«Lembra-Te de mim,
Senhor, quando vieres com a tua realeza»
Lucas
pinta a cena da crucifixão de Jesus com um admirável jogo de perspectivas. Como
fundo encontramos o povo, que está a observar; mais perto os chefes e os
soldados aos pés da cruz, que escarnecem de Jesus. Em primeiro plano os dois
ladrões que falam com Ele e entre si, e por fim Jesus e a Sua palavra de
salvação. O povo constitui o público numeroso que assiste ao espetáculo. Em
relação às frases ditas pelos outros protagonistas, representam um motivo mais
para que o rei se decida responder às perguntas que se vão seguir.
Pe
Artur Pereira, sdb
Evangelho
(Lc 23, 35-43) - Naquele tempo, os
chefes dos judeus zombavam de Jesus, dizendo: «Salvou os outros: salve-Se a Si
mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito». Também os soldados troçavam d’Ele;
aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o Rei dos judeus,
salva-Te a Ti mesmo». Por cima d’Ele havia um letreiro: «Este é o Rei dos
judeus». Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados
insultava-O, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós
também». Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o: «Não temes a Deus, tu
que sofres o mesmo suplício? Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o
castigo das nossas más ações. Mas Ele nada praticou de condenável». E
acrescentou: «Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza». Jesus
respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
Meditação
Naquele tempo, os
chefes dos judeus zombavam de Jesus, dizendo: «Salvou os outros: salve-Se a Si
mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito».
Não
é difícil “ver” o quadro que nos é descrito. O povo curioso, como todos os
povos, acompanha tudo. Não quer perder nada. Não se envolve. Os chefes, lançam
a Jesus um desafio em jeito de acusação que Ele não deixará de incluir na sua
missão salvadora: a aparente derrota pessoal de Jesus converter-se-á em
sacramento de salvação universal.
A
atitude do Povo pode ser assumida também por cada um de nós… ou então a dos
chefes que reúnem todos os argumentos para espezinhar Jesus até ao fim… Mas os
cristãos são convidados a interferir em todo este processo com a inteligência
aberta ao mistério de Deus, o coração sensível a quem luta pela libertação do
seu povo e a unir as mãos com aqueles que querem positivamente construir um
futuro melhor.
Também os soldados
troçavam d’Ele; aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o
Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo».
Que
os soldados fizessem coro com todos aqueles que escarneciam de Jesus é quase
normal... E como tinham os seus meios refinados de fazer sofrer os condenados,
quais artistas do espetáculo, usavam todas as possibilidades para entreter o
povo que assistia e os chefes que lhes davam ordens e pagavam o soldo…
Os
soldados tomaram os seus chefes como modelos e exemplos nos maus tratos feitos
a Jesus. Ninguém pensa diferente, ninguém reflete, ninguém se afirma de forma
diversa. É mais fácil embarcar naquilo que todos fazem… Vale a pena meditar um
pouco no meu agir quotidiano.
Por cima d’Ele havia
um letreiro: «Este é o Rei dos judeus».
Pilatos
teve um comportamento reprovável em todo o processo de condenação de Jesus.
Defendeu mais a sua posição que a justiça, lavou as mãos “como Pilatos” quando
nelas esteve a possibilidade da libertação de Jesus concedida depois a
Barrabás. Mas na cruz com o seu “quod scripsi, scripsi” (Jo. 19, 22), sem o
saber, atribuiu a Jesus Cristo a realeza que lhe era devida.
Quantas
vezes se age a pensar no melhor e as coisas não se cumprem como previsto. É bem
verdade que Deus escreve por linhas direitas e, por vezes, escrevendo,
endireita aquelas que são tortas. A retidão de vida, o verdadeiro interesse
pelas pessoas e pelas suas circunstâncias e contextos, podem contribuir para
acertar mais naquilo que em termos clássicos se refere como vontade de Deus.
Entretanto, um dos
malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo: «Não és Tu o
Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também».
Continua
na mente deste homem a incapacidade de reconhecer a realidade nua e crua: está
crucificado e vai morrer na cruz. Não se dá conta que a sua vida está presa por
um fio e que está a desperdiçar uma última oportunidade. Apesar de tudo
note-se, que a súplica é feita no plural com se pedisse a salvação para a
humanidade inteira: “salva-te a ti mesmo e a nós também”.
A
rotina das ações quotidianas da vida pode impedir uma visão essencial da mesma.
O que de pior nos pode acontecer é olhar e não ver, receber estímulos e não os
sentir, ter e não possuir, procurar e não encontrar, ser amado e não deixar
transparecer esse amor.
Mas o outro, tomando a
palavra, repreendeu-o: «Não temes a Deus, tu que sofres o mesmo suplício?
Apenas
mudamos de um para o outro lado da cruz. Que diferença na maneira de olhar e
ver! Aquele revoltado junta-se ao coro que não percebe nada daquilo que se está
a passar mas, apesar de tudo, enche-se de razões contra o crucificado; mas Este
convertido intui que Jesus não era um homem qualquer e apresenta-o: “Ecce Homo”
(Jo. 19,5). O bom ladrão reconhece a inocência de Jesus. Recebe a luz e a
salvação. Com ele Jesus inaugura a nova época da história oferecendo-lhe a
salvação “hoje mesmo”.
É
tão fácil orientar o nosso olhar para o belo, para o justo, para a harmonia,
para a paz. Quantas vezes, porém, somos levados a juntar as nossas vozes aos
coros das desgraças e das injustiças por não termos a coragem de dizer aquilo
que sentimos e julgamos mais certo!
Quanto a nós, fez-se
justiça, pois recebemos o castigo das nossas más ações. Mas Ele nada praticou
de condenável». E acrescentou: «Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a
tua realeza». Jesus respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no
Paraíso».
O
bom ladrão reconheceu a irregularidade da sua vida, concorda com o castigo que
lhe foi aplicado e também sabe que Jesus nada praticou de condenável. Mas a sua
grandeza não está no exame de consciência. Aquilo que lhe fez merecer o Paraíso
foi a entrega incondicional à misericórdia de Deus: “lembra-te de mim quando
estiveres no teu Reino”.
Alegrai-vos, não porque os demônios vos obedecem, mas porque os vossos nomes estão inscritos no Céu. A misericórdia de Deus é o maior dom que podemos pedir a Deus em atenção aos méritos da morte e ressurreição de Jesus Cristo seu filho, Rei e Senhor do Universo.
Alegrai-vos, não porque os demônios vos obedecem, mas porque os vossos nomes estão inscritos no Céu. A misericórdia de Deus é o maior dom que podemos pedir a Deus em atenção aos méritos da morte e ressurreição de Jesus Cristo seu filho, Rei e Senhor do Universo.
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