V Centenário do Nascimento (1515-2015) |
Comentário: Rev. D. Enric CASES i Martín (Barcelona,
Espanha)
Ela foi e jogou-se a
seus pés. Pedia que ele expulsasse o demônio de sua filha
Hoje
nos mostra a fé de uma mulher que não pertencia ao povo escolhido, mas que
tinha a confiança em que Jesus podia curar a sua filha. Aquela mãe «A mulher
era pagã, nascida na Fenícia da Síria. Ela suplicou a Jesus que expulsasse de
sua filha o demônio» (Mc 7,26). A dor e o amor a levam a pedir com insistência,
sem levar em consideração nem desprezos, nem atrasos, nem indignação. E
consegue o que pede, pois «Ela voltou para casa e encontrou sua filha deitada
na cama, pois o demônio já tinha saído dela» (Mc 7,30).
São
Agostinho dizia que muitos não conseguem o que pedem pois são «aut mali, aut
male, aut mala». Ou são maus e a primeira coisa que teriam que pedir seria ser
bons; ou pedem erroneamente, sem insistência, em vez de pedir com paciência, com
humildade, com fé e por amor; ou pedem coisas ruins que se recebessem fariam
dano à alma ou ao corpo ou aos outros. Devemos nos esforçar, pois, por pedir
bem. A mulher siro-fenícia é boa mãe, pede algo bom («que expulsasse de sua
filha o demônio») e pede bem («veio e jogou-se aos seus a pés»).
O
Senhor nos faz usar perseverantemente a oração de petição. Certamente, existem
outros tipos de pregaria — a adoração, a expiação, a oração de agradecimento —,
mas Jesus insiste em que nós frequentemos muito a oração de petição.
Por
quê? Muitos poderiam ser os motivos: porque necessitamos da ajuda de Deus para
alcançar nosso fim; porque expressa esperança e amor; porque é um clamor de fé.
Mas existe um que talvez seja pouco considerando: Deus quer que as coisas sejam
um pouco como nós queremos. Deste modo, nossa petição —que é um ato livre —
unida à liberdade onipotente de Deus, faz com que o mundo seja como Deus quer e
um pouco como nós queremos. É maravilhoso o poder da oração!
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm
*
No Evangelho de hoje, veremos como Jesus atende a uma mulher estrangeira de
outra raça e de outra religião, o que era proibido pela lei religiosa daquela
época. Inicialmente, Jesus não queria atendê-la, mas a mulher insistiu e
conseguiu o que ela queria: a cura da filha.
*
Jesus vai tentando abrir a mentalidade dos discípulos e do povo para além da
visão tradicional. Na multiplicação dos pães, ele tinha insistido na partilha
(Mc 6,30-44). Na discussão sobre o puro e o impuro, tinha declarado puros todos
os alimentos (Mc 7,1-23). Agora, neste episódio da Mulher Cananéia, ele
ultrapassa as fronteiras do território nacional e acolhe uma mulher estrangeira
que não era do povo e com a qual era proibido conversar. Estas iniciativas de
Jesus, nascidas da sua experiência de Deus como Pai, eram estranhas para a
mentalidade do povo da época. Jesus ajuda o povo a abrir sua maneira de
experimentar Deus na vida.
* Marcos 7.24: Jesus
sai do território
No
evangelho de ontem (Mc 7,14-23) e de anteontem (Mc 7,1-13), Jesus tinha
criticado a incoerência da “Tradição dos Antigos” e tinha ajudado o povo e os
discípulos a sair da prisão das leis da pureza. Aqui, em Mc 7,24, ele sai da Galileia.
Parece querer sair da prisão do território e da raça. Estando no estrangeiro,
ele não quer ser conhecido. Mas a sua fama já tinha chegado antes. O povo ficou
sabendo e faz apelo a Jesus.
* Marcos 7.25-26: A
situação
Uma
mulher chega perto e começa a pedir pela filha doente. Marcos diz
explicitamente que ela era de outra raça e de outra religião. Isto é, era uma
pagã. Ela se lança aos pés de Jesus e começa a suplicar pela cura da filha que
estava possuída por um espírito impuro. Os pagãos não tinham problema em
recorrer a Jesus. Os judeus é que tinham problemas em conviver com os pagãos!
* Marcos 7.27: A
resposta de Jesus
Fiel
às normas da sua religião, Jesus diz que não convém tirar o pão dos filhos e
dar aos cachorrinhos. Frase dura. A comparação vinha da vida em família. Até
hoje, criança e cachorro é o que mais tem nos bairros pobres. Jesus afirma uma
coisa certa: nenhuma mãe tira o pão da boca dos filhos para dar aos
cachorrinhos. No caso, os filhos eram o povo judeu e os cachorrinhos, os
pagãos. Na época do AT, por causa da rivalidade entre os povos, um povo
costumava chamar o outro povo de “cachorro” (1Sam 17,43). Nos outros evangelhos
Jesus explica o porque da sua recusa: “Não fui enviado a não ser para as
ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15,24). Ou seja: “O Pai não quer que eu
atenda à senhora!”
* Marcos 7,28: A
reação da mulher
Ela
concorda com Jesus, mas amplia a comparação e a aplica ao caso dela: “É
verdade, Jesus! Mas também os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa
das crianças!” É como se dissesse: “Se sou cachorrinho, então tenho o direito
dos cachorrinhos, a saber, as migalhas me pertencem!” Ela simplesmente tirou as
conclusões da parábola que Jesus contou e mostrou que, até na casa de Jesus, os
cachorrinhos comiam das migalhas que caíam da mesa das crianças. E na “casa de
Jesus”, isto é, na comunidade cristã, a multiplicação do pão para os filhos foi
tão abundante que estavam sobrando doze cestos (Mc 6,42) para os
“cachorrinhos”, isto é, para ela, para os pagãos!
* Marcos 7,29-30: A
reação de Jesus:
“Pelo
que disseste: Vai! O demônio saiu da tua filha!” Nos outros evangelhos se
explicita: “Grande é a tua fé! Seja feito como queres!” (Mt 15,28). Se Jesus
atende ao pedido da mulher, é porque compreendeu que, agora, o Pai queria que
ele acolhesse o pedido dela. Este episódio ajuda a perceber algo do mistério
que envolvia a pessoa de Jesus e como ele convivia com o Pai. Era observando as
reações e as atitudes das pessoas, que Jesus descobria a vontade do Pai nos
acontecimentos da vida,. A atitude da mulher abriu um novo horizonte na vida de
Jesus. Através dela, ele descobriu melhor que o projeto do Pai é para todos os
que buscam a vida e procuram libertá-la das cadeias que aprisionam a sua
energia. Assim, ao longo das páginas do evangelho de Marcos há uma abertura
crescente em direção aos outros povos. Deste modo, Marcos leva os leitores e as
leitoras a abrir-se, aos poucos, para a realidade do mundo ao redor e a superar
os preconceitos que impediam a convivência pacífica entre os povos. Esta
abertura para os pagãos aparece de maneira muito clara na ordem final dada por
Jesus aos discípulos, depois da sua ressurreição: ”Ide por todo o mundo,
proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).
Para um confronto
pessoal
1. Como você faz, concretamente, para
conviver em paz com pessoas de outras igrejas cristãs ou com espíritas? No
bairro onde você vive tem gente de outras religiões? Quais? Você conversa
normalmente com pessoas de outra religião?
2. Qual a abertura que este texto pede
de nós, hoje, na família e na comunidade?
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