Nossa Senhora Rainha dos Anjos - 2 de agosto |
Evangelho
(Mt 14,1-12): Naquele tempo, a fama de
Jesus chegou aos ouvidos do rei Herodes. Ele disse aos seus cortesãos: «É João
Batista! Ele ressuscitou dos mortos; por isso, as forças milagrosas atuam
nele». De fato, Herodes tinha mandado prender João, acorrentá-lo e colocá-lo na
prisão, por causa de Herodíades, a mulher de seu irmão Filipe. Pois João vivia
dizendo a Herodes: «Não te é permitido viver com ela». Herodes queria matá-lo,
mas ficava com medo do povo, que o tinha em conta de profeta. Por ocasião do
aniversário de Herodes, a filha de Herodíades dançou diante de todos, e agradou
tanto a Herodes que ele prometeu, com juramento, dar a ela tudo o que pedisse.
Instigada pela mãe, ela pediu: «Dá-me aqui, num prato, a cabeça de João
Batista». O rei ficou triste, mas, por causa do juramento e dos convidados,
ordenou que atendessem ao pedido dela. E mandou cortar a cabeça de João, na
prisão. A cabeça foi trazida num prato, entregue à moça, e esta a levou para a
sua mãe. Os discípulos de João foram buscar o corpo e o enterraram. Depois
vieram contar tudo a Jesus.
Comentário: Rev. D. Joan Pere PULIDO i Gutiérrez (Sant
Feliu de Llobregat, Espanha)
A fama de Jesus chegou
aos ouvidos do rei Herodes
Hoje,
a liturgia convida-nos a contemplar uma injustiça: A morte de João Batista; e,
também, descobrir na Palavra de Deus a necessidade de um testemunho claro e
concreto de nossa fé para encher o mundo de esperança.
Convido-os
a focalizar nossa reflexão na personagem do tetrarca Herodes. Realmente, para
nós, não é um verdadeiro testemunho, mas nos ajudará a destacar alguns aspectos
importantes para a nossa declaração de fé em meio do mundo. «Naquele tempo, a
fama de Jesus chegou aos ouvidos do rei Herodes» (Mt 14,1). Esta afirmação
distingue uma atitude aparentemente correta, mas pouco sincera. É a realidade
que hoje podemos achar em muitas pessoas e, talvez também em nós mesmos. Muitas
pessoas têm ouvido falar de Jesus, mas, quem é Ele realmente? que implicância
pessoal nos une a Ele?
Em
primeiro lugar, é necessário dar uma resposta correta; a do tetrarca Herodes
não passa de ser uma vaga informação: «É João Batista! Ele ressuscitou dos
mortos» (Mt 14,2). Com certeza sentimos falta da afirmação de Pedro diante da
pergunta de Jesus: «E vós, quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: ‘Tu
és o Cristo, o Filho do Deus vivo’» (Mt 16,15-16). E esta afirmação não dá
lugar para o medo ou para a indiferença, e sim abre a porta a um testemunho
fundamentado no Evangelho da esperança. Assim o definia João Paulo II na sua
Exortação apostólica A Igreja na Europa: «Junto à Igreja toda, convido aos meus
irmãos e irmãs na fé a se abrirem constante e confiadamente a Cristo e, a se
deixar renovar por Ele, anunciando com o vigor da paz e o amor a todas as
pessoas de boa vontade que, quem encontra ao Senhor conhece a Verdade, descobre
a Vida e, reconhece o Caminho que conduz a ela».
Que,
hoje sábado, a Virgem Maria, a Mãe da esperança, nos ajude de verdade a
encontrar Jesus e, a dar um bom testemunho Dele aos nossos irmãos.
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
Indulgência da Porciúncula - 2 de agosto |
* Mateus 14,1-2. Quem
é Jesus para Herodes
O
texto começa informando a opinião de Herodes a respeito de Jesus: "Ele é
João Batista, que ressuscitou dos mortos. É por isso que os poderes agem nesse
homem". Herodes procurava compreender Jesus a partir dos medos que o
assaltavam após o assassinato de João. Herodes era um grande supersticioso que
escondia o medo atrás da ostentação da sua riqueza e do seu poder.
* Mateus 14,3-5: A
causa escondida do assassinato de João.
Galileia,
terra de Jesus, era governada por Herodes Antipas, filho do rei Herodes, o
Grande, desde quatro antes de Cristo até 39 depois de Cristo. Ao todo, 43 anos!
Durante todo o tempo que Jesus viveu, não houve mudança de governo na Galileia!
Herodes era dono absoluto de tudo, não prestava conta a ninguém, fazia o que
bem entendia. Prepotência falta de ética, poder absoluto, sem controle por
parte do povo! Mas quem mandava mesmo na Palestina, desde 63 antes de Cristo,
era o Império Romano. Herodes, lá na Galileia, para não ser deposto, procurava
agradar a Roma em tudo. Insistia, sobretudo numa administração eficiente que
desse lucro ao Império. A preocupação dele era a sua própria promoção e
segurança. Por isso, reprimia qualquer tipo de subversão. Mateus informa que o
motivo do assassinato de João foi a denúncia que o Batista fez a Herodes por
ele ter casado com Herodíades, mulher do seu irmão Filipe. Flávio José,
escritor judeu daquela época, informa que o motivo real da prisão de João
Batista era o medo que Herodes tinha de um levante popular. Herodes gostava de
ser chamado de benfeitor do povo, mas na realidade era um tirano (Lc 22,25). A
denúncia de João contra Herodes foi a gota que fez transbordar o copo: "Não
te é permitido casar com ela”. E João
foi preso.
* Mateus 14,6-12: A
trama do assassinato.
Aniversário
e banquete de festa, com danças e orgias! Marcos informa que a festa contava
com a presença “dos grandes da corte, dos oficiais e das pessoas importantes da
Galileia” (Mc 6,21). É nesse ambiente que se trama o assassinato de João
Batista. João, o profeta, era uma denúncia viva desse sistema corrupto. Por
isso foi eliminado sob pretexto de um problema de vingança pessoal. Tudo isto
revela a fraqueza moral de Herodes. Tanto poder acumulado na mão de um homem
sem controle de si! No entusiasmo da festa e do vinho, Herodes fez um juramento
leviano a Salomé, a jovem dançarina, filha de Herodíades. Supersticioso como
era, pensava que devia manter esse juramento, atendeu ao capricho da menina e
mandou o soldado trazer a cabeça de João num prato e dar à dançarina, que o
entregou à sua mãe. Para Herodes, a vida dos súditos não valia nada. Dispunha
deles como dispunha da posição das cadeiras na sala.
As
três marcas do governo de Herodes: a nova Capital, o latifúndio e a classe dos
funcionários:
1.
A Nova Capital. Tiberíades foi
inaugurada quando Jesus tinha seus 20 anos. Era chamada assim para agradar a
Tibério, o imperador de Roma. Lá moravam os donos das terras, os soldados, a
polícia, os juízes muitas vezes insensíveis (Lc 18,1-4). Para lá eram levados
os impostos e o produto do povo. Era lá que Herodes fazia suas orgias de morte
(Mc 6,21-29). Tiberíades era a cidade dos palácios do Rei, onde vivia o pessoal
de roupa fina (cf. Mt 11,8). Não consta nos evangelhos que Jesus tenha entrado
nessa cidade.
2.
O Latifúndio. Os estudiosos informam
que, durante o longo governo de Herodes, cresceu o latifúndio em prejuízo das
propriedades comunitárias. O Livro de Henoque denuncia os donos das terras e
expressa a esperança dos pequenos: “Então, os poderosos e os grandes já não
serão mais os donos da terra!” (Hen 38,4). O ideal dos tempos antigos era este:
“Cada um debaixo da sua vinha e da sua figueira, sem que haja quem lhes cause
medo” (1 Mac 14,12; Mq 4,4; Zac 3,10). Mas a política do governo de Herodes
tornava impossível a realização deste ideal.
3.
A Classe dos funcionários. Herodes criou toda uma classe de funcionários fieis
ao projeto do rei: escribas, comerciantes, donos de terras, fiscais do mercado,
coletores de impostos, militares, policiais, juízes, promotores, chefes locais.
Em cada aldeia ou cidade havia um grupo de pessoas que apoiavam o governo. Nos
evangelhos, alguns fariseus aparecem junto com os herodianos (Mc 3,6; 8,15;
12,13), o que reflete a aliança entre o poder religioso e poder civil. A vida
do povo nas aldeias era muito controlada, tanto pelo governo como pela
religião. Era necessária muita coragem para começar algo novo, como fizeram
João e Jesus! Era o mesmo que atrair sobre si a raiva dos privilegiados, tanto
do poder religioso como do poder civil.
Para um confronto
pessoal
1. Conhece casos de pessoas que
morreram vítimas da corrupção e da dominação dos poderosos? E aqui entre nós,
na nossa comunidade e na igreja, há vítimas de desmando e de autoritarismo?
2. Herodes, o poderoso, que pensava
ser o dono da vida e da morte do povo, era um covarde diante dos grandes e um
bajulador corrupto diante da moça. Covardia e corrupção marcavam o exercício do
poder de Herodes. Compare com o exercício do poder religioso e civil hoje nos
vários níveis da sociedade e da Igreja.
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