São Brocardo, 2º Prior Geral da Ordem |
Comentário: Rev. D. Joan BLADÉ i Piñol (Barcelona,
Espanha)
Eles ficavam
maravilhados com os seus ensinamentos, pois sua palavra tinha autoridade.
Hoje
vemos como a atividade de ensinar foi, para Jesus, a missão central de sua vida
pública. Porém a pregação de Jesus era muito diferente da dos outros mestres e
isso fazia com que as pessoas se espantassem e se admirassem. Certamente, ainda
que o Senhor não tivesse estudado (cf. Jo 7,15), desconcertava a todos com sua
doutrina, porque «falava com autoridade» (Lc 4,32). Seu estilo possuía a autoridade
de quem se sabia o “Santo de Deus”.
Precisamente
aquela autoridade no seu falar era o que dava força a sua linguagem. Utilizava
imagens vivas e concretas, sem silogismos nem definições; palavras e imagens
que extraía da própria natureza quando não das Sagradas Escrituras. Não há
dúvida de que Jesus era um bom observador, homem próximo das situações humanas:
ao mesmo tempo em que o vemos ensinando, também o contemplamos perto das
pessoas fazendo-lhes o bem (curando as doenças e expulsando demônios, etc.).
Lia no livro da vida diária as experiências que depois lhe serviriam para
ensinar. Ainda que fosse um material tão simples e “rudimentar”, a palavra do
Senhor era sempre profunda, inquietante, radicalmente nova, definitiva.
O
mais admirável da fala de Jesus Cristo, era esse saber harmonizar a autoridade
divina com a mais incrível simplicidade humana. Autoridade e simplicidade eram
possíveis em Jesus graças ao conhecimento que possuía do Pai e de sua relação
de amorosa obediência a Ele (cf. Mt 11,25-27). Esta relação com o Pai é o que
explica a harmonia única entre a grandeza e a humildade. A autoridade de seu
falar não se ajustava aos parâmetros humanos; não havia disputa, nem interesses
pessoais ou desejo de sobressair. Era uma autoridade que se manifestava tanto
na sublimidade da palavra ou da ação como na humildade e simplicidade. Não houve
nos seus lábios nem louvor pessoal, nem soberba nem gritos. Mansidão, doçura,
compreensão, paz, serenidade, misericórdia, verdade, luz, justiça... Foi o aroma
que rodeava a autoridade de seus ensinos.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
*
No evangelho de hoje, vamos ver de perto dois assuntos: a admiração do povo
pela maneira de Jesus ensinar e a cura de um homem possuído por um demônio
impuro. Nem todos os evangelistas contam os fatos do mesmo jeito. Para Lucas, o
primeiro milagre é a calma com que Jesus se livrou da ameaça de morte da parte
do povo de Nazaré (Lc 4,29-30) e a cura do homem possesso (Lc 4,33-35). Para
Mateus, o primeiro milagre é a cura de uma porção de doentes e endemoninhados
(Mt 4,23) ou, mais especificamente, a cura de um leproso (Mt 8,1-4). Para Marcos,
foi a expulsão de um demônio (Mc 1,23-26). Para João, o primeiro milagre foi em
Caná, onde Jesus transformou água em vinho (Jo 2,1-11). Assim, na maneira de
contar as coisas, cada evangelista mostra qual foi, segundo ele, a maior
preocupação de Jesus.
* Lucas 4,31: A
mudança de Jesus para Cafarnaum
“Jesus
foi a Cafarnaum, cidade da Galileia, e aí ensinava aos sábados”. Mateus diz que
Jesus foi morar em Cafarnaum (Mt 4,13). Mudou de residência. Cafarnaum era uma
pequena cidade junto ao entroncamento de duas estradas importantes: uma que
vinha da Ásia Menor e ia para Petra no sul da Transjordânia, e a outra que
vinha da região dos rios Eufrates e Tigre e descia para o Egito. A mudança para
Cafarnaum facilitava o contato com o povo e a divulgação da Boa Nova.
* Lucas 4,32: Admiração
do povo pelo ensino de Jesus
A
primeira coisa que o povo percebe é o jeito diferente de Jesus ensinar. Não é
tanto o conteúdo, mas sim o jeito de ensinar, que impressiona. “Jesus falava
com autoridade”. Marcos acrescenta que, por este seu jeito diferente de
ensinar, Jesus criava consciência crítica no povo com relação às autoridades
religiosas da época. O povo percebia e comparava: Ele ensina com autoridade,
diferente dos escribas” (Mc 1,22. 27). Os escribas da época ensinavam citando
autoridades. Jesus não cita autoridade nenhuma, mas fala a partir da sua
experiência de Deus e da vida.
* Lucas 4,33-35: Jesus
combate o poder do mal
O
primeiro milagre é a expulsão de um demônio. O poder do mal tomava conta das
pessoas e as alienava. Jesus devolve as pessoas a si mesmas. Devolve a
consciência e a liberdade. E ele o faz pelo poder da sua palavra:
"Cale-se, e saia dele!" Ele dizia em outra ocasião: “Se é pelo dedo
de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus chegou para vocês”
(Lc 11,20). Hoje também, muita gente vive alienada de si mesma pelo poder dos
meios de comunicação, da propaganda do governo e do comércio. Vive escrava do
consumismo, oprimida pelas prestações e ameaçada pelos cobradores. Acha que não
vive direito enquanto não comprar aquilo que a propaganda anuncia. Não é fácil
expulsar este poder que hoje aliena tanta gente, e devolver as pessoas a si
mesmas!
* Lucas 1,36-37: A
reação do povo: ele manda nos espíritos impuros primeiro impacto
Além
do jeito diferente de Jesus ensinar as coisas de Deus, o outro aspecto que
causava admiração no povo era o seu poder sobre os espíritos impuros: "Que
palavra é essa? Ele manda nos espíritos impuros com autoridade e poder, e eles
saem". Jesus abre um novo caminho para o povo poder conseguir a pureza
através do contato com ele. Naquele tempo, uma pessoa impura não podia
comparecer diante de Deus para rezar e receber a bênção prometida a Abraão.
Teria que purificar-se, primeiro. Havia muitas leis e normas que dificultavam a
vida do povo e marginalizavam muita gente como impura. Mas agora, purificadas
pela fé em Jesus, as pessoas podiam comparecer novamente na presença de Deus e
rezar a Ele, sem necessidade de recorrer àquelas complicadas e, muitas vezes,
dispendiosas normas de pureza.
Para um confronto
pessoal
1) Jesus provocava a admiração do
povo. A atuação da nossa comunidade aqui no bairro provoca alguma admiração no
povo? Qual?
2) Jesus expulsava o poder do mal e
devolvia as pessoas a si mesmas. Hoje, muita gente vive alienada de si mesma e
de tudo. Como devolvê-las a si mesmas?
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