São João XXIII, Papa 11 de outubro |
Evangelho
(Lc 11,27-28): Naquele tempo, enquanto
Jesus assim falava, uma mulher levantou a voz no meio da multidão e lhe disse:
Feliz o ventre que te trouxe e os seios que te amamentaram. Ele respondeu:
Felizes, sobretudo, são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática.
Comentário: Rev. D. Jaume AYMAR i Ragolta (Badalona,
Barcelona, Espanha)
Feliz o ventre que te
trouxe e os seios que te amamentaram
Hoje,
escutamos o melhor dos louvores que Jesus podia fazer a sua própria Mãe:
Felizes (...) são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática (Lc
11,28). Com essa resposta, Jesus Cristo não rejeita o apaixonado elogio que
aquela simples mulher dedicava a sua Mãe, pelo contrário o aceita e vai além,
explicando que Maria Santíssima é bem-aventurada, sobretudo! Pelo fato de ter
sido boa e fiel no cumprimento da Palavra de Deus.
Às
vezes me perguntam se os cristãos acreditam na predestinação, como acreditam
outras religiões. Não! Os cristãos acreditamos que Deus tem reservado um
destino de felicidade para nós. Deus quer que sejamos felizes, afortunados,
bem-aventurados. Prestemos atenção em como essa palavra vai se repetindo nos
ensinos de Jesus: Felizes, felizes, felizes... . Felizes os pobres, os mansos,
os que têm fome e sede da justiça, os que não viram, e creram! (cf. Mt 5,3-12; Jo
20,29). Deus quer nossa felicidade, uma felicidade que começa já neste mundo,
apesar de que os caminhos para chegar lá, não sejam nem a riqueza, nem o poder,
nem o êxito fácil, nem a fama, senão o amor pobre e humilde de quem tudo o
espera. A alegria de acreditar! Aquela da que falava o converso Jacques
Maritain.
Trata-se
de uma felicidade que é ainda maior do que a alegria de viver, porque
acreditamos em uma vida sem fim, eterna. Maria, a Mãe de Jesus, não é somente
afortunada por tê-lo trazido ao mundo, por tê-lo amamentado e criado; como
percebia aquela espontânea mulher do povoado, senão, sobretudo, por ter sido
ouvinte da Palavra e, por pô-la em prática: por ter amado e, por deixar se amar
por seu Filho Jesus. Como escrevia o poeta: Poder dizer mãe e ouvir-se dizer
filho meu / é a sorte que nos invejava Deus. Que Maria, Mãe do Amor Perfeito,
rogue por nós.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
*
O evangelho de hoje é bem curto, mas tem um significado importante no conjunto
do evangelho de Lucas. Ele nos traz a chave para entender o que Lucas ensina a
respeito de Maria, a Mãe de Jesus, no assim chamado Evangelho da Infância (Lc 1
e 2).
* Lucas 11,27: A
exclamação da mulher
“Enquanto
Jesus dizia essas coisas, uma mulher levantou a voz no meio da multidão, e lhe
disse: "Feliz o ventre que te carregou, e os seios que te amamentaram”. A
imaginação criativa de alguns apócrifos sugere que aquela senhora era uma
vizinha de Nossa Senhora lá em Nazaré. Tinha um filho, chamado Dimas, que, como
tantos outros rapazes da Galileia daquela época, entrou na guerrilha contra os
romanos, foi preso e executado junto com Jesus. Era o bom ladrão (Lc 23,39-43).
A mãe dele, ouvindo Jesus falar tão bonito ao povo, lembrou-se de Maria, sua
vizinha, e disse: “Como Maria deve ser feliz tendo um filho assim!”.
* Lucas 11,28: A
resposta de Jesus
Jesus
responde, fazendo o maior elogio à sua mãe: “Mais felizes são aqueles que ouvem
a palavra de Deus e a põem em prática”. Lucas fala pouco de Maria: aqui (Lc
11,28) e no Evangelho da Infância (Lc 1 e 2). Para ele, Lucas, Maria é a Filha
de Sião, imagem do novo povo de Deus. Ele apresenta Maria como modelo para a
vida das comunidades. No Concílio Vaticano II, o documento preparado sobre
Maria foi inserido como capítulo final no documento Lumen Gentium sobre a
Igreja. Maria é modelo para a Igreja. É, sobretudo na maneira de Maria
relacionar-se com a Palavra de Deus que Lucas vê o exemplo dela para a vida das
comunidades: “Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”.
Maria nos ensina como acolher a Palavra de Deus, como encarná-la, vivê-la,
aprofundá-la, ruminá-la, fazê-la nascer e crescer, deixar-nos moldar por ela,
mesmo quando não a entendemos ou quando ela nos faz sofrer. Esta é a visão que
está por de trás do Evangelho de Infância (Lc 1 e 2). A chave para entender
estes dois capítulos nos é dada no evangelho de hoje: “Felizes os que ouvem a
palavra de Deus e a põem em prática”. Veja como nestes capítulos Maria se
relaciona com a Palavra de Deus.
1. Lucas 1,26-38:
A
Anunciação: "Faça-se em mim segundo a tua palavra!"
Saber
abrir-se, para que a Palavra de Deus seja acolhida e se encarne.
2. Lucas 1,39-45:
A
Visitação: "Bem-aventurada aquela que acreditou!"
Saber
reconhecer a Palavra de Deus numa visita e em tantos outros fatos da vida.
3. Lucas 1,46-56:
O
Magnificat: “O Senhor fez em mim maravilhas!”
Reconhecer
a Palavra na história do povo e produzir um canto de resistência e de esperança
4. Lucas 2,1-20:
O
Nascimento: "Ela meditava sobre os fatos em seu coração"
Não
havia lugar para eles. Os marginalizados acolhem a Palavra.
5. Lucas 2,21-32:
A
Apresentação: "Meus olhos viram a tua salvação!"
Os
muitos anos de vida purificam os olhos.
6. Lucas 2,33-38:
Simeão
e Ana: "Uma espada vai atravessar sua alma"
Acolher
e encarnar a palavra na vida, ser sinal de contradição.
7. Lucas 2,39-52:
Aos
doze anos no templo: "Então, não sabiam que devo estar com o Pai?"
Eles
não compreenderam a Palavras que lhes foi dita!
8. Lucas 11,27-28:
O
Elogio à mãe: "Feliz o ventre que te carregou!"
Feliz
quem ouve e pratica a Palavra
Para um confronto
pessoal
1) Vocês consegue descobrir a Palavra
viva de Deus em sua vida?
2) Como você vive a devoção à Maria, a
mãe de Jesus?
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