terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Quarta-feira da 7ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Mc 9,38-40): João disse a Jesus: «Mestre, vimos alguém expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não andava conosco». Jesus, porém, disse: «Não o proibais, pois ninguém que faz milagres em meu nome poderá logo depois falar mal de mim. Quem não é contra nós, está a nosso favor».

Comentário: Rev. D. David CODINA i Pérez (Puigcerdà, Gerona, Espanha)

Quem não é contra nós, está a nosso favor.

Hoje escutamos uma recriminação ao apóstolo João, que vê a gente fazer o bem no nome de Cristo sem formar parte do grupo de seus discípulos: «Mestre, vimos alguém expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não andava conosco» (Mc 9,38). Jesus nos dá a visão adequada que devemos ter diante destas pessoas: acolhê-las e aumentar essa visão, com humildade respeito a nós mesmos, compartilhando sempre um mesmo nexo de comunhão, uma mesma fé, uma mesma orientação, ou seja, caminhar juntos à perfeição do amor a Deus e ao próximo.

Este modo de viver nossa vocação de “Igreja” nos convida a revisar com paz e seriedade a coerência com que vivemos esta abertura de Jesus Cristo. Enquanto houver “outros” que nos “incomodem” porque fazem o mesmo que nós, isto é um claro indício de que o amor de Cristo ainda não nos impregna em toda sua profundidade, e nos pedirá a “humildade” de aceitar que não esgotamos “toda a sabedoria e o amor de Deus”. Definitivamente, aceitar que somos aqueles que Cristo escolhe para anunciar a todos como a humildade é o caminho para aproximar-nos a Deus.

Jesus obrou assim desde sua Encarnação, quando nos aproxima ao máximo a majestade de Deus na insignificância dos pobres. Diz são João Crisóstomo: «Cristo no se contentou em padecer na cruz e com a morte, e quis também fazer-se pobre e peregrino, ir errante e nu, quis ser jogado no cárcere e sofrer as debilidades, para conseguir a tua conversão». Se Cristo não deixou passar nenhuma oportunidade para que possamos viver o amor com os demais, tampouco deixemos passar a ocasião de aceitar ao que é diferente a nós no modo de viver sua vocação a formar parte da Igreja, porque «Quem não é contra nós, está a nosso favor» (Mc 9,40).

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

O evangelho de hoje traz um exemplo muito bonito e atual da pedagogia de Jesus. Mostra como ele ajudava seus discípulos a perceber e a superar o “fermento dos fariseus e de Herodes”.

* A mentalidade do fechamento: “ele não anda conosco”.
Alguém que não era da comunidade usava o nome de Jesus para expulsar os demônios. João, o discípulo, vê e proíbe: Impedimos, porque ele não anda conosco. Em nome da comunidade ele impede que o outro possa fazer uma ação boa! Por ser discípulo, ele pensa ter o monopólio sobre Jesus e, por isso, quer proibir que outros usem o nome de Jesus para realizar o bem. Era a mentalidade fechada e antiga de “Povo eleito, Povo separado!”. Jesus responde: "Não lhe proíbam, pois ninguém faz um milagre em meu nome e depois pode falar mal de mim. Quem não está contra nós, está a nosso favor”. (Mc 9,40). Dificilmente você pode encontrar uma afirmação mais ecumênica do que esta afirmação de Jesus. Para Jesus, o que importa não é se a pessoa faz ou não faz parte da comunidade, mas sim se ela faz ou não o bem que a comunidade deve realizar.

* Um retrato de Jesus como formador dos seus discípulos Jesus, o Mestre, é o eixo, o centro e o modelo da formação dada aos discípulos.
Pelas suas atitudes, ele é uma amostra do Reino, encarna o amor de Deus e o revela (Mc 6,31; Mt 10,30; Lc 15,11-32). Muitos pequenos gestos refletem este testemunho de vida com que Jesus marcava presença na vida dos discípulos e das discípulas, preparando-os para a vida e a missão. Era a sua maneira de dar forma humana à experiência que ele mesmo tinha de Deus como Pai. Eis um retrato de Jesus como formador dos seus discípulos:
* ele os envolve na missão (Mc 6,7; Lc 9,1-2;10,1),
* na volta, faz revisão com eles (Lc 10,17-20),
* corrige-os quando erram e querem ser os primeiros (Mc 9,33-35; 10,14-15)
* aguarda o momento oportuno para corrigir (Lc 9,46-48; Mc 10,14-15).
* ajuda-os a discernir (Mc 9,28-29),
* interpela-os quando são lentos (Mc 4,13; 8,14-21),
* prepara-os para o conflito (Jo 16,33; Mt 10,17-25),
* manda observar a realidade (Mc 8,27-29; Jo 4,35; Mt 16,1-3),
* reflete com eles as questões do momento (Lc 13,1-5),
* confronta-os com as necessidades do povo (Jo 6,5),
* ensina que as necessidades do povo estão acima das prescrições rituais (Mt 12,7.12),
* tem momentos a sós para poder instruí-los (Mc 4,34; 7,17; 9,30-31; 10,10; 13,3),
* sabe escutar, mesmo quando o diálogo é difícil, (Jo 4,7-42).
* ajuda-os a se aceitar a si mesmos (Lc 22,32).
* é exigente e pede para deixar tudo por amor a ele (Mc 10,17-31).
* é severo com a hipocrisia (Lc 11,37-53).
* faz mais perguntas que respostas (Mc 8,17-21).
* é firme e não se deixa desviar do caminho (Mc 8,33; Lc 9,54). * prepara-os para o conflito e a perseguição (Mt 10,16-25).

* A formação não era, em primeiro lugar, a transmissão de verdades a serem decoradas, mas sim a comunicação da nova experiência de Deus e da vida que irradiava de Jesus para os discípulos e as discípulas. A própria comunidade que se formava ao redor de Jesus era a expressão desta nova experiência. A formação levava as pessoas a terem outros olhos, outras atitudes. Fazia nascer nelas uma nova consciência a respeito da missão e a respeito de si mesmas. Fazia com que fossem colocando os pés do lado dos excluídos. Produzia, aos poucos, a "conversão" como consequência da aceitação da Boa Nova (Mc 1,15).

Para um confronto pessoal
1) O que significa hoje, século XXI, para mim, para nós, a afirmação de Jesus que diz: "Quem não está contra nós, está a nosso favor?”
2) Como acontece a formação de Jesus na minha vida?

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