São Rafael de São José OCD |
Comentário: Rev. D. Enric RIBAS i Baciana (Barcelona,
Espanha)
O Filho do Homem veio
procurar e salvar o que estava perdido
Hoje,
Zaqueu sou eu. Esse personagem era rico e chefe dos publicanos; eu tenho mais
do que necessito e também muitas vezes atuo como um publicano e esqueço-me de
Cristo. Jesus, entre a multidão, procura Zaqueu; hoje, no meio deste mundo,
precisamente procura-me a mim: «Desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa»
(Lc 19,5).
Zaqueu
deseja ver a Jesus; não o conseguirá sem esforçar-se e sobe a árvore. Quisera
eu ver tantas vezes a ação de Deus! Mas não sei se estou verdadeiramente
disposto a fazer o ridículo obrando como Zaqueu. A disposição do chefe de
publicanos de Jericó é necessária para que Jesus possa agir; se não se apressa,
pode perder a única oportunidade de ser tocado por Deus e assim, ser salvado. Possivelmente,
eu tive muitas ocasiões de encontrar-me com Jesus, e talvez vendo que já era
hora de ser corajoso, de sair de casa, de encontrar-me com Ele e de convidá-lo
a entrar no meu interior, para que Ele possa dizer também de mim: «Hoje
aconteceu a salvação para esta casa, porque também este é um filho de Abraão.
Com efeito, o Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido» (Lc
19,9-10).
Zaqueu
deixa entrar a Jesus na sua casa e no seu coração, ainda que não se sente digno
dessa visita. Nele a conversão é total: começa pela renúncia à ambição de
riquezas, continua com o propósito de partilhar os seus bens e termina com uma
vontade firme de fazer justiça, corrigir os pecados que cometeu. Pode que Jesus
me este pedindo algo parecido desde faz tempo, mas eu não quero escutar e faço
ouvidos surdos; necessito converter-me.
Dizia
São Máximo: «Nada há mais querido e agradável a Deus como a conversão dos
homens a Ele com um arrependimento sincero». Que Ele me ajude hoje a fazê-lo
realidade.
Reflexão de Frei
Carlos Mesters, Ocarm.
*
No evangelho de hoje, estamos chegando ao fim da longa viagem que começou no capítulo
9 (Lc 9,51). Durante a viagem, não se sabia bem por onde Jesus andava. Só se sabia
que ele ia em direção a Jerusalém.
Agora, no fim, a geografia fica clara e definida. Jesus chegou a Jericó, a cidade das palmeiras,
no vale do Jordão. Última parada dos
peregrinos, antes de subir para Jerusalém! Foi em Jericó, que terminou a longa caminhada
do êxodo de 40 anos pelo deserto. O êxodo
de Jesus também está terminando. Na entrada de Jericó, Jesus encontrou um cego
que queria vê-lo (Lc 18,35-43). Agora, na saída da cidade, ele encontra Zaqueu,
um publicano, que também queria vê-lo. Um cego e um publicano. Os dois eram
excluídos. Os dois incomodavam o povo: o cego com seus gritos, o publicano com
seus impostos. Os dois são acolhidos por Jesus, cada um a seu modo.
* Lucas 19,1-2: A
situação
Jesus
entrou em Jericó e atravessava a cidade.
"Havia ali um homem, chamado Zaqueu, muito rico, chefe dos
publicanos". Publicano era a pessoa que cobrava o imposto público sobre a
circulação da mercadoria. Zaqueu era o chefe dos publicanos da cidade. Sujeito rico
e muito ligado ao sistema de dominação dos romanos. Os judeus mais religiosos argumentavam assim:
“O rei do nosso povo é Deus. Por isso, a dominação romana sobre nós é contra
Deus. Quem colabora com os romanos peca contra Deus!” Assim, soldados que serviam
no exército romano e cobradores de impostos, como Zaqueu, eram excluídos e
evitados como pecadores e impuros.
* Lucas 19,3-4: A
atitude de Zaqueu
Zaqueu
quer ver Jesus. Sendo pequeno, corre na frente, sobe numa árvore e aguarda Jesus
passar. É muita vontade de ver Jesus! Anteriormente, na parábola do pobre Lázaro e do
rico sem nome (Lc 16,19-31), Jesus mostrava como é difícil um rico se converter
e abrir a porta de separação para acolher o pobre Lázaro. Aqui aparece o caso de um rico que não se fecha
na sua riqueza. Zaqueu quer algo mais. Quando um adulto, pessoa de destaque na
cidade, tem relações sexuais numa árvore, é porque já nem liga para a opinião
dos outros. Algo mais importante o move por dentro. Ele está querendo abrir a porta
para o pobre Lázaro.
* Lucas 19,5-7: Atitude de Jesus, reação do
povo e de Zaqueu
Chegando
perto e vendo Zaqueu na árvore, Jesus não pergunta nem exige nada. Apenas responde
ao desejo do homem e diz: "Zaqueu, desça depressa! Hoje devo ficar em sua casa!"
Zaqueu desceu e recebeu Jesus em sua casa, com muita alegria. Todos murmuravam: "Foi hospedar-se na casa
de um pecador!" Lucas diz que todos murmuravam! Isto significa que Jesus estava ficando sozinho
na sua atitude de dar acolhida aos excluídos, sobretudo aos colaboradores do sistema. Mas Jesus não se importa com as críticas. Ele
vai à casa de Zaqueu e o defende contra as críticas. Em
Vez
de pecador, o chama de “filho de Abraão” (Lc 19,9).
* Lucas 19,8: Decisão
de Zaqueu
"Dou
a metade dos meus bens aos pobres e restituo quatro vezes o que roubei!"
Esta é a conversão, produzida em Zaqueu pela acolhida que Jesus lhe deu. Restituir quatro vezes era o que a lei
mandava em alguns casos (Ex 21,37; 22,3). Dar a metade dos bens aos pobres era a
novidade que o contato com Jesus nele produziu.
Era a partilha acontecendo de fato!
* Lucas 19,9-10: Palavra
final de Jesus
"Hoje, a salvação entrou nesta casa, porque
ele também é um filho de Abraão!" A interpretação da Lei pela Tradição antiga
excluía os publicanos da raça de Abraão. Jesus diz que veio procurar e salvar o
que estava perdido. O Reino é para todos.
Ninguém pode ser excluído. A opção de Jesus é clara, seu apelo também: não é possível
ser amigo de Jesus e continuar apoiando um sistema que marginaliza e exclui tanta
gente. Denunciando as divisões injustas,
Jesus abre o espaço para uma nova convivência, regida pelos novos valores da
verdade, da justiça e do amor.
* Filho de
Abraão.
"Hoje, a salvação entrou nesta casa,
porque ele também é um filho de Abraão!" Através da descendência de
Abraão, todas as nações da terra serão benditas (Gn 12,3; 22,18). Para as
comunidades de Lucas, formadas por cristãos tanto de origem judaica como de origem
pagã, a afirmação de Jesus chamando Zaqueu de “filho de Abraão”, era muito importante.
Nela encontravam a confirmação de que, em Jesus, Deus estava cumprindo as
promessas feitas a Abraão, dirigidas a todas as nações, tanto judeus como
gentios. Estes são também filhos de Abraão e herdeiros das promessas. Jesus acolhe os que não eram acolhidos. Oferece
lugar aos que não tinham lugar. Recebe como irmão e irmã as pessoas que a
religião e o governo excluíam e rotulavam como:
*
imorais: prostitutas e pecadores (Mt 21,31-32; Mc 2,15; Lc 7,37-50; Jo
8,2-11),
* hereges: pagãos e samaritanos (Lc 7,2-10;
17,16; Mc 7,24-30; Jo 4,7-42),
*
impuras: leprosos e possessos (Mt 8,2-4;
Lc 17,12-14; Mc 1,25-26),
*
marginalizadas: mulheres,
crianças e doentes
(Mc 1,32; Mt 8,16;
19,13-15; Lc 8,2-3),
* pelegos: publicanos e soldados (Lc 18,9-14; 19,1-10);
*
pobres: o povo da terra e os pobres sem
poder (Mt 5,3; Lc 6,20; Mt 11,25-26).
Para um confronto
pessoal
1. Como nossa comunidade acolhe as
pessoas desprezadas e marginalizadas? Somos
capazes, como Jesus, de perceber os problemas das pessoas e dar atenção
a elas?
2. Como percebemos a salvação
entrando hoje na nossa casa e na nossa
comunidade? A ternura acolhedora de
Jesus provocou uma mudança total na vida de Zaqueu. A ternura acolhedora
da nossa comunidade
está provocando alguma
mudança no bairro? Qual?
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