Textos: Atos
10, 25-26. 34-35. 44-48; 1 Jo 4, 7-10; Jo 15, 9-17
Evangelho
(Jo 15,9-17): Naquele tempo, Jesus falou
assim aos seus discípulos: «Como meu Pai me ama, assim também eu vos amo.
Permanecei no meu amor. Se observardes os meus mandamentos, permanecereis no
meu amor, assim como eu observei o que mandou meu Pai e permaneço no seu amor.
Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria
seja completa. Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu
vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos.
Vos sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. Já não vos chamo servos,
porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos
dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. Não fostes vós que me escolhestes;
fui eu que vos escolhi e vos designei, para dardes fruto e para que o vosso
fruto permaneça. Assim, tudo o que pedirdes ao Pai, em meu nome, ele vos dará.
O que eu vos mando é que vos ameis uns aos outros».
Comentário: Rev. D. Francesc CATARINEU i Vilageliu
(Sabadell, Barcelona, Espanha)
Eu vos chamo amigos
Hoje
celebramos o último domingo antes das solenidades da Ascensão e Pentecostes,
que encerram a Páscoa. Se ao longo destes domingos Jesus ressuscitado se
manifestou como o Bom Pastor e a videira a quem há que estar unido como os
sarmentos, hoje nos abre de par em par seu Coração.
Naturalmente,
no seu Coração somente achamos amor. Aquilo que constitui o mistério mais
profundo de Deus é que é Amor. Tudo o que fez desde a criação até a redenção é
por amor. Tudo o que espera de nós como resposta a sua ação é amor. Por isso,
suas palavras ressoam hoje: «Permanecei no meu amor» (Jo 15,9). O amor pede
reciprocidade, é como um diálogo que nos faz corresponder com um amor crescente
ao seu amor primeiro.
Um
fruto do amor é a alegria: «Eu vos disse isso, para que a minha alegria esteja
em vós, e a vossa alegria seja completa» (Jo 15,11). Se nossa vida não reflete
a alegria de acreditar, se deixamo-nos afogar pelas contrariedades sem ver que
o Senhor está aí presente e nos consola, é porque não conhecemos
suficientemente Jesus.
Deus
sempre tem a iniciativa. Nos diz expressamente ao afirmar que «fui eu que vos
escolhi» (Jo 15,16). Nós sentimos a tentação de pensar que escolhemos, mas não
fizemos nada mais que responder a uma chamada. Escolheu-nos gratuitamente para
sermos amigos: «Já não vos chamo servos, (...); Eu vos chamo amigos» (Jo
15,15).
Nos
começos, Deus fala com Adão como um amigo fala com seu amigo. Cristo, novo
Adão, nos recuperou não apenas a amizade de antes, senão a intimidade com Deus,
já que Deus é Amor.
Tudo
se resume nesta palavra: “amar”. Nos lembra santo Agostinho: «O Mestre bom nos
recomenda tão frequentemente a caridade como o único mandamento possível. Sem a
caridade todas as outras boas qualidades não servem de nada. A caridade, em
efeito, conduz ao homem necessariamente a todas as outras virtudes que o fazem
bom».
Vivência da caridade.
Pe. Antonio Rivero, L.C.
V Centenário do Nascimento (1515-2015) |
O
mandamento novo que Cristo nos deixou é este: “Amai-vos uns aos outros como eu
vos tenho amado”. É um imperativo, não uma opção. Não tem limites nem exclusão
(1 leitura). E a medida está clara: como Cristo (evangelho).
Em
primeiro lugar, consideremos a caridade e o amor que teve e tem Deus conosco.
Características: amor sem fronteira, universal, eterno, infinito, sem
arrependimentos e gratuito. Manifestações: criou-nos por amor; conserva-nos por
amor: cuida de nós com a sua providência por amor. Atrevo-me a me encarar com
este Deus rico em misericórdia, para não cair em ingenuidade e abusarmos assim
Dele. Vós, ó Deus, é possível que acrediteis que o vosso amor mexa com o homem
e com a mulher destes tempos? No passado mais crente, piedoso e praticante, até
vai! Mas não errastes de calendário, com todo respeito? Eu, como o novo Abraão (cf. Gen 18) volto a
perguntar ao Deus infinito no seu amor: Deus, o vosso amor faz feliz o homem e
a mulher de hoje, enfrascado noutras coisas mais importantes da vida que em
estar olhando para cima? Se isto fosse o paraíso terrenal, até passaria! Se
nós, os cidadãos, fossemos anjos, os políticos arcanjos, o governo um querubim
e o presidente um serafim, opa! Mas... Pois sim, apesar dessas perguntas quase
blasfemas temos que dizer: sim, Deus nos quer ao seu estilo eterno, glorioso,
infinito; isto é, como Deus manda; como Deus é. Ninguém pode duvidar do amor de
Deus para conosco, as suas criaturas, os seus filhos, os seus amigos.
Em
segundo lugar, consideremos a caridade que nos manifestou Cristo Jesus.
Características: amor pessoal, apaixonado, misericordioso, paciente. O Filho de
Deus por amor deixou o céu serenamente e desceu a esta terra que não o recebeu
e o tratou com desprezo. Por amor passou fazendo o bem pelo nosso mundo,
pregando, curando, ensinando, derramando a ternura de Deus. Por amor afrontou
os sofrimentos sem muita história e sem muito lero-lero durante as horas da sua
amarga Paixão. Por amor nos fez estes presentes no dia da Quinta-feira Santa: a
Eucaristia, o Sacerdócio e o Mandamento da caridade. E na Sexta-feira Santa
abriu o seu lado e nos ofereceu o perdão, a sua Mãe Santíssima, a fundação da
Igreja e os sacramentos. Por amor, já ressuscitado, envia-nos no dia de Pentecostes
o seu Santo Espírito que nos explicará tudo com paciência e bondade, e nos
santificará. E desde o céu, por amor, Ele será o nosso eterno intercessor e
mediador diante do Pai para que todos nos salvemos. Cristo foi, é e será a
caridade visível do Pai eterno e invisível. Cristo nos marcou a medida da
caridade: como Ele nos amou. Por tanto, sem medida. E não deixou uma opção, mas
um imperativo: “Amai-vos uns aos outros”.
Finalmente,
consideremos a caridade que devemos ter entre nós. Nisto demonstramos que somos
cristãos, seguidores de Cristo. Com a caridade e o amor elevaríamos este mundo.
Com este amor divino, posto no nosso coração, construiríamos famílias
esplêndidas, comunidades unidas. Acabariam as guerras e as fomes e os crimes e
os ódios e as vinganças. E haveria paz, alegria, convivência. Não, este amor do
qual falamos não é o amor que alguns dos namorados cacarejam desde o pau mais
alto do galinheiro das suas ingenuidades. Não é o amor do garotinho que para
conseguir as suas balinhas e chocolates diz para o papai que o ama. Não é o
amor que sussurram às vezes alguns maridos para conseguir as relações íntimas e
sagradas- às vezes sem o verdadeiro amor- com a sua esposa que sim esperava
algo mais do isso. Não é o amor do que dá para receber em troca. Não. O amor
cristão é outra coisa e tem umas características bem precisas enunciadas por
São Paulo na sua primeira carta aos Coríntios no capítulo 13: amor paciente,
prestativo, sem inveja nem aparências, sem orgulho nem baixeza, sem ira e sem
interesse de por meio; amor que tudo perdoa; que não se alegra com o mal do
próximo e sempre desfruta com o triunfo do outro. Amor que tudo aguenta, tudo
espera, tudo suporta.
Para
refletir:
Se for verdade que no
final da vida serei julgado por como vivi a caridade com Deus e com os meus
irmãos, vou desde agora preparando essa prova final? Como é o meu amor com os
irmãos: universal, delicado, paciente, misericordioso? Tenho guetos no meu
coração, isto é, grupos fechados onde não podem entrar outras pessoas? A quem
não alcançou ainda a minha caridade cristã? Por quê?
Para
rezar: Senhor, dilatai o meu coração para que
eu possa amar com as mesmas entranhas com que Vós amais. Senhor, perdoai-me
tanto egoísmo e fechamento de coração. Senhor, dai-me a vossa caridade e isso
me basta.
Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre
Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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