«Bendito o que vem em
nome do Senhor»
A
liturgia deste Domingo está dividida em dois grandes momentos: o primeiro o
momento é o da aclamação a Jesus quando entra em Jerusalém e o segundo momento
o da Paixão. Neste domingo os cristãos são convidados a deixar-se envolver por
estes dois acontecimentos que manifestam o grande projeto de salvação que Deus
tem para cada um. Um projeto de Amor. O texto que é proposto para meditação ao
longo da Grande Semana, a Semana Santa, é o da entrada triunfal em Jerusalém
que em nada tira a meditação e reflexão para o Evangelho da Paixão. O Evangelho
da entrada em Jerusalém marca o início do grande ato litúrgico que vamos viver.
Os preparativos de Jesus com a colaboração dos discípulos, a entrada e a
aclamação com mantos e ramos de árvores, supostamente de oliveira, e cânticos
colocam-nos num cenário em que o messianismo é reconhecido, por uns, na pessoa
de Jesus. Hosana, bendito o que vem em nome do Senhor é a confirmação das
profecias, dos oráculos através dos quais o povo esperava e reconhecia a
chegada daquele que daria estabilidade e salvaria Israel. Contudo, conforme
vamos entrando nos acontecimentos, apercebemo-nos de que poucos entenderam e
acolheram qual o messianismo de Jesus. Demasiado agarrados à Lei e prescrições,
não souberam acolher a novidade para a qual estavam chamados, não souberam
abrir as suas mentes e o seu coração para uma renovação espiritual. Demasiado
agarrados às coisas exteriores não deram o passo para acolherem o poder
salvífico de Deus que liberta o homem da escravidão do pecado.
Anabela
Tavares da Silva, fma
«Quando
se aproximaram de Jerusalém e chegaram a Betfagé, junto ao Monte das Oliveiras,
Jesus enviou dois discípulos, dizendo-lhes: “Ide à povoação que está em frente.
»
Falta
pouco tempo para que se cumpra a obra de salvação para a qual Jesus de Nazaré
veio ao mundo. Consciente disso vai para Jerusalém a fim de celebrar a última
Páscoa, a Sua Páscoa. Para dar esse passo predispõe os seus discípulos para que
colaborem nos preparativos.
Jerusalém,
a cidade santa, o centro da fé monoteísta, o lugar de culto a YHWH. Na zona do
monte das Oliveiras, deve-se ver bem toda a sua extensão. Não é um lugar
desconhecido da Judeia como Belém, lugar onde Jesus nasceu, nem uma pequena
cidade perdida na Galileia como Nazaré, onde Jesus cresceu. É a Jerusalém que
Jesus olhou e até chorou sobre ela durante o seu percurso terreno. Jerusalém, o
lugar do primeiro discurso de Jesus aos 12 anos. E será este lugar que acolherá
as suas últimas palavras e verá o cumprimento da sua missão.
Chegados
a Betfagé – o nome da cidade significa “casa do figo imaturo/verde” Jesus
ordena a dois dos seus discípulos que realizem alguns gestos dos quais eles não
compreendem o significado. Ainda têm de crescer na confiança em Jesus, mesmo na
incompreensão, eles são úteis para a realização do seu projeto. São como o nome
da cidade “figos não amadurecidos”, como a multidão: não estão suficientemente
maduros para receber o Messias na sua missão libertadora a nível espiritual. E
nós como acompanhamos tudo isto? Qual a nossa colaboração?
«… e
encontrareis uma jumenta presa e, com ela, um jumentinho. Soltai-os e trazei-os.
E se alguém vos disser alguma coisa, respondei que o Senhor precisa deles, mas
não tardará em devolvê-los.” Isto sucedeu para se cumprir o que o profeta tinha
anunciado: “Dizei à filha de Sião: Eis o teu Rei, que vem ao teu encontro,
humildemente montado num jumentinho, o folho de uma jumenta.” »
Os
discípulos obedecem a uma ordem um pouco particular da parte de Jesus. Ele sabe
onde mandar-lhes para que encontrem o que é indispensável para entrar em
Jerusalém. Devem simplesmente obedecer à sua palavra e dizer aos donos dos
animais que não é um homem qualquer que precisa deles, mas é o “Senhor”. E em
Jerusalém já muitas profecias teriam sido anunciadas por vários profetas acerca
do messianismo, mas o de Jesus não era político… era salvífico e os gestos que
O acompanharão revelarão a autenticidade do mesmo, cheio de glória, de
humildade e de serviço.
Jesus
conhecia bem as profecias. E agiu assim para que se cumprissem as profecias
antigas. Como a Sua vinda (nascimento) em Belém, assim os seus últimos passos
em Jerusalém são o sinal de tudo o que o Antigo Testamento tinha pré-anunciado.
Surge a profecia de Isaías “Dizei à filha de Sião: Eis o teu Rei, que vem ao
teu encontro, humildemente montado num jumentinho, o filho de uma jumenta.”
para reforçar e valorizar o cumprimento das mesmas. De fato a identidade de
Jesus é perfeitamente reconhecível nos modos de ser e de se apresentar. Este é
um excerto que nos faz viver um momento de revelação. A Filha de Sião tem de
rejubilar com a entrada triunfal do seu Rei. Também nós nos devemos alegrar
pelo triunfo espiritual e salvífico do nosso Rei, Jesus Cristo, que sempre usou
como poder a força do amor, na humildade de se reconhecer como servo de todos.
«Os
discípulos partiram e fizeram como Jesus lhes ordenara: trouxeram a jumenta e o
jumentinho, puseram-lhe em cima as suas capas e Jesus sentou-se sobre elas. »
Jesus,
provavelmente, insere-se num dia solene para o povo hebreu. Os discípulos foram
e fizeram tudo como Jesus dissera. Em seguida colocam as capas em cima dos
animais e Jesus senta-se sobre elas, deste modo está preparado para entrar na
cidade ao mesmo tempo humilde e triunfal renovando o significado daquela
celebração solene que será festejada por muitos que ouviram as suas palavras e
assistiram aos seus milagres. Entram todos na grande Jerusalém.
O
jumento é um animal típico de um rei que vem em paz. De facto o Messias não
entra em Jerusalém montado num valente cavalo nem num carro de guerra. O
Messias não vem para conquistar nada mas para servir. Para Ele nada de tronos e
vestes liturgicamente majestosas mas simples mantos, capas ocasionais. A capa
para as pessoas simples é uma peça de roupa de casa, um bem primário. Os
discípulos oferecem ao Senhor tudo o que têm. E Jesus senta-se graças à
iniciativa deles que com simplicidade honram o seu Senhor como se de uma
verdadeira entronização de tratasse. Jesus monta um animal que serve as pessoas
nas tarefas do quotidiano, próprio para levar pesos… como fará Ele ao carregar
com os nossos pecados.
«Numerosa
multidão estendia as capas pelo caminho; outros cortavam ramos de árvores e
espalhavam-nos pelo chão. »
Os
discípulos fizeram o melhor que podiam, e deram o que de melhor tinham para
introduzir o Seu Mestre na cidade. Já em Jerusalém, é a vez da multidão se
aproximar e participar deste evento. Também ela oferece as capas, os mantos,
cortam ramos de árvores e estende-os no chão para que Jesus passe. Desta forma
criam um trajeto, um percurso acolhedor e solene para Jesus. O cenário é de
festa.
A
festa das Tendas, dia em que talvez Jesus tenha chegado a Jerusalém, era
caracterizada pela procissão ao Templo com solenes aclamações e a agitação de
ramos de árvores, possivelmente de oliveira. Recordavam o longo período nómada,
as noites passadas ao relento tendo somente o céu sobre a testa e uma grande
confiança em Deus que socorre e salva. Esta festa ou o fazer festa acaba por
ter uma cotação com prospectivas messiânicas: Deus caminha pelas estradas do
homem, está em Jerusalém, mais próximo do Templo e da Lei. Ele é o Ungido. E
quem acompanha Jesus não é um exército que mostra as suas armas, mas os seus
discípulos e a gente simples e que festeja a sua chegada e O acolhe.
A
multidão que precede e segue o Mestre, e não deixemos de pensar que ali próximo
se encontram os discípulos, festeja e grita com brados de alegria, reconhecendo
Jesus como um enviado de Deus. As pessoas afirmam que é “Bendito”, um enviado
de Deus. Ali, na sua atitude festiva, declaram que Jesus é da descendência de
David. Diz-se que Ele não é apenas um enviado mas o próprio Messias.
Neste
acontecimento, segundo o evangelista Mateus, encontramos uma enorme multidão
que rodeia Jesus, os jumentinhos e os discípulos. Todos cantam “Hosana”- quer
dizer salva-nos- uma palavra que parece ser um forte grito litúrgico para o
povo hebreu. A profecia de Zacarias pré-anunciava a vinda de um rei pacífico
que deveria reinar sobre Jerusalém. Nem a inumerável multidão nem os discípulos
têm consciência de que tudo se está para cumprir em Jesus: as profecias e
promessas antigas, a mensagem evangélica, a salvação do mundo. Será que nos
dias de hoje este acontecimento possibilita a abertura de consciências e de
corações para a vida que Deus quer partilhar conosco?
«Quando
Jesus entrou em Jerusalém, toda a cidade ficou em alvoroço. “Quem é Ele?” -
perguntavam. E a multidão respondia: “É Jesus, o profeta de Nazaré da Galileia.”
»
As
pessoas que estavam à beira da estrada antes da entrada na cidade
encontravam-se serenas com a passagem de Jesus e sobre o que se dizia acerca
d’Ele. O mesmo não se passou com os habitantes de Jerusalém que ao ouvirem tanta
aclamação ficaram estupefatos e interrogavam a multidão acerca da verdadeira
identidade daquele que vinha montado num jumento e aclamado “Hosana”. Os que
seguem Jesus e entraram com Ele afirmam que se trata de um galileu e de um
profeta de nome Jesus.
É
neste último versículo do texto bíblico que nos apercebemos da hostilidade que
levará as pessoas a condenarem Jesus à morte. Quem não caminhou ao Seu lado não
está disposto a acolhê-lo. Nessas pessoas surgem interrogativos acerca da
oportunidade de festejar um personagem assim tão insignificante. Afinal, de Nazaré
poderá vir algo de bom? Como é possível que todos aclamem este aqui? O que
sabem acerca d’Ele? Da sua vida? Cansados de tanta gritaria e irritados com
outros tantos profetas que mexem com os ânimos de Jerusalém não parecem estar à
procura de um Messias, mas sim de tranquilidade e normalidade. Para eles basta
adorar a Deus no Templo feito por mãos humanas, onde se confunde muitas vezes a
oração com o comércio.
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