«Entendestes tudo isto?
»
O
Evangelho deste Domingo propõe-nos as 3 últimas parábolas do Reino – do
tesouro, da pérola e da rede – que, juntamente com as 4 precedentes (do
semeador, da cizânia, do grão de mostarda e do fermento) constituem a riqueza
do Evangelho de S. Mateus. Ao todo são 7 parábolas que Jesus dirige em parte,
sentado no barco, à multidão presente no Lago de Tiberíades, e outra parte aos
seus discípulos.
Ir. Anabela Silva, fma.
Esta
passagem evangélica apresenta-nos parte da pregação de Jesus. O Mestre quer
explicar-nos através da comparação/semelhança o que é o Reino dos Céus, quais
as atitudes a adoptar. Mas, como já ouvimos tantas vezes, Jesus quer sobretudo
dizer que o Seu reino, aquele a que Ele deu início com a Sua vinda à terra, com
as suas palavras, com os seus gestos, com a sua Páscoa, já está presente na
história humana.
A
liturgia convida-nos a pararmos para uma breve reflexão/meditação na parte
final do discurso das parábolas. Na escuta atenta da Sua palavra e rezando-a
podemos descobrir que o Seu reino é o que de mais precioso podemos desejar. Ele
já começou e manifesta-se continuamente, mas ainda há um caminho a fazer e até
que se concretize plenamente trará consigo algumas contradições. É preciso agir
com uma opção clara e radical nos confrontos com o reino dos Céus. Se de facto
tem a importância de um tesouro ou de uma pérola de grande valor é preciso
segurá-lo, renunciando a muitas outras coisas, para sermos entre aqueles que
beneficiarão plenamente da Eternidade.
Evangelho
(Mt 13, 44-52) - Naquele tempo, disse
Jesus aos seus discípulos: «O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro
escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão
contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo. O Reino dos
Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar
uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola. O
Reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a
espécie de peixes. Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se,
escolhem os bons para os cestos e o que não presta deitam-no fora. Assim será
no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos e a
lança-los na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes. Entendestes
tudo isto? » Eles responderam-Lhe: «Entendemos. » Disse-lhes então Jesus: «Por
isso, todo o escriba instruído sobre o reino dos Céus é semelhante a um pai de
família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas. »
«Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «O Reino dos Céus é semelhante a um
tesouro escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e
ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo. »
Jesus
conta uma breve parábola para explicar o que é o reino dos Céus. E compara-o a
um grande tesouro, escondido, de difícil acesso e que é preciso procurar. Uma
vez encontrado, e dado o seu valor, com toda a prontidão se está disposto a
vender tudo para assegurar o tesouro. A parábola diz-nos que não se deseja
apenas possuir o tesouro mas o campo onde ele estava escondido. Esta atitude
que, aos olhos da lógica parece despropositada, é motivada pela alegria que
esta descoberta desencadeou no coração de quem o encontrou.
O
homem que encontrou o tesouro representa cada um de nós. Quem é que não sonha
encontrar um grande tesouro que lhe assegure o futuro? Quantas vezes não nos
encontramos a brincar ou a jogar à “caça ao tesouro”? Mas o tesouro de que nos
fala a passagem bíblica é muito mais que isso: o tesouro é o próprio Jesus. Ele
é a riqueza da vida cristã, é Ele que nos faz viver, mover e existir. Um
tesouro que nos é dado como dom. Um tesouro incomparável para descobrir,
guardar, viver e, como fez o homem da parábola, apostar tudo. Deixar tantas
coisas supérfluas, sem hesitações, dúvidas… e apostar tudo para receber Tudo,
Cristo. E nós, cristãos que fazemos com este dom?
Todos
andamos à procura do mesmo: Encontrar a felicidade. Cristo pode ser o tesouro
pelo qual tantos andamos à procura. E está à mão de semear.
Quem
o encontra manifesta o encontro pela atitude de alegria. A alegria de se ter
encontrado o tesouro mais valioso. E tudo se pode sintetizar a isto: ao
encontrar Jesus, encontra-se a alegria e a certeza de que ao dar tudo se recebe
muito mais.
«O Reino
dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Ao
encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola.
»
Ainda
uma simples parábola para nos dizer que o reino dos Céus é semelhante a uma
pérola preciosa que um negociante procura, encontra e adquire-a pagando por ela
um preço no valor de tudo quanto tem. Para a ter deve deixá-la por uns
instantes e providenciar o dinheiro suficiente para a compra. Como o homem da
primeira parábola, o negociante tenta rapidamente assegurar-se do precioso bem
e não olha a despesas.
Se
compararmos os dois homens podemos dizer que ambos se deixaram atrair pelo bem
encontrado - o tesouro e a pérola. Um, fruto da sorte, outro, fruto do empenho.
Ambos, perante realidades tão magníficas, tomam uma decisão definitiva e nessa
decisão há um querer, há uma vontade.
O
comportamento do negociante é imagem de quem procura, apaixonadamente, aquilo
que dá sentido à sua vida. Quando realmente se encontra o que desde sempre o
coração procura e deseja, vale a pena arriscar tudo. Por detrás existe uma
vontade – eu quero. E tudo se faz para se viver com o bem que se encontra. O
querer tanto algo e, sobretudo se é a razão da nossa alegria e do nosso viver,
vende-se tudo. E o verdadeiro discípulo raramente fala do que deixou mas muito
mais dá testemunho do que encontrou.
Beato Tito Brandsma, OCarm Presbítero e Mártir |
«O Reino
dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de
peixes. Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os
bons para os cestos e o que não presta deitam-no fora. »
Continuamos
com mais uma parábola: o reino dos Céus é semelhante a uma rede que é utilizada
segundo as suas funções – recolher do mar toda a espécie de peixe. Depois da
pesca, sentados e libertos do cansaço da procura e da espera nas águas, os
pescadores rapidamente procedem à separação, subdividindo segundo o tipo, a
grandeza, o valor de cada peixe, e atenção em distinguir o que é bom e o que é
menos bom.
Depois
do paralelismo entre tesouro e pérola, uma parábola sobre a pesca. Em cena
temos os pescadores como protagonistas que fizeram uma apanha abundante. Eles
não regressaram enquanto as redes não estavam cheias. Se quisermos falar em
termos de cristianismo diríamos que este é o tempo da Igreja. O tempo em que
todos nós vivemos, o tempo da rede. Tempo do anúncio da mensagem de Cristo; um
anúncio direcionado a todos – um anúncio ad agentes – uma bela notícia que
irrompe pela vida e que leva a aderir segundo o empenho de cada um. Nas
comunidades cristãs há uma variedade de peixes e existem peixes bons e peixes
menos bons. No nosso coração, nas nossas intenções também se vive a bondade, as
luzes e a maldade, as trevas. Uma dicotomia constante. E que por vezes não
deixa vir ao de cima a realidade do Reino. Este é o tempo da misericórdia e da
paciência de Deus. E o momento da separação chegará, até lá purifiquemo-nos de
tudo o que em nós impede de fazer crescer o Reino dos Céus.
«Assim
será no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos e a
lança-los na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes. »
No
fim dos tempos os anjos serão os encarregados/ responsáveis por separar aqueles
que viveram de um modo bom daqueles que viveram de um modo mau. Os tempos no
futuro indicam que o momento ainda está para acontecer. Será o tempo dos anjos
e de Deus, a dimensão eterna, e não a do homem, dimensão terrena. É o tempo em
que o destino dos maus será traçado: serão lançados na “fornalha ardente”,
lugar de choro e de sofrimento.
Mais
uma vez encontramos o paralelismo com o final da parábola da cizânia e da rede.
Depois do tempo da Igreja chegará o tempo do juízo final onde a inevitável
mistura de bondade e maldade, de autenticidade e hipocrisia, de bem e de mal na
vida do homem levará a caminhos diversos. Aqui fala-se apenas do destino dos
maus, mas se recordarmos a parábola da cizânia lembraremos que o destino dos
justos é a alegria plena. A opção pelo tesouro, pela pérola dá fruto. O risco
de se desperdiçar a vida apostando em “tesouros” errados não está longe. No fim
não importa muito se fomos bons ou maus mas seremos julgados pelo bem que
realizamos, pelos dons que recebemos e o que fizemos para que dessem fruto. No
mundo de hoje temos de marcar pela diferença: ou apostamos no verdadeiro
sentido da vida ou nunca sairemos dos tormentos da mesma.
«Entendestes
tudo isto? » Eles responderam-Lhe: «Entendemos. »
Interessante
que Jesus conclui o discurso com uma interrogação, dirigida não à multidão em
geral mas aos discípulos em particular. É uma questão aparentemente simples.
Interroga-os para que se tornem conscientes da importância de compreender
quanto ouviram dos seus lábios. Todos os discípulos, em uníssono, responderam
afirmativamente. Esses compreenderam as coisas que vêm reveladas aos
pequeninos, aos simples e não a todos. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça.
«Entendemos
»… sim, quase poderíamos dizer. É a resposta a um renovado chamamento; é
palavra agradável a Jesus o nosso “sim”. Os discípulos manifestaram que
acolheram e entenderam bem a longa mensagem de Jesus, e intuíram o mistério do
reino dos Céus. Chegou o tempo de passar à prática: trata-se de vivê-lo no
quotidiano junto com Jesus, enquanto Ele permanece e vivê-lo depois, quando
terão de dar razões do seu tesouro, da sua pérola que os conduziu a viver na
rede da comunidade cristã. Sim, eles compreenderam que a verdadeira riqueza do
seu viver é o reino. Não é muito diferente para nós. A mensagem continua a ser
clara e transparente, o anúncio explícito. Talvez nos falte a audácia e a
coragem se assumir uma vida que ao contrário do que possa parecer não nos pede
renúncias mas que toquemos e acolhamos a verdadeira VIDA, a vida de Deus na
nossa existência.
«Disse-lhes
então Jesus: «Por isso, todo o escriba instruído sobre o reino dos Céus é
semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas.
»
A
finalizar uma breve semelhança a conclusão de uma perícope evangélica: todo o
escriba formado na escola rabínica do Antigo Testamento e na tradição hebraica
e que tenha escutado o ensinamento em parábolas de Jesus e se tornou discípulo
do reino é semelhante a um pai de família que, no seu tesouro, sabe distinguir
o que é antigo do que é novo.
É
para isto, para a compreensão da mensagem de Jesus, que os discípulos são
sujeitos a uma radical transformação da sua vida: tendo sido destinatários privilegiados
da boa notícia do Evangelho, de hebreus observantes tornam-se cristãos
convictos de serem depositários de uma nova e radical verdade. São eles os
novos mestres da Lei que supera e cumpre a lei antiga. Saberão distinguir as
coisas antigas e daquelas novas, património do seu tesouro existencial.
Graças
à experiência com Jesus, à luz do Seu evangelho os discípulos de ontem e de
hoje saberão, em cada tempo e lugar, ensinar a novidade da mensagem cristã:
Deus é Amor, está no meio de nós, no nosso campo e nos chama a colaborar para
fazer crescer o seu Reino.
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