Espírito Santo porque
teve misericórdia de nós» (Antífona de entrada da missa).
Deus é um Deus próximo.
Pe. Antonio Rivero, L.C.
Os
Padres da Igreja chamavam esta verdade de condescendência divina, um
“abaixar-se de Deus”, acomodar-se às capacidades do homem. E tudo por amor.
Neste
ciclo B se apresenta para nós um Deus próximo a nossa vida: que por amor
gratuito fez de Israel o seu povo eleito, que por amor paterno lhe dirigiu a
sua Palavra, que com amor firme o libertou “com mão forte e braço poderoso” da
escravidão (1ª leitura), e que aos que estamos batizados no seu Nome nos
concedeu ser filhos adotivos seus (2ª leitura) e nos lançou pelo mundo para
ensinar esta verdade ensinada por Cristo (Evangelho).
Em
primeiro lugar, esse abaixar-se de Deus até nós foi progressivo. São Gregório
Nazianzeno diz: “No Antigo Testamento se revelou claramente o Pai e começou a
se revelar, de forma ainda velada e escura, o Filho. No Novo Testamento, se
revelou claramente o Filho e começou a fazer-se luz o Espírito Santo. Agora (na
Igreja), o Espírito habita entre nós e se revela abertamente. Desse modo, por
sucessivas conquistas e ascensões, passando de claridade em claridade, era
necessário que a luz da Trindade brilhasse diante dos olhos já iniciados na
luz” (Oratio, 31,26). Santo Agostinho viu com mais clareza este mistério: esse
Deus que se aproxima e condescende com o homem é Amor, é uma Trindade de Amor
na qual o Pai é o amante, o Filho, o amado, e o Espírito Santo, a amor (cf. De
Trinitate, VIII, 10,14; IX, 2,2). A primeira leitura nos dá gestos de amor
desse Deus: nos fala através dos patriarcas, profetas; salva-nos da escravidão.
Ele será a alegria para nós, com tal de guardarmos a sua Palavra e os seus
mandamentos.
Em
segundo lugar, na segunda leitura de hoje este Deus tão próximo dá um passo
mais: é Pai amoroso e nós somos filhos no Filho. A analogia nos permite
distinguir claramente entre a nossa filiação e a do Senhor Jesus: Ele é Filho
por natureza, nós somos por incorporação. A mesma analogia, embora imperfeita,
não é uma filiação fictícia, mas “uma participação real na vida do Filho único”
(Catecismo da Igreja Católica, 460), “por quem podemos invocar Deus Pai com o
mesmo nome familiar que usava Jesus: Abba” (Juan Pablo II, Catequese do dia 16
de dezembro, 1998). Por que é uma filiação autêntica? Porque se realizou em nós
uma profunda mudança na nossa natureza, uma transformação ontológica que nos
configura com o Senhor Jesus e nos incorpora no seu Corpo místico, que é a
Igreja (Catecismo da Igreja Católica, 1121; 1272-1273). Por um Dom do Pai os
que cremos no Filho único chegamos a ser verdadeiramente filhos no Filho único
(Jo 1,12), segundo a comovida expressão do apóstolo João: “Vede com que amor o
Pai nos amou para nos chamar filhos de Deus, e de fato, o somos!” (1 Jo
3,1).
Finalmente,
no evangelho se dá o terceiro passo desta bela revelação de Deus. Deus é
Trindade. O Deus uno e simples, vive em três Pessoas: o Pai, o Filho, que
assumiu carne em Cristo, e o Espírito Santo. A Trindade significa que Deus não
é um Deus solitário, mas é uma comunidade de amor. Deus é um amor feito vida:
amor como pessoa. O resto do que sabemos ou podemos saber de Deus vem como
consequência. E neste evangelho, Cristo nos anuncia a missão que encomendou à
Igreja. É uma triple missão: evangelizadora (“Ide e fazei discípulos”),
celebrativa (“batizando-os no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”) e
vivencial (“ensinando-os a guardar tudo que eu vos mandei”).
Para
refletir: Como
experimento na minha vida o amor da Santíssima Trindade? Como trato cada dia a
Trindade Santa? Com qual Pessoa divina tenho mais intimidade: com o Pai, com o
Filho, com o Espírito Santo? Com quem mais me assemelho: com o Pai na sua
ternura, com o Filho na sua sabedoria, como Espírito Santo no seu bálsamo
consolador?
Para
rezar: Rezemos com a
beata Isabel da Trindade: “Ó meu Deus, trindade adorável, ajudai-me a
esquecer-me de mim por inteiro para me estabelecer em Vós! Ó meu Cristo amado,
crucificado por amor! Sinto a minha impotência e vos peço que me revistais de
Vós mesmo, que identifiqueis a minha alma com todos os movimentos da vossa
alma; que me substituais, para que a minha vida não seja mais que uma
irradiação da vossa própria vida. Vinde a mim como adorador, como reparador e
como salvador... Ó fogo consumidor, Espírito de amor! Vinde a mim, para se faça
em minha alma uma como encarnação do Verbo: que eu seja para ele uma humanidade
sobre acrescentada na que ele renove todo o seu mistério. E Vós, Ó Pai, inclinai-vos
sobre a vossa criatura; não vejais nela mais que o vossa amado no qual pusestes
todas as vossas complacências. Ó meus três, meu tudo, minha felicidade, solidão
infinita, imensidão na qual me perco! Entrego-me a Vós como uma presa;
sepultai-vos em mim para que me sepultar em Vós, na espera de ir para
contemplar na vossa luz o abismo das vossas grandezas”.
Qualquer
sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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