«…dá fruto e produz
ora cem, ora sessenta, ora trinta por um …»
Parábola
do semeador, da boa semente e da boa terra. Se o semeador é Cristo e a semente
a Sua Palavra, cada um de nós é terra que acolhe o empenho, esforço e entrega
do semeador que prepara a melhor semente para que a terra seja capaz de a
acolher, e, com tempo, bem irrigada, chegar a dar bons frutos. Não bastam, por
isso, um semeador e semente de qualidade. É preciso disponibilidade do terreno,
mesmo que seja bom, para acolher a boa semente. Porque em boa terra, a má
semente gera fortes e robustas ervas e plantas daninhas. Porque a terra para
ser boa tem de ser liberta das pedras, dos espinhos e regada com o Amor capaz
de transformar, capaz de dar fruto, capaz de fazer a diferença. Compreender
todas estas dimensões de Deus em nós, da importância da sua Palavra e da
importância da nossa disponibilidade, faz toda a diferença para que, em tempo
oportuno, o que Deus em nós semeia chegue a dar muito fruto. Porque, tal como a
chuva não chega ao céu sem ter cumprido o seu ciclo, também a Palavra do
Senhor, em terreno favorável, não regressa a Deus sem a experiência do louvor,
da glória e da contemplação. Deixa-te semear com a semente da Palavra, fazendo
da tua terra, campo fértil do Amor de Deus! Dá fruto e produz ora cem, ora
sessenta, ora trinta por um!
Pe. David Teixeira, SDB
Evangelho
São Mateus (13, 1-23) - Naquele dia,
Jesus saiu de casa e foi sentar-Se à beira-mar. Reuniu-se à sua volta tão
grande multidão que teve de subir para um barco e sentar-Se, enquanto a
multidão ficava na margem. Disse muitas coisas em parábolas, nestes termos:
«Saiu o semeador a semear. Quando semeava, caíram algumas sementes ao longo do
caminho: vieram as aves e comeram-nas. Outras caíram em sítios pedregosos, onde
não havia muita terra, e logo nasceram, porque a terra era pouco profunda; mas
depois de nascer o sol, queimaram-se e secaram, por não terem raiz. Outras
caíram entre espinhos e os espinhos cresceram e afogaram-nas. Outras caíram em
boa terra e deram fruto: umas, cem; outras, sessenta; outras, trinta por um.
Quem tem ouvidos, ouça». Os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe:
«Porque lhes falas em parábolas? ». Jesus respondeu: «Porque a vós é dado
conhecer os mistérios do reino dos Céus, mas a eles não. Pois àquele que tem
dar-se-á e terá em abundância; mas àquele que não tem, até o pouco que tem lhe
será tirado. É por isso que lhes falo em parábolas, porque veem sem ver e ouvem
sem ouvir nem entender. Neles se cumpre a profecia de Isaías que diz: ‘Ouvindo
ouvireis, mas sem compreender; olhando olhareis, mas sem ver. Porque o coração
deste povo tornou-se duro: endureceram os seus ouvidos e fecharam os seus
olhos, para não acontecer que, vendo com os olhos e ouvindo com os ouvidos e
compreendendo com o coração, se convertam e Eu os cure’. Quanto a vós, felizes
os vossos olhos porque veem e os vossos ouvidos porque ouvem! Em verdade vos
digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não viram e
ouvir o que vós ouvis e não ouviram. Escutai, então, o que significa a parábola
do semeador: Quando um homem ouve a palavra do reino e não a compreende, vem o
Maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração. Este é o que recebeu a
semente ao longo do caminho. Aquele que recebeu a semente em sítios pedregosos
é o que ouve a palavra e a acolhe de momento com alegria, mas não tem raiz em
si mesmo, porque é inconstante, e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por
causa da palavra, sucumbe logo. Aquele que recebeu a semente entre espinhos é o
que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução da riqueza sufocam
a palavra, que assim não dá fruto. E aquele que recebeu a palavra em boa terra
é o que ouve a palavra e a compreende. Esse dá fruto e produz ora cem, ora
sessenta, ora trinta por um».
Reuniu-se
à sua volta tão grande multidão (…) Disse muitas coisas em parábolas (…)
Jesus
era realmente uma pessoa que cativava os outros. Só assim se explica o facto de
se reunir à sua volta uma grande (!) multidão. A esta multidão, Jesus dirige
algumas palavras em forma de parábolas. Forma esta que era a mais próxima e
acessível às pessoas para falar de algo tão inacessível como Deus e as suas
coisas.
Imagino-me
fazendo parte dessa grande multidão. Porque estou ali com Jesus Cristo? Porque
me deixei arrastar pelos outros? Porque ele me cativa? Ele dirige-me palavras
em que me fala de Deus. Sou capaz de as escutar? Mais ainda, sou capaz de as
pôr em prática?
Saiu o
semeador a semear. Quando semeava, caíram algumas sementes ao longo do caminho
(…). Outras caíram em sítios pedregosos, onde não havia muita terra (…). Outras
caíram entre espinhos (…). Outras caíram em boa terra e deram fruto (…).
Esta
parábola narra a experiência de qualquer judeu acostumado a semear. O acento de
Jesus vai para o que acontece à semente quando não cai só na terra boa, mas
também em diversos terrenos mais adversos. É este terreno que condiciona o
destino da semente.
Há
muitas coisas que Deus e os outros semeiam em mim. Que destino é que lhes dou?
Sou consciente de que esse destino depende da terra onde cai tudo aquilo que é
semeado? Como trabalho a minha terra, de modo que esteja livre de pedras e
espinhos e seja, portanto, arável e possa dar frutos? Ou sou preguiçoso/a e
ingrato/a?
Porque a
vós é dado conhecer os mistérios do reino dos Céus, mas a eles não.
Jesus
recorda aos seus discípulos que, por conviver com ele, só eles é que conseguem
entender os mistérios do reino dos Céus, ou seja, as coisas de Deus. Sem ele,
nenhuma destas coisas seria compreensível porque contradizem o modo consensual
de pensar e agir dos judeus no seu tempo.
Também
eu, como aqueles judeus, nem sempre consigo compreender muitas das coisas de
Deus, porque Deus será sempre para mim um mistério. Em que é que Deus continua
a ser um mistério para mim? Mas, de vez em quando, onde é que procuro encontrar
luz para essas coisas de Deus? É em Jesus e no seu Espírito ou é noutros
sítios?
É por
isso que lhes falo em parábolas, porque veem sem ver e ouvem sem ouvir nem
entender. Neles se cumpre a profecia de Isaías que diz: ‘Ouvindo ouvireis, mas
sem compreender; olhando olhareis, mas sem ver. Porque o coração deste povo
tornou-se duro: endureceram os seus ouvidos e fecharam os seus olhos (…) ’.
São
estranhas estas palavras de Jesus e a citação que faz do profeta Isaías como
argumento para falar à multidão em parábolas. Ele apenas pretende confirmar
que, tal como já acontecia com os antigos profetas, os judeus eram incapazes de
ver, ouvir e entender as coisas de Deus, porque eram duros de coração para
acolher a novidade de Deus.
Há
certamente novidades de Deus que também eu não consigo a entender. Talvez ainda
não consiga entender o sentido do fracasso e da cruz, o amor ao inimigo, a
Igreja, o suposto silêncio de Deus perante o mal, as bem-aventuranças, o eu ser
próximo dos outros... O que quero e posso fazer para suavizar a dureza do meu
coração, dos meus ouvidos e dos meus olhos?
Sta Teresa de Jesus dos Andes, Virgem |
Quanto a
vós, felizes os vossos olhos porque veem e os vossos ouvidos porque ouvem! Em
verdade vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não
viram e ouvir o que vós ouvis e não ouviram.
Jesus
recorda aos seus discípulos que eles são felizes por verem e ouvirem o que
muitos outros desejariam ter visto e ouvido. No entanto, mais importante do que
ver e ouvir é acreditar naquilo que veem e ouvem. E mais importante ainda é o
próprio Jesus que se faz próximo até ao ponto de poderem vê-lo e
escutá-lo.
Acredito
que Jesus Cristo continua a fazer-se próximo, permitindo-me que seja capaz de o
ver e ouvir? Dou-me conta de todo este privilégio? Como é que posso ir ao seu
encontro, vê-lo e escutá-lo no meu dia-a-dia? Sou verdadeiramente feliz por
poder vê-lo e escutá-lo? Sou agradecido? Ou sinto que a sua presença e as suas
palavras são um fardo?
Quando
um homem ouve a palavra do reino e não a compreende (…) ouve a palavra e a
acolhe de momento com alegria, mas não tem raiz em si mesmo, porque é
inconstante, e, ao chegar a tribulação ou a perseguição por causa da palavra,
sucumbe logo. (…) ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução da
riqueza sufocam a palavra, que assim não dá fruto. (…) ouve a palavra e a
compreende.
Jesus
não diz quem é o semeador, mas diz que a semente é a palavra do reino e que o
terreno é o homem que ouve a palavra. E, uma vez mais, o acento é posto no
homem-terreno onde cai essa semente. A palavra é semeada, mas é do homem que
vai depender que ela ganhe ou não raízes e dê ou não fruto.
A
palavra do reino é-me dirigida e, qual semente, espera encontrar em mim um bom
terreno para, depois, dar fruto. Como é a minha recepção a esta palavra?
Limito-me a ouvi-la, às vezes nem isso, ou procuro também compreendê-la,
enraizá-la em mim e cuidar dela para que possa dar o seu fruto, de tal modo que
tanto a palavra como a minha vida possam ter um sentido?
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