Em
cada Eucaristia, a Igreja celebra sempre a Morte do Senhor, juntamente com a
sua Ressurreição com a qual forma o Mistério Pascal. Na Sexta-Feira Santa,
porém, consagra-lhe um especial Rito Comemorativo, que normalmente, se realiza
à hora em que Jesus morreu, por volta das três horas da tarde.
Neste
dia e no Sábado Santo, a Igreja, segundo uma tradição muito antiga, não celebra
a Eucaristia. O altar deve estar totalmente despido: sem cruz, sem velas, sem
toalhas. Os sacerdotes e ministros revestem-se de cor vermelhos; a celebração
começa em silêncio. Trata-se de comungar no sacrifício voluntário de um homem
que é o Filho de Deus.
A
liturgia da Sexta-feira Santa apresenta a síntese da Paixão e Morte de Cristo.
A celebração compreende três partes bem distintas: a Liturgia da Palavra, a
Adoração da Cruz e a Comunhão Eucarística.
A
Liturgia da Palavra: Começa por nos introduzir, por meio de Isaías, de S. Paulo
e de S. João, no mistério do sofrimento e Morte de Jesus.
Isaías
(52,13 – 53,12) apresenta-nos o “Servo sofredor”. Escolhido por Deus para
libertar da opressão do pecado o Seu Povo, o “Servo” realizará na humilhação e
na dor a sua missão de resgate. Rei e profeta, será também consagrado, com a
unção do “Servo”, para exercer a função sacerdotal de mediador. Pelo sacrifício
da sua vida, oferecido a favor dos homens e em sua substituição, reconciliará
os homens com Deus. No seu aniquilamento conhecerá a glorificação: o seu
sacrifício dará origem a uma humanidade nova.
Apresentando
a figura misteriosa do “Servo” é Jesus Cristo que o profeta anuncia. Ele é o
“Servo de Deus”. Da Sua morte nascerá um novo Povo, a Igreja.
Assim,
solidário com os homens, pois assumiu a natureza humana com todas as limitações
e sofrimentos, Jesus não é apenas o “Homem das dores”, apresentado por Isaías.
É também o nosso Sumo Sacerdote, e o único Mediador entre Deus e os homens.
Pelo seu sacrifício de obediência, que o levou à cruz Ele resgatou a humanidade
e com a confiança do Pai, restituiu-lhe a misericórdia e a graça. A sua morte
foi causa da nossa salvação. Vamos ver isto na segunda leitura de S. Paulo aos
Hebreus 4,14-16; 5,7-9.
No
evangelho S. João (18,1-19,42), que era o discípulo predileto de Jesus, viveu de
perto a sua Paixão e no seu relato deixa, sobretudo, transparecer a sua
admiração pela maneira como Jesus enfrenta a morte. Não é, na verdade, como um
vencido pelo sofrimento que avança para ela. Consciente de que chegara Sua
“Hora”, encaminha-se, livremente e como senhor dos acontecimentos, a cumprir a
sua missão. Acompanhando-O no Seu sofrimento, João vê n’Ele o Verbo Encarnado,
O Verdadeiro Cordeiro de Deus, cujo Sacrifício redentor se prolongará,
sacramentalmente, na Igreja, presente em Maria que junto da Cruz de Jesus e ao
lado do Evangelista, se associava à geração da nova humanidade.
Depois
das leituras e a homilia, somos convidados a unir-nos a esse ato de expiação e
intercessão. Assim, a Liturgia da Palavra encerra-se com uma solene oração, que
abrange a humanidade inteira, pela qual Cristo morreu. Somos convidados a rezar
pelas grandes intenções da Igreja e do mundo para que a salvação de Cristo
alcance ao mundo inteiro e a cada homem e mulher em particular.
A
Adoração da Cruz: A Cruz, “sinal do amor universal de Deus”, símbolo do nosso
resgate, domina a segunda parte da Celebração. Levada, processionalmente até ao
altar, a cruz é apresentada à veneração de toda a humanidade pecadora,
representada pela assembleia cristã. Nela, nós adoramos Jesus Cristo, aquele
que foi suspenso da Cruz. Aquele que foi, que é a “salvação do mundo”. É a Ele
também que exprimimos o nosso reconhecimento quando beijamos a cruz. É a Ele
que pedimos, neste momento, a força para levarmos a nossa Cruz.
Depois
da contemplação do mistério da Cruz e da adoração de Cristo crucificado, a
Liturgia vai-nos introduzir no mais íntimo do Mistério Pascal, vai-nos pôr em
contacto com o próprio “Cordeiro Pascal”.
Comunhão
Eucarística: Não se celebrou a Eucaristia, no entanto, pela Comunhão do “Pão
que dá a Vida”, consagrado na Quinta- Feira Santa, somos mergulhados na sua
morte. Assim, unidos a Jesus enchemo-nos de força para passarmos da morte do
pecado à alegria da ressurreição.
Através
do Corpo do Senhor crucificado e ressuscitado ficamos também mais unidos ao Seu
Corpo Místico, isto é a Cristo que sofre e morre em cada homem e mulher do
nosso mundo. Como Jesus, também nos devemos dar a vida pelos nossos irmãos (1Jo
3,16).
Uma
vez que se distribui a comunhão acaba a celebração com uma oração do sacerdote.
Não há canto final, em silêncio todos se retiram, o altar fica desnudo sem
enfeites.
A
Igreja vigia junto a Cruz de Jesus!
Então
por que morreu Jesus? Como é possível tornar-se inimigo daquele que cura os
doentes, abraça e acaricia as crianças, ama os pobres, defende os fracos? Como
o Pai pode querer a morte de seu Filho? Será que Deus precisava ver correr o
sangue de um inocente? É difícil aceitar isso.
Vejamos,
Jesus apareceu como a luz do mundo (Jo 9,5). “A luz brilhou nas trevas, mas as
trevas não a receberam” (Jo 1,5).
Alguns
raios desta luz rasgaram as trevas do mundo. São raios que penetraram no
coração das pessoas simples enchendo-as de alegria e de esperança, mas
encadearam, incomodaram, tornaram-se insuportáveis para os olhos turvos de
outros, naquele tempo e hoje. Por que?
Porque
Jesus propôs um novo rosto de Deus: já não é o Deus justiceiro, mas um Deus que
acolhe e salva a cada pessoa; propôs um novo rosto da pessoa. Inverteu os
valores deste mundo: grande para Ele não é quem vence e domina, mas quem serve
os irmãos; propôs uma nova religião. Não a religião dos ritos, mas a que “adora
ao Pai em espírito e verdade”; propôs uma nova sociedade em que o “primeiro” é
o pobre, o débil, o marginalizado.
Jesus
não procurou a morte na cruz, simplesmente foi fiel a sua missão, foi fiel ao
Pai até morrer, até dar a sua vida por amor aos homens e fidelidade a Deus.
Será que nós estamos acolher o seu Reino, aceitando o novo rosto de Deus, a
nova religião, o novo rosto da pessoa e a nova sociedade por Ele proposto? “quem não está comigo está contra mim.”
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