quarta-feira, 1 de abril de 2015

Quinta-feira Santa (Missa vespertina da Ceia do Senhor)

Evangelho (Jo 13,1-15): Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora, hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Foi durante a ceia. O diabo já tinha seduzido Judas Iscariotes para entregar Jesus. Sabendo que o Pai tinha posto tudo em suas mãos e que de junto de Deus saíra e para Deus voltava, Jesus levantou-se da ceia, tirou o manto, pegou uma toalha e amarrou-a à cintura. Derramou água numa bacia, pôs-se a lavar os pés dos discípulos e enxugava-os com a toalha que trazia à cintura.  Chegou assim a Simão Pedro. Este disse: «Senhor, tu vais lavar-me os pés?». Jesus respondeu: «Agora não entendes o que estou fazendo; mais tarde compreenderás». Pedro disse: «Tu não me lavarás os pés nunca!». Mas Jesus respondeu: «Se eu não te lavar, não terás parte comigo». Simão Pedro disse: «Senhor, então lava-me não só os pés, mas também as mãos e a cabeça». Jesus respondeu: «Quem tomou banho não precisa lavar senão os pés, pois está inteiramente limpo. Vós também estais limpos, mas não todos». Ele já sabia quem o iria entregar. Por isso disse: «Não estais todos limpos».  Depois de lavar os pés dos discípulos, Jesus vestiu o manto e voltou ao seu lugar. Disse aos discípulos: «Entendeis o que eu vos fiz? Vós me chamais de Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque sou. Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós».

Textos: Ex 12, 1-8. 11-14; 1 Co 11, 23-26; Jo 13, 1-15

Comentário: Mons. Josep Àngel SAIZ i Meneses Bispo de Terrassa. (Barcelona, Espanha)

Se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros.

Hoje lembramos aquela primeira Quinta-feira Santa da história, na qual Jesus Cristo se reúne com os seus discípulos para celebrar a Páscoa. Então inaugurou a nova Páscoa da nova Aliança, na que se oferece em sacrifício pela salvação de todos.

Na Santa Ceia, ao mesmo tempo que a Eucaristia, Cristo institui o sacerdócio ministerial. Mediante este, poderá se perpetuar o sacramento da Eucaristia. O prefácio da Missa Crismal revela-nos o sentido: «Ele escolhe alguns para fazê-los participes de seu ministério santo; para que renovem o sacrifício da redenção, alimentem a teu povo com a tua Palavra e o reconfortem com os teus sacramentos».

E aquela mesma Quinta-feira, Jesus nos dá o mandamento do amor: «Amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei» (Jo 13,34). Antes, o amor fundamentava-se na recompensa esperada em troca, ou no cumprimento de uma norma imposta. Agora, o amor cristão fundamenta-se em Cristo. Ele nos ama até dar a vida: essa tem que ser a medida do amor do discípulo, e esse tem que ser o sinal, a característica do reconhecimento cristão.

Mas, o homem não tem a capacidade para amar assim. Não é simplesmente o fruto de um esforço, senão dom de Deus. Afortunadamente, Ele é amor e — ao mesmo tempo— fonte de amor que se nos dá no Pão Eucarístico.

Finalmente, hoje contemplamos o lavatório dos pés. Na atitude de servo, Jesus lava os pés dos Apóstolos, e lhes recomenda que o façam uns aos outros (cf. Jo 13,14).

Há algo mais que uma lição de humildade neste gesto do Mestre. É como uma antecipação, como um símbolo da Paixão, da humilhação total que sofrerá para salvar todos os homens.

O teólogo Romano Guardini diz que «a atitude do pequeno que se inclina ante o grande, ainda não é humildade. É, simplesmente, verdade. O grande que se humilha ante o pequeno, é o verdadeiro humilde». Por isto Jesus Cristo é autenticamente humilde. Ante este Cristo humilde, nossos moldes se quebram. Jesus Cristo inverte os valores humanos e convida-nos a seguí-lo para construir um mundo novo e diferente desde o serviço.

Tanto os gestos e ações, como as palavras e os silêncios de Jesus são quase “sacramentos” de Cristo que realizam o que significam e demostram a seriedade e a sublimidade do momento.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Com a missa de hoje damos por concluída a Quaresma e iniciamos o Tríduo Pascal, que abarcará os três dias seguintes: Sexta-feira, Sábado e Domingo. Tradicionalmente na manhã desta Quinta-feira se celebrava a missa de reconciliação dos que durante a Quaresma tinham feito o caminho dos “penitentes”. A missa de hoje recorda a instituição da Eucaristia, a mandamento do amor fraterno e a instituição do ministério sacerdotal.

Em primeiro lugar, os gestos. Primeiro gesto: Jesus se levanta da mesa, tira o manto, pega a toalha, se cinge, põe ague num jarro e lava os pés dos discípulos. Todas as ações são sinal visível de um significado invisível, portador da graça divina aqui e agora para nós. Com esse primeiro gesto, Jesus estava entregando à sua Igreja o mandamento da caridade fraterna e do serviço eclesial; todos somos irmãos e com a mesma dignidade. Segundo gesto da Quinta-feira Santa: o pão e o vinho que Ele consagra, convertendo-os no seu Corpo glorioso e no seu Sangue abençoado para a nossa transformação Nele e alimento para o caminho. Terceiro gesto: impõe as mãos sobre os doze discípulos, fazendo-os seus sacerdotes, continuadores dos seus mistérios de salvação. E eles, a seu tempo, deverão continuar com essa corrente, prolongando o sacerdócio de Cristo por todos os cantos da terra, quem Deus chamou a tão sublime vocação.

Em segundo lugar, as palavras que realizam o que significam, pois são eficazes. Primeira palavra: “Amai-vos uns aos outros, como Eu vos tenho amado”, imperativo que podemos viver com graça de Cristo. Segunda palavra: “Tomai e comei... Tomai e bebei”, imperativo que transformou em realidade o que tinha sido uma figura na Páscoa judaica; Cristo será o Cordeiro de Deus e em cada Eucaristia fazemos presentes a nova ceia pascal inaugurada por Cristo nessa Quinta-feira Santa, pois cada vez que se celebre este rito se recordará a morte do Senhor até o dia da sua vinda. Terceira palavra: “Fazei isto em memoria de mim”; palavra esta que a Igreja sempre meditou e na que fundamentou o sacramento da Ordem Sacerdotal, pelo que um homem de carne e osso é configurado com Cristo Cabeça e Pastor, quem com o seu ministério sacerdotal faz visível Cristo na comunidade.

Finalmente, os silêncios. Quantos silêncios nesta noite santa da Quinta-feira! Silêncio da alma e da sua vontade para não gritar ao Pai diante da Paixão que se avizinhava e que seu Pai quis para nos redimir. Silêncio dos sentimentos que nesses momentos estavam convulsionados diante da traição de Judas, a resistência de Pedro, o abandono do resto dos apóstolos, a prisão e a agonia... Sentimentos para serem controlados, sublimados. Silêncio das suas paixões irascíveis, submetidas todas à força e ao bálsamo do amor. Silêncio dos olhos para ver todos com os olhos misericordiosos do Pai, sem ódio, sem reprimendas; só derramariam lágrimas e manifestavam um véu de tristeza. Silêncio da boca, para só pronunciar essas palavras sacramentais, e guardar as suas palavras de queixas, para crucificá-las na cruz na Sexta-Feira Santa. Silêncio dos pés para não ir procurar consolos humanos, mas se prostrar no chão em oração ao Pai.    

Para refletir: Agradeço todos os dias o dom da Eucaristia, do Sacerdócio e do Mandamento da caridade? Vivo a Eucaristia cada com mais fervor e me compromete a ser eu Eucaristia para os meus irmãos mediante o sacrifício da minha vida? Trato todos os homens e mulheres como irmãos em Cristo e os trato como trataria Cristo? Rezo todos os dias pelos sacerdotes e lhes agradeço pelo serviço insubstituível que realizam para o bem da minha alma?

Para rezar: Senhor, obrigado pelo dom da Eucaristia, que vos comamos e vos assimilemos com a alma limpa. Obrigado, pelo mandamento da caridade fraterna que cura os nossos egoísmos e ambições. Obrigado, por dar-nos sacerdotes segundo o vosso coração; guardai-os na fidelidade a Vós e a vossa Igreja.


Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

Reflexões de  Frei Carlos Mesters, O.Carm

Jesus se apresenta como servidor do povo. Lavando os pés das pessoas deu-lhes a extrema prova do seu amor. Veio para servir e não para ser servido (João 13,1-17). É necessário abrir os olhos para ver Jesus...

* O povo repete até hoje: “Quem não vive para servir, não serve para viver!” Este era também o lema de Jesus. Ele dizia: “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45). Quando os discípulos brigavam pelo primeiro lugar ou quando alguns deles queriam ser mais importantes que os outros, ele chamava a atenção e dizia: “Quem quiser ser o primeiro deve ser o servidor de todos” (Mc 9,35). Não é fácil servir! Judas ia trair Jesus. Mesmo assim, Jesus lavou os pés de Judas. Ele mesmo, quando o povo queria fazer dele um rei, fugiu para a montanha e não quis saber (Jo 6,14). Foi o que São Paulo lembrou quando dizia que Jesus podia gloriar-se do seu título de filho de Deus, mas em vez disso se fez servidor de todos (Fil 2,6-7). Nós temos a festa de Cristo Rei, mas não temos a festa de Cristo servidor. É pena! Vamos refletir sobre isto:

1. Por que é tão difícil servir aos outros? Conta algo da sua experiência.
2. Temos uma festa de Cristo Rei e não temos uma festa de Jesus Servidor. Como entender isso?

* No tempo de Jesus, as autoridades religiosas ensinavam ao povo que o Messias devia ser glorioso e vencedor. Elas não se lembravam da profecia de Isaías que falava de um Messias Servidor (Is 42,1-9). Vamos ouvir um texto em que Jesus se apresenta não como glorioso vencedor mas como o servidor de todos. Durante a leitura, vamos ficar com esta pergunta na cabeça: “Em que consiste exatamente o serviço que Jesus quer prestar ao povo?”

* Subsídio: Jesus, o Servo de Javé.

* Naquele tempo, havia entre os judeus uma grande variedade de expectativas messiânicas. De acordo com as diferentes interpretações das profecias, havia gente que esperava um Messias Rei (Mc 15,9.32), um Messias Santo ou Sumo Sacerdote (Mc 1,24), um Messias Guerrilheiro subversivo (Lc 23,5; Mc 15,6; 13,6-8), um Messias Doutor (Jo 4,25; Mc 1,22.27), um Messias Juiz (Lc 3,5-9; Mc 1,8) ou um Messias Profeta (Mc 6,4; 14,65). Cada um, conforme os seus próprios interesses ou classe social, encaixava o messias nos seus próprios desejos e expectativas. Mas por mais diferentes que fossem aquelas expectativas, todas elas concordavam numa coisa: o messias seria forte, glorioso e vencedor.

* Ao que tudo indica, ninguém se lembrava do Messias Servidor tal como tinha sido anunciado pelo profeta Isaías. Somente os pobres souberam valorizar a esperança messiânica como um serviço do povo de Deus à humanidade. Maria, a pobre de Javé, disse ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor!” Foi de Maria, sua mãe, que Jesus aprendeu o caminho do serviço. Nas três vezes em que ele anunciou sua paixão, morte e ressurreição, Jesus se orientou pela profecia do Servo de Javé, tal como transparece nos quatro cânticos do livro de Isaías, e a aplicou a si mesmo (Mc 8,31; 9,31; 10,33).

* A origem daqueles quatro cânticos do Servo de Javé (Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13 a 53,12) remonta ao grupo dos discípulos e discípulas de Isaías que viviam no cativeiro da Babilônia em torno de 550 antes de Cristo. No livro de Isaías, a figura do Servo de Javé indica não um indivíduo, mas sim o povo do cativeiro (Is 41,8-9; 42,18-20; 43,10; 44,1-2; 44,21; 45,4; 48,20; 54,17), descrito pelo profeta como um povo “oprimido, sofredor, desfigurado, sem aparência de gente e sem um mínimo de condição humana, povo explorado, maltratado e silenciado, sem graça nem beleza, cheio de sofrimento, evitado pelos outros como se fosse um leproso, condenado como um criminoso, sem julgamento nem defesa” (cf. Is 53,2-8). Retrato perfeito de uma grande parte da humanidade, até hoje!

* Deste povo-servo se dizia: “Ele não grita, nem levanta a voz, não solta berros pelas ruas, não quebra a planta machucada, nem apaga o pavio de vela que ainda solta fumaça” (Is 42,2). Ou seja, perseguido, não perseguia; oprimido, não oprimia; machucado, não machucava. Nele o vírus da violência opressora do império da Babilônia não conseguiu penetrar. Pelo contrário, ele promovia o direito e a justiça (Is 42,3.6). Esta atitude resistente do povo-servo é a semente da justiça que Deus quer ver implantada no mundo todo. Por isso, Deus chama esse povo para ser o seu Servo com a missão de irradiar a justiça de Deus e ser a “Luz do Mundo” (Is 42,2.6; 49,6).

* Os quatro cânticos do Servo são uma espécie de cartilha para ajudar o povo oprimido, tanto de ontem como de hoje, a descobrir e assumir sua missão. Jesus conhecia estes cânticos e por eles se orientou. O primeiro cântico (Is 42,1-9) descreve como Deus chama o povo a ser o seu Servo e realizar a justiça no mundo inteiro. O segundo cântico (Is 49,1-6) descreve como foi difícil para aquele povo exilado e marginalizado acreditar na sua vocação de Servo. No terceiro cântico (Is 50,4-9), o Servo conta como ele, apesar do sofrimento, está realizando a sua missão. O quarto cântico (Is 52,13 a 53,12) descreve o futuro deste Servo: fiel a sua missão, ele vai entregar sua vida pelos outros e Deus vai confirmá-lo como seu servo. Morte e ressurreição!

* Jesus percorreu o caminho dos quatro passos do serviço, indicados por Isaías. Na hora do batismo no rio Jordão, o Pai o apresentou como o seu servo e o enviou para a missão (Mc 1,11). Na sinagoga de Nazaré, ao expor seu programa ao povo da sua terra, Jesus assumiu esta missão publicamente (Lc 4,16-21). A partir daquele momento, ele começou a andar pela Galileia para ajudar o povo a descobrir e assumir, junto com ele, a missão de Servo de Deus. No fim da sua vida, durante a última ceia, Jesus lavou os pés dos seus discípulos. Até o fim, perseverou na atitude de Servo de Deus. Eis alguns episódios em que transparece mais forte esta atitude de serviço em Jesus:
* Lava-pés
* Cura dos doentes
* Alimenta o povo faminto
* Conversa com o povo e consola os tristes
* Acolhe os excluídos e dá um lugar para eles
* Ensina o povo as coisas do Reino de Deus
* Defende os pequenos quando são criticados
* Faz o povo participar

* Através desta sua atitude de serviço, Jesus nos revela a face de Deus que nos atrai e nos indica o caminho de volta para a casa do Pai. A sua vida é o melhor comentário dos quatro cânticos de Isaías.

Para um confronto pessoal
1. O que mais chamou a sua atenção no texto ou de que você mais gostou? Por quê?
2. Conforme as palavras do texto, em que consiste exatamente o serviço que Jesus quer prestar ao povo?
3. Como entender a reação de Pedro e a resposta dura de Jesus?
4. O que deve mudar no meu modo de pensar sobre Jesus?

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