Por: Souer
Genevieve Devergnies
Como
para qualquer cristão, a cruz é para Santa Teresinha o símbolo da fé na obra
redentora do Filho de Deus. Para não trair o verdadeiro significado
cruz, ela considera as duas faces do mistério cristão. De um lado, o
acontecimento histórico do Calvário: Deus escolhe a morte ignominiosa de seu
Filho inocente para resgatar a humanidade pecadora; de outro lado, a exaltação,
por Deus, do Filho encarnado, ao
qual ressuscita e senta-O à sua direita:
“Para me conquistar, Te fizeste mortal, igual a mim; derramaste teu sangue, mistério supremo”
(P 23,5). “Antes de entrar na celeste glória, o Deus-Homem tinha que sofrer.
Quantos desprezos sofreste por meu amor, em terra estrangeira” (P
31,3).
Tratemos
agora de alguns aspectos que iluminam o conteúdo espiritual da cruz em
Teresinha:
1. O MISTÉRIO DA CRUZ. Esta realidade do cristianismo
está profundamente integrada em sua vida. “A cruz me tem acompanhado deste o berço”
(A 36v); e da graças a Deus por ela:”vou cantar a inefável graça de ter sofrido
e carregado a cruz. Compreendi que pela cruz se salvam os pecadores. Pela cruz
minha alma viu abrir-se um horizonte novo” (P 16)
Na
cruz Teresinha contempla o mistério de Cristo:”Nosso Senhor morreu na cruz
entre angústias, e apesar disso, essa
foi a mais bela morte de amor” (U.C 4.7.2). Por outra parte,
Teresinha quer deixar bem claro que não é a cruz o que oferece a verdadeira
dificuldade, senão o desapego de si mesmo através do qual a pessoa se entrega a
Deus. “As cruzes exteriores, o que são? Cruz verdadeira é o martírio do
coração, o sofrimento íntimo da alma…” (Carta 167).
2. A CRUZ É UMA FONTE
INESGOTÁVEL DE DEVOÇÃO PARA TERESINHA, desde a idade de 13 anos: “Num domingo, ao olhar uma
estampa de Nosso Senhor na cruz, senti-me profundamente impressionada com o
sangue que caía de uma de suas divinas mãos. Senti grande aflição pensando que
esse sangue caía no chão sem que ninguém se apressasse em recolhê-lo. Tomei a
resolução de estar sempre, em espírito, ao pé da cruz…” (A 45v)
Semelhante
a São Paulo, Teresinha quer conhecer, seguir e imitar a “Jesus Cristo, e este
crucificado” (1Cor 2,2). Isso traz consigo a adesão da vontade e a
resposta de toda a pessoa: ”Jesus me fez amar apaixonadamente essa
cruz”. (Carta 253).
A
humanidade de Cristo crucificado, mais concretamente a sua “Santa Face” é o
objeto inesgotável de sua contemplação: “Olha para Jesus na sua Face… Aí verás
quanto ele nos ama”. (Carta 87).
3. TERESINHA ENCONTRA
UMA AUTÊNTICA ALEGRIA ESPIRITUAL NA “MÍSTICA DA CRUZ”, no fato de aceitar “levar sua
cruz”, as cruzes exteriores (tais como a forma de vida que escolheu, a falta de
saúde, o sofrimento físico e moral, não escolhidas livremente): “Que
alegria inefável a de carregar nossas cruzes debilitadamente” (Carta
82). “As
pequenas cruzes são as que constituem toda nossa alegria” (Carta 148).
4. O LIVRO “A IMITAÇÃO
DE CRISTO”, que
Teresinha conhece de memória, expressa esta mística na qual a mortificação se
inscreve dentro da teologia paulina do sacrifício (cf. R 6,8). Entre os
numerosos ecos desta doutrina J.R Caussade, seguidor da espiritualidade do
abandono, confere grande importância à cruz para a santificação das almas;
considera as cruzes como graças exteriores particularmente eficazes. A ascese
cristã, por sua parte, deve ao mistério da cruz a marca específica que domina a
luta contra o pecado e a busca da união divina. A humildade, recurso essencial
do progresso espiritual, é um elemento indispensável no exercício da fé, da
esperança e da caridade.
5.
EM TERESINHA, A UNIÃO COM JESUS É
MISSIONÁRIA, buscada de forma privilegiada na cruz redentora: ”Tomei
a resolução de estar sempre, em espírito, ao pé da cruz para receber o divino
orvalho que se desprendia dela, e compreendi que, a seguir, teria que
derramá-lo sobre as almas” (A,45v).
Seu
desejo da cruz é aprofundado no martírio:”Quisera plantar tua cruz gloriosa em solo
infiel. Quisera derramar por tia até a última gota de meu sangue. O martírio! É
o sonho da minha juventude. Um sonho que cresceu comigo nos claustros do
Carmelo” (B 31,r)
Finalmente,
a união à cruz redentora de Jesus se manifesta no grito de Teresinha, no
momento de morrer: “Nunca poderia crer que fosse possível sofrer tanto. Não consigo
explicações para isso, a não ser pelos ardentes desejos que tenho de salvar
almas” (UC. 30,9)
A
alta santidade de Teresinha arraiga-se na conformidade com Jesus Cristo morto
na cruz e ressuscitado.
O SOFRIMENTO
Teresinha
sofreu muito durante toda a sua vida. Desejou o sofrimento porque estava
convencida de que toda provação, aceita por a amor a Deus, é fecunda, e que,
unido ao sacrifício redentor, o sofrimento é um tesouro para a salvação das
almas. Na manhã do dia de sua morte dirá: “O cálice está cheio até à borda. Nunca
poderia crer que fosse possível sofrer tanto. Não consigo explicações para
isso, a não ser pelos ardentes desejos que tenho de salvar almas” (UC.
30,9). E assim ora: “Te dou graças, meu Deus, por todos os benefícios que me concedeste, em
especial por ter-me feito passar pelo crisol do sofrimento” (Oração
6,11)
1. O QUE É O
SOFRIMENTO PARA SANTA TERESA DO MENINO JESUS?
Teresa
não é masoquista, não ama o sofrimento em si mesmo, mas como um meio de mostrar
seu amor a Jesus: “não desejo nem o sofrimento nem a morte, embora ame os dois; mas é
só o amor o que me atrai”. Durante muito tempo os desejei; tive o sofrimento,…
agora só o abandono me guia” (A 83 f)
Para
Teresinha, o sofrimento é uma alegria: “O sofrimento passa a ser a maior das
alegrias quando é buscado como o mais precioso dos tesouros” (C 10v)
Não
escolhe os sofrimentos quer deseja suportar, quer os que Deus quer para ela:
“Eu gosto do que Ele faz” (UC 27.4.4). “Eu gosto de tudo o que Deus me dá” (U.C
14.8.1). “Jesus não pode desejar para nós sofrimentos inúteis” . (A
84V)
2. O VALOR DO
SOFRIMENTO PARA TERESINHA
Dois
pontos essenciais: a Paixão de Cristo, e em consequência a redenção, deve ser
“completada com nosso sofrimento. “Vejo que só o sofrimento pode gerar as
almas, e que mais do que nunca, essas sublimes palavras de Jesus me revelam sua
profundeza: ‘Se o grão de trigo, lançado na terra, não morrer…’ ” (A 81
f).
Teresinha
aprecia em seu justo valor santificante e redentor o preço do sofrimento. “O
sofrimento tornou-se meu atrativo, possuía encantos que me enfeitiçavam, embora
não os conhecesse direito” (A 36f) . “Quantos tesouros o sofrimento
nos faz ganhar! É nossa fraqueza, nosso meio de ganharmos a vida”
(Carta 89)
Para
ela o sofrimento tem sempre sentido e valor apostólicos: para agradar a Jesus,
Teresinha trabalha salvando almas: “Ofereçamos nossos sofrimentos a Jesus”
(Carta 213)
Quando
sua vida espiritual se aprofunda, Teresinha valoriza o sofrimento como
prolongamento da paixão buscando desde agora o gozo dos favores da Redenção:
“Se houvesse par ao homem algo melhor e mais útil que sofrer, Jesus Cristo
no-lo haveria ensinado com sua palavra e com seu exemplo. Quando chegares a
encontra o doce sofrimento e a amá-lo por Jesus Cristo, então crê que és
ditoso, porque encontraste o paraíso sobre a terra” (Imitação II,12).
3. A ALMA DE TERESINHA
SOFRE POR SUPORTAR O PESO E A INTENSIDADE DA TERNURA DE JESUS
Não
se pode viver no amor sem sofrer, porém tudo sofrimento é doce quando se ama: “Estou
verdadeiramente contente por sofrer” (C 4v).
Sofrimento
por sentir sua impotência frente ao amor infinito: “Ah! Bem sei que todas nossas
justiças não têm nenhum valor ante seus olhos” (P 23,7)
Sofrimento
por pensar que é desprezado o amor misericordioso de Deus, que quer transbordar
sobre todos os homens: “Oh, meu Deus! vosso amor desprezado vai
ficar em vosso coração? Em todo lugar é desconhecido, rejeitado” (A
84f).
Aos
olhos de Teresinha, sofrimentos (e alegrias) são ocasiões providenciais para
testemunhar a Deus a qualidade a quantidade do amor que a consome por inteiro: “Minhas
dores mais profundas, minha felicidade e minhas penas… acariciam teu rosto e te
dizem que é teu todo o meu coração” (P 34, 1-3).
O
dom da fortaleza lhe faz aguentar os maiores sofrimentos (enfermidades,
oposições, provas morais): “no dia de minha Confirmação recebi
fortaleza para sofrer, pois em seguida, ia começar o martírio de minha alma”
(A 36v).
Porém,
em nossos dias, o sofrimento continua sendo um problema. Os homens progrediram
mais na luta contra a dor que na compreensão do sofrimento que Teresinha tão
perfeitamente assimilou: “O sofrimento me estendeu os braços e eu me
lancei neles com amor” (A 69v). Atualmente abre-se caminho a uma nova
perspectiva: o sofrimento dos “pobres” é apresentando pela teologia da
libertação como lugar privilegiado do amor.
Porém,
o sofrimento de Deus é ainda muito mais incompreensível que o dos homens. Muito
reservado sobre o sentido que dá ao seu próprio sofrimento, Jesus se submete
totalmente à vontade do Pai. Como um eco seu Teresinha diz: “Meu
coração está por completo colocado na vontade de Deus, por isso permaneço em
profunda paz” (U.C. 15.7.9)
“Tanto amou Deus o
mundo que deu seu próprio Filho”
(Jo 3,16). Ao entregar seu Filho aos homens, o Pai é o primeiro a sofrer com
isso. Há, por acaso, um sinal mais claro do poder salvífico do sofrimento?
Fonte: Nuevo Diccionario de Santa Teresa de
Lisieux. Editorial Monte Carmelo. España
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