quinta-feira, 19 de março de 2015

MÊS DE SÃO JOSÉ - Sexta-feira da 4ª semana da Quaresma

Evangelho (Jo 7,1-2.10.14.25-30): Depois disso, Jesus percorria a Galileia; não queria andar pela Judeia, porque os judeus procuravam matá-lo. Estava próxima a festa dos judeus, chamada das Tendas. Depois que seus irmãos subiram para a festa, Jesus subiu também, não publicamente, mas em segredo. Lá pelo meio da festa, Jesus subiu ao templo e começou a ensinar. Alguns de Jerusalém diziam: «Não é este a quem procuram matar? Olha, ele fala publicamente e ninguém lhe diz nada. Será que os chefes reconheceram que realmente ele é o Cristo? Mas este, nós sabemos de onde é. O Cristo, quando vier, ninguém saberá de onde é». Enquanto, pois, ensinava no templo, Jesus exclamou: «Sim, vós me conheceis, e sabeis de onde eu sou. Ora, eu não vim por conta própria; aquele que me enviou é verdadeiro, mas vós não o conheceis. Eu o conheço, porque venho dele e foi ele quem me enviou!». Eles procuravam, então, prendê-lo, mas ninguém lhe pôs as mãos, porque ainda não tinha chegado a sua hora.

Comentário: Fr. Matthew J. ALBRIGHT (Andover, Ohio, Estados Unidos)

«Ninguém lhe deitou as mãos, porque ainda não era chegada a sua hora»

Hoje, o Evangelho permite-nos contemplar a confusão que surgiu quanto à identidade e missão de Jesus Cristo. Quando nos pomos cara a cara com Jesus, há mal-entendidos e conjecturas acerca de quem Ele é, como se cumprem n’Ele, ou não, as profecias do Antigo Testamento e sobre o que Ele fará. As suposições e os preconceitos conduzem à frustração e à ira. Isto sempre foi assim: a confusão à volta de Cristo e dos ensinamentos da Igreja desperta sempre controvérsia e divisões religiosas. O rebanho se dispersa se as ovelhas não reconhecem o seu pastor!

As pessoas dizem: «Este nós sabemos de onde vem. Do Cristo, porém, quando vier, ninguém saberá de onde seja» (Jo 7,27), e concluem que Jesus não pode ser o Messias porque Ele não corresponde à imagem de “Messias” em que tinham sido instruídos. Por outro lado, sabem que os Príncipes dos Sacerdotes O querem matar, mas ao mesmo tempo veem que Ele se movimenta livremente sem ser preso. De modo que se perguntam se talvez as autoridades «terão reconhecido verdadeiramente que este é o Cristo» (Jo 7,26).

Jesus atalha a confusão identificando-se a si próprio como o enviado por Ele que é “verdadeiro” (cf. Jo 7,28). Cristo tem consciência da situação, tal como João a retrata, e ninguém lhe deita a mão porque ainda não tinha chegado a hora de revelar plenamente a sua identidade e missão. Jesus desafia as expectativas ao mostrar-se, não como um líder conquistador para derrotar a opressão romana, mas como o “Servo Sofredor” de Isaías.

O Papa Francisco escreveu: «A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira dos que se encontram com Jesus». É urgente que ajudemos os outros a irem mais além das suposições e dos preconceitos sobre quem é Jesus e o que é a Igreja, e ao mesmo tempo facilitar-lhes o encontro com Jesus. Quando uma pessoa consegue saber quem é realmente Jesus, então abundam a alegria e a paz.

 Comentário: + Rev. D. Josep VALL i Mundó (Barcelona, Espanha)

Mas ninguém lhe pôs as mãos, porque ainda não tinha chegado a sua hora.

Hoje, o evangelista João diz-nos que a Jesus «não tinha chegado a sua hora» (Jo 7,30). Refere-se à hora da Cruz, no preciso e precioso momento de dar-se pelos pecados de toda a Humanidade. Ainda não tinha chegado a sua hora, mas estava muito próxima. Será na Sexta-feira Santa quando o Senhor levará até ao fim a vontade do pai Celestial e sentirá — como escrevia o Cardeal Wojtyla — todo «o peso daquela hora na qual o servo de Yahvé deverá cumprir a profecia de Isaías, pronunciando o seu “sim”».

Cristo — no seu constante desejo sacerdotal— fala muitíssimas vezes desta hora definitiva e determinante (Mt 26,45; Mc 14,35; Lc 22,53; Jo 7,30; 12,27; 17,1). Toda a vida do Senhor será dominada por uma hora suprema e irá desejá-la com todo o seu coração: «Um batismo eu devo receber, e como estou ansioso até que isto se cumpra!» (Lc 12,50). E «na véspera da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora, a hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim» (Jo 13,1). Naquela sexta-feira, o nosso Redentor entregará o seu espírito nas mãos do Pai, e desde esse momento a sua missão, já cumprida, passará a ser a missão da Igreja e de todos os seus membros, animados pelo Espírito Santo.

A partir da hora de Getsemani, da morte do Senhor na Cruz e da Ressurreição, a vida começada por Jesus «guia toda a História» (Catecismo da Igreja n.1165). A vida, o trabalho, a oração, a entrega de Cristo torna-se presente agora na sua Igreja: é também a hora do Corpo do Senhor; da sua hora advém a nossa hora, a de acompanhá-lo na oração de Getsemani, «sempre despertos — como afirma Pascal — apoiando-o na sua agonia, até ao final dos tempos». É a hora de agir como membros vivos de Cristo. Por isso, «tal como a Páscoa de Jesus, acontecida “uma vez por todas” permanece sempre atual, da mesma forma a oração da Hora de Jesus continua sempre presente na Liturgia da sua Igreja» (Catecismo da Igreja n. 2746).

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* Ao longo dos capítulos 1 a 12 do Evangelho de João, vai acontecendo a progressiva revelação que Jesus faz de si mesmo aos discípulos e ao povo. Ao mesmo tempo e na mesma proporção, vai crescendo o fechamento e a oposição das autoridades contra Jesus a ponto de elas decidirem a condenação e a morte de Jesus (Jo 11,45-54). O capítulo 7, que meditamos no evangelho de hoje, é uma espécie de balanço no meio do caminho. Já faz prever como será o desfecho final.

* João 7,1-2.10: Jesus decide ira à festa dos Tabernáculos em Jerusalém. A geografia da vida de Jesus no evangelho de João é diferente da geografia nos outros três evangelhos. É mais completa. Conforme os outros evangelhos, Jesus foi apenas uma única vez a Jerusalém, aquela em que ele foi preso e morto. Conforme o evangelho de João, Jesus foi no mínimo duas ou três vezes a Jerusalém para a festa de Páscoa. Por isso sabemos que a vida pública de Jesus durou em torno de três anos. O evangelho de hoje informa que Jesus se dirigiu mais uma vez para Jerusalém, mas não publicamente. Foi às ocultas, pois na Judéia os judeus queriam matá-lo.

* Tanto aqui no capítulo 7 como nos outros capítulos, João fala de “judeus”, e de “vocês judeus”, como se ele e Jesus não fossem judeus. Esta maneira de falar reflete a situação da trágica ruptura que ocorreu no fim do primeiro século entre os judeus (Sinagoga) e os cristãos (Ecclesia). Ao longo dos séculos, esta maneira de falar do evangelho de João contribuiu para fazer crescer o antissemitismo. Hoje, é muito importante tomar distância desta polêmica para não alimentar um antissemitismo. Nunca podemos esquecer Jesus é judeu. Nasceu judeu, viveu como judeu e morreu como judeu. Toda a sua formação é da religião e da cultura dos judeus.

* João 7,25-27: Dúvidas dos habitantes de Jerusalém a respeito de Jesus.  Jesus está em Jerusalém e fala publicamente às pessoas que querem ouvi-lo. O povo fica confuso. Sabe que querem matar Jesus e ele anda solto aos olhos de todos. Será que as autoridades reconheceram que ele é o Messias? Mas como é que Jesus pode ser o messias? Todos sabem que ele vem lá de Nazaré, mas do messias, assim se ensinava, ninguém sabe a origem.

* João 7,28-29: Esclarecimento da parte de Jesus.  Jesus fala da sua origem. “Vocês sabem de onde eu sou”. Mas o que o povo não sabe é a vocação e a missão que Jesus recebeu de Deus. Ele não veio por própria vontade, mas como todo profeta veio obedecendo a uma vocação, que é o segredo da vida dele. “Eu não vim por mim mesmo. Quem me enviou é verdadeiro, e vocês não o conhecem. Mas eu o conheço, porque venho de junto dele, e foi ele quem me enviou."

* João 7,30: Ainda não chegara a hora.  Quiseram prender Jesus, mas ninguém pôs a mão nele, “porque ainda não chegara a sua hora”.  No evangelho de João quem determina a hora e o rumo dos acontecimentos não são os que detêm o poder, mas é o próprio Jesus. Ele é que determina a hora (cf. Jo 2,4; 4,23; 8,20; 12.23.27; 13,1; 17,1). Mesmo pendurado na cruz, é Jesus quem determina até a hora de morrer (Jo 19,29-30).

Para um confronto pessoal
1) Como eu vivo o meu relacionamento com os judeus? Descobri alguma vez um pouco de antissemitismo dentro de mim? Consegui elimina-lo?
2) Como no tempo de Jesus, hoje em dia, há muitas ideias e opiniões novas sobre as coisas da fé. Como faço? Eu me agarro às ideias antigas e me fecho nelas, ou procuro entender o porquê das novidades?

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