Frei Carlos Mesters, O. Carm.
No Monte Carmelo, bem perto da fonte
do profeta Elias sai do chão um tronco de árvore, velho e ressequido. Parece
que já nasce cansado, pois não se rege em pé e se curva quase até o chão,
estendendo-se, seco e sem folhas, por mais de um metro. Bem no fim, de repente,
saem brotos verdes, dezenas, em todas as direções. É a imagem perfeita da
Família Carmelitana. Como que de repente, nos últimos dois séculos, ela renasce
nos vários cantos do mundo e da Igreja. Somos desafiados a fazer renascer o
carisma. Chamados a recriar, não a repetir!
Os
três pólos que geram os desafios para nós
Estamos sempre entre três pólos que
geram os desafios para nós:
(1) De um lado, estão a realidade de
hoje e as necessidades do povo.
(2) Do outro lado, está o nosso
carisma, nossa origem, a tradição mística do Carmelo; estão os nossos santos e
santas, nossas fundadoras e fundadores.
(3) Entre os dois, estamos nós como
Família Carmelitana.
Os três, em nome de Deus, nos
desafiam e fazem apelo à nossa consciência, cada um a seu modo. O Carisma nos
oferece a forma concreta de como nós, carmelitas, devemos viver a Boa Nova de
Deus que Jesus nos trouxe. A Realidade, o povo, os pobres,
no meio do qual vivemos e ao qual servimos, denunciam qualquer forma de riqueza
acumulada que é causa de privação para os outros, inclusive a riqueza acumulada
da tradição religiosa. A Família Carmelitana é a forma
concreta com que o carisma procura responder às exigências da realidade.
Muitas vezes, porém, nossa forma de vida está desatualizada e exige maior
fidelidade tanto ao carisma como às exigências da realidade de hoje.
Vejamos, sucessivamente, os desafios
que nos vêm de cada um destes três pólos: do carisma, da realidade dos pobres e
da situação concreta da nossa Família.
1. DESAFIOS
QUE NOS VEM DA NOSSA ORIGEM, DO CARISMA
Nosso carisma é aquilo que,
vindo do passado, desde a Regra dada por Santo Alberto, nos define e nos dá
identidade. É a forma sob a qual a Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe se
apresenta a nós. Desta nossa origem não podemos abrir mão, sob pena de
perdermos nossa identidade e nossa razão de ser. Não há carmelita que não seja
sensível aos apelos que lhe vêm do seu passado, dos seus santos e santas, de
suas fundadoras e fundadores. É como uma saudade que se coloca lá na nossa
frente, como um ideal a ser alcançado, um grande e permanente desafio que se
apresenta a nós sob muitas formas:
1. Viver e inculturar o Carisma do
Carmelo em cada continente e cultura.
O nosso maior desafio será sempre o
mesmo, até o fim da nossa vida: viver o ideal do Carmelo, para que penetre em
nós; ideal que, sempre de novo, deve ser relido e inculturado em cada época,
cada cultura, cada situação. Não podemos impor o modelo europeu para os países
da Ásia, nem o modelo da América latina para os países da África. Neste ponto
pecamos e continuamos pecando. Europa não é superior aos outros países, e os
outros povos não podem criar complexo de inferioridade. Muitas vezes,
exportamos um modelo de carisma e não o recriamos na cultura do povo a que
servimos. Como fariam nossos fundadores e fundadoras se tivessem de recriar
hoje o nosso carisma?
2. Recuperar a magia original do
Carisma para que fale à juventude:
No seu livro “Como Pedras Vivas”
frei Emanuel Boaga mostra que os primeiros irmãos nossos, depois que vieram do
Monte Carmelo para Europa em 1238, em menos de 70 anos, de 1238 até o fim
daquele século, fundaram em torno de 160 mosteiros em quase todos os países da
Europa. Só este fato tão simples que a história registra, mostra uma coisa
muito importante. Eles souberam apresentar o evangelho como um forte apelo para
a juventude da época. Este é um desafio para nós hoje: recuperar a magia e o
frescor do Carisma, para que fale à juventude de hoje. A juventude de hoje está
cansada do sistema consumista e busca experiências novas. Muitos as buscam nas
drogas. Será que o Carmelo pode ser uma resposta para eles? Penso que sim, e
muito!
3. Nossa origem mendicante como
forma de vida
Um aspecto da nossa origem é a mendicância.
Nascemos como alternativa de Vida Religiosa numa época de transformação social,
nos séculos XII e XIII. Os Mendicantes surgiram como resposta aos apelos da
realidade: servir aos “menores”, os pobres da época. No mundo de hoje, a maior
produção é a exclusão e a pobreza. Somos desafiados a despertar dentro de nós a
origem mendicante como resposta aos problemas de hoje, e isto em três níveis:
(1) entre as nossas próprias Congregações, sem que isto nos desvie do nosso
carisma;
(2) em parceria com os outros mendicantes que, como nós, surgiram na
mesma época;
(3) no processo de formação, para que esta nossa origem comum
ocupe um lugar privilegiado nas várias etapas da formação inicial e na formação
permanente?
4. Origem leiga da nossa família
Na origem, nossos primeiros
confrades eram leigos na sua maioria. Alguns nem sabiam ler. Pouco a pouco, por
força das circunstâncias e para poder servir melhor aos “menores”, o ramo
masculino tornou-se uma ordem “clericalis”. As religiosas já não são vistas
como leigas. Sem definição clara, elas estão entre o clero e os leigos. Hoje,
porém, em muitos lugares, a vivência do carisma começa a ser partilhada e
vivida com e pelos leigos e leigas. Esta re-descoberta de que o carisma não é
propriedade das Congregações, mas sim da Igreja como um todo, não é fruto de
uma concessão benévola da parte do clero, mas é um sopro do Espírito, um Sinal
dos Tempos. Estamos sendo desafiados a fazer com que a vivência do carisma
deixe de ser algo do clero e se torne propriedade da Família inteira. O desafio
é criar um ambiente de participação que permita a partilha das experiências, em
pé de igualdade, entre frades, monjas, irmãs, leigos e leigas, e que crie
também estruturas jurídicas para esta participação, pois novas formas de vida
carmelitana já estão surgindo em várias partes do mundo, para as quais anda não
há lugar concreto dentro do direito normal que rege a nossa vida. Por exemplo,
a fraternidade carmelitana leiga de Belo Horizonte; o mosteiro Monte Carmelo composto
de ex-drogados; os Pequenos Carmelos da Delegação Geral de Colômbia; as
comunidades na Holanda e em Cartagena, onde convivem frades e irmãs e leigas;
os múltiplos encontros da Família Carmelitana em toda parte, etc.
5. A Origem própria de cada Congregação
ligada à Família Carmelitana
Cada Congregação Carmelitana tem a
sua origem própria, tem o seu carisma e, por isso
mesmo, tem a sua maneira de viver o carisma comum a todos
nós. É um grande desafio fazer
(1) com que cada Congregação
aprofunde e explicite para si e para todos nós o seu jeito próprio de viver o
carisma carmelitano
(2) criar mecanismos para partilhar
entre nós nossa vivência e, assim, enriquecer-nos mutuamente para aprofundar o
carisma comum e melhorar nosso serviço ao povo de Deus e aumentar, assim, o
louvor devido a Deus.
(3) Algumas Congregações ou
mosteiros estão no fim. Humanamente falando, na atual forma em que estão
organizadas, não têm futuro. Mas o seu carisma faz parte da vida da Igreja e
deve continuar. Somos desafiados a fazer renascer o carisma para além da morte
da instituição. É uma forma de crer na ressurreição.
2. DESAFIOS
QUE NOS VEM DA SITUAÇÃO DE HOJE NO MUNDO
Nunca na história da humanidade
houve tantas mudanças em tantos setores e níveis diferentes em tão curto espaço
de tempo como agora neste nosso tempo. Elas estão mudando os esquemas do nosso
pensamento e o modo de viver a vida, a fé, os costumes ancestrais, o contato
entre as pessoas, entre os povos, entre os continentes, entre as religiões.
Mudanças que se expressam nos fenômenos da secularização, da pos-modernidade,
do pentecostalismo, do interesse tão marcante pelo religioso, nas formas
múltiplas do fundamentalismo, na massificação crescente. Diante disto, duas
grandes tendências se enfrentam tanto na Igreja como na humanidade como um
todo: os que querem renovar e os que querem restaurar. Esta realidade de hoje
traz consigo desafios imensos que exprimem apelos de Deus para nós e afetam
nossa maneira de viver o carisma.
1. O sistema neoliberal e o silêncio
profético que a Regra recomenda
O sistema neoliberal que hoje é
hegemônico no mundo está gerando uma pobreza crescente em toda parte. Nós não
temos o controle das forças econômicas que geram esta situação anti-evangélica
de injustiça e de exploração, mas como seguidores e seguidoras de Jesus não
podemos ficar impassíveis diante do que está acontecendo no mundo. Pois, a
partir da sua experiência de Deus, Jesus disse que veio anunciar a Boa Nova aos
pobres. Na realidade, muitos cristãos, dominados e enganados pelo barulho da
propaganda do sistema, perderam a visão crítica das coisas. Já não sabem quem é
“O Deus da nossa contemplação”. Como carmelitas, não podemos ser ingênuos
diante desta situação de injustiça. A Regra nos ensina que a justiça deve ser
cultivada pelo silêncio. A prática do silêncio ajuda a combater a injustiça. De
que maneira? Devemos fazer silenciar dentro de nós o barulho
da propaganda. Este silêncio exige disciplina e controle, estudo e análise da
realidade, para que possamos perceber os mecanismos escondidos que geram esta
situação de injustiça. Nossas comunidades devem ou deveriam ser lugares, onde
silencia a voz do sistema opressor e onde aparece uma alternativa de
convivência humana, uma amostra e uma prova de que “um outro mundo é possível”.
Quantos carmelitas estavam no Fórum Social Mundial? Na guerra do Iraque, em
torno de 70% do povo americano era a favor de Bush, apesar de o Papa e o mundo
inteiro gritar: “A guerra é satanás!” Como explicar? Quando as pessoas são
dominadas pelos meios de comunicação fica mais difícil formar consciência
crítica. Como fazer com que nós religiosos possamos ter consciência crítica e
não sermos dominados pelos meios de comunicação?
2. O pluralismo religioso e o
conceito tradicional da Missão
Muitos de nós entramos na Vida
Religiosa para ser missionários e levar a Boa Nova para outros povos. Muitas
Congregações nasceram como o mesmo objetivo. Hoje, uma nova experiência de
Deus, do mundo, da humanidade e da cultura está mudando o conceito de missão e
o jeito de anunciar a Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe. O contato com
outras religiões e culturas e o estudo da história das missões mostram que, no
passado, muitas vezes, fomos mais colonizadores do que missionários.
Descobrimos que Deus está presente também nas outras religiões e povos. O
anúncio da Boa Nova de Deus trazida por Jesus não pode ser um proselitismo que
quer ganhar almas para Deus nem um anúncio autoritário que ameaça com
condenação eterna, mas deverá ser marcado pelo respeito às convicções do outro,
pelo diálogo de quem quer aprender do outro, pela defesa da vida humana e luta
pela Justiça e Paz, pelo entusiasmo do testemunho de coerência de vida de
acordo com a Boa Nova de Deus que Jesus nos trouxe, e pela atitude de amor
gratuito que deseja compartir com os irmãos e as irmãs o bem maior da presença
de Deus que ele ou ela mesma experimentou na vida . Nosso modo de pensar e de
sentir já está mudando, mas a estrutura da nossa vida ainda continua antiga. O
vento já mudou, mas o navio ainda não. O canal é muito estreito, e o navio é
largo e pesado.
3. O avanço das ciências e a imagem
que temos de Deus
A imagem que temos de Deus depende
muito da educação que recebemos e da visão do mundo dentro do qual fomos
criados. Diante do progresso das ciências, tanto no micro (a descoberta do
segredo do átomo) como no macro (a descoberta da origem do universo), a imagem
que tínhamos de Deus já não corresponde mais. Dois fenômenos, aparentemente
opostos entre si, revelam a mudança que está em andamento. De um lado, o
processo generalizado de secularização nos países ditos cristãos é um atestado
de que a imagem de Deus que revelamos já não corresponde ao que a humanidade
deseja e precisa. De outro lado, existem o crescimento dos movimentos
pentecostais e o fundamentalismo religioso em todas as religiões:
fundamentalismo cristão, evangélico, muçulmano, judeu, hindu, e até
secularizado. Esta tendência fundamentalista se manifesta no fortalecimento do
autoritarismo e dos movimentos conservadores, que buscam o fundamento da
certeza nas observâncias. Sem certeza não se vive. Mas que certeza nós,
carmelitas, buscamos? A certeza baseada nas nossas observâncias, no que nós
fazemos por Deus, ou a certeza mais evangélica de gratuidade e de entrega que
se baseia no que Deus faz por? Será que, como o profeta Elias, temos a coragem
de andar pelo deserto, quarenta dias ou quarenta anos, até re-descobrir o novo
rosto de Deus que responde ao desejo da humanidade de hoje?
4. O movimento feminista e as
congregações religiosas femininas
Uma revolução está em andamento
contra o patriarcalismo que dominou durante milênios e que teve e tem muita
influência tanto na Bíblia como na organização da Igreja. Qual a função das
religiosas, mulheres consagradas, nesta revolução tão importante? Podemos
ignora-la? Já é triste de constatar que tanto esta como tantas outras
revoluções nasceram fora da Igreja e, muitas vezes, combatidas por ela! O
movimento feminista critica a visão patriarcal de Deus que se infiltrou em
setores da vida eclesiástica e que leva as pessoas a não se sentir mais em casa
dentro da Igreja oficial e até dentro da Bíblia, onde transparece esta mesma
visão patriarcal.
5. Ecumenismo e defesa da vida
A preocupação ecológica com a
preservação da vida leva a uma atitude ecumênica que já não consegue
interessar-se tanto pelas diferenças doutrinais e rituais, mas busca unir
pessoas de diferentes credos e religiões em defesa da vida que Deus criou. A
preocupação holística, para além das divisões e preocupações confessionais e doutrinais,
busca situar a vida como um todo no conjunto da harmonia da natureza e do
universo. Também aqui, o movimento ecológico e profundamente ecumênico em
defesa da vida no planeta nasceu fora da Igreja. E nós carmelitas? Até hoje, o
santo mais ecumênico é Elias. O santo que mais lutou em defesa da vida e da
saúde do povo é Eliseu!
3.DESAFIOS
QUE NOS VEM DE NÓS MESMOS COMO FAMÍLIA HOJE
Carmelitas, somos muitos! Milhares,
no mundo inteiro, irmãos e irmãs das várias Ordens e Congregações, das Ordens
Terceiras, dos movimentos e associações carmelitanas. Somos aquilo que fazemos:
família, trabalho profissional, missões, paróquias, colégios, orfanatos,
pastorais, administração, etc. Esta é a nossa realidade concreta e atual, o
peso de cada dia, cheio de ambivalências. Também dela chegam até nós os apelos
de Deus, os desafios. É a fidelidade que devemos às nossas famílias e
comunidades, aos nossos confrades e irmãs, à igreja e ao povo que nos foi
confiado. É esta realidade ambivalente que mais pesa na tomada das decisões,
pois, muitas vezes, esta realidade nos faz entrar em conflito com as exigências
do nosso carisma e da opção pelos pobres. Daqui nascem vários e dolorosos
desafios:
1. Itinerância mendicante e a
passagem do primeiro mundo para o terceiro mundo
Dois fatos que nos questionam e
desafiam:
(1) Atualmente, no ramo masculino, a
maior parte dos membros ainda vive no primeiro mundo. Mas a previsão é que
dentro de menos de dez anos, a maioria estará nos países do assim chamado
terceiro mundo: Ásia, África e América Latina. Como nos preparamos para esta
mudança inevitável, por exemplo, no nível da cultura, da construção das casas,
na escolha dos lugares, na preparação de formadoras, na escolha dos assuntos
para os nossos encontros, na tomada das decisões, etc.
(2) Temos um convento numa cidade do
Brasil. Quando foi escolhido o lugar, nos anos 40, aquilo era uma favela. Hoje
é bairro rico de classe média alta. Uma casa não se abandona com facilidade. O
que fazer quando, devido às circunstâncias históricas acabamos envolvidos em
situações que certamente não queríamos anteriormente? As novas situações em que
nos encontramos exigem mudança. Muitas vezes, nosso modo de viver perdeu a
capacidade de itinerância que é uma característica dos mendicantes. Congregações
fundadas para ensinar a juventude pobre, vivem fechadas e imobilizadas em
colégios de ricos.
2. Tendência restauradora na Igreja,
vida no meio dos pobres e imagem de Deus
Apesar da abertura do último sínodo,
o vento restaurador cresce na Igreja. A Igreja institucional é cada vez mais
clerical e disciplinar. Isto é fonte de muitas tensões no interior das
Congregações e das pessoas. É muito frequente o conflito entre a visão de
igreja que anima as comunidades inseridas no meio dos pobres e a que orienta a
pastoral das Dioceses. Em nível local, isto se concretiza no conflito com o
vigário que não concorda com as religiosas inseridas e as marginaliza. Nas
periferias das grandes cidades, a vida do povo está sendo massacrada, o número
dos excluídos aumenta cada vez mais, a violência já acontece entre os próprios
pobres. Pobre explorando o pobre! Parece a ausência total do Reino! Viver no
meio deste mundo tão violento e desumano é muito exigente. É o que muitas
religiosas sentem e vivem. Eles dizem: “Como viver consagrada a um Deus que
permite tal coisa. É possível?” É urgente que se tome consciência dos limites e
da deficiência da imagem que temos de Deus. A tentação restauradora é grande! É
mais cômodo buscar a certeza nas nossas observâncias, isto é, naquilo que nós
fazemos por Deus, do que naquilo que Deus faz por nós. Só uma nova experiência
autêntica de Deus, como a do profeta Elias, poderá ajudar a superar esta crise.
Eficiência e gratuidade. A eficiência das observâncias marca a vida do sistema
da vida moderna. A gratuidade é uma característica do amor. Como combinamos no
concreto estes dois valores tão importantes na vida? Como aparecem na nossa
vida comunitária? Como viver a gratuidade do amor num mundo marcado pela
eficiência?
3. A necessidade de um processo da
formação permanente e estilo de vida
Antigamente, havia uma estrutura de
vida dentro da qual as pessoas cresciam e que as ajudava na formação da sua
consciência e no fortalecimento das suas convicções. Hoje, tudo mudou. O
amadurecimento psicológico tornou-se mais lento e mais problemático. As
pessoas necessitam de mais tempo e necessitam de estruturas comunitárias
adequadas, sobretudo nas casas de formação. A dispersão e a desintegração são
grandes. Existe uma perda de valores. Como fazer para refazer a pessoa, para
que ela tenha uma experiência real de Deus e seja um sinal de Deus. Qual a
formação que damos? Formamos em função de que e para que? Quais as opções
pastorais que marcam nossa vida? Qual a visão de Igreja que nos anima e que
marca o estilo da nossa vida: a restauradora ou a renovadora? Qual o estilo de
vida religiosa que apresentamos aos que nos procuram na inserção? Qual o estilo
de vida religiosa inserida que poderia oferecer aos jovens, ao mesmo tempo, uma
resposta à sua busca pessoal interior e uma resposta à sua
preocupação social, ao seu desejo de contribuir para a reconstrução
da convivência humana? Como criar um caminho de inserção gradual que leve em
conta estes problemas?
4. A vivência dos votos e o
questionamento que vem dos pobres.
Hoje, a vida religiosa está sendo
questionada. Pois muitos pobres, que não são religiosos, vivem melhor o
evangelho do que muitos de nós que professamos a Vida Evangélica. Qual a
relevância da nossa vida religiosa inserida para a vida dos pobres com que convivemos?
O que representamos para eles? O que eles esperam de nós? O que eles veem em
nós? Como viver a radicalidade do Evangelho num mundo em que parece não haver
lugar para tal radicalidade? A impotência da Vida Religiosa inserida,
sentida diante da situação de opressão e de exploração em que se encontra o
povo. Uma pergunta que se ouve: “O que fazer como religioso e como religiosa
diante do número crescente dos pobres que enchem as ruas das cidades, sem
esperança nenhuma de que possa ocorrer uma mudança sócio-política e econômica?
Depois de vinte anos ou mais de inserção no meio dos pobres, nada mudou e, em
vez de melhorar, a situação piorou. A previsão é de que o número dos pobres irá
aumentando sempre mais”. Qual é mesmo o objetivo da nossa Vida Religiosa?
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