INTRODUÇÃO
ÀS OBRAS MAIORES
CAPÍTULO
3
INTRODUÇÃO
AO CASTELO INTERIOR
Frei Jesus Castellano Cervera, OCD
O
Castelo Interior (CI) ou Livro das Moradas / Mansões (M) é talvez
a obra prima doutrinal e mística de Santa Teresa. Constitui com Vida e Caminho
a trilogia das obras maiores. Supõe o livro da Vida com base da
experiência e o Caminho como tratação de alguns aspectos da vida ascética
e da pedagogia da oração.
Pode
caracterizar-se logo como 1) um tratado de teologia mística, 2) um livro de
teologia espiritual, 3) um desenvolvimento original da antropologia teológica.
1) Como livro de teologia mística
propõe a visão do mistério da vida cristã e dos seus dinamismos, partindo
de uma rica experiência mística da vocação cristã, com todos os seus componentes:
graça, pecado, presença, mediação de Cristo, cume da vida trinitária do cristão...
Todavia esta experiência é passada pelo discernimento da verdade objetiva, especialmente
da Bíblia, e da vida concreta, em especial dos efeitos de transformação da pessoa.
Neste sentido o Castelo Interior é um livro de testemunho da experiência
mística teresiana, mas também uma primeira elaboração de um tratado de mística
como proposta universalmente válida, quer no que diz respeito aos fenômenos
místicos, quer no que se refere à essência da mística, isto é a experiência do
mistério cristão.
2) Como livro de teologia espiritual,
deve ter-se presente que a santa chamou-o no início de “tratado”; e
apresenta-se como um modo de fazer teologia dinâmica da experiência espiritual e
da vida de graça. Neste tratado coloca o acento sobre os protagonistas: Deus,
Cristo, a pessoa humana; privilegia como base de desenvolvimento a vida de
oração ou relacionamento vital e amigável com Deus em sentido personalista,
mesmo que não seja somente um tratado de oração; indica a progressividade ou
dinamismo deste caminho cristão com etapas sucessivas, os empenhos de vida
cristã, as exigências de Deus e a progressiva e efetiva transformação da
pessoa. Neste sentido é talvez um dos primeiros tratados articulados de teologia
espiritual. De fato, partindo da própria experiência, propõe-se um esquema ou paradigma
da vida espiritual cristã em dinamismo de crescimento, até alcançar o cume da santidade
na Igreja. O ponto de partida é o limite: o pecado; e o cume da santidade a transformação
perfeita da vida em Cristo, a comunhão trinitária e o pleno serviço apostólico
à Igreja.
3) É também um livro de antropologia teológica.
No centro de todo o livro do Castelo Interior encontramos a pessoa humana com
sua vocação e o seu destino, as suas possibilidades concretas de realização em
Cristo. Trata-se de uma verdadeira antropologia em quanto o livro se abre com a
visão da vocação do homem na dupla realidade da sua destinação divina e da sua
situação existencial de pecado. E de antropologia teológica se trata, enquanto se
abre a realização da vida em Cristo e no Espírito através dos dinamismos da
oração e da ascese, da união com Deus e das virtudes teologais e morais, e
alcança os altos píncaros da santidade. A pessoa é descrita numa efetiva e
progressiva transformação até atingir a imagem do homem novo em Cristo, com uma
poderosa interioridade e uma grande capacidade de serviço eclesial.
Para
entrar na compreensão do livro, e a modo de introdução geral, veremos de modo sistemático
e ordenado a gênese do livro, a sua estrutura teológica, a sua composição simbólica,
a sua inspiração bíblica.
I. GÊNESE E HISTÓRIA DA OBRA
1. Fruto de plenitude de vida
O
Castelo interior é fruto maduro da plenitude de vida espiritual da
Santa. Foi escrito em 1577, entre Toledo e Ávila. Tinham-se já passados 15 anos
da primeira redação do livro da Vida,
composta ela também em Toledo; e passados 12 anos da redação definitiva,
realizada em Ávila.
Há
cinco anos, desde novembro de 1572, Teresa vive na plenitude da vida cristã com
a graça do matrimônio espiritual e intensas graças trinitárias e cristológicas,
documentadas nas Relações. Nesse tempo foi extremamente afortunada ao
ter consigo, como mestre, São João da Cruz para compreender melhor as coisas do
espírito. Encontra-se, portanto, neste estado, o matrimônio espiritual, quando
escreve o livro. Passar-se ainda outros cinco anos antes que seja consumada a
aventura espiritual de Teresa com a sua morte em Alba de Tormes. Mas, em todo o
caso, as páginas seguras e límpidas das sétimas moradas documentam em que
estado vive e como continuará vivendo até a sua morte.
Esta
anotação é importante não só para a visão que oferece da vida cristã desde as primeiras
moradas, mas também para o linear e lúcido testemunho que oferece dos píncaros da
vida cristã nas sétimas moradas, como estupendo realismo evangélico, joanino e
paulino, do viver em plenitude a comunhão trinitária e o serviço apostólico,
como se documenta pelas cartas e pelo livro das Fundações.
2. Aventura redacional
O
projeto do livro nasce, portanto em Toledo na primavera de 1577. A Santa já
tinha manifestado o desejo de completar livro da Vida que estava com a
Inquisição. Tinha solicitado uma cópia ao Bispo de Ávila, como declara numa
carta a seu irmão Lourenço (117/01/1577).
Os
esforços foram inúteis. Na realidade Teresa teme pela perda do livro. No final
do mês de maio, Frei Jerônimo Graciano pede a Teresa que complete o livro ou
escreva outro. Nasce assim o novo projeto. Eis o seu testemunho: “No que diz
respeito ao livro das Moradas, posso revelar-vos os bastidores. Ao ser
superior, certa vez encontrava-me em Toledo e estava discutindo com ela
diversos problemas espirituais que a preocupavam, e ela veio fora me dizendo: “Oh
como é descrito bem este ponto no livro da minha vida que está com a
Inquisição”. Eu então lhe disse: “Como não podemos dispor dele, procure chamar
à memória quanto for capaz de se lembrar, quem sabe com outras coisas ainda, e
escreva outro livro expondo os conteúdos doutrinais de forma genérica, sem
sequer nomear a pessoa que experimentou os fenômenos nele narrados”. Assim
ordenei-lhe que escrevesse o presente livro das moradas, sugerindo-lhe para
melhor convencê-la de tratar o assunto com o Dr Velázquez que de vez em quando
a confessa. E ela considerou isso uma ordem” (Escólias ao livro Vida de
Santa Teresa, composto pelo Pe Ribera, pág 365; texto semelhante em Dilucidario
del verdadero espíritu, em BMC 15, pág. 16).
Teresa
rende-se à ordem de Graciano e inicia a redação no dia 2 de junho de 1577. O estado
de ânimo com que inicia a redação acha-se muito bem expresso no prólogo do
próprio livro. Na realidade o projeto de Graciano, de que fala a santa no nº 4
do Prólogo, é amplamente superado no conteúdo e nas destinatárias. Não se trata
de um simples livro de avisos sobre a oração, mas de um esplêndido trato de
teologia mística. Não vale somente para as monjas às quais se dirige, mas
possui uma ampla perspectiva universal.
A
redação do livro é feita em circunstâncias difíceis e penosas, entre viagens e transferências.
Começa no dia 2 de junho festa da Santíssima Trindade e escreve durante os meses
de junho e julho até o capítulo 1 das quartas moradas. Muda-se para Ávila,
passando por Segóvia e Madri e no mês de julho escreve os capítulos 2 e 3 das
IV Moradas e os capítulos 1-3 das V Moradas. No mês de novembro, desta vez em
Ávila, e após uma interrupção de aproximadamente cinco meses, a partir do
capítulo 4 das V moradas, escreve com segurança até acabar o livro. Com
alegria, como se pode constatar pela leitura do Epílogo concluía o tratado em
29 de novembro de 1577, vigília da festa de Santo André, apóstolo.
Terminada
a tarefa, Teresa não esconde a própria satisfação pela obra acabada, como se evidencia
pela carta que escreve ao jesuíta Gaspar de Salazar no dia 7 de dezembro
seguinte. A autora diz que se trata de uma joia que sobrepuja a outra (o livro
da Vida) “porque os esmaltes são mais delicados e os lavores, porque o ourives
que lavrou a prata não sabia tanto naquele tempo; agora o ouro é de mais altos
quilates, embora não estejam tão à vista as pedrarias nesta segunda joia como
na primeira. Foi feita por ordem do Lapidário; e bem mostra que assim foi, aos
que dizem”. Mas também neste momento a autora sabia muito mais de quando escreveu
a sua autobiografia. “Não se trata de coisa, mas do que Ele é...” Trata-se de
um livro que traz consigo a revelação da pessoa e da obra do próprio Deus.
Terminada
a redação, a autora divide o livro em capítulos e moradas. Acrescenta por
último o título dos capítulos, e em outra folha, colocada no começo escreve o
título do livro: “Este tratado chamado Castelo Interior escreveu Teresa de
Jesus, monja de nossa Senhora do Carmo, para as sua irmãs e filhas as monjas
carmelitas descalças”.
Muitas
são as coisas narradas a respeito da composição carismática do livro. Algumas monjas
dizem que teria redigido o livro envolta em luz, com grande rapidez. Alguma vez
foi até surpreendida escrevendo em êxtase, ou enquanto as páginas eram escritas
sozinhas...
Podemos
desconfiar de alguns testemunhos barrocos. A verdade é que Teresa escreve a
partir da sua experiência, não sem certa fluidez e certa graça para saber
comunicar as difíceis realidades do Espírito.
Essa
fluidez redacional manifesta-se no recurso a textos escriturísticos e à
simbologia. Todavia Teresa está ciente e invoca o Espírito Santo e a luz do
alto especialmente no início da tratação que corresponde às IV, V, VI e VII Moradas,
consciente de escrever sobre realidades sobrenaturais.
3. Peripécias do autógrafo e primeiras reações
Em
1580, na cidade de Segóvia e estando presente a santa, o livro passa por um
longo e cuidadoso exame realizado pelo Frei Graciano e pelo dominicano frei
Diego de Yanguas. Assim descreve o fato frei Graciano: “Eu e o padre frei Diego
de Yanguas lemos este livro na presença dela. Eu fazia muitas observações e
pondo em luz muitas coisas destoantes; o padre frei Diego respondendo de tal
modo para justificá-las, e ela dizendo que as eliminássemos. Assim tiramos algumas,
não porque fossem doutrinalmente aberrantes, mas porque as considerávamos elevadas
e difíceis de compreender. Eu de fato pelo afeto ciumento que lhe tinha, procurava
que não existisse nos seus escritos algo que pudesse servir de tropeço para
alguém” (Escólias, pág. 365). Foi assim que o autógrafo passou pela censura e
as correções do frei Graciano.
Em
1582, poucos meses antes da morte da Santa o autógrafo achava-se em Sevilha. A priora,
Maria de São José, lê no parlatório ao Pe Rodrigo Alvarez algumas partes das
sétimas moradas. O ilustre jesuíta coloca no final do autógrafo um parecer
favorável sobre o conteúdo do livro. Nele se faz alusão aos escritos de Santa
Gertrudes, de Santa Catarina de Sena e de Santa Brígida.
O
livro talvez tenha sido lido por São João da Cruz que faz alusão no Cântico
B 13,7 à doutrina espiritual da Santa. Leitor entusiasta e crítico de
Graciano é o primeiro biógrafo da Santa, o jesuíta Francisco de Ribera, que não
esconde a sua decepção pelas correções feitas pelo Graciano no autógrafo e escreve
por sua vez uma apologia sobre o modo de escrever de Teresa, corrigindo o
corretor e lamentando-se por alguém ter ousado por a mão no precioso autógrafo
da Santa.
Frei
Luís de León publica pela primeira vez em 1588 o Castelo interior entre as
Obras Completas da Santa na edição príncipe de Salamanca, provavelmente não
tendo em mão o autógrafo, mas seguindo alguma cópia. A partir desta data
sucedem-se edições novas e traduções em diversas línguas até nossos dias.
Apenas
publicado o livro, a doutrina da Santa sobre a oração e a mística sofre algumas
reações e acusações por teólogos dominicanos e agostinianos no tribunal da
Inquisição.
Tempestade
que na realidade dura bem pouco. O livro impõe-se por si mesmo e entra na história
da espiritualidade cristã como um dos tratados mais bonitos e lúcidos sobre a
vida mística, ponto de referimento para o estudo do desenvolvimento da vida
cristã e sobre a fenomenologia mística, até os nossos dias.
A
partir de 1617 o autógrafo conserva-se no mosteiro das Carmelitas descalças de
Sevilha, levado pela filha de Pedro de Cerezo.
Em
1882 o cardeal Arcebispo de Sevilha Joaquim Maria Lluch i Garriga, O.Carm.
publicou a primeira edição fac-símile do autógrafo. Em 1962 o autógrafo foi
restaurado com técnicas de vanguarda em Roma no Instituto di Patologia del
libro “Filippo Gallo”. Em 1990 o Frei Tomas Álvares e Antônio Mas fazem uma
nova e valiosa edição fac-símile da obra prima teresiana. O livro apresenta-se
com boa introdução histórica e literária que ajuda a conhecer a aventura do livro.
II. A ESTRUTURA TEOLÓGICA DO CASTELO INTERIOR
Pode
parecer deformante diante do objetivo da compreensão da mensagem do Castelo Interior
deter-se numa primeira leitura do símbolo do Castelo com o conjunto das suas complicadas
estruturas, como aprecem em algumas páginas iniciais do livro: os muros, o fossado,
os animais vários, os habitantes... Na realidade é somente uma primeira
impressão.
Os
protagonistas essenciais são Deus e a pessoa humana e o dinamismo é uma
progressiva transformação do cristão através da oração e a união com Deus. Por
isso parece justo oferecer uma primeira visão da estrutura teológica do livro.
1. Algumas convicções de base
Teresa
escreveu este tratado original da vida cristã partindo da própria experiência e
ao mesmo tempo universalizando a sua mensagem: indica, portanto o estilo e as
exigências de Deus e as possíveis respostas da pessoa humana. Mas o itinerário
por ela traçado não se encerra num esquema rígido e uniforme. Neste itinerário
cada um pode e deve realizar a própria aventura pessoal de santidade.
É
por isso que o CI não oferece simples narrações testemunhais como no livro da
Vida, mas procura fazer referimento à Escritura, à doutrina dos teólogos,
desenvolvendo uma série de convicções fortes de base que ela amadureceu através
de sua experiência. Convicções que se podem reduzir a estas:
a) Deve partir-se da pessoa humana
concreta, com a sua dignidade e vocação à graça, e com a sua realidade de
pecado e fragilidade. Graça e pecado são ponto se partida de um itinerário
concreto rumo à total superação da fragilidade do pecado na santidade.
b) Partindo da própria experiência,
Teresa vê a graça como a presença e a comunicação mesma de Deus. Ela é
uma força dinâmica que tende a desenvolver-se até a transformação do ser e do
agir humano, através das progressivas respostas de amor e de vida.
c) Deste modo na vida cristã cada um
pode viver uma “micro-história da salvação”. As personagens bíblicas que pouco
a pouco aparecem nas diversas moradas ajudam a colher este sentido profundo de
dinamismo e de progressiva transformação.
2. Os protagonistas do encontro
O
itinerário do CI desenvolve-se numa relação triádica: Deus, a pessoa humana, os
outros. Uma relação sempre viva e que se torna pouco a pouco mais intensa e
equilibrada.
a) A
pessoa humana.
O CI abre-se com
uma visão existencial da pessoa humana aberta ao sobrenatural, tragicamente
marcada pelo pecado. Com estas duas características:
-
é criatura humana, e, portanto essencialmente dependente de Deus e em relação
com Ele. De Deus recebe o ser e a vocação à comunhão perfeita com Ele; tem a
sua marca, porque criada à sua imagem e semelhança;
-
esta pessoa tem uma alma, é um ser espiritual, embora encarnado, e possui uma dimensão
de interioridade, que é aparte mais nobre do seu ser. Na sua interioridade e consciência
cumpre as suas escolhas; na sua interioridade mora Deus.
As
duas dimensões comportam a possibilidade de uma relação, de uma comunhão de
vida, partindo da própria interioridade que é também o lugar do encontro entre
Deus e o homem.
A
pessoa humana deve entrar em si mesma: reconhecer a sua dignidade e tomar consciência
das próprias possibilidades de realização. A sua interioridade, cercada pelo
corpo e em relação com as outras criaturas, condiciona o seu ser e o seu agir.
No início esta relação parece falseada e negativa; a pessoa depende das
criaturas. Progressivamente a relação torna-se harmônica; o corpo, os sentidos,
as potências, de iniciais inimigos tornam-se aliados a serviço de Deus.
O
caminho progressivo realizado através da oração indicia na pessoa a consciência
da própria interioridade e liberdade, o lugar onde a pessoa reconhece a sua
verdade, percebe o seu relacionamento com Deus e a ele responde. Através da
oração a pessoa humana toma consciência da sua existência conflitiva, mas
também das contínuas ofertas de salvação e de graça que vêm de Deus até a
transformação da pessoa numa criatura nova.
b) Deus
revelado e doado em Cristo e no espírito. Deus no livro do CI é um protagonista que tudo
preenche e tudo envolve. A sua presença e ação dá sentido a todo o itinerário.
Mora bem no centro do castelo, mas no começo apenas se percebe a sua presença.
Para saber quem é este Deus e onde mora faz-se mister alcançar nas sétimas
moradas a câmara real onde se manifesta e se comunica o Deus que é Trindade.
Deus
ademais é protagonista indiscutível de todo o processo. No início é um Deus que
ansiosamente se procura; em seguida um Deus que vem ao encontro e se revela até
o dom total da comunhão trinitária. Ele com sua graça e contínuos apelos,
provas, dons abre caminho na pessoa, na sua psicologia e intensifica sempre
mais a sua comunicação. No início é presença tênue; mais tarde com as provas
das 3M e a comunicação inicial da graça nas 4M a sua presença interiorizante
torna-se mais explícita até alcançar os graus da união das 5M e a progressiva
plenitude que culmina na comunhão com a Trindade na 7M. Experimenta-se no CI o
processo paradoxal que Teresa expressou numa poesia após ter escutado as
palavras do Senhor:
Procura-me
em ti: é a inicial
procura de Deus nas primeiras moradas
Procura-te
em mim: e a
consciência de viver já em Deus e se de encontrar-se nele.
No
cume da vida mística Deus revela-se como Ele é: o Deus em comunhão, o Deus trindade,
Pai, Filho e Espírito Santo.
A
figura de Cristo aparece bem caracterizada nas progressivas moradas, de modo
que se pode realizar uma leitura cristológica do itinerário das Moradas: ele é
mediador, modelo, mestre, esposo, vida...
A
presença do Espírito Santo, parece menos evidente apesar de existir uma
pneumatologia implícita e age e se revela nos símbolos e nas delicadas
operações de transformação da pessoa (símbolo da água, do fogo, do selo...).
c) Os
outros. O
processo espiritual não se encerra na relação pessoa humana / Deus. Abre-se à
relação de caridade-serviço para com os outros, o próximo, a Igreja. A
espiritualidade teresiana tem sempre como consequência uma fina sensibilidade
apostólica. O crescimento da vida cristã mede-se no amor do próximo. É verdade
que os outros, as criaturas, em sentido negativo podem condicionar-nos e
tornar-nos escravos; mas é também verdade o contrário; no outro posso ver desde
o início aquele que como eu é imagem e semelhança de Deus, morada do Senhor,
uma pessoa chamada à comunhão com Ele.
Quanto
mais se avança, se penetra no CI tanto mais se torna evidente o crescimento no amor
dos irmãos, como já se pode ver nas 1M 2,17 (a lei da caridade), com mais
intensidade nas 5M 3 (o amor do próximo), e como momento culminante nas 7M 3.4
(o serviço e as obras como critério de discernimento da autêntica
espiritualidade).
3.
O conceito de morada
O
conceito de morada é ligado diretamente ao símbolo fundamental do Castelo com
muitas salas ou mansões. As sete progressivas moradas indicam logicamente sete
progressivos movimentos ou estados da vida espiritual do cristão,
caracterizados pelo relacionamento dom Deus e pela perfeição cristã,
especialmente através da oração e a união com Deus.
a. A
Oração é a forma concreta para realizar o
relacionamento com Deus. Trata-se da oração no sentido global teresiano:
comunhão e amizade com Deus, pessoal, teologal, dinâmica e transformante. A
amizade divina simplifica-se e intensifica-se à medida que se procede no CI. No
início é uma forma muito primitiva de relacionamento com o Senhor (apenas o
grito informe da oração vocal); depois passa a ser meditação, recolhimento nas
2 e 3M; sucessivamente é quietude, oração de união nas 4 e 5 M. Finalmente
temos as formas passivas de oração (visões, locuções, êxtases...), até a
comunicação total no silêncio no seio da Trindade. Teresa supõe aqui toda a
doutrina sobre a oração exposta em Vida e Caminho, mas articula
melhor as orações passivas a partir das 4 e 5 M.
A
cada uma das mansões ou graus de perfeição corresponde um tipo de oração. Pode
dizer-se que a porta do Castelo é a oração (1M1,7), mas também a porta que abre
cada uma das moradas.
b. A
união. Mais do
que o momento teológico-psicológico da oração, a união significa o modo estável
de relacionar-se com Deus na vida concreta, como nasce se desenvolve
progressivamente, através das graças e das respostas. Deus muda
progressivamente o ser e o agir pessoal; a pessoa torna-se mais dócil à ação do
espírito, numa doação livre e responsável. As virtudes crescem e tornam-se estáveis.
No início parecem fruto do esforço humano, mas depois se sente que tudo é dom
de Deus. Assim, por exemplo, nas 5M nos capítulos 3 e 4 indicam as atitudes da
novidade de vida; ou os capítulos 3-4 das 7M documentam os efeitos da união
transformante na vida concreta.
Em
cada morada podemos distinguir, portanto, três princípios dinâmicos:
A.
Uma graça específica
B.
Um modo de oração.
C.
Um empenho ou atitude de vida.
A. Uma
graça específica:
em cada morada Deus tem sempre a iniciativa com uma sua ação gratuita e nova
que abre o caminho. A pessoa percebe essas graças e ao responder entra progressivamente
no caminho da santidade. Estas são: a graça de entrar conscientemente na própria
vocação divina (I), de lutar e perseverar (II), de passar pela provação e
abrir-se a Deus (III), de acolher a nova irrupção interior de Deus (IV), da
união e da inicial transformação (V), das sucessivas e diversas graças místicas
(VI), da inabitação trinitária e do matrimônio espiritual (VII). Trata-se aqui
do elemento que podemos chamar sobrenatural ou teológico de cada morada.
B. Uma
forma de oração: em
cada passo progressivo, como foi dito, a relação com Deus se exprime através de
progressivos e característicos graus de oração, sempre mais intensos e simples.
Temos aqui o elemento que podemos chamar psicológico e a forma oracional
de cada uma das moradas.
C. Um
empenho de vida: a
partir da graça de cada morada e do tipo de oração nasce um empenho de vida, um
modo estável de viver. Pouco a pouco ao esforço segue a docilidade, à ação da
pessoa substitui-se a ação transformadora de Deus; às fracas virtudes humanas correspondem
às sólidas virtudes infusas por Deus e a generosidade no amor e serviço do próximo.
Temos aqui um elemento ético-espiritual que é a novidade da pessoa, a santidade
da vida e das obras, fruto da transformação pessoal.
4. O dinamismo da graça no CI
Um
dos aspectos mais originais e sugestivos do CI é a precisão com que é
apresentado um tema chave da teologia da graça: o caminho de crescimento e de
maturidade rumo à santidade. E não como utopia inalcançável, mas como uma meta
possível, porque dom de Deus, confortada pela experiência pessoal e o
testemunho de um caminho a ser percorrido.
A
nossa autora talvez não conhece algumas das divisões clássicas das etapas da
vida espiritual: via purgativa, iluminativa, unitiva; incipientes,
proficientes, perfeitos. Mas conhece e cita nas quartas moradas a distinção
entre natural e sobrenatural, ascético e místico.
Não
segue a divisão da vida espiritual no seu dinamismo a partir das três vias;
escolhe, ao contrário o número simbólico das sete moradas ou etapas da vida
espiritual. Supera a si mesma nesta proposta, visto que deixa de lado os quatro
graus de oração que tinha exposto no livro da Vida. O número sete permite a Teresa
uma melhor e mais ampla visão do itinerário da perfeição.
Estas
sete etapas do CI podem ser sintetizadas neste esquema em procuramos oferecer
nas três colunas a progressão das graças sucessivas, as atitudes espirituais de
cada morada, o modo ou grau de oração.
Estado Graça Oração
I.
Pecado Conversão Oração inicial
II.
Luta Perseverança Meditação
III.
Parada perigosa Provas de Deus Abertura a Deus
IV.
Graça e gratuidade Dilatação interior Quietude
V.
Renovação Vida nova em Cristo União.
VI.
Desposório espiritual Maravilhas de Deus Orações místicas
VII.
Matrimônio espiritual Trindade e Cristo Santidade apostólicos
Para
bem compreender este esquema devemos notar: que o período ascético compreende as
primeiras três moradas; o período místico as três últimas; um período misto é
atribuído às quartas moradas.
Mas
na realidade, com uma boa teologia da graça e uma análise dos textos teresianos
é evidente que não se podem distinguir claramente esses períodos a não ser em
certo sentido.
Todo
o caminho desenvolve-se sob o influxo da graça. E também no período místico
Deus aguarda as livres respostas da pessoa. Devemos dizer que no entrelaçar-se
de graças e de respostas, no primeiro período parece prevalecer a ação da
pessoa humana, no segundo ao invés a ação livre e gratuita de Deus.
Algumas
moradas parecem corresponder a um longo período de vida espiritual (primeiras, segundas
e terceiras); outras são de passagem (quartas); outras são de perigosa
estabilização (as terceiras), enquanto que outras podem ser uma positiva
situação de vida (quintas). As sextas constituem necessária preparação para às
sétimas, como o purgatório para o paraíso.
Se
olharmos bem o desenvolvimento do livro e o espaço dado a cada uma das moradas emerge
claramente que a Santa traçou o percurso ideal da santidade cristã e parou
especialmente na tratação inédita das etapas da vida mística (5-7M), ao passo
que para as outras supõe quanto já tinha escrito sobre os inícios da vida
espiritual em Vida e Caminho. De fato, enquanto
a tratação das primeiras quatro moradas compreende 8 capítulos, o livro, entre
as quintas e as sétimas ocupa 19 capítulos, com bem 11 dedicados às sextas
moradas.
A
visão do processo da vida cristã no CI pode ser distinta em duas etapas. Uma
que vai das primeiras às quintas; estas assinalam-se já como uma realização da
vida em Cristo e a chamada universal à santidade na união com Deus e no amor do
próximo. A outra possível etapa da vida cristã, é a que supõe uma
intensificação da união com Deus através da irrupção da graça numa vida
mística, cheia de graças particulares que culminam com a santidade na plenitude
da vida cristológica e trinitária a serviço da Igreja nas sétimas moradas.
Todavia
se deve recordar que Santa Teresa não absolutiza os esquemas, mas afirma em algum
modo que tem um estilo próprio ao levar as pessoas à santidade na Igreja. Neste
sentido o dinamismo da santidade cristã no CI oferece uma estupenda visão da
plenitude da vocação cristã para os cristãos, também de hoje, muitos dos quais veem
neste itinerário uma autêntica proposta de santidade eclesial.
III. A ESTRUTURA SIMBÓLICA DO CASTELO INTERIOR
Desde
o próprio título o CI aparece como livro fundado sobre uma simbologia
espiritual; o Castelo interior. E à medida que o leitor penetra no livro
percebe a riqueza de símbolos que estão presentes. É necessário, portanto,
oferecer uma mesmo que breve chave de leitura deste aspecto do livro.
1. A função dos símbolos nas obras teresianas
O
mistério da vida cristã é em parte inefável. Não se pode expressar em conceitos
de modo adequado. A Santa tem consciência deste problema e procura resolvê-lo
nos seus escritos recorrendo continuamente aos símbolos que alcançam o seu
máximo de expressividade e de beleza no CI.
Na
simbologia do CI encontramos a síntese das funções do simbolismo no campo da teologia
espiritual e da experiência mística. Os símbolos de fato apresentam o mistério
de Deus e da graça com uma linguagem estética e poética, com uma particular
eficácia pedagógica, com uma característica linguagem total capaz de falar não
só à mente mas também ao coração, e até ao subconsciente da pessoa humana.
Neste sentido o CI apresenta-se com uma obra de teologia estética e simbólica
sobre a vida cristã.
Posemos
assim distinguir três funções do símbolo:
-
a função expressiva para revelar o desvendar o inefável;
-
a função pedagógica para ensinar e comunicar na forma adequada os mistérios;
-
a função mistagógica para iniciar ao mistério, convidar à experiência; o CI é
também um livro de mistagogia da vida cristã na qual se procura induzir e
provocar o desejo mesmo da experiência.
2. Os símbolos do CI
No
CI podemos distinguir um símbolo estrutural e unitário que se mantém ao longo
de todo o livro: é o símbolo do “castelo”. Ao lado deste símbolo temos outros
que são oferecidos ao longo do itinerário espiritual como necessário
complemento às novas experiências espirituais.
Temos
de fato os seguintes símbolos que ajudam a apresentar os momentos sucessivos da
vida mística:
·
O
CASTELO INTERIOR
·
AS
DUAS FONTES (4M)
·
O
BICHO DA SEDA (5M)
·
O
MATRIMÔNIO ESPIRITUAL (5-7M).
Mas
existem ainda outros símbolos menores ou constelações simbólicas ao redor dos símbolos
da água e do fogo, etc.; alguns deles são de origem bíblica (cf infra). Do
ponto de vista comparativo CI supera Vida e Caminho no número e na beleza dos
símbolos; ademais estes se intensificam à medida que se progride no caminho da
vida espiritual e da experiência mística. Isso mostra-se evidente em CI 7M 2,4
na rica simbologia para expressar a união perfeita ou em CI 7M 3,13 na série de
simbolismos bíblicos, escolhido para expressar o estado de união consumada.
Temos
também um crescendo de símbolos enquanto que alguns são tirados da sociedade, outros
do mundo mineral, vegetal, animal; até o simbolismo antropológico do matrimônio.
Procuramos oferecer um mesmo que breve referimento aos símbolos principais.
A. O Castelo Interior
É
o símbolo estrutural e unitário que aparece desde as primeiras páginas (1M
1,1), depois o Prólogo; e permanece até o Epílogo da obra no qual o símbolo
aparece ainda mais transfigurado em castelo encantado com fontes, jardins e
labirintos. A primeira inspiração oferece deste castelo uma visão de beleza,
luminosidade, amplidão e interioridade: “considerar a nossa alma como um
castelo todinho como de diamante ou claríssimo cristal, onde há muitas salas
assim como no céu há muitas moradas”. As claras alusões apocalípticas e joaninas,
já presentes na mente da Santa, oferecem deste símbolo o necessário referimento
à Bíblia como chave primordial de leitura simbólica.
O
símbolo do Castelo como espaço de presença de Deus e de interioridade não é
novo em Teresa. Temos alusões em Vida 1,8 e 40,5-6, mas principalmente
em Caminho 28,9-12. Ele coloca em luz uma das ideias primordiais da
teologia espiritual teresiana: nós somos a morada de Deus; a pessoa na sua
interioridade é o lugar da relação vital com ele através da oração; por isso
afirma que a porta do Castelo é a oração.
O
símbolo do CI oferece logo uma referência antropológica: o homem é morada de
Deus; e acrescenta nele uma conotação teológica: Deus está apresente no homem,
como um Rei no seu castelo, na morada última e interior, no salão real.
As
diversas moradas do CI indicam as progressivas experiências de comunhão entre a
pessoa humana e Deus que nela mora.
De
outros pontos de vista o CI pode ser visto no seu sentido ascético como um
castelo a ser conquistado para se alcançar as suas moradas interiores; mas
também ou especialmente no seu sentido místico: a pessoa humana é o castelo,
palácio, templo, céu, morada de Deus, o céu aqui na terra. No primeiro sentido
temos um movimento ascético que do homem vai a Deus; no segundo o movimento
místico que exprime o revelar-se e aproximar-se de Deus ao homem que o introduz
progressivamente nas suas moradas, até a última, a morada da Trindade.
Na
apresentação inicial do CI a Santa excede na descrição do castelo militar
(muros, fossado, soldados, animais...), mas toda esta visão se reduz
progressivamente para ceder o passo à simbologia essencial da morada interior
onde Deus se faz presente.
Tudo
pode ser reduzido a estas ideias fundamentais que se mantêm unitárias até o
fim: a pessoa humana é a morada-castelo de Deus; a sua sensibilidade juntamente
com seu corpo são como os muros deste castelo; a porta do castelo é a oração;
as diferentes e progressivas moradas são formas sempre mais interiorizadas da
relação com Deus e do amadurecimento da pessoa do cristão.
A
ideia do castelo interior não é em si original da santa; já se encontra na
literatura espiritual anterior, nos místicos renanos, nos espirituais espanhóis
(Laredo, Osuna...). O tema do castelo é também comum a alguns místicos árabes
anteriores à Santa. O número das sete moradas tem também presença em outras
tradições místicas e na psicologia do profundo da escola junghiana.
Não
é estranho à inspiração da Santa o ambiente literário dos livros de cavalarias:
o castelo onde se encontra ou se conduz a amada; espelha o ambiente social da
época, com a sua história e as suas cidades-castelo (Ávila, Toledo, Segóvia) ou
com os vários castelos da terra de Santa Teresa começando pelo castelo da Mota,
perto de Medina de Campo, onde morreu Isabel de Castela, castelo conhecido por
São João da Cruz.
Uma
tradição literária que vem do confessor da Santa, Pe Diego de Yepes, quer que a
inspiração inicial do Castelo interior seja fruto de uma forte
experiência mística que desbloqueia a pena da Santa para empreenda a redação da
sua obra.
Provavelmente
trata-se de uma inspiração inicial, mas que encontra já a santa preparada quer
pela inspiração social e as leituras espirituais anteriores, quer pelas
convicções amadurecidas ao longo da sua vida sobre a alma como morada de Deus.
B. As duas fontes.
A
água, símbolo predileto da Santa em Vida e Caminho, encontra uma sua original
aplicação nas IV Moradas no momento em que quer expressar a passagem da vida
ascética à vida mística, do esforço à ação gratuita e gratificante de Deus, a
partir da própria interioridade. É aqui onde se apresenta as duas formas de
receber a água das duas fontes (CI 4M 2,2-6). Uma traz “a água de longe por
meio de aquedutos e artifícios”; é o símbolo da obra do homem na oração com o
seu esforço e a sua inteligência. “Na outra fonte, a água vem de sua própria nascente
que é Deus”. É a imagem expressiva da graça ou comunicação de Deus no mais íntimo
da pessoa onde o próprio Deus mora: “a água flui no mais interno da alma” e se
versa sobre todo o ser.
Este
símbolo, belo e expressivo, marca o ponto de passagem da experiência ascética à
mística.
C. O bicho-da-seda
No
capítulo 2 das V moradas a Santa querendo expressar a força da transformação da
pessoa que brota da oração de união, com a vida em Cristo e os efeitos de
novidade, introduz o símbolo, tirado da natureza, do bicho-da-seda que se
transforma em borboleta.
O
símbolo, de extraordinária beleza literária, é capaz por si mesmo de expressar
todo o processo de transformação até agora explicada e oferece matéria para
continuar também na exposição da graça da nova vida. Teresa, porém, embora
ofereça uma bonita explicação do todo, detém-se na graça da transformação com a
morte do verme e o nascimento da borboleta branca.
Essa
explicação, apoiada pelo texto bíblico de Col 3,3 propõe-se como uma original expressão
da vida nova. O conteúdo das quintas moradas ilumina-se na perspectiva da vida
em Cristo, da graça batismal da morte-ressurreição, com os efeitos da vida
nova.
D. O matrimônio espiritual
Para
descrever as etapas superiores da vida espiritual nas V-VI M a santa introduz o
simbolismo antropológico e bíblico do matrimônio para tornar mais expressiva a
comunhão entre a alma e Deus. Embora a imagem da esposa do Cântico dos cânticos
comparece desde as IV M é somente nas VM 4,3 que Teresa introduz o símbolo com
estas palavras: “Com frequência vós escutastes dizer que Deus se desposa
espiritualmente com as almas... Trata-se
de uma comparação grosseira; mesmo assim não encontro nada que torne mais compreensível
estas coisas do que o sacramento do matrimônio”.
Visando
isso Teresa acrescenta um dinamismo na progressiva realização do simbolismo com
estas etapas:
-
“venir a vistas” (apresentar-se) - conhecer-se -relacionamento pessoal: V M;
-
“desposar-se (noivar) - enamorar-se - intensificar a relação entre as pessoas:
VI M;
-
“casar-se” (esposar) - unir-se - comunhão perfeita e indissolúvel: VII M.
Com
esses símbolos, e outros menores que serão apresentados especialmente sob o
perfil bíblico, temos no CI um bom tratado de teologia espiritual sob a marca
de beleza estética e da expressividade simbólica.
3. Chaves para uma leitura simbólica
Uma
leitura total dos símbolos permite-nos colher todas as nuanças e a beleza de
uma exposição. Como exemplo podem ser oferecidas estas possíveis chaves de
leitura de um símbolo teresiano, cuja aplicação foi feita na análise do símbolo
do bicho-da-seda: (Cfr J. CASTELLANO, Lectura de um símbolo teresiano,
em “Revista de Espiritualidad”41 91982) pág.s 531-566):
-
o fundamento do símbolo na natureza e na sociedade;
-
a sua expressão literária;
-
o significado teológico;
-
o caráter místico e a finalidade mistagógica: fruto de experiência e veículo de
iniciação à experiência;
-
a sua raiz psicológica;
-
os paralelismos bíblicos, patrísticos, litúrgicos.
Esta
ampla e articulada leitura permite-nos sondar todas as possíveis
expressividades de um
símbolo na vida espiritual.
IV. A INSPIRAÇÃO BÍBLICA DO CASTELO INTERIOR
1. Um Castelo iluminado pela Palavra de Deus
Uma
das chaves mais novas e originais para a leitura do CI é a bíblica, ainda não plenamente
aproveitada, é a bíblica. Trata-se não da inspiração bíblica do símbolo do CI,
mas de uma leitura global do livro e da sua mensagem através da análise dos
numerosos textos bíblicos citados por Santa Teresa.
De
fato, depois de uma primeira análise global resulta que no livro existem mais
de 200 citações ou alusões bíblicas explícitas, que com mais uma centena de
textos implícitos tornam o livro teresiano como um castelo iluminado pela
Palavra de Deus.
A
importância deste referimento à Escritura não é fortuita. O contínuo recurso à
Bíblia aparece com grande força em alguns momentos, por exemplo, na 7M 3,14
onde juntas bem quatro símbolos bíblicos (o beijo da esposa do Cântico, a cerva
ferida, o tabernáculo de Deus, a pomba de Noé) e exclama: “Oh Jesus! Se pudesse
saber as muitas coisas que na Escritura se encontram para fazer compreender
esta paz da alma”. Forte anseio de conhecer profundamente a Palavra de Deus,
presente também em outros escritos, convicta como está de que na Escritura se
encontram os segredos de Deus e que os doutos sabem apreciar as graças que Deus
concede às almas pelo que conhecem por meio das Escrituras (Cfr. 5M 1,7).
Ao
não possuir Teresa um conhecimento profundo da Bíblia, nem possuindo à sua disposição
sequer o texto bíblico, todas as citações que se encontram são espontâneas, vêm
à sua mente por conaturalidade, como as escutou e conservou no coração. Não se
trata portanto de uma exposição douta da Escritura mas apenas de
reminiscências, textos breves, alusões tipológicas que porém no conjunto formam
um bonito mosaico e uma necessária chave de leitura do CI. Não é uma leitura
espiritual da Bíblia, embora às vezes se trata de uma experiência mística dos
textos bíblicos, e por isso deve ser também apreciada como leitura mística
espiritual da Bíblia a partir da experiência.
A
função da Palavra de Deus no CI é complementar a dos símbolos. Enquanto que os símbolos
visam universalizar a mensagem, a Palavra de Deus tem a função de discernimento
e de confrontação com a experiência espiritual narrada, mas também de “prova” e
de sinal de validade da mensagem teresiana.
Desse
modo no processo da vida cristã, narrado pela Santa, a Palavra de Deus ajuda a superar
o dado subjetivo e pessoal para oferecer um paradigma universal. A Bíblia ajuda
a abrir a mensagem teresiana a todo o leitor que encontra na Palavra de Deus a
fonte e a medida da vida espiritual.
Para
uma primeira tomada de consciência da riqueza bíblica do CI remeto ao meu
estudo: L’ispirazione biblica de Castello Interiore di Santa Teresa di Gesù,
em AA.VV., Parola di Dio e spiritualità, Roma LAS, 1984, pág.s
117-131. Eis uma breve síntese das indicações fundamentais.
2. Três conceitos de antropologia Bíblica
Abre-se
o CI com uma visão grandiosa da pessoa humana. Nesta visão Teresa estabelece três
conceitos fundamentais de antropologia bíblica. Três conceitos que através das
moradas se enriquecem e culminam nas sétimas moradas, onde o ideal inicial
encontra o seu cumprimento.
A. “À sua imagem e semelhança”
“Criou-nos
à sua imagem...” Dessa consciência vem a beleza e a “capacidade” da pessoa humana
(1M 1,1) . A alusão ao Gênesis 1,26-27, apesar de genérica, é o fundamento da antropologia
cristã. Deus mesmo disse a Teresa que não desprezasse a si mesma porque feita à
sua imagem (Relação 54). Retornará no final do CI nas 7M 1,1 e no Epílogo.
Mas somente no cume da vida trinitária descobre que na Trindade está esculpida
a nossa imagem (7M 2,8).
Todo
o processo da perfeição tem como objetivo alcançar esta perfeição da imagem que
tem em Cristo o seu arquétipo. O cristão deve fitar sempre o seu modelo; nas 5M
(2,12) experimenta que a imagem é expressa como sigilo sobre cera mole. Os
santos devem ser semelhantes a Cristo que é o modelo perfeito. Nas 7M se
alcança esta semelhança e se torna conforme a imagem perfeita do Filho.
A
vocação à perfeição da imagem de Deus em nós se cumpre na efetiva semelhança
com Cristo.
B. A morada de Deus
Desde
a primeira página do livro, e no próprio simbolismo do castelo, afirma-se uma grande
verdade: o homem é morada de Deus, porque “nada mais é a alma do justo do que
um paraíso onde Senhor declara encontrar suas delícias” (1M 1,1). Como no
paraíso, no começo da criação
Deus
mora com o homem, a presença de Deus cumula a solidão humana. Tomar consciência
desta presença e entrar sempre mais em relação com ele é o caminho de
interiorização marcado pelo livro do CI.
No
cume da vida mística, nas sétimas moradas, tem-se a consciência que houve uma inversão
das perspectivas. Quando o homem é admitido a fazer seu ingresso na morada de
Deus,
convidado a comunhão trinitária (7M 1,6-7), não é mais o homem a morada de
Deus, mas é Deus a morada do homem.
Mas
já nas quintas moradas, Teresa tinha observado que se deve fazer tudo, como o
bicho-da-seda ao tecer o seu casulo, para que Cristo se torne nossa morada (5M
2,4-5).
O
CI propõe então um paralelismo semelhante ao da Bíblia: no início Deus mora com
o homem no paraíso. No fim o homem mora com Deus na glória. No caminho rumo à
glória o cristão vive em Cristo e descobre o mistério da presença trinitária na
sua alma.
C. Chamados à comunhão.
Deus
é comunhão, melhor Deus “se comunica”, como prefere dizer santa Teresa com a
sua linguagem da amizade que é o da comunicação entre amigos. Também este
conceito de comunhão-comunicação emerge desde o início (1M 1,3) e repete-se nas
sucessivas moradas até às sexta e sétimas (6M 8,1; 9,18, 10,1; 7M 1,1; 3,9). Da
primeira inicial comunicação do ser e da vida até a auto-comunicação total
trinitária, o livro das Moradas documenta o doar-se de Deus à pessoa, num dom
de revelação. De verdade, e de vida que transforma a pessoa. Deus mesmo na
Trindade é um Deus de comunicação e de comunhão (7M 1,6). Também o próximo é
uma pessoa com a qual Deus se comunica (1M 1,3). A grande dignidade da pessoa
humana está nesta chamada à conversação, ao diálogo e à comunhão com Deus (1M
1,6), como afirma também o Concílio Vaticano II na GS 19 e re-propõe o Catecismo
da Igreja Católica nn. 27-30.
Com
esses três conceitos e o seu efetivo dinamismo de transformação o CI torna-se
uma afirmação e uma tratação sugestiva da antropologia bíblica
3. As tipologias bíblicas
Uma
singular documentação de cada morada obtêm-se através da revelação das
tipologias bíblicas que pouco a pouco são citadas e propostas por Santa Teresa.
Eis a visão panorâmica com a citação dos textos bíblicos e teresianos.
I MORADAS: TIPOLOGIA DA CONVERSÃO DO PECADO
Paulo
1M 1,3
Madalena
1M 1,3
Cego
de nascimento (Jo 9) 1M 1,3
Mulher
de Ló (Gen 19,26) 1M 1,6
Paralítico
da piscina (Jo 5) 1M 1,6-8
Filho
pródigo (Lc 15) 2M 1,4
Surdo-mudo
(Mc 7,31-37) 2M 1,3
II MORADAS: TIPOLOGIA DA PERSEVERANÇA NA LUTA
Soldados
de Gedeão (Jdt 7) 2M 1,6
Israel
no deserto 2M 1,7
Filhos
de Zebedeu (Mt 20,22) 2M 1,8
III MORADAS: TIPOLOGIA DO RISCO E DA PROVAÇÃO
O
homem justo e temeroso de Deus (Sl 111,1) 3M 1,1.4
O
apóstolo Tomé (Jo 11,16) 3M 1,2
Davi
e Salomão 3M 1,4
O
Jovem rico (Mt 19,16-22) 3M 1,6; 2,4
IV MORADAS: TIPOLOGIA DA EXPERIÊNCIA DA GRAÇA
Os
operários da vinha (Mt 20 e ss) 4M 1,2
A
esposa do Cântico (Ct 8,1) 4M 1,12
V MORADAS: TIPOLOGIA DA UNIÃO COM DEUS
A
esposa dos Cânticos 5M 1,12; 2,12; 44,4
Judas
(Amigo de Cristo, e também traidor) 5M 3,2.4.7
Saul
(Ungido do Senhor e também infiel) 5M 3,2
VI MORADAS: TIPOLOGIA DA EXPERIÊNCIA DE DEUS
Jonas
( não acreditou) 6M 3,4
Fariseus
(escutam, mas não creem) 6M 3,4
Josué
(Js 10,12-13) 6M 3,18
Jacó
(Gen 28,12: a escada) 6M 4,6
Moisés
(Ex 3,3: a sarça ardente) 6M 4,7
O
cego de nascença curado (Jo 9) 6m 4,11
Os
exploradores da terra prometida (Nm13) 6M 5,6
O
filho pródigo festejado pelo pai (Lc 15) 6M 6,10
O
povo de Israel libertado 6M 6,4
Pedro
Apóstolo perdoado por Cristo 6M 7,4
Maria
Madalena perdoada pelo Senhor 6M 7,4
A
esposa do Cântico (Ct 3,3) 6M 7,9
Elias
e o seu sacrifício (1Reis 18) 6M 7,8
Paulo
a Damasco (At 9,3) 6M 9,10
Saul
(1Sam 15,10-11) 6M 9,15
Filhos
de Zebebdeu 6M 9,15
A
Samaritana 6M 11,5
A
Madalena (Lc 7,44-47) 6M 11,11
VII MORADAS: TIPOLOGIA DA SANTIDADE PERFEITA
A
Madalena 7M 1,10
Marta
e Maria (Lc 10,38-42) 7M 1,10.11-13
Paulo
(At 9,8; 9,6; 1Tes) 7M 1,5-6;3,9;4,5
O
publicano (Lc 18,13) 7M 3,14
A
Virgem Maria 7M 4,5
Os
apóstolos de Cristo 7M 4,5
O
Apóstolo Pedro (“Quo vadis Domine”) 7M 4,5
Salomão
(3Reis 15) 7M 4,3
Esposa
do Cântico (Ct 1,1;2,4) 7M 4,11
Elias
Profeta (1Reis 19) 7M 4,11
(Francisco
e Domingos) 7M 4,11
CRISTO
(tipologia síntese) 7M 4,4.8
4. Os simbolismos bíblicos
Uma
ulterior leitura bíblica do livro das Moradas pode ser realizada através do
exame e levantamento dos simbolismos bíblicos, alguns deles explícitos e outros
implícitos.
I MORADAS: SIMBOLISMOS DA GRAÇA E DO PECADO
O HOMEM EM GRAÇA: 1M 1,1;
2,1: morada de Deus
(Jo 14,2), pedra preciosa e jaspe cristalino (Ap 21,11) paraíso de Deus (Prov 8,1), nascente clara (Ap 22,1), árvore da
vida (Sl 1,3; Ap 22,2); castelo
esplendente como cristal (Ap 21,21).
O HOMEM EM PECADO: 1M
1,7; 2,1.2: corpo
paralítico; trevas e escuridão;
DEUS NO HOMEM: 1M
2,1-3: fonte de luz
(Ap 22,23), fonte de água viva, sol;
SATANÁS: 1M 2,15: anjo de luz (2Cor 11,14);
II MORADAS: SIMBOLISMOS DA PERSEVERANÇA
A VIDA MÍSTICA E A
VONTADE DE DEUS: 2M 1,7: o
maná do deserto;
A PERFEIÇÃO CRISTÃ: 2M
1,2: casa
construída sobre a rocha (Lc 6,31-32);
III MORADAS: SIMBOLISMOS DA PROVAÇÃO
A VIDA CRISTÃ: 3M 1,2:
casa que deve ser
guardada com cuidado (Mt 24,43);
IV MORADAS: SIMBOLISMO DA VIDA DE GRAÇA
A ORAÇÃO INTERIOR: 4M
2,2-6.9; 3,8-9 a
fonte de água viva (Jo 4,14; 7,37-39);
A ORAÇÃO DE QUIETUDE:
4M 2,6
braseiro
de perfumes;
criança
amamentada pela mãe (Sl 131;Is 66,10-14);
assobio
do Rei pastor (Sl 22; Ez 34,13-14; Zac 10,8);
como
o ouriço que se fecha sobre si;
V M ORADAS: SIMBOLISMOS DA UNIÃO E DA VIDA EM CRISTO
DEUS DENTRO DE NÓS, A
CONTEMPLAÇÃO: 5M 1,2-3: tesouro
escondido no campo, pérola preciosa (Mt 13,44-45)
A VIDA NOVA EM CRISTO:
5M 2,8 e 3,5: morrer
para viver, escondidos com Cristo - o bicho-da-seda (Col 3,2; Ef 4,20; Rom 6,4);
A UNIÃO COM DEUS: 5M
1,12; 2,8.12: a
cela vinária (Ct 2,4), o sigilo de Deus (2Cor 1,22; Ef 1,13; Ap 7,3)
A COMUNHÃO COM DEUS:
5M 4,3 e ss: Deus
esposa da alma, Cristo esposa da Igreja
VI MORADAS: SIMBOLISMOS DA EXPERIÊNCIA MÍSTICA
DEUS NO HOMEM:
Sol
de justiça: 6M 3,5.16; 4,6;7,6;
luz:
6M 5,9; 9,4; fogo (Is 33,14): 6M 4,3; 6,8; 7,8;
Esposo:
6M 1,1; 4,2.4...;
O ENCONTRO TEOFÂNICO
COM DEUS: cfr.
Tipologias:
A EXPERIÊNCIA DO AMOR
DE DEUS: 6M
1,1;2,2,4,11,2: feridas do amor;
EFEITOS DA RENOVAÇÃO: 6M 4,3
Deus
fogo que consome e renova - Is 33,14;
A
Ave Fênix, ou Áraba fênix (simbolismo que se entra já em Clemente Papa).
VII MORADAS: SIMBOLISMOS DA UNIÃO TRANSFORMANTE
DEUS PARA O HOMEM: 7M 1,2.3.5; 2,1-6;
o
matrimônio espiritual;
água
viva, sol; no seio de Deus
O LUGAR DO ENCONTRO: 7M 1,1.3.5.6; 3,11:
o
palácio e morada do Rei;
o
fogo e a nuvem (cf Ex 24,16-18);
na
solidão de Deus (Os 2,14);
A EXPERIÊNCIA DO
ENCONTRO COM DEUS:
7M 3,11 e 13:
o
silêncio do santuário (1Reis 6,70;
o
beijo da Esposa (Ct 1,1);
a
cerva ferida e sedenta (Sl 41,2);
o
tabernáculo de Deus (Ap 211,3);
a
pomba com o sinal de paz (Gen 8,8-9);
o
vinho na cela interior (Ct 2,4);
O HOMEM RENOVADO: 7M 2,9 e 4,8:
como
árvore plantada à beira do curso de água (Sl 1)
selado
com o selo da Cruz de Cristo (2Cor 1,22...)
5. Alguns textos bíblicos de maior realce
A
visão bíblica do livro das Moradas completa-se com o recurso de Teresa a
uma série de textos bíblicos doutrinais de grande importância. Eles são citados
às vezes como ponto referencial e prova da doutrina; outras realizando a
exegese do sentido espiritual deles; outros enfim em quanto percebidos
misticamente no momento da experiência. Eis alguns:
I. AMOR
DE DEUS E DO PRÓXIMO
Amor
de Deus e do próximo (Mt 22,36-39: 1M 3,17-18
Vontade
de Deus (Mt 7,21): 2M 1,8; 5M 3,5
Exigências
da caridade: 5M 3,6-7:
“Sede
perfeitos” (Mt 5,42; 7,1.12), “Sejam um...” (Jo 17,22)
O
sinal mais seguro do amor de Deus é o amor do próximo (1Jo 4,20): 5M 3,8.9
As
obras do amor (Mt 25,31ss); o dom da vida (Jo 15,12-14): 5M 3,11-12;
O
que importa é o amor (1Cor 13): 7M 4,14-15
II.
TEXTOS CRISTOLÓGICOS
Os
olhos em Cristo (Hbr 12,2): 1M 22,11;
Ninguém
vem ao Pai senão por mim... (Col 3,3): 5M 2,24;
Desejei
ardentemente (Lc 22,15): 5M 2,13;
Cristo
caminho, luz... (Jo 14,6.9; 8,12): 7M 7.6;
É
melhor que eu vá embora (Jo 16,7): 6M 7,14;
As
tuas coisas são minhas (Jo 17,10): 7M 2,1; 3,2;
Paz!
Saudação do Ressuscitado (Jo 20,10.20): 7M 2,3;
Quem
se une ao Senhor torna-se uma só coisa com ele (1Cor 6,7): 7M 2,5;
Para
mim a vida é Cristo (Fil 1,21; Gal 2,20): 7M 2,5;
Vivo
eu não mais eu (ib., e Col 3,2-3): 7M 3,1;
Os
olhos em Cristo crucificado (Gal 3,1; 6,14): 7M 4,8.
III.
TEXTOS TRINITÁRIOS
A
experiência da inabitação trinitária (Jo 14,23): 7M 1,6;
A
oração sacerdotal: sejam um (Jo 17,20-23): 7M 2,8
Mesmo
na esquematicidade das referências aos textos bíblicos emerge claramente a possibilidade
de uma leitura bíblica do CI com a sua exegese espiritual dos textos, símbolos
e tipologias. Deve ser também valorizada a particular exegese que a santa
oferece de alguns textos a partir da experiência espiritual e às vezes pela
percepção mística do sentido dos textos. Oferece também uma leitura da Bíblia
como critério de discernimento dos momentos da vida espiritual; sugestivo
também o recurso às tipologia bíblicas como ilustração do caminho progressivo
da santidade. Ademais o CI aparece na lógica da continuidade com os grandes
textos espirituais da patrística e da idade média que se inspiram amplamente na
Palavra de Deus como fonte e norma da espiritualidade cristã.
Acabamos
de oferecer uma introdução à compreensão do CI de Santa Teresa do ponto de vista
do gênesis da obra, da estrutura teológica e simbólica do livro, como também da
sua inspiração bíblica. Com essas primeiras aproximações podemos ler todo o
livro certos de ter encontrado os “planos” do CI, mesmo que a leitura de cada
morada reserve surpresas gozosas ao leitor que procure descobrir o sentido
profundo da vida cristã no seu dinamismo.
V. O DINAMISMO DA VIDA CRISTÃ NO CASTELO INTERIOR
Como
já foi relevado, o Castelo Interior oferece uma magnífica
expressão do caminho ou itinerário da vida cristã. Nas breves páginas que
seguem queremos ajudar o leitor a penetrar na lição fundamental do CI
proporcionando-lhe uma chave de leitura do progresso da vida espiritual através
das sete etapas ou moradas do Castelo interior.
I MORADAS: A CONVERSÃO
Os
dois capítulos das primeiras moradas oferecem uma visão positiva,
marcada pela vocação à graça (1), e negativa, marcada pela situação do
pecado (2) da vida cristã, como início e tomada de consciência do mistério da
existência humana.
A
pessoa, portanto, deve entrar em si mesma, através da porta da oração,
reconhecer em si a presença de Deus e a vocação à relação com Ele, embora com frequência
se encontre na extroversão e na dependência das criaturas e no pecado; o
pecado, contemplado desde os píncaros da mística supõe a ruína da pessoa, a sua
desagregação psicológica e espiritual, certa escravidão pelo maligno. Mas Deus
continua ainda presença.
O
caminho para progredir será a conversão, uma decidida ascese para se subtrair
ao influxo maléfico das criaturas que o tornam escravo; a isso é proveitosa a
oração no seu duplo sentido de intensa invocação de Deus e conhecimento próprio
da realidade pessoal em verdadeira humildade.
Para
as suas filhas que não se encontram neste estado, mas mais adiantadas, Teresa
quer suscitar o sentido do mistério da pessoa humana, a comunhão com os
pecadores, fazer compreender a situação de fragilidade que deriva do pecado e
marca toda a pessoa humana, o sentimento de humildade e a necessidade de
redenção. Exorta à confiança em Cristo para quem deve voltar o olhar desde o
começo; recorda o ideal da vida cristã como amor de Deus e do próximo.
II MORADAS: A LUTA E A PERSEVERANÇA
São
as moradas mais breves, com um só capítulo. São caracterizadas pela luta para perseverar
no caminho empreendido. São descritos inicialmente os que nelas entram e como podem
ajudar-se no caminho rumo à meta. A oração destas moradas é ainda informe: mas pouco
a pouco torna-se sensibilização realista aos apelos de Deus através da
meditação e da consideração, com a ajuda das potências da alma. Tudo concorre a
tornar sensíveis à Palavra de Deus e às suas contínuas inspirações, para que
seja mais forte o apelo do centro do Castelo e não o canto das sereias e a
atração que vem de fora.
É
preciso empreender o caminho com a resoluta decisão de ir em frente até o fim,
sem desanimar-se, mirando o cumprimento da vontade de Deus, procurando ajuda
dos amigos de Deus, sem desistir no momento das provações e das caídas. Deve
ter-se presente que o caminho será ainda árduo e difícil, porque nos
encontramos no deserto onde não chove o maná do céu e é preciso escolher a
cruz.
Teresa
termina com o convite a fitar o Cristo como modelo e segui-Lo, a acompanhar a oração
com as obras.
III MORADAS: A PROVA E A CONVERSÃO
As
terceiras moradas, com dois capítulos, apresentam o momento delicado da vida espiritual.
De um lado um passo progressivo em que a luta e a perseverança se tranquilizam num
momento de vitória e de paz. Mas a instalação neste estado de “almas
concertadas” pode ser perigoso; pode crer que chegou à santidade, como se fosse
uma conquista, e exigir o prêmio de Deus como um direito; mas na realidade
chegou-se somente à uma “áurea mediocritas” (=áurea mediocridade) das virtudes
e da oração, nas quais além de tudo se pode estacionar crendo que são sólidas
as virtudes quando na realidade ainda são fracas, e colocando a essência da
perfeição não na conversão do coração mas nas obras exteriores e na vida “concertada”
de orações e penitências. Doa-se a Deus as próprias obras e não o próprio coração.
Essas pessoas “canonizam” a si mesmas, mas julgam e condenam o próximo. O seu relacionamento
com Deus parece marcado pelo direito e pela justiça e não pela gratuidade e o amor.
Deus que conhece em profundidade a nossa verdade deve intervir com a provação.
Neste
ponto intervém a provação de Deus, que é a provação do amigo depois das provações
do inimigo. Ele põe à prova os seus servos com diversas situações para que se abram
à gratuidade do dom de si mesmo, e não só das suas pequenas obras.
Personagem
central e emblemática das terceiras moradas é o jovem rico do evangelho, incapaz
de responder plenamente a Cristo quando o Mestre lhe pede tudo. A provação gera
atitudes de humildade para com Deus, de obediência aos confessores, de amor
verdadeiro e misericordioso para com os outros.
O
tipo de oração destas moradas é exposto nas IV Moradas capítulo 1,6-9; é a
oração meditativa que pouco a pouco se abre ao recolhimento para ter a
capacidade de escutar a Deus e compreender a sua vontade. Através da oração
Deus educa ao amor.
IV MORADAS: A EXPERIÊNCIA DA GRAÇA
Depois
da prova e como consequência da acolhida das exigências totalitárias de Deus,
abre-se um período de passagem rumo a irrupção da vida de Deus na alma. Isto
responde à experiência teresiana depois da conversão. A temática dos três
capítulos das quartas moradas é bastante desordenada. Aconselha-se a leitura na
ordem seguinte:
-
capítulo 1: esboço das Moradas (1-5) e oração das III moradas;
-
capítulo 2: as duas nascentes (1-5);
-
capítulo 3: a oração de recolhimento (1-8);
-
capítulo 2: oração de quietude (2 e 6-10);
-
capítulo 3: os efeitos de transformação (9-14).
A
santa começa a tratar das formas passivas da oração, da passagem para a vida
mística com clara referência à experiência psicológica, às novas formas de
oração infusa, aos frutos abundantes que lhe provém da presença de Deus. É
essencial o vocabulário (“contentos-gostos”, natural-sobrenatural), e o símbolo
das duas nascentes.
Todavia
coloca em guarda contra as falsas experiências místicas, contra a tentação
pseudomística de querer forçar a mão a Deus e entrar por si mesmos na
experiência passiva e mística.
O
dom é sempre gratuito. Deus concede-o quando quer, como quer e a quem quer. Temos
duas lições fundamentais: 1) É impossível com as próprias forças e técnicas
alcançar a vida mística; podemos dispor-nos, mas não forçar o ingresso no
sobrenatural. 2) Não acontece uma verdadeira conversão e uma renovação interior
se Deus, mesmo com a mais dura e calculada ascese, se não intervém a sua graça.
V MORADAS: A TRANSFORMAÇÃO E A VIDA NOVA
As
quintas moradas são ponto de chegada, após a provação das terceiras e a inicial
experiência mística das quartas, e ponto de partida rumo às sétimas. Mas podem
ser também o ponto de chegada de uma autêntica vida cristã, perfeita, como vida
em Cristo. Corresponde à experiência teresiana da novidade de vida. Teresa
apresenta estas moradas com grande entusiasmo e alegria (cap. 1-3), como uma
autêntica experiência de vida cristã: tesouro escondido e pérola preciosa do
Evangelho, em correspondência à vocação carmelitana da contemplação, vivida
pelos Padres do Monte Carmelo, mas que requer o dom total de si.
O
capítulo 1 apresenta a graça da união e os efeitos de certeza e transformação
que a passagem de Deus procura à pessoa.
O
capítulo 2 apresenta o modo com que age a transformação através do símbolo do
bicho-da-seda, que se transforma mediante a morte numa borboleta branca.
Demora-se em descrever alguns efeitos de liberdade, de desejo de louvar a Deus,
de impulso apostólico para que outros o conheçam e o amem. A pessoa adquire
grande maturidade afetiva e abertura apostólica universal.
O
capítulo 3 enquanto prossegue na descrição de outros efeitos da graça da
transformação, oferece uma chave muito interessante de leitura do processo da
vida espiritual. No estado das quintas moradas, com a graça da união e os
efeitos de transformação e de vida em Cristo, se pode chegar através da graça
da união acima descrita, mas também por meio do longo caminho de transformação
que comporta o cumprir com perfeição a vontade de Deus. Tal conformidade com a
vontade de Deus tem a capacidade de transformar a pessoa.
A
partir do nº 6 e até o fim do capítulo, num dos textos mais bonitos e realistas
das Moradas, oferece uma teologia e uma pedagogia da vontade de Deus no amor do
próximo com todas as suas exigências. Coloca o amor do próximo como primeiro
sinal do amor de Deus; e ensina que a caridade tem como raiz o amor de Deus.
Educa também à caridade concreta das obras de misericórdia corporais e
espirituais como experiência viva do amor fraterno que transforma a pessoa e
eleva também à graça da união.
O
capítulo 4 enquanto prossegue com o mesmo tema e indica outros traços da
perfeição adquirida pela pessoa na maturidade do serviço de Deus (fidelidade,
humildade, perseverança, amor criativo), se abre à exposição das sextas moradas
introduzindo o símbolo do matrimônio espiritual.
VI Moradas: desposório espiritual e graças místicas
As
sextas Moradas constituem um pequeno tratado de vida mística e de fenômenos místicos.
Teresa tem consciência de que são sempre menos as almas que chegam a estas
salas do Castelo. Todavia apresenta um vasto panorama de fenômenos místicos que
são as típicas manifestações com as quais Deus intensifica a preparação da
esposa para o matrimônio espiritual com purificações, iluminações e impulsos
unitivos.
Em
cada uma das graças Teresa expõe a experiência concreta, os efeitos da graça,
os eventuais critérios de discernimento para evitar as mistificações, sempre de
tocaia.
Uma
chave de leitura temática desses capítulos pode ser ofertada com a seguinte
divisão:
A. Graças de purificação passiva
Trata-se
de diversas graças que abrem e fecham as sextas moradas (cap. 1 e 11) e que purificam
a alma no cadinho das provações interiores.
-
capítulo 1: incompreensões, solidões, doenças.
-
capítulo 7: na primeira parte (1-4), purificação pela lembrança dos pecados.
-
capítulo 11: purificações interiores intensíssimas, como um purgatório antes do
céu.
B. Graças de iluminação
Deus
com uma nova forma de comunicação intensifica na alma o conhecimento de si e
dos seus mistérios
capítulo
3: as palavras de Deu, locuções místicas.
capítulos
8-9: Visões e revelações.
capítulo
7: A centralidade da humanidade de Cristo na vida espiritual e mística.
capítulo
9: A revelação do mistério de Deus como verdade absoluta e fontal.
C. Graças de união: impulsos unitivos
Deus
comunica à alma o seu amor por meio de diversas graças que geram nela o amor:
capítulo
2: impulsos que despertam a alma e lhe recordam a sua presença.
capítulo
3: diversas graças de tipo emotivo e somático: êxtases e feridas de amor.
capítulo
11: grandes penas e desejo de ver a Deus depois da experiência de sua ausência.
Por
meio das intensas graças místicas com as quais Deus se comunica a pessoa fica purificada,
iluminada, fortalecida nas virtudes cristãs, já pronta para a graça do
matrimônio espiritual.
VII MORADAS: MATRIMÔNIO ESPIRITUAL E SANTIDADE PERFEITA
As
sétimas moradas constituem a meta e o fim do longo caminho do Castelo Interior,
a chegada à plenitude da vida mística cristã. Teresa fala da sua experiência,
com segurança mas também com as convicções de que Deus pode ainda fazer coisas
maiores. Nos quatro capítulos temos o cume das experiências místicas
trinitárias e cristológicas, da profundidade e beleza da alma, dos efeitos da
vida sobrenatural, do equilíbrio entre vida mística e apostolado eclesial.
O
primeiro capítulo descreve o ingresso na última morada, o aposento real, onde
caem as escamas dos olhos, entra em comunhão coma Trindade que contempla em
visão intelectual, experimenta as palavras da Escritura que falam da inabitação,
goza permanentemente da sua presença, atônita pelo dom da sua companhia e a
contemplação da beleza da alma.
O
segundo capítulo descreve a graça do matrimônio espiritual, como foi
experimentada pela santa, com a visão da sacratíssima e gloriosa Humanidade de
Cristo e as suas inefáveis palavras. Teresa recebe a consagração como
Igreja-Esposa: as tuas coisas são minhas e as minhas são tuas. Procura
expressar com palavras bíblicas de Paulo, de João e com símbolos o sentido
desta união, prefigurada nas palavras de Cristo na sua oração sacerdotal; descreve
ademais a comunicação com Deus no profundo silêncio.
O
terceiro capítulo descreve numa síntese autobiográfica os maravilhosos efeitos
de transformação do matrimônio espiritual: o profundo sentimento do próprio
nada diante de Deus, o amor pelos inimigos, o desejo pacificado de cumprir a
vontade de Deus e de doar a vida por Ele, sem vontade própria, nem de viver nem
de morrer, mas somente de trabalhar pela sua glória. A alma sente-se como uma
nave carregada de grandes tesouros que tem medo de afundar pelo peso de glória
que carrega.
Ainda
no início do quarto capítulo coloca em luz o senso de certeza e segurança da
graça e da gloria e juntamente com o da profunda humildade com que se entrega a
Deus.
A
partir do nº 4 do quarto capítulo a Santa faz uma espécie de síntese
teológica-espiritual das sétimas moradas e ao mesmo tempo de todo o arco da
vida espiritual, como será explicado num capítulo especial na terceira parte.
EPÍLOGO
No
epílogo da obra, a autora manifesta toda a sua alegria por ter podido realizar
o trabalho e está radiante pelo bom sucesso. Convida as monjas a entrar nesta
aventura do castelo Interior, pra percorrer os degraus, os labirintos, admiras
esplêndidas fontes deste palácio encantado da alma e de Deus. Confessa o seu
amor e a sua fidelidade à Igreja católica e Romana, e encerra com uma
doxologia.
ESQUEMA
E LEITURA DO LIVRO DAS MORADAS
AUTOBIOGRAFIA
|
SÍMBOLOS
|
ESTADO
ESPIRITUAL ORAÇÃO
|
I. 1515-1530
Infância, adolescência
inocência, vocação e graças,
dissipação
*Castelo,
fossado, árvore
|
Primeiras graças
Primeiras caídas
Tomar consciência da vida cristã: “entrar”
|
Primeiras experiências
oração rudimentar
|
II. 1530-1543
Vocação religiosa, doenças e crises
*o
surdo-mudo
|
Chamados de Deus e resistências humanas lutas:
“caindo e levantando-se”
|
Meditação: auxílio da razão e da fé, da memória
e da vontade
|
III. 1544-1554
Luta e impotência
busca de Cristo
amizades
* Caminho
difícil
|
Vida em ordem desejo de não ofender a Deus mas
com orgulho secreto e falsa
segurança; necessidade da humildade
|
Meditação, simples olhar, “contentamento” estar na presença de Deus
|
IV. ...1554...
Conversão profunda
primeiras graças místicas
*as
duas nascentes
|
O reino da graça
estabelecer-se no bem;
vida interior;
evitar as ocasiões
|
Recolhimento infuso, quietude, “gostos”, pré-êxtases
|
V.
1554-1560
Na
presença de Deus
Primeiras
graças de presença de Cristo
*Bicho-da-seda,
selo,”ver-se”
|
Morte de si mesmo e união com Deus: com a
vontade e com todo o seu ser; as obras da caridade; o mais certo sinal é o
amor
|
Oração de união, graça e estado de união. Deus
presente na essência da alma
|
VI. 1560-1572
Período de êxtases
Graças narradas nas Relações
*feridas,
foco, sonhos, desposório
|
Passar pelo cadinho;
sofrimentos, purificações,
tensão cristológica e escatológica, catarse dos
próprios pecados
|
Formas estáticas
visões
locuções
arroubos
feridas de amor
ímpetos de ver a Deus
|
VII. 1572-1582
Aliança de fidelidade
graças trinitárias
serviço eclesial
*símbolo nupcial
o aposento interior
|
Marta e Maria juntas
tensão eclesial
segurança da graça
|
Contemplação perfeita no Silêncio da comunhão trinitária
|
TEXTOS BÍBLICOS
|
TIPOLOGIAS BÍBLICAS
|
MISTÉRIO DE CRISTO
|
I.“À
sua imagem e semelhança”, “muitas moradas”; “pérola oriental”, “diamante”
|
Paulo
e Madalena; cego de nascença;
paralítico da piscina;
mulher de Ló; filho pródigo
|
“Os
olhos em Cristo para
aprender
a humildade”
CRISTO REDENTOR
|
II.“Quem
caminha no perigo, perece”; “Mestre o que devemos fazer?” “Sem a sua ajuda
nada podemos...”
|
Surdo-mudo.
Israel no deserto.
Soldados
de Gedeão. Filhos de Zebedeu
|
Fitar
o Cristo. Imitar a sua vida.
Quem
me vê, vê o Pai.
CRISTO MODELO
|
III.
“Feliz o homem que teme o Senhor...” Prova-nos tu, Senhor que conheces a
verdade. Não a nossa vontade mas a tua...
|
O
jovem rico.
Pedro:
“Deixamos tudo”.
Tomé:
“Vamos morrer com ele”.
Davi e Salomão
|
Confiar
nos merecimentos de Cristo.
Um
Deus tão generoso que morreu
por nós.
CRISTO MESTRE
|
IV.
“Dilatastes o meu coração”
São
seus os bens. Não é injusto com ninguém. Tudo pode em Deus
|
Os
operários da vinha.
A
Esposa dos Cânticos
|
Pelo
caminho do amor, para servir
somente Jesus Crucificado
CRISTO FONTE VIVA
|
V.
“Muitos os chamados, poucos os escolhidos”: a pérola e o tesouro;
o
aposento interior
amor de Deus e do próximo
|
Os
Pais do Carmelo.
A
esposa dos Cânticos.
Saul
e Judas (risco de voltar atrás)
|
Pelo
caminho do amor, para
servir
somente Jesus Crucificado
CRISTO FONTE VIVA
|
VI.
“Ele é fiel”. Quem muito deve muito deve pagar. Todo o homem é mentira.
Caminhar na verdade. O que é a verdade?
|
Jacó
e a escada. Moisés e a sarça. Elias e o fogo do céu. A Esposa do Cântico. O
filho pródigo em festa. Os Santos Francisco e Domingos
|
“Ele
é o caminho, a luz.
Ninguém
vai ao Pai a não ser por ele...” Fitar aquele que o nosso modelo. Celebrar
com a Igreja e
os
seus mistérios.
CRISTO ESPOSO
|
VII. “Quem
narrará as suas misericórdias?”“
Viremos morar nele”. “A paz esteja convosco”.
“Quem
adere a Deus torna-se um com ele”. “A vida é Cristo”.
“Todos sejam um”.
|
Paulo
e Madalena. Maria e os apóstolos.
Marta e Maria. A cerva
ferida, a pomba, o beijo da esposa. Os Santos Francisco e Domingos.
|
A Paz
de Cristo. As tuas coisas são minhas. Os olhos em Cristo Crucificado. Sabei o
que é ser espirituais verdadeiramente?
CRISTO SERVO SANTO
|
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