V Centenário do Nascimento (1515-2015) |
Comentário: Rev. D. Jordi POU i Sabater (Sant Jordi
Desvalls, Girona, Espanha)
Em verdade vos digo:
nenhum sinal será dado a esta geração!
Hoje,
o Evangelho parece que não nos diz muito, nem sobre Jesus nem sobre nós
próprios. «Por que esta geração pede um sinal? » (Mc 8,12). João Paulo II,
comentando este episódio da vida de Jesus Cristo diz-nos: «Jesus convida ao
discernimento relativamente às palavras e às obras que testemunham (são “sinal
de”) a chegada do reino do Pai». Parece que aos Judeus que interrogam Jesus
lhes falta a capacidade ou a vontade de pensar no sinal que — de fato— são toda
a atuação, obras e palavras do Senhor.
Também
hoje em dia se pedem sinais a Jesus: que nos mostre a sua presença no mundo ou
que nos diga como devemos atuar. O Papa faz-nos ver que a negação de Jesus
Cristo em dar um sinal aos judeus —e, portanto, a nós também— se deve a que
quer mudar a lógica do mundo, orientada na procura de signos que confirmem o
desejo de autoafirmação e de poder do homem». Os judeus não queriam um signo
qualquer, mas aquele que indicasse que Jesus era o messias que eles esperavam.
Não esperavam o que viria para os salvar mas aquele que viria dar segurança às
suas visões de como se deveriam fazer as coisas.
Definitivamente,
quando os judeus do tempo de Jesus, como também os cristãos de hoje pedimos —de
uma forma ou de outra— um sinal, o que fazemos é pedir a Deus que atue à nossa
maneira, da forma que julgamos mais correta e, que por isso apoia o nosso modo
de pensar. E Deus, que sabe e pode mais (e por isso pedimos no Pai-Nosso que se
faça a “sua” vontade), tem os seus caminhos, mesmo que não nos seja fácil
compreendê-los. Mas Ele, que se deixa encontrar por todos os que O procuram,
também se lhe pedirmos discernimento, nos fará compreender qual é a sua forma
de atuar e, como podemos distinguir hoje os seus signos.
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
O
Evangelho de hoje traz uma discussão dos fariseus com Jesus. Como Moisés no
Antigo Testamento, Jesus tinha alimentado o povo faminto no deserto, realizando
a multiplicação dos pães (Mc 8,1-10). Sinal de que ele se apresentava ao povo
como um novo Moisés. Mas os fariseus não foram capazes de perceber o
significado da multiplicação dos pães. Eles começam a discutir com Jesus e
pedem um sinal, “vindo do céu”. Não tinham entendido nada de tudo que Jesus
tinha feito. “Jesus suspira profundamente”, provavelmente de desgosto e de
tristeza diante de tão grande cegueira. E ele conclui: “Nenhum sinal será dado
a esta geração!” Deixou-os de lado e foi para a outra banda do lago. Não
adianta mostrar uma pintura bonita a quem não quer abrir os olhos. Quem fecha
os olhos não pode ver!
* O perigo da ideologia
dominante.
Aqui
se percebe claramente como o “fermento de Herodes e dos fariseus” (Mc 8,15), a
ideologia dominante da época, fazia as pessoas perder a capacidade de analisar
com objetividade os acontecimentos. Esse fermento já vinha de longe e tinha
raízes profundas na vida do povo. Chegou a contaminar a mentalidade dos
próprios discípulos e neles se manifestava de muitas maneiras. A formação que
Jesus lhes dava procurava combater e erradicar esse “fermento”. Eis alguns
exemplos desta ajuda fraterna de Jesus aos discípulos.
* 1. Mentalidade de
grupo fechado. Certo
dia, alguém que não era da comunidade, usava o nome de Jesus para expulsar os
demônios. João viu e proibiu: “Impedimos, porque ele não anda conosco” (Mc
9,38). João pensava ser o monopólio sobre Jesus e queria proibir que outros
usassem o nome dele para realizar o bem. Queria uma comunidade fechada sobre si
mesma. Era o fermento de "Povo eleito, Povo separado!". Jesus
responde: "Não impeçam! ... Quem não é contra é a favor!" (Mc
9,39-40).
* 2. Mentalidade de
grupo que se considera superior aos outros. Certa vez, os samaritanos não queriam dar hospedagem a
Jesus. A reação de alguns discípulos foi imediata: “Que um fogo do céu acabe
com esse povo!” (Lc 9,54). Achavam que, pelo fato de estarem com Jesus, todos
deveriam acolhê-los. Pensavam ter Deus do seu lado para defendê-los. Era o
fermento de “Povo eleito, Povo privilegiado!”. Jesus os repreende: "Vocês
não sabem de que espírito estão sendo animados" (Lc 9,55).
* 3. Mentalidade de
competição e de prestígio.
Os discípulos brigavam entre si pelo primeiro lugar (Mc 9,33-34). Era o
fermento de classe e de competição, que caracterizava a religião oficial e a
sociedade do Império Romano. Ela já se infiltrava na pequena comunidade ao
redor de Jesus. Jesus reage e manda ter a mentalidade contrária: "O
primeiro seja o último" (Mc 9, 35).
* 4. Mentalidade de quem
marginaliza o pequeno.
Os discípulos afastavam as crianças. Era o fermento da mentalidade da época,
segundo a qual criança não contava e devia ser disciplinada pelos adultos.
Jesus os repreende:” Deixem vir a mim as crianças!” (Mc 10,14). Ele coloca
criança como professora de adulto: “Quem não receber o Reino como uma criança,
não pode entrar nele” (Lc 18,17).
*
Como no tempo de Jesus, também hoje, a mentalidade neoliberal da ideologia
dominante renasce e reaparece até na vida das comunidades e das famílias. A
leitura orante do Evangelho, feita em comunidade, pode ajudar-nos a mudar em
nós a visão das coisas e a aprofundar em nós a conversão e a fidelidade que
Jesus pede de nós.
Para um confronto
pessoal
1) Diante da alternativa: ter fé em
Jesus ou pedir um sinal do céu, os fariseus queriam um sinal do céu. Não foram
capazes de crer em Jesus. Será que já aconteceu algo assim comigo? Que escolha
eu fiz?
2) O fermento dos fariseus impedia os
discípulos e as discípulas de perceber a presença do Reino em Jesus. Será que
existe algum resto do fermento dos fariseus em mim?
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