UNIDADE DE VIDA.
O problema formativo e vital mais grave de um
cristão comprometido é, possivelmente, como integrar em harmoniosa unidade a
ação e a oração, o compromisso e o culto a Deus, a luta e a contemplação.
Em Teresa não há esta contradição, nem oposição e
nem sequer primazia de uma e subordinação de outra. Não há outro dilema do que
amar ou não amar. Nem outra primazia do que a do amor. Só o amor tem valor
absoluto. Só o amor conta. “Só o amor dá valor a todas as coisas e, que seja
tão grande que nenhuma lhe estorve a amar, é o mais necessário” Quando se põe a
salvo o amor, qualquer forma em que se expresse — oração ou apostolado —
adquire o valor pleno da expressão de fé.
Teresa não procede nestes casos por oposição
exclusivista (ação ou contemplação) mas por integração amorosa (oração e ação).
Um mesmo amor, estas duas expressões complementares, cada uma das quais matiza
e põe em relevo um aspecto da vocação cristã ao amor.
A oração e a ação são imanentes um ao outro: um
apóstolo é orante ou deixa de ser apóstolo
A ORAÇÃO FORJA APÓSTOLOS:
A oração descobre-nos o homem como destinatário de
tudo o que Deus nos deu.
O homem só aparece como próximo, como irmão, no
coração de Deus. “Não chegaremos a ter com perfeição o amor do próximo, se não nascer da
raiz do amor de Deus.”
Teresa acredita que é possível assegurar o “ser de
Deus” para que o “ser para o homem” adquira todo o seu realismo, toda a sua radical
idade.
A identificação do “ser de Deus” é a única maneira
de identificar cristãmente o “ser para o homem”, dando-lhe conteúdo.
A oração é para servir. “Ande a verdade em vossos
corações pela oração ... e vereis claramente o amor que somos obrigadas a ter
ao próximo”
A oração capacita e fortalece para o serviço. “Não
para gozar, mas sim para ter essas forças para servir, desejemos e ocupemo-nos
da oração” Quanto mais adiante estão na oração, mais acodem às necessidades do
próximo”.
A oração mete a alma no tormento pelos outros: “Não
há presente maior que Deus possa dar-nos do que uma vida que seja imitando a
que viveu seu Filho”.
Entrar em Deus é fazer a descoberta de seu amor
pelo homem. Por isso, amá-lo é converter-se ao homem.
A oração é força de e para o serviço. O serviço é a
medida da oração, é o que a autentica e o que a expressa. — “Não
pode haver descanso para os que chegam ao cume do processo de oração”
A comunhão com Deus é comunhão com o Deus que ama
os homens, é comunhão de serviço, solidariedade no compromisso.
O que conta para Teresa no apostolado não são as
obras, mas a qualidade do testemunho.
A ORAÇÃO É APOSTÓLICA:
Palavra mais apropriadamente teresiana: a oração em
si mesma é um serviço apostólico. - “Todas ocupadas em oração pelos defensores
da Igreja e pregadores que a defendem”
A oração de Teresa e de suas freiras sempre foi fundada
num grande cuidado pelo aumento da fé católica. Teresa não vai à oração para se
santificar, para se tomar melhor, mas para que os outros aproveitem, para
servir e fazer algo pelo próximo. — “A vossa oração há de ser para o proveito
das almas”.
Na oração é apóstola. E testemunha. A oração é uma
alma apostólica, força posta ao serviço da unidade e da vitalização da Igreja.
Nada prova tanto a verdadeira oração como a sede de
almas que comporta. E a prova de sua autenticidade.
O APOSTOLADO É EXPRESSÃO DE AMOR:
Como não se improvisa amor e compromisso de serviço,
também não se improvisa o apóstolo.
O apóstolo forma-se em longas horas de intimidade
com o Mestre. Ele não transmite uma doutrina, comunica uma Vida; não anuncia
verdades, mas proclama a Verdade de uma pessoa. O apóstolo fala do que viu e
ouviu.
O apóstolo tem que ir se fazendo, aprofundando na
própria experiência de Deus, sem se deixar enganar pelo serviço apostólico — “Pois
o que mais havemos de procurar ao princípio é de cuidar só da nossa própria
alma fazendo de conta que não há na terra sendo Deus e ela”. — Não é
egoísmo, é prudência.
“Quem quiser
fazer algum bem, precisa ter as virtudes muito fortes”. —
explicar-se-ia a nossa escassa eficiência apostólica e por-se-ia o problema
pastoral, não tanto como questão de programas e métodos, de escassez de
operários, mas como questão de qualidade, de profundidade no apóstolo enviado.
As pressas para fazer apostolado são tentações para
abortar o apóstolo de amanhã.
“As obras de
Deus não se medem pelo tempo” — não são as obras e o tempo que fazem o apóstolo,
que medem a estatura apostólica de uma pessoa, mas a raiz donde saem, a
qualidade do seu amor. Teresa converte, por isso a pressa de fazer em pressa de
ser.
APOSTOLADO E CRESCIMENTO ESPIRITUAL:
Deus Não está sujeito aos caminhos que o homem traça
para chegar a Ele. E Ele quem abre os caminhos. “Não precisa a alma de procurar
os caminhos nem de os escolher ... Vós, Senhor meu, tomais esse cuidado de a
guiar por onde mais lhe aproveita”.
Não é falta de tempo para orar que impede o
adiantamento espiritual, mas a falta de amor.
Não é o excesso de apostolado que atenta contra a
vida do Espírito, mas o excesso de egoísmo, que tanto pode se dar na oração
como nos compromissos apostólicos.
“Para
alcançar a verdadeira união ... fazer que a minha vontade seja uma com a de
Deus”
“O
verdadeiro amante em toda parte ama e sempre se lembra do Amada Triste coisa
seria que só pelos cantos se pudesse fazer oração”.
A oração é o exercício do amor. Se se assegura o
amor, há oração, com ou sem solidão.
O trabalho pode encurtar o tempo da oração, mas não
a própria oração, a sua intensidade penetrante, e por isso mesmo, transformante
e renovadora. — “O que aproveita à alma não é o largo tempo de oração. Não é o tempo, “mas o amor que dá valor às
coisas”.
Porém, o que deveras trabalha na obra de Deus
experimenta sempre dentro de si a necessidade do encontro com o Amado a sós.
UNIDADE DE VIDA:
O apostolado começa quando a oração é, mais do que
um tempo, uma vida. E a oração atinge realmente Deus quando faz estremecer o
homem com as exigências do compromisso e do serviço, de ação em favor do
próximo — “crede-me que Marta e Maria hão de andar sempre juntas”.
Para Teresa, o tipo puro de cristão não é o
contemplativo ou o apóstolo, mas o resultado de união existencial de oração e
compromisso.
A unidade de vida significa que o homem, seja qual
for o tão que realize, está todo ele presente, desde dentro, a Deus e aos
homens, em unidade de amor. Estar presente de verdade diante de Deus e com Deus
e diante dos homens e com os homens simultaneamente.
“Na atividade
... opera o interior”
“Só o amor é que dá valor a todas as nossas obras” — é ele quem realiza e dá valor e unidade à nossa vida.
“Só o amor é que dá valor a todas as nossas obras” — é ele quem realiza e dá valor e unidade à nossa vida.
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