«Sou a luz do mundo»
Nesta
caminhada quaresmal, a liturgia apresenta-nos a cura do cego de nascença. Jesus
é a luz do mundo que vem abrir os nossos olhos à fé, à nossa adesão plena como
discípulos. Quando tudo parece perdido, Jesus faz-se próximo, com o seu brilho,
para dar sentido à nossa vida. Assim, são-nos apresentados dois caminhos: o
caminho da visão plena, percorrido por aquele homem inicialmente cego, mas que
chegou ao reconhecimento de Jesus como Messias; e o caminho da cegueira
obstinada, renitente, personificada pelos fariseus e pelas autoridades judaicas
que se recusaram em reconhecer, em ver, em Jesus a luz do mundo.
Sérgio Paulo Pinto
Evangelho
segundo S. João (Jo 9,1-41) - Naquele
tempo, Jesus encontrou no seu caminho um cego de nascença. Os discípulos
perguntaram-Lhe: «Mestre, quem é que pecou para ele nascer cego? Ele ou os seus
pais? Jesus respondeu-lhes: «Isso não tem nada que ver com os pecados dele ou
dos pais; mas aconteceu assim para se manifestarem nele as obras de Deus. É
preciso trabalhar, enquanto é dia, nas obras d’Aquele que Me enviou. Vai chegar
a noite, em que ninguém pode trabalhar. Enquanto Eu estou no mundo, sou a luz
do mundo». Dito isto, cuspiu em terra, fez com a saliva um pouco de lodo e ungiu
os olhos do cego. Depois disse-lhe: «Vai lavar-te à piscina de Siloé»; Siloé
quer dizer «Enviado». Ele foi, lavou-se e ficou a ver. Entretanto, perguntavam
os vizinhos e os que antes o viam a mendigar: «Não é este o que costumava estar
sentado a pedir esmola? ». Uns diziam: «É ele». Outros afirmavam: «Não é. É
parecido com ele». Mas ele próprio dizia: «Sou eu». Perguntaram-lhe então:
«Como foi que se abriram os teus olhos? » Ele respondeu: «Esse homem, que se
chama Jesus, fez um pouco de lodo, ungiu-me os olhos e disse-me: ‘Vai lavar-te
à piscina de Siloé’. Eu fui, lavei-me e comecei a ver». Perguntaram-lhe ainda:
«Onde está Ele? » O homem respondeu: «Não sei». Levaram aos fariseus o que
tinha sido cego. Era sábado esse dia em que Jesus fizeram lodo e lhe tinha
aberto os olhos. Por isso, os fariseus perguntaram ao homem como tinha
recuperado a vista. Ele declarou-lhes: «Jesus pôs-me lodo nos olhos; depois fui
lavar-me e agora vejo». Diziam alguns dos fariseus: «Esse homem não vem de
Deus, porque não guarda o sábado». Outros observavam: «Como pode um pecador
fazer tais milagres? » E havia desacordo entre eles. Perguntaram então
novamente ao cego: «Tu que dizias d’Aquele que te deu a vista? » O homem
respondeu: «É um profeta». Os judeus não quiseram acreditar que ele tinha sido
cego e começara a ver. Chamaram então os pais dele e perguntaram-lhes: «É este
o vosso filho? É verdade que nasceu cego? Como é que agora vê? » Os pais
responderam: «Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego; mas não
sabemos como é que ele agora vê, nem sabemos quem lhe abriu os olhos. Ele já
tem idade para responder: perguntai-lho vós». Foi por medo que eles deram esta
resposta, porque os judeus tinham decidido expulsar da sinagoga quem
reconhecesse que Jesus era o Messias. Por isso é que disseram: «Ele já tem
idade para responder; perguntai-lho vós». Os judeus chamaram outra vez o que
tinha sido curado e disseram-lhe: «Dá glória a Deus. Nós sabemos que esse homem
é pecador». Ele respondeu: «Se é pecador, não sei. O que sei é que eu era cego
e agora vejo». Perguntaram-lhe então: «Que te fez Ele? Como te abriu os olhos?
». O homem replicou: «Já vos disse e não destes ouvidos. Porque desejais
ouvi-lo novamente? Também quereis fazer-vos seus discípulos? ». Então
insultaram-no e disseram-lhe: «Tu é que és seu discípulo; nós somos discípulos
de Moisés; mas este, nem sabemos de onde é». O homem respondeu-lhes: «Isto é
realmente estranho: não sabeis de onde Ele é, mas a verdade é que Ele me deu a
vista. Ora, nós sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aqueles
que O adoram e fazem a sua vontade. Nunca se ouviu dizer que alguém tenha
aberto os olhos a um cego de nascença. Se Ele não viesse de Deus, nada podia
fazer». Replicaram-lhe então eles: «Tu nasceste inteiramente em pecado e
pretendes ensinar-nos? » E expulsaram-no. Jesus soube que o tinham expulsado e,
encontrando-o, disse-lhe: «Tu acreditas no Filho do homem? » Ele respondeu-Lhe:
«Senhor, quem é Ele, para que eu acredite? » Disse-lhe Jesus; «Já O viste: é
Quem está a falar contigo». O homem prostrou-se diante de Jesus e exclamou: «Eu
creio, Senhor». Então Jesus disse-lhe: «Eu vim para exercer um juízo: os que
não veem ficarão a ver; os que veem ficarão cegos». Alguns fariseus que estavam
com Ele, ouvindo isto, perguntaram-Lhe: «Nós também somos cegos? »
Respondeu-lhes Jesus: «Se fôsseis cegos, não teríeis pecado. Mas como agora
dizeis: ‘Não vemos’, o vosso pecado permanece».
Naquele tempo, Jesus
encontrou no seu caminho um cego de nascença. Os discípulos perguntaram-Lhe: «Mestre,
quem é que pecou para ele nascer cego? Ele ou os seus pais? Jesus
respondeu-lhes: «Isso não tem nada que ver com os pecados dele ou dos pais; mas
aconteceu assim para se manifestarem nele as obras de Deus. É preciso
trabalhar, enquanto é dia, nas obras d’Aquele que Me enviou. Vai chegar a
noite, em que ninguém pode trabalhar. Enquanto Eu estou no mundo, sou a luz do
mundo». Dito isto, cuspiu em terra, fez com a saliva um pouco de lodo e ungiu
os olhos do cego. Depois disse-lhe: «Vai lavar-te à piscina de Siloé»; Siloé
quer dizer «Enviado». Ele foi, lavou-se e ficou a ver.
O
caminho de Jesus é a vida dos necessitados, dos que sofrem, sejam eles
pecadores, cegos, coxos, ou excluídos da sociedade e do culto. O caminho de
Jesus é passar e dar sentido, luz, aos que estão à beira do caminho,
“encostados”, à espera que alguém passe, os atenda, os conduza à luz, à
abertura dos olhos para a fé. Jesus é o filho obediente que está no mundo para
ser luz no caminho dos homens e manifestar as obras de Deus. Este cego que
Jesus encontra, representa as nossas cegueiras, tudo o que colocamos como
prioridades, sem Deus, e que ofusca a visão plena de Deus: nada vemos além do
nosso mundo fechado de trevas… e precisamente aí, quando tudo parece perdido,
onde não encontramos saída… aparece Jesus, num gesto criador! O toque de Jesus,
acompanhado com a nossa obediência, dará lugar ao milagre! Porque teimamos a
nossa cegueira? Falta-nos confiar em Jesus?
Entretanto,
perguntavam os vizinhos e os que antes o viam a mendigar: «Não é este o que
costumava estar sentado a pedir esmola? ». Uns diziam: «É ele». Outros
afirmavam: «Não é. É parecido com ele». Mas ele próprio dizia: «Sou eu». Perguntaram-lhe
então: «Como foi que se abriram os teus olhos? » Ele respondeu: «Esse homem, que se
chama Jesus, fez um pouco de lodo, ungiu-me os olhos e disse-me: ‘Vai lavar-te
à piscina de Siloé’. Eu fui, lavei-me e comecei a ver». Perguntaram-lhe ainda:
«Onde está Ele? » O homem respondeu: «Não sei».
O
milagre da cura deste cego de nascença provocou reações diversas. Em primeiro
lugar, são os seus vizinhos e conhecidos que se admiram com o ocorrido, tão
acostumados estavam em vê-lo pedir esmola, no local do costume, no local de
todos os dias. Era normal a sua admiração, habituados a ver nele um homem
limitado e dependente. A ação de Jesus veio quebrar esta rotina, veio
trazer-lhe autonomia, veio trazer a luz que os seus olhos precisavam; luz, no
entanto, que ainda não tinha chegado ao seu coração, à fé em Jesus: “Foi esse
homem, que se chama Jesus…mas não sei onde está Ele”. Mas a luz de Cristo não
tardará em chegar ao seu coração e a reconhecê-lo como Senhor. De facto, para
ser discípulo de Jesus, não basta que nossos olhos o vejam; o que é fundamental
é a adesão do nosso coração. É Ele a luz do meu coração?
Levaram aos fariseus o
que tinha sido cego. Era sábado esse dia em que Jesus fizeram lodo e lhe tinha
aberto os olhos. Por isso, os fariseus perguntaram ao homem como tinha
recuperado a vista. Ele declarou-lhes: «Jesus pôs-me lodo nos olhos; depois fui
lavar-me e agora vejo». Diziam alguns dos fariseus: «Esse homem não vem de
Deus, porque não guarda o sábado». Outros observavam: «Como pode um pecador
fazer tais milagres? » E havia desacordo entre eles. Perguntaram então
novamente ao cego: «Tu que dizias d’Aquele que te deu a vista? » O homem
respondeu: «É um profeta».
Outro
grupo que reagiu à cura do cego de nascença: os fariseus, os guardiões da fé do
povo, homens cumpridores à risca da lei: como é possível curar um homem ao
sábado? Como é possível fazer bem ao sábado? “Esse homem não pode vir de
Deus!”. Mas, poderá um “transgressor” da lei, um pecador, fazer tais milagres?
Aqueles homens tiveram a “luz do mundo” diante de seus olhos; certamente viram
o brilho de Deus nas obras de Jesus; no entanto, escolheram as trevas,
recusaram a luz de Deus em Jesus, rejeitaram ver, de olhos abertos,
permaneceram na cegueira cerrada; pelo contrário, o homem curado vai
amadurecendo na fé, reconhecendo agora em Jesus, não apenas um “homem” mas um
“profeta”. Quem é Jesus para mim?
Os judeus não quiseram
acreditar que ele tinha sido cego e começara a ver. Chamaram então os pais dele
e perguntaram-lhes: «É este o vosso filho? É verdade que nasceu cego? Como é
que agora vê? » Os pais responderam: «Sabemos que este é o nosso filho e que
nasceu cego; mas não sabemos como é que ele agora vê, nem sabemos quem lhe
abriu os olhos. Ele já tem idade para responder: perguntai-lho vós». Foi por
medo que eles deram esta resposta, porque os judeus tinham decidido expulsar da
sinagoga quem reconhecesse que Jesus era o Messias. Por isso é que disseram:
«Ele já tem idade para responder; perguntai-lho vós».
Um
novo grupo reagiu à cura deste cego: os Judeus! Era um milagre demasiado
portentoso: era difícil acreditar que aquele homem tinha sido cego e agora
estava curado! Por isso, confrontaram os pais, que se limitaram a constatar os
factos: aquele filho nasceu cego, agora vê e nada sabem da sua cura! Nada mais
podiam dizer, com risco de serem expulsos da sinagoga, do local de culto e
ficarem à margem, excluídos de tudo e todos. Com factos tão evidentes diante
dos olhos, mesmo assim, custa acreditar, custa “ver” as obras de Deus em Jesus.
Por outro lado, aqueles pais, por temor, perderam a oportunidade de darem
testemunho de Jesus; quantas vezes, também nós, por temor ou falta de audácia,
vamos perdendo oportunidades de dar testemunho da nossa fé em Jesus. Porque
esperamos, porque tememos?
Os judeus chamaram
outra vez o que tinha sido curado e disseram-lhe: «Dá glória a Deus. Nós sabemos
que esse homem é pecador». Ele respondeu: «Se é pecador, não sei. O que sei é
que eu era cego e agora vejo». Perguntaram-lhe então: «Que te fez Ele? Como te
abriu os olhos? ». O homem replicou: «Já vos disse e não destes ouvidos. Porque
desejais ouvi-lo novamente? Também quereis fazer-vos seus discípulos? ». Então
insultaram-no e disseram-lhe: «Tu é que és seu discípulo; nós somos discípulos
de Moisés; mas este, nem sabemos de onde é». O homem respondeu-lhes: «Isto é
realmente estranho: não sabeis de onde Ele é, mas a verdade é que Ele me deu a
vista. Ora, nós sabemos que Deus não escuta os pecadores, mas escuta aqueles
que O adoram e fazem a sua vontade. Nunca se ouviu dizer que alguém tenha
aberto os olhos a um cego de nascença. Se Ele não viesse de Deus, nada podia
fazer». Replicaram-lhe então eles: «Tu nasceste inteiramente em pecado e
pretendes ensinar-nos? » E expulsaram-no.
Aquele
homem curado da sua cegueira por Jesus, foi levado, novamente, à presença das
autoridades dos Judeus. Depois do testemunho que ele próprio deu, depois do
testemunho dado pelos seus pais… foi, ainda, insuficiente para os Judeus. Como
era possível Jesus, um “homem” pecador, que faz milagres ao sábado, fazer estas
obras de Deus? Não é possível! E interrogam-no de novo! Quantas vezes, também
nós, procuramos mil explicações para questionar a presença de Deus na nossa
vida. Aquele homem curado, que inicialmente nem sabia “onde estava Jesus”,
sabe, agora, que Jesus “vem de Deus”, caso contrário, “nada poderia fazer”. Era
a sua fé a crescer, a sua adesão a Cristo mais consciente. Bem pelo contrário,
as autoridades judaicas fecharam-se definitivamente na sua cegueira: não só não
acolheram Jesus, como desprezaram aquele irmão, rotularam-no de “pecador” e
expulsaram-no da sinagoga, da comunhão plena, da prática do culto. Perder a
Deus e perder o irmão: não existe maior cegueira!
Jesus soube que o
tinham expulsado e, encontrando-o, disse-lhe: «Tu acreditas no Filho do homem?
» Ele respondeu-Lhe: «Senhor, quem é Ele, para que eu acredite? » Disse-lhe
Jesus; «Já O viste: é Quem está a falar contigo». O homem prostrou-se diante de
Jesus e exclamou: «Eu creio, Senhor». Então Jesus disse-lhe: «Eu vim para
exercer um juízo: os que não veem ficarão a ver; os que veem ficarão cegos».
Alguns fariseus que estavam com Ele, ouvindo isto, perguntaram-Lhe: «Nós também
somos cegos? » Respondeu-lhes Jesus: «Se fôsseis cegos, não teríeis pecado. Mas
como agora dizeis: ‘Não vemos’, o vosso pecado permanece».
O
primeiro encontro daquele homem com Jesus deu-lhe a abertura de seus olhos;
agora, este segundo encontro deu-lhe a abertura da fé, a adesão plena como
discípulo! No primeiro encontro aquele homem era cego; no segundo, tinha
acabado de ser expulso. E mais uma vez o milagre se realiza; Jesus não o
abandonou à sua sorte. E aquele homem que nada via, começou a ver a “luz de
Deus”: “Eu creio, Senhor”. E prostrou-se para adorar Jesus. A sua fé tinha
chegado ao ponto alto da sua caminhada. Bem pelo contrário, os fariseus
persistiram na sua cegueira e perderam a sua grande oportunidade para serem
também “curados”. O seu grande pecado, foi não deixarem ser curados; por isso,
“o seu pecado permanece”. Também eu acho, como os fariseus, que não preciso de
ser curado?
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